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Edição 2023 consolida Setembro Negro como principal evento de música extrema do Brasil

Festival de quatro dias reúne headliners de peso e público do país inteiro em São Paulo para conferir bandas de variadas vertentes do heavy metal

Sexta-feira, 8 de setembro

*Textos de Thiago Zuma e Guilherme Gonçalves (Morbus Zine). Fotos de Gustavo Diakov / @xchicanox.s

O primeiro dia cheio do Setembro Negro também acabou sendo a data de menor público da edição de 2023 do festival. A aposta em headliners que tenham um legado além da música extrema cobrou o seu preço pela escolha do Picture, uma banda com a qual a maioria dos fãs de metal extremo tem pouca intimidade.

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Quando o Podridão subiu ao palco às duas da tarde, o Carioca Club ainda estava esvaziado. O trio paulista, na ativa desde 2016 e com três discos na bagagem, não se importou e fez uma apresentação bastante animada. O baixista e vocalista Putrid Dick, quando não estava fazendo o redemoinho com a cabeleira durante os solos, expelia as letras nojentas com a mesmo grunhido incompreensível que anunciava as músicas.

Foto: Gustavo Diakov

O death metal de velha guarda do grupo funcionou bem tanto quanto desandava na velocidade quanto nas passagens mais nojentamente arrastadas. Ao encerrar sua apresentação com a faixa-título de seu último álbum, “Cadaveric Impregnation”, lançado este ano, ganhou a empolgação do público que “madrugou” no Carioca Club.

Já os uruguaios do Parasital Existence pareciam até ter fã-clube quando subiram ao palco. Único gringo vindo da América Latina no cast do Setembro Negro, também atraiu o pequeno, mas representativo público de língua espanhola, apesar das faixas do grupo serem cantadas em inglês.

Foto: Gustavo Diakov

A empolgação genuína do guitarrista e vocalista Sargon também colaborou para ganhar o público do Setembro Negro, ao pedir para que as pessoas se aproximassem do palco e demonstrar a honra de participar de um festival desse porte na América Latina. As faixas tiradas do único disco cheio do grupo, “Endless Torments”, calcadas num death metal típico da escola Morrisound dos anos 90, agradaram até a última música — literalmente “The Last One”.

Reduzindo bastante o ritmo do festival, os cearenses do Pantáculo Místico trouxeram arranjos lentos melódicos e, pela primeira vez, um teclado para encher o palco do ainda esvaziado Carioca Club.

Executando faixas longas tiradas majoritariamente de seu disco mais recente e autointitulado, lançado em 2022, o grupo sofreu com a qualidade de som, num volume baixo e um tanto abafado já desde a abertura com a própria música “Pantáculo Místico”.

Foto: Gustavo Diakov

Uma certa eloquência típica de Pagan Metal do baixista e vocalista Júnior Qz contrastou com passagens mais introspectivas. Pode não ter funcionado muito bem com uma parte do público, mas chamou a atenção para quem buscava algo além da velocidade.

Velocidade essa que retornou ao palco com os franceses do Mercyless. Estreante no Brasil, o grupo viu a pista começar a se encher, mas sofreu com problemas de microfonias.

Em cima do palco, porém, a camisa do Morbid Angel do guitarrista solo Gautier Merklen deu a dica do som que a banda mostraria. Com uma história típica do death metal, o grupo causou pequena repercussão na primeira metade dos anos 90, mas não aguentou o tranco e encerrou as atividades na virada do milênio, para voltar na última década.

Foto: Gustavo Diakov

Apesar de contar com faixas de discos mais recentes, a melhor resposta do público paulistano veio para músicas do trabalho de estreia, “Abject Offerings” (1992). Ao estourar seus quarenta minutos no final, com “Pathetic Divinity”, faixa-título de seu álbum de 2016, o grupo mal pôde se despedir com as cortinas sendo fechadas enquanto os músicos ainda estavam no palco.

Logo de cara, chamou a atenção a qualidade da equalização do som que o Torture Squad mostrou ao subir no palco. O público, porém, diminuiu em relação aos franceses, talvez até porque a maratona do Setembro Negro exige que as pessoas se poupem em algum momento — e não devem faltar mais chances para se ver de novo a já clássica banda paulista.

