Metal Hammer publica editorial sobre o fim do Sepultura

Texto da revista britânica exalta importância de todas as fases da banda em sua história de 40 anos

O anúncio de que o Sepultura encerrará atividades após a turnê “Celebrating Life Through Death” vem ganhando as páginas da imprensa especializada em todo o planeta. A revista britânica Metal Hammer, uma das mais relevantes no segmento, publicou editorial exaltando a história da banda brasileira.

Assinado por Matt Mills, o texto faz questão de assinalar algo que muitos fãs negligenciam propositalmente: o êxito artístico do grupo para além de sua formação mais conhecida.

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O Sepultura deve ser considerado uma das forças musicais mais corajosas do metal – não importa para qual época da banda você olhe

Sepultura foi um dos nomes mais célebres do metal. Então, com a saída do vocalista Max Cavalera, eles se tornaram um de seus mais subestimados

Em 16 de dezembro de 1996, o arquiteto-chefe do Sepultura, Max Cavalera, deixou a banda e, da noite para o dia, eles deixaram de ser uma das faíscas mais brilhantes do heavy metal e passaram a ter todo o seu futuro em perigo. Não que eu me lembre de nada disso, é claro. Eu tinha oito semanas de vida.

Quando surge a notícia de que o Sepultura está prestes a embarcar em uma última turnê antes de se separar, eu sou um homem de 27 anos. Morei em sete casas diferentes, comecei a estudar, abandonei a escola, me formei na universidade e fiz carreira no jornalismo. E, durante quase toda a minha vida, as pessoas exigiram que as lendas do metal extremo brasileiro recuperassem seu antigo vocalista. É uma estatística selvagem.

Deve-se dizer que, embora eu tenha ouvido pela primeira vez álbuns seminais como ‘Arise’ e ‘Chaos A.D’. duas décadas depois de terem sido lançados, eu adoro o Sepultura. Ouvir seu trabalho evolutivo inicial indo do thrash lo-fi de ‘Morbid Visions’ ao aventureiro folk ‘Roots’ conectou os pontos entre tantas outras bandas mais jovens que eu já amava. Também fez com que essas bandas parecessem um pouco bobas em comparação com os mestres óbvios.

Desde o momento em que Max e seu irmão baterista, Iggor, fundaram o Sepultura em 1984, até a já mencionada saída do vocalista, eles eram uma força inquieta, com cada álbum deixando o resto da cena para se atualizar. ‘Beneath The Remains’, de 1989, aprimorou a ferocidade acelerada do quarteto e os anunciou como a primeira banda de thrash sul-americana a assinar um grande contrato com uma gravadora norte-americana. Dois anos depois, ‘Arise’ foi influenciado pelas paisagens sonoras emergentes do industrial e do groove metal.

Então, ‘Chaos A.D.’ revolucionou a percussão da música pesada com seus ousados floreios de samba antes de ‘Roots’ se tornar, sem dúvida, o primeiro álbum de nu metal impecável não feito pelo Korn. Inúmeras músicas desta série mundialmente famosa – ‘Roots Bloody Roots’, ‘Refuse/Resist’, ‘Arise’, ‘Inner Self’, ‘Territory’… – ainda ocupam um lugar de destaque no zeitgeist da música pesada e inspiram artistas emergentes.

Para muitos – se as seções de comentários nas redes sociais servirem de referência, pelo menos – é aqui que a história termina. Max desocupou seu posto no que foi basicamente o trabalho de sua vida em 96, com inúmeros sendo apegados demais à sua presença e composições para sequer entreter um Sepultura sem ele. O fato de os dois lados ainda não terem reparado as barreiras 27 anos depois apenas perpetua a amargura dos legalistas.

No entanto, o Sepultura não apenas persistiu desde então: eles permanecem igualmente distintos, com princípios e letalmente pesados. O ‘novo’ Sepultura – composto pelos clássicos Andreas Kisser e Paulo Jr ao lado do vocalista Derrick Green e, desde 2011, do baterista Eloy Casagrande – não tem sido tão influente quanto sua encarnação anterior, mas que banda é 12 anos depois de estrear? Ao mesmo tempo, eles fizeram uma série de álbuns de primeira linha.

‘Roorback’, de 2003, e ‘Dante XXI’, de 2006, viram o Sepultura redescobrir seu impulso venenoso em uma coleção de faixas tensas e consistentes. Eloy chegou com um propósito explosivo em ‘The Mediator Between Head And Hands Must Be The Heart’, de 2013, sua forma furiosa de tocar ressaltando os avanços da banda no black metal e na estranha torrente progressiva. Na época do que hoje se tornou o canto do cisne do Sepultura, ‘Quadra’, os críticos que realmente ouviram afirmaram que eles haviam recapturado a excelência de suas obras-primas dos anos 90.

Mesmo que o Sepultura não tivesse lançado nada além de porcaria pós-Max (e admito que há momentos indefensáveis, como o inconsistente ‘A-lex’), a banda sempre foi imperiosa ao vivo. No festival Bloodstock de 2023, eles tiveram um dos melhores desempenhos do fim de semana. Eloy era apaixonado, tecnicamente impecável e em perfeita harmonia com Andreas e Paulo. Nenhuma nota estava fora do lugar, o material novo parecia mais pesado e o material antigo parecia sinceramente honrado. Derrick – um dos vocalistas veteranos mais subestimados da música extrema – parecia tão raivoso quanto quando explodiu os microfones da banda pela primeira vez em 1998. Nem mesmo Max e Iggor, agora reunidos sob a bandeira Cavalera, tocaram ‘Roots Bloody Roots’ ou ‘Ratamahatta’ de forma tão poderosa e carismática nos últimos anos quanto seus ex-companheiros de banda fizeram.

Nas últimas três décadas, o Sepultura inegavelmente enfrentou pressão comercial e de fãs para abandonar sua trajetória e atender às glórias do passado reunindo antigas formações. O fato de eles não terem feito isso, ironicamente, apenas reforça que eles são a mesma banda de sempre. Quer seja Max ou Derrick no microfone, o Sepultura sempre se opôs corajosamente ao que a cena atual dita que eles deveriam fazer e forjaram seu próprio e incrível legado.”

Sepultura e “Celebrating Life Through Death”

A “Celebrating Life Through Death” terá início em março de 2024, pelo Brasil. América Latina e Europa já possuem as primeiras datas. A ideia é de que a excursão se prolongue por um ano e meio.

Responsáveis por colocar o Brasil e a América do Sul no mapa mundi do heavy metal, o Sepultura sai de cena com 40 anos de carreira e 20 milhões de discos vendidos.

Sobre a Metal Hammer

Fundada em 1983 e com sede em Londres, a Metal Hammer possui tiragem mensal de 20 mil cópias. Atualmente, é mantida pela editora Future, que também publica a Classic Rock e a Prog.

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João Renato Alves
João Renato Alveshttps://twitter.com/vandohalen
João Renato Alves é jornalista graduado pela Universidade de Cruz Alta (RS) e pós-graduado em Comunicação e Mídias Digitais. Colabora com o Whiplash desde 2002 e administra as páginas da Van do Halen desde 2009. Começou a ouvir Rock na primeira metade dos anos 1990 e nunca mais parou.

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