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Exclusivo: Marko Hietala fala sobre saída do Nightwish, saúde mental e Tarja

Com vida pública devidamente retomada, baixista retorna ao Brasil em março para série de shows com ex-colega de Nightwish

Os presentes na Z7 Konzertfabrik em Pratteln, Suíça, no dia 8 de julho de 2023, testemunharam o improvável reencontro de Tarja Turunen e Marko Hietala no palco. Os ex-Nightwish não se apresentavam juntos desde 2005 e, naquela noite, no Summer Nights Festival, cantaram “Phantom of the Opera”, um dos maiores clássicos de sua antiga banda, no que foi, sem dúvida, o ponto alto do show da vocalista.

O “feat” plantou uma semente que os fãs brasileiros estão prestes a colher com a chegada da nova etapa da “Living the Dream – The Hits Tour” ao país. Serão nove datas em março, com Tarja e Marko realizando shows separados e depois dividindo o palco em clima de nostalgia, mas também de recomeço; afinal, os dois não se falavam desde a saída da cantora do Nightwish em 2005. Ou seja, uma celebração ao que viveram e construíram juntos, só que com indícios de que muito mais virá por aí.

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Com o intuito de promover os vindouros compromissos no Brasil, Hietala, hoje radicado na Espanha “para fugir do inverno finlandês em que o sol se põe no meio da tarde”, concedeu uma entrevista ao site IgorMiranda.com.br, na qual falou muito francamente sobre as razões que o levaram a dizer adeus ao Nightwish e chegaram perto de aposentá-lo precocemente da música, além de antecipar novidades. Confira.

Tarja Turunen, nostalgia e futuro

Agasalhado até o pescoço e fumando cigarro eletrônico (vape), Marko Hietala parecia meio ressabiado. Era sua última entrevista do dia, e sabe-se lá o nível dos questionamentos aos quais o cantor e baixista de 58 anos havia sido submetido. Não demorou, porém, a abrir o sorriso e o verbo.

A primeira vez de Marco no país foi em 2002, ano em que gravou seu álbum de estreia com o Nightwish, “Century Child”. Ele voltaria para outras seis temporadas por aqui, mas sua passagem mais recente foi solo, acompanhando Anneke van Giersbergen em quatro datas no país em outubro passado. “Sempre tive uma boa impressão dos shows no Brasil e eles sempre foram bons”, revela. “Aliás, minha esposa é brasileira!”

Sobre o repertório dos shows com Tarja, ele antecipa:

“Claro que faremos alguns duetos e também é óbvio que não podemos deixar de tocar músicas do Nightwish, mas o que é evidente para nós dois é que seria leviano de nossa parte focar somente nesse material. Então, teremos algumas surpresas também — mas nada de spoilers.”

Mal tinha sido anunciada, a turnê conjunta com Tarja foi qualificada como uma “revanche dos ex-Nightwish”. Para Hietala, definir o giro assim é puro cinismo, tendo em vista que tanto ele quanto a cantora possuem carreiras solo bem-sucedidas — e, no caso dele, um currículo que inclui álbuns como integrante de Tarot, Sinergy e Northern Kings, além de participações em trabalhos de Therion, Delain e Avantasia, entre muitos outros. “Além do mais”, acrescenta, “a internet está sempre cheia desses reclamões; facilita muito para aqueles que não têm coragem de falar cara a cara, então você pode bostejar o quanto quiser”.

Marko diz que estaria mentindo se dissesse que o assunto “músicas novas” não foi abordado em momento algum pela dupla. Apesar de acreditar ser “bastante provável que role”, ele joga um balde de água fria: “Não esperem que entremos em estúdio tão cedo. Vamos com calma, com serenidade…”

Foto: Andre Santos

Nightwish, saúde mental e carreira musical

O tempo cura todas as feridas e, nesse processo, também ensina coisas que não poderiam ter sido aprendidas de outra forma. Em janeiro de 2021, Marko Hietala anunciou que estava se desligando do Nightwish, banda da qual fazia parte há duas décadas. Não só isso: no comunicado divulgado nas redes sociais, declarou ainda que abandonaria sua vida pública.

Hietala atribuiu diversas razões para tomar essa decisão, desde o que ele considera como sucateamento da indústria musical até seu quadro clínico de depressão crônica. Hoje, em tratamento, ele consegue ver tudo com mais clareza:

“Eu me afastei do mundo da música porque fiquei muito doente e tive que abrir mão de tudo em nome de uma prioridade. Eu tinha que descobrir por que me sentia triste o tempo todo, por que meus pensamentos estavam cheios de fantasmas do passado envenenando minha mente e minhas atitudes. Eu estava infeliz, e nada mais era interessante.”

Essa decisão de se afastar de tudo e todos custou ao músico a amizade com os demais colegas de Nightwish, com os quais confessa não manter nenhum tipo de contato. A exceção foi quando soube do câncer da vocalista Floor Jansen. “Tive que mandar uma mensagem para ela”, revela. “Tipo, ‘força’, ‘continue firme’ e tal. Mas não passou disso”.

Ele, por sua vez, entende o motivo de nenhum dos integrantes da banda tê-lo procurado desde seu desligamento.

