A resposta do Living Colour às falas preconceituosas de cofundador da Rolling Stone

Banda descreveu falas de Jann Wenner como um "insulto" e destacou problema sistêmico contido no pedido de desculpas do jornalista

Jann Wenner, cofundador da revista Rolling Stone, recentemente emitiu declarações preconceituosas. A situação teve início após ele seu novo livro “Masters”, composto por entrevistas com músicos importantes para o rock, não ter pessoas pretas e mulheres. Ao explicar a decisão, em conversa com o The New York Times, citou “falta de articulação” e de genialidade por parte desses grupos.

Com a repercussão negativa, o autor acabou expulso do Rock and Roll Hall of Fame, instituição que ele próprio ajudou a construir. Sendo assim, optou por se retratar pelas declarações concedidas ao jornal, ressaltando que a sua obra representa o impacto do rock dentro de seu próprio mundo e que a intenção não era englobar “todos os importantes criadores da música”.

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Na opinião do Living Colour, o pedido de desculpas do jornalista só destaca ainda mais a gravidade do problema. Por meio das redes sociais, a banda descreveu os comentários de Wenner como “insultos” e discorreu a respeito, enfatizando o caráter machista e excludente das falas.

“Nós, integrantes do Living Colour, gostaríamos de falar sobre o recente pedido de desculpas de Jann Wenner por declarações controversas feitas em divulgação ao seu novo livro. A própria ideia de um livro chamado ‘The Masters’ [‘Os Mestres’], que omite descaradamente as contribuições essenciais de pessoas pretas, de outras etnias e mulheres para o rock e para a cultura pop, fala de um problema muito maior e mais sistêmico.