Foto: Gustavo Diakov

O público que ficou na pista estava animado e nem precisou que a energética vocalista Mayara Puertas pedisse a participação. Com um repertório que incluiu canções novas a faixas que viajaram pelos mais de vinte anos de discografia do Torture Squad, a apresentação incluiu até um breve solo de bateria do impressionante Amílcar Christófaro.

O Purgatory, da Alemanha, impressiona pela violência com que toca seu death metal. Sim, a execução dos caras beira o desumano e destoa até mesmo para os padrões do estilo, com uma rifferama muito veloz e precisa.

Foto: Gustavo Diakov

O show começou como um turbilhão, prometendo muito. No entanto, acabou por não entregar tanto assim. No fim das contas, a banda fundada em 1993 e comandada pelo guitarrista René Kögel peca por não conseguir cativar o público ao longo de toda a apresentação. Sobra selvageria, mas faltam bons ganchos e passagens marcantes que se destaquem ao fim de cada música.

Encerrando a leva inicial de apresentações da sexta, os suecos do Defleshed pareciam ser pouco conhecidos pelo público que já deixava a pista bem preenchida. Aos poucos, seu thrash metal de músicas curtas e numa velocidade e agressividade incessantes começou a proporcionar mais rodas de pogo.

Foto: Gustavo Diakov

Ao longo de quarenta e cinco minutos, o trio sueco não deu respiro ao Carioca Club numa das mais intensas apresentações do dia no Setembro Negro. Tendo retornado recentemente após dezesseis anos de hiato com o álbum “Grind Over Matter” em 2022, o grupo deu maior destaque ao seu segundo disco, “Under the Blade”, de 1997. Quando a faixa-título desse disco encerrou a apresentação, o público parecia extenuado.

Nightfall

Os gregos do Nightfall chegaram cercados de burburinho e não decepcionaram. Trazendo aquele black metal que aprendemos a amar, similar ao de conterrâneos como Rotting Christ e Varathron, o quinteto consegue se diferenciar pela teatralidade, bastante identitária, pela presença da baixista Vasiliki Biza, que manda muito bem, e por incrementar o som com pitadas de rock gótico.

Foto: Gustavo Diakov

Nesse ponto, entenda gótico em sua vertente mais extrema, na linha do que Tiamat e Moonspell ainda fazem, mas que já fizeram melhor. Músicas como “Darkness Forever”, “Giants of Anger” e o encerramento com “Ishtar (Celebrate Your Beauty)” se destacaram, assim como o vocalista Efthimis Karadimas e sua máscara no estilo O Fantásma da Ópera, que não passou em branco nas rodinhas de conversa durante e após o show.

Foto: Gustavo Diakov

Repertório — Nightfall:

  1. She Loved the Twilight
  2. Killing Moon
  3. Ambassador of Mass
  4. As Your God is Failing Once Again
  5. Darkness Forever
  6. Giants of Anger
  7. Witches
  8. The Sheer Misfit
  9. Ishtar (Celebrate Your Beauty)

Immolation

Vivendo uma fase espetacular e lançando discos tão bons quanto os clássicos do início de carreira, o Immolation era uma das atrações mais aguardadas do 15º Setembro Negro. Do sábado (8), primeiro dia de festival, com certeza a mais esperada.

Ao longo da tarde e início da noite, era possível ver diversas camisas da banda “circulando” pelo Carioca Club, sobretudo as com a icônica estampa de “Dawn of Possession” (1991). Aliás, é uma pena que os caras não toquem mais músicas desse álbum — a única desta vez foi “Into Everlasting Fire”.

Foto: Gustavo Diakov

Apesar disso, não há do que reclamar. O foco do repertório é em “Acts of God”, lançado em 2022, e diversas músicas desse trabalho já se tornaram hinos do Immolation. Destacam-se “Noose of Thorns”, “The Age of No Light” e “Let the Darkness In”, que inclusive tem sido a escolhida para fechar os shows.

Impossível não mencionar também “Father, You’re Not a Father”, de “Close to a World Below” (2000). A banda não vinha tocando essa com frequência, mas acertaram em cheio ao colocá-la no setlist por aqui.

