O compositor de Elvis Presley que morreu na miséria

Arthur Crudup escreveu um dos maiores hits do rei do rock, mas foi explorado pela indústria que ajudou a fazer existir

Apesar de ter gravado mais de 700 músicas em duas décadas de carreira, Elvis Presley jamais escreveu uma. O talento como intérprete não se manifestou como compositor, o que o fez recorrer a contribuições externas – o que não era realmente incomum naquele período da história, onde as funções do músico e do escritor eram bem divididas.

Um de seus colaboradores foi Arthur Crudup. O nome pode não ser conhecido, mas a obra fala por si só. Canções como “That’s Alright” – rebatizada “That’s Alright Mama” –, “My Baby Left Me” e “So Glad You’re Mine”. Além do rei, nomes como Elton John, Eric Clapton, B.B. King, Rod Stewart e Slade também o gravaram.

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Elvis chegou a declarar que se tinha alguma ambição na vida era ser tão bom quanto Arthur Crudup. Conforme resgate do Blues.org, com repercussão do Ultimate Classic Rock, Presley disse uma vez:

“Os negros cantam e tocam exatamente como eu estou fazendo agora, cara, há mais anos do que eu imagino. Eu herdei isso deles. Em Tupelo, Mississippi, eu costumava ouvir o velho Arthur Crudup bater sua caixa no ritmo que faço agora, e disse que se algum dia chegasse ao lugar em que pudesse sentir tudo o que o velho Arthur sentia, seria um homem da música como ninguém jamais viu.”

Exploração e pobreza

Ainda assim, como aconteceu com vários nomes da época, Arthur não recebeu os louros que merecia. Ele morreu em 28 de março de 1974, aos 68 anos. O aspecto mais cruel é que o próprio sabia qual seria seu fim. Quatro anos antes de falecer, ele declarou, conforme resgate do livro “Rockin’ in Time” (1991), de David Szatmary:

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“Eu nasci pobre, vivo pobre e vou morrer pobre.”

Tal qual tantos outros talentos mal assistidos de outrora, a indústria sugou tudo que Crudup tinha a oferecer e o deixou sem assistência – e sem conhecimento dos direitos que possuía, assim como sem possibilidade de contratar advogados ou empresários que o pudessem orientar.

Com isso, acabou transitando por uma enorme variedade de empregos, de lenhador a transportador de trabalhadores migrantes, e a certa altura dirigiu sua própria juke joint – nome dado a estabelecimentos informais de música, dança, jogos e bebidas, operados sobretudo por afro-americanos.

A morte de Arthur Crudup na miséria

Quando o blues ressurgiu no final dos anos 60, Arthur voltou à ação por um breve período, trabalhando com Bonnie Raitt como seu último compromisso profissional. Mais tarde, o defensor Dick Waterman iniciou uma batalha para ter alguns dos royalties perdidos reembolsados e quase garantiu um pagamento de US$ 60 mil da Hill Range Publishing.

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Escreveu Waterman em seu livro de memórias de 2003, “Between Midnight And Day”:

“Quando o advogado que tratava do assunto subiu para pegar o cheque assinado pelo gerente, ele voltou para a mesa pálido e abalado. Então, nos disse: ‘Ele não vai assinar o acordo. Ele disse que isso revela mais em um acordo do que você poderia esperar obter em um litígio’. Percebendo que não conseguiríamos nada, disse a Crudup repetidamente que os pegaríamos e os faríamos pagar pelo que fizeram a ele. Arthur me olhou no rosto e falou devagar: ‘Eu sei que você fez o melhor que pôde. Eu te respeito e te honro em meu coração. Mas simplesmente não era para ser.’”

Apesar da declaração, Waterman não desistiu e conseguiu mais de US$ 3 milhões ao espólio de Crudup com o passar dos anos. Uma pena que o próprio não estava mais vivo para desfrutar.

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João Renato Alves
João Renato Alveshttps://twitter.com/vandohalen
João Renato Alves é jornalista, 40 anos, graduado pela Universidade de Cruz Alta (RS) e pós-graduado em Comunicação e Mídias Digitais. Colabora com o Whiplash desde 2002 e administra as páginas da Van do Halen desde 2009. Começou a ouvir Rock na primeira metade dos anos 1990 e nunca mais parou.

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