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Edição 2023 consolida Setembro Negro como principal evento de música extrema do Brasil

Festival de quatro dias reúne headliners de peso e público do país inteiro em São Paulo para conferir bandas de variadas vertentes do heavy metal

A pré-festa de quinta-feira (7)

*Textos de Thiago Zuma e Guilherme Gonçalves (Morbus Zine). Fotos de Gustavo Diakov / @xchicanox.s

É compreensível chamar a quinta-feira (7) de pré-festa por ter sido incluído posteriormente ao calendário do festival. Porém, na verdade, a data proporcionou um primeiro dia ao Setembro Negro com quatro bandas a menos em relação às datas remanescentes e seguindo a mesma lógica do feriadão prolongado: palco único no Carioca Club, intervalo curto entre as apresentações, com os brasileiros abrindo para os grupos gringos.

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Assim, coube aos baianos do Erasy a honra de iniciar a décima-quinta edição do evento. O stoner de riffs Sabbáthicos cheio do sentimento lamacento e desgraçado do sludge, no entanto, funcionou como um vagaroso soltar de freio de mão para o festival.

Foto: Gustavo Diakov

O grupo de Feira de Santana focou seu repertório no mais recente disco “Some Nice Flowers”, de 2020, e foi impossível não se lembrar de um certo bigodudo quando o riff de “A Motivational Message” começou a escorrer pelas guitarras de Léo Carvalho, sob um enorme chapéu de mago.

Foto: Gustavo Diakov

Se a lentidão do Erasy pode ter servido como um momento de reconhecimento de terreno por parte do público, quando os gaúchos do Burn the Mankind subiram ao palco, estávamos começando a ter o Setembro Negro que ganhou renome na cena brasileira.

A apresentação do grupo, que está na estrada há mais de uma década, marcou sua estreia em território paulistano, segundo o comunicativo guitarrista e vocalista Marcelo Nekard. O público, ávido por violência e brutalidade sonora, aprovou o death metal técnico da banda, com suas variações de andamentos, troca de solos e paradas sincronizadas.

Foto: Gustavo Diakov

Nikard chegou a lamentar não poder conversar mais entre as músicas, num repertório do grupo que equilibrou faixas do seu disco “To Beyond” (2015) com o EP “Chaos Matter” (2020). Ao terminar a apresentação com um cover de “Morrer” do Ratos de Porão, o vocalista vai ter mais uma boa história a contar.

A marca da pré-festa do Setembro Negro foi uma diversidade de estilos representados em sua primeira noite. Nesse contexto, o Warshipper trouxe uma mistura de thrash brutal e death metal da velha guarda, lembrando aquela que deu fama internacional a certos brasileiros no passado.

Foto: Gustavo Diakov

Com o sotaque do guitarrista e vocalista Renan Roveran (ex-Bywar) escancarando a origem paulista do grupo, as trocas de solo sofreram com o ajuste de som da casa que ficava cada vez mais cheia, mas ainda sem empolgação o suficiente para abrir rodas como as músicas pediam.

Última banda brasileira da noite, o Leviaethan levou ao palco do Carioca exatos 40 anos de tradição no thrash metal. Formado em 1983, o grupo de Porto Alegre foi um dos primeiros expoentes do gênero no Brasil e pôde celebrar as quatro décadas em grande estilo, retornando a São Paulo. O baixista Flávio Soares é o único remanescente da formação original e puxou logo de cara três músicas do debut “Smile!”, lançado em 1990: “The Last Supper”, “Echoes From the Past” e “A.I.D.S.”. Foi bacana ver outros músicos veteranos do metal brasileiro acompanhando e se divertindo bastante com o show dos gaúchos.

Foto: Gustavo Diakov

In the Woods…

A primeira apresentação estrangeira na 15ª edição do Setembro Negro foi dos noruegueses do In the Woods…, grupo surgido das cinzas da formação original do Green Carnation. Seu disco de estreia, “Heart of the Ages”, de 1995, foi um dos responsáveis por expandir a paleta de influências no black metal e, a cada lançamento, o som foi ficando cada vez mais progressivo e menos ríspido até encerrar as atividades em 2000.