Foto: Gustavo Diakov

Falar da performance do guitarrista Bob Vigna é chover no molhado, mas não tem como ficar indiferente à forma como esse homem toca. Cada vez mais preciso, ele arranca as notas com uma destreza impressionante como se estivesse fazendo a coisa mais banal do mundo.

No início do show, o som deu sinais de estar um pouco baixo, principalmente as guitarras. De fato, o Immolation não é uma banda que toca com volume no talo, justamente porque precisa de definição e clareza nos detalhes. Mas ao longo da apresentação esse aspecto foi melhorando bastante.

No fim das contas, os 50 minutos passaram voando em mais uma aula de death metal dessa instituição chamada Immolation.

Repertório — Immolation:

  1. Intro: Abandoned
  2. An Act of God
  3. The Age of No Light
  4. Harnessing Ruin
  5. Father, You’re Not a Father
  6. Blooded
  7. World Agony
  8. Noose of Thorns
  9. Into Everlasting Fire
  10. Destructive Currents
  11. Providence
  12. Let the Darkness In

Picture

Apesar de ter estreitado suas relações com o Brasil nos últimos anos, incluindo o lançamento de um trabalho ao vivo gravado em São Paulo em 2019, o Picture teve audiência reduzida quando subiu ao palco com alguns minutos de atraso, já às onze da noite, e que só diminuiu ao longo de uma hora de apresentação. O empolgado público remanescente, porém, foi suficiente para preencher mais da metade da pista.

Foto: Gustavo Diakov

O grupo holandês é contemporâneo à cena da New Wave of British Heavy Metal (NWOBHM) da virada da década depois dos anos 70. De sua formação clássica, só sobraram os tiozinhos Rinus Vreugdenhill, baixista que chegou a ir tocar no meio da galera, e Laurens Bakker, baterista cujo amor ao Brasil foi demonstrado num figurino digno de turista gringo em festa de 7 de setembro.

Foto: Gustavo Diakov

Como sempre uma porta giratória de vocalistas, o grupo foi comandado nesta noite por Peter Strykes que, em trajes maltrapilhos, sofreu com falhas no microfone. A extravagância do vestuário dos holandeses, porém, em nada combinou com a classe dos tradicionais riffs e solos desfilados na noite pelos guitarristas Len Ruygrok e Appie de Gelder.

Desde a animada abertura com “Griffons Guard the Gold”, do álbum “Eternal Dark (1983), o repertório se focou na fase inicial do grupo, principalmente nos discos clássicos “Heavy Metal Ears” (1981) e “Diamond Dreamer”(1982), dos quais saíram 9 das 14 músicas executadas. E não poderia ser muito diferente, tendo em vista os coros que receberam músicas como “Eternal Dark” e “You’re All Alone”.

Foto: Gustavo Diakov

Já passava da meia noite quando “The Hangman” parecia encerrar em nota alta o primeiro dia cheio do Setembro Negro, após uma estendida “Lady Lightning” que já tinha posto o público para pular no Carioca Club. Mas quem estava lá não queria ir embora e o Picture emendou meio no improviso “Unemployed” antes de a equipe da casa botar todo mundo para fora sem dar chance aos holandeses de tocar mais uma.

Repertório — Picture:

  1. Griffons Guard the Gold
  2. Message From Hell
  3. Blown Away
  4. Night Hunter
  5. Line of Life
  6. Nighttiger
  7. Diamond Dreamer
  8. Killer in My Sights
  9. Eternal Dark
  10. You’re All Alone
  11. The Blade
  12. Bombers
  13. Heavy Metal Ears
  14. Lady Lightning
  15. The Hangman

Bis:

  1. Unemployed

Índice:

Página 1: Introdução
Página 2: Pré-festa de quinta-feira, 7 de setembro (Sodom, In the Woods, Leviaethan etc)
Página 3: Sexta-feira, 8 de setembro (Picture, Immolation, Nightfall etc)
Página 4: Sábado, 9 de setembro (Sodom, Bulldozer, Sacramentum etc)
Página 5: Domingo, 10 de setembro (Triumph of Death, Cancer, Assassin etc)