Nasi, vocalista do Ira!, deixa clara sua opinião quanto ao conservadorismo. No single solo “Na América do Sul”, lançado em 2021, o cantor criticou esse tipo de posicionamento e a “guinada reacionária que vivemos dentro e fora do país”. Anteriormente, já havia dito que a extrema direita “não combina com a arte, com a música, com o rock”.
Durante recente entrevista com o Estadão, o assunto surgiu novamente. O repórter Gabriel Zorzetto cita ter perguntado sobre os “colegas roqueiros, em especial Lobão e Roger Moreira, que se associaram a um posicionamento político que ele condena”. Em resposta, o artista de 62 anos declarou estar acostumado a falar sobre o tema e afirmou que músicos do tipo são a minoria, ainda mais diante de sua geração.
Ele declarou:
“Ouvi coisas abomináveis, mas cada um é dono da sua própria biografia. Eles são minoria. Os roqueiros da minha geração são caras de centro-esquerda, no mínimo, e de uma visão humanista.”
Em seguida, aproveitou para citar uma de suas maiores preocupações políticas atuais: Donald Trump, ex-presidente dos Estados Unidos, que novamente pretende concorrer ao cargo máximo do Executivo americano pelo Partido Republicano.
“O fenômeno Trump me preocupa muito, porque este homem representa o que existe de pior na América misógina e racista.”
Nasi e o conservadorismo
Nasi já havia mostrado o mesmo ponto de vista no passado. Conversando com a Central Única dos Trabalhadores em agosto de 2023, ele descreveu o conservadorismo propagado por alguns roqueiros como decepcionante.
“Vejo com muita tristeza, mas não fico julgando biografia alheia. A história já está contando a verdade sobre como foram esses anos terríveis e como estivemos próximos de um rompimento democrático, uma ditadura. Fardada, inclusive. Foi muito triste e espero que o Brasil caminhe na direção oposta, como já está fazendo. Foi por pouco, mas conseguimos realinhar o Brasil com a democracia e a justiça.”
Nasi, Lobão e Roger Moreira
Apesar das discordâncias, Nasi, Lobão e Roger Moreira concederam uma entrevista conjunta em 2018, como forma de divulgar um show no Esporte Clube Pinheiros, em São Paulo. Na ocasião, o vocalista do Ira! elogiou não só a obra dos outros dois colegas de profissão, como também suas personalidades.
“Com relação ao Roger, eu gosto muito da irreverência das letras do Ultraje a Rigor, principalmente nos dois primeiros álbuns. Apesar de isso ser uma coisa bem diferente do que eu fazia e faço com o Ira!, eu acompanhei toda a história da banda dele. A primeira demo do Ultraje a Rigor eu cantei uma versão dos Beatles com eles, o Edgard (Scandurra, guitarrista) deu o nome de Ultraje a Rigor. Faço uma música muito diferente da proposta deles, mas, ao mesmo tempo, gosto muito do som que eles fazem. Quanto ao Lobão, sou muito fã, o Ira! já gravou músicas do Lobão no álbum ‘Isso É Amor’, acho ele um roqueiro nato, no sentido de ser polêmico, contraditório, mudar a vida dele e as opiniões dele a todo instante.”
Nos últimos anos, Lobão rompeu com algumas ideias inclinadas à direita, especialmente o apoio ao ex-presidente Jair Bolsonaro. Em entrevista de 2021 à BBC Brasil, ele disse que o agora inelegível político “não fez nada de bom desde que entrou”.
“O simples fato de esse cara andar na rua sem máscara, tirando máscara de criança, já é motivo (para impeachment). Ele é o presidente da República de um país com 500 mil mortos na pandemia, e ele dá esse exemplo todos os dias na televisão. Isso já é criminoso por si só, é genocida por si só.”
Ao ser relembrado de seu apoio a Bolsonaro, o músico relatou que “não havia alternativa” a não ser “retirar o PT da presidência”.
“O Brasil queria se ver livre do PT, não tinha mais alternância de poder. Ele se aliou com o que há de pior na política, inúmeros casos de corrupção. Ele foi corresponsável pelo chavismo na Venezuela, e iria dar um golpe. A gente sabia que o Bolsonaro era o que ele é. Mas achava que uma facção liberal e o Exército, que tinha um prestígio de 30 anos depois da ditadura e pessoas esclarecidas, poderiam segurar o cara. Mas não deu.”
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