“Minha saída os colocou em uma posição em que eles precisavam encontrar um baixista que canta. E eles acabaram nem tentando encontrar, no fim das contas. Posso estar errado, mas sinto que minha decisão os deixou bastante frustrados e tristes. Quando estou bem, tenho uma presença de palco e uma voz bastante fortes, então não seria fácil me substituir. Dito isso, me senti mal pelos caras, mas eu estava no fundo do poço…”

A saída de Marko do Nightwish trouxe à tona uma questão que ainda é um tabu, que é a saúde mental. Ele prossegue:

“Então, realmente tive que descobrir o que estava errado e levei um tempo até procurar ajuda médica. Descobri que tinha TDAH e depressão, ansiedade, baixa autoestima etc. Tudo relacionado ao transtorno de déficit de atenção. Tenho uma imaginação muito ativa o tempo todo, o que é ótimo quando você está compondo músicas, mas quando você sofre grandes contratempos, é muito ruim.”

Nightwish em 2004, ainda com Tarja Turunen e Marko (à época assinando como Marco) Hietala

Hietala garante que não houve um único evento ou situação que simbolizasse meio que a gota d’água para ele. Sua conclusão de que a melhor coisa a fazer por si mesmo era deixar a banda foi “um processo”.

“Eu não conseguia mais dormir direito. Acordava todas as noites às três da manhã ansioso e perturbado. Não sei dizer ao certo quanto tempo esse processo durou, quanto tempo levou para esse problema se desenvolver e me desgastar a tal ponto. Mas quando pareceu irreversível, foi como se fosse uma questão de vida ou morte. Eu tinha que deixar tudo para trás e estabelecer uma prioridade: descobrir o que havia de errado e ficar em paz.”

O afastamento de Marko da música foi breve. Menos de um ano após sair de cena, ele voltaria à ativa; isso porque, segundo o próprio, o tratamento começou a fazer efeito muito rápido — ainda que, segundo ele, siga “em andamento”. “É bom estar de volta, é realmente bom conseguir pensar positivo e viver de música; seja tocando, cantando ao vivo, no palco, em casa ou no estúdio”.

O novo capítulo de Marko Hietala

Além dos compromissos com Tarja, Marko Hietala lançará um novo álbum solo. O sucessor de “Mustan Sydämen Rovio” / “Pyre of the Black Heart” (2019) ainda não tem data nem título definidos, mas, de acordo com o músico, “é um pouco mais sombrio e mais pesado”.

“É, a priori, um álbum de rock progressivo, há muitas músicas que, à primeira vista, parecem ser realmente rocks para cima, e até são, mas quando você começa a ouvir melhor, prestar atenção ao que está lá, a todos esses elementos e harmonias vocais e tudo mais, percebe se tratar de algo sério.”

Foto: Andre Santos

A indefinição quanto a título e data tem um motivo: Marko está de viagem marcada. “Estou de malas prontas”, conta ele.

“Daí, quando estiver em turnê, vou ter tempo [para pensar no álbum]. Quer dizer, você realmente não tem o que fazer além de viajar e fazer o show, então vou ter tempo de sobra quando estiver sentado no avião e puder enviar alguns e-mails e estabelecer um cronograma.”

Hietala sinaliza estar aberto a colaborar com outros ex-colegas de Nightwish. “Depende só de me chamarem, porque temos história juntos”, diz ele.

A quase meia hora de conversa é encerrada com um conselho a artistas que estão vivendo algo similar ao que ele viveu:

“Primeiramente, se você tem os meios, cuide de si mesmo. O mercado realmente não cuida de você; ele quer que você esteja bem para ganhar em cima você, mas realmente não precisa que você esteja bem, porque há uma tonelada de outros artistas e a competição é sinistra. Mantenha-se fiel a si mesmo, não acredite nas besteiras que a mídia escreve a seu respeito. Seja você mesmo, e os fãs reconhecerão isso.”

Foto: Andre Santos

*Confira as datas da nova etapa da “Living the Dream – The Hits Tour”, que reúne Tarja Turunen e Marko Hietala, no Brasil:

  • 08/03 – São Paulo (Tokio Marine Hall)
  • 09/03 – Porto Alegre (Opinião)
  • 10/03 – Curitiba (Ópera de Arame)
  • 12/03 – Belo Horizonte (Mister Rock)
  • 13/03 – Brasília (Toinha Brasil Show)
  • 14/03 – Rio de Janeiro (Sacadura 154)
  • 16/03 – Fortaleza (Complexo Armazém)
  • 17/03 – Belém (Barka)
  • 19/03 – Recife (Armazém 14)

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Marcelo Vieira
Marcelo Vieirahttp://www.marcelovieiramusic.com.br
Marcelo Vieira é jornalista graduado pelas Faculdades Integradas Hélio Alonso (FACHA), com especialização em Produção Editorial pela Universidade Estadual Paulista (UNESP). Há mais de dez anos atua no mercado editorial como editor de livros e tradutor freelancer. Escreve sobre música desde 2006, com passagens por veículos como Collector's Room, Metal Na Lata e Rock Brigade Magazine, para os quais realizou entrevistas com artistas nacionais e internacionais, cobriu shows e festivais, e resenhou centenas de álbuns, tanto clássicos como lançamentos, do rock e do metal.

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