Foto: Gustavo Diakov

Mas o único remanescente da formação original, o baterista Anders Kobro, sabia que os noruegueses não estavam num festival como o Setembro Negro pela pegada ainda mais progressiva de seus três discos lançados após a reunião em 2014, representados por apenas duas músicas no repertório.

Apresentando-se após três bandas brasileiras que primavam pela agressividade, a mistura de black metal ríspido com melodias etéreas das três faixas tiradas de “Heart of the Ages”, além da atmosférica “299 796 km/s”, do segundo disco “Omnio”, de 1997, serviu para que o In the Woods… desse um agradável descanso antes da tortuosa pancadaria que viria a seguir.

Repertório – In the Woods…

  1. Heart of the Ages
  2. Empty Streets
  3. Yearning the Seeds of a New Dimension
  4. A Wonderful Crisis
  5. 299 796 km/s
  6. …In the Woods

Voivod

“Vocês gostam de prog? Porque essa próxima música é prog pra car#lho!”, alertou Snake. Mas nem precisava. A essa altura do campeonato, todo mundo sabe que o Voivod extrapola não só o thrash metal, mas qualquer definição simplista de gênero e estilo.

Foto: Gustavo Diakov

Ao subir ao palco para fechar a pré-festa do Setembro Negro, a banda canadense reuniu bangers veteranos e novos, punks e até gente realmente mais ligada à música progressiva num público que se fez presente em ótimo número no Carioca Club. E maduro o suficiente para entender que o Voivod de hoje não é mais o mesmo de 40 anos atrás.

Inclusive, o quarteto fez questão de passear por quase toda essa discografia de quatro décadas. Dos 15 álbuns de estúdio, 11 foram contemplados. Mais novo deles, o estupendo “Synchro Anarchy” (2022), foi o mais lembrado e teve três músicas executadas: “Holographic Thinking”, “Sleeves Off” e a faixa-título.

Foto: Gustavo Diakov

Snake é puro carisma e comanda a cerimônia como poucos, mas sabemos que o coração e a alma do Voivod é Michel “Away” Langevin. O baterista tocou com uma camisa do The Damned, provando que não só o prog, mas também o punk tem forte entrada no gosto musical da banda — o guitarrista Daniel “Chewy” Mongrain tocou com uma do Cardiacs.

Por falar em Chewy, é impressionante como consegue honrar o legado do saudoso Piggy. Seja nos riffs dissonantes, na abordagem “pinkfloydiana” ou na desconstrução de convenções, o músico incorpora com extrema precisão o espírito do guitarrista fundador da banda, falecido em 2005. Em determinado momento do show, homenagearam o velho amigo. Foi bonito de ver.

Foto: Gustavo Diakov

Pontos altos da apresentação? Todos! Mas “Killing Technology”, “Macrosolutions to Megaproblems”, “Thrashing Rage”, “Fix My Heart” (incrível ao vivo!) e “Voivod” foram de chorar. E olha que nem tocaram “Ravenous Medicine”. Quem mais pode se dar a um luxo desses?

Repertório — Voivod:

  1. Killing Technology
  2. Obsolete Beings
  3. Synchro Anarchy
  4. Macrosolutions to Megaproblems
  5. Rise
  6. Rebel Robot
  7. Thrashing Rage
  8. Holographic Thinking
  9. Nuage Fractal
  10. Sleeves Off
  11. Pre-Ignition
  12. Fix My Heart

Bis:

  1. Voivod

Índice:

Página 1: Introdução
Página 2: Pré-festa de quinta-feira, 7 de setembro (Sodom, In the Woods, Leviaethan etc)
Página 3: Sexta-feira, 8 de setembro (Picture, Immolation, Nightfall etc)
Página 4: Sábado, 9 de setembro (Sodom, Bulldozer, Sacramentum etc)
Página 5: Domingo, 10 de setembro (Triumph of Death, Cancer, Assassin etc)