Black Veil Brides lota Terra SP para breve encontro com público brasileiro

Show curto e enérgico com cantoria desenfreada marcaram a terceira vinda do quinteto ao país, desta vez para data única

O número considerável de pessoas esperando a abertura da casa de shows dava uma boa ideia do perfil do público que foi prestigiar o Black Veil Brides na última data da turnê “Bleeders South American Tour” na noite da última terça (26), que passou por Colômbia, Chile e Argentina.

Eram majoritariamente mulheres mais jovens. Estavam “montadas”; ou seja, roupa, maquiagem e cabelo de quem vai fazer o show, não somente vê-lo – capricho também praticado pelos homens ali presentes.

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A depender de onde se olhava na fila, parecia ser a véspera de uma festa gótica. Ou emo. Ou hard/glam rock. Três aspectos que, juntos, definem melhor o som praticado pela banda. Eles surgiram durante o auge da “emomania”, mas restringi-los a isso é contar apenas parte da história.

Portanto, não seria absurdo supor que a maior parte ali não viu o grupo americano em 2015, no festival Monsters of Rock, ou em 2012, quando vieram pela primeira vez. Isso explicaria uma ansiedade suficiente para não serem muito amigáveis com a banda de abertura.

Foto: Gabriel Ramos @gabrieluizramos

Axty

Felizmente, não foi o que ocorreu. Quando o logo do quarteto paulista Axty surgiu no telão de alta definição localizado no fundo do palco, um coro chamando-os surgiu, mostrando que a escolha da produtora Gig Music foi acertada. Ainda é de se espantar (e comemorar) que os dias de hostilidade com atrações de abertura se foram.

Foto: Gabriel Ramos @gabrieluizramos

Formado por Felipe Hervoso (voz), Jonathas Peschiera (baixo), Felipi Grivol (guitarra) e Gabriel Vacari (bateria), o Axty tem se destacado no underground nacional com um metalcore com doses de post-hardcore e de nu metal. Rótulos à parte,  importa é que soa muito pesado, cadenciado, com discretas adições de teclado de muito bom gosto.

Foto: Gabriel Ramos @gabrieluizramos

Curiosamente, o merchandising é colorido e o rosa predomina na comunicação visual. É notório como conseguem acrescentar sutileza à desgraceira berrada que tocam sem que fique contraditório.

Mas fica problemático se o som não ajuda — e foi o que aconteceu. Uma equalização desfavorável e embolada fez as nuances sumirem, as bases pré-gravadas se tornarem inúteis e ficar difícil separar o refrão do verso. Somem-se as muitas pausas que existem nas músicas e temos a confusão que concorreu com a boa recepção obtida do público.

A plateia, aliás, cantou e aplaudiu com gosto quando possível. Quando não era, chegou a pedir em coro que o volume da voz fosse aumentado. A solicitação foi mal atendida e, tão logo terminaram a anunciada última música, com os integrantes ainda no palco, começaram os gritos evocando a atração principal.

Foto: Gabriel Ramos @gabrieluizramos

Black Veil Brides

Pouco depois das 21h, as luzes se apagaram, o logo BVB surgiu no telão e teve início uma dinâmica que tanto público como músicos iriam manter no pouco que o show iria durar.

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Os guitarristas Jake Pitts e Jinxx e o baixista Lonny Eagleton entraram correndo enquanto o baterista Christian Coma logo cumprimentou os fãs e assumiu o kit para começar “Crimson Skies”. Ainda antes de chegar o primeiro verso, o vocalista Andy Biersack estava no palco com um microfone que simula uma navalha e quase a totalidade do palco havia sido percorrida. Quando entra a parte cantada, o público soterra em volume a banda, que conta com uma equalização muito superior em relação à obtida pelo Axty.

Foto: Gabriel Ramos @gabrieluizramos

Se estavam cansados por percorrer a América do Sul — o Brasil era o quarto país em uma semana —, souberam disfarçar bem. Performance empolgada, voz do Andy em dia, Jake e Jinxx fazendo a dinâmica “costas com costas” durante os solos (também característica de grupos como o Avenged Sevenfold), o curto intervalo entre as músicas; é como se quisessem vencer a plateia pelo cansaço — ou conquistá-la pela intensidade.

Lonny Eagleton é o integrante mais novo; inclusive, era a estreia dessa formação aqui. Talvez por isso tenha sido o mais discreto e tenha ficado posicionado ao fundo do palco, indo à frente somente para fazer backing vocals.

“Bleeders” é o nome da turnê e, também, é um lançamento anunciado para o próximo dia 26 de abril. Se é um single ou um álbum, não se sabe. Não se tocou nesse assunto durante toda a noite.

Foto: Gabriel Ramos @gabrieluizramos

A música mais recente apresentada foi “Devil”, do EP “The Mourning” (2022). O restante do setlist continha um equilíbrio razoável entre os seis discos de estúdio. “The Phanton Tomorrow” (2021) teve o mesmo espaço que “Wretched and Divine: The Story of the Wild Ones” (2012), por exemplo. Pode ser o acerto na escolha que tenha feito os fãs sequer se preocuparem com que diabos é “Bleeders”.

Mesmo “Vale” (2018), o disco que menos cedeu músicas, apareceu de forma certeira com “Wake Up”, com o começo grandioso — perfeito para não deixar a empolgação do início do show desvanecer.

Mas não tiveram esse cuidado quando, com cerca de meia hora de apresentação, logo após “Torch”, Andy pediu para que o povo grite “C. C.” e deixou o palco junto com os integrantes — exceto Chirstian Coma, que começa o solo de bateria. Ele é um excelente instrumentista, toca empolgado e com força, fica em pé e chega a pular no kit… mas solo de bateria é e sempre será questionável, principalmente em um show que seguia tão bem. Quando Coma foi para a frente do palco pular e fingir que toca trompete (a sincronia com a trilha gravada ficou péssima), tudo ficou mais sem sentido ainda.

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Foto: Gabriel Ramos @gabrieluizramos

Nem precisava fazer sentido, porém. O povo embarcou na doideira e participou como pôde, com gritos e aplausos. A plateia foi reconhecida e recompensada. Andy deu autógrafo no palco, abriu uma bandeira do Brasil entregue por fã e prometeu que não vão demorar dez anos para voltar. Antes do bis, todos botaram a casa abaixo com “Knives and Pens”, música que tornou a banda conhecida no mundo todo.

O público chamou o Black Veil Brides de volta durante a espera, maior do que a média. Andy voltou sozinho para “Lost It All”, balada que preparou o público para a dobradinha final de “Fallen Angels” e “In the End”, novamente elevando a cantoria dos fãs para nível recorde de volume.

Foto: Gabriel Ramos @gabrieluizramos

O show assim foi encerrado e, para que não houvesse dúvidas, além das luzes acesas, “In the End” (Linkin Park) e “The Kill” (Thirty Seconds to Mars) soaram no P.A. Foi curto, cerca de uma hora e vinte minutos, mas sem momentos de tédio e sem reclamações de que apenas 13 músicas foram tocadas. Para efeitos de comparação, no Monsters of Rock 2015, mesmo sofrendo vaias de alguns fãs de Motörhead e espremidos pelo pouco tempo padrão de festival, tocaram nove músicas (inclusive “Faithless”, que cairia muito bem no repertório da noite da última terça-feira, 26).

De qualquer forma, o público saiu extremamente satisfeito e aceitaria uma nova rodada em breve. Se vão esperar ou não, não parece ser um problema. O Black Veil Brides demonstrou ter conseguido renovar a base de fãs, que foram um espetáculo à parte pela demonstração sem reservas de admiração pela banda, conhecimento de cada palavra das letras das músicas e até pela preocupação com o visual. Foi uma bela festa, que tem tudo para acontecer novamente.

Black Veil Brides — ao vivo em São Paulo

  • Local: Terra SP
  • Data: 26 de março de 2024
  • Turnê: Bleeders Tour

Repertório — Axty:

  1. Take Me Down
  2. Unbreakable
  3. Forever Yours
  4. The Beauty in Breaking
  5. Fade Away
  6. Flowers & Butterflies
  7. You’ll Find Me
  8. Six Feet Under

Repertório — Black Veil Brides:

  1. Crimson Skies
  2. Rebel Love Song
  3. Wake Up
  4. Nobody’s Hero
  5. Devil
  6. Scarlet Cross
  7. Torch
  8. The Legacy
  9. Perfect Weapon
  10. Knives and Pens

Bis:

  1. Lost It All
  2. Fallen Angels
  3. In the End

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Rolf Amaro
Rolf Amarohttps://igormiranda.com.br
Nasceu em 83, é baixista do Mars Addict, formado em Ciências Sociais pela USP. Sempre anda com o Andreas no braço, um livro numa mão e a Ana na outra.

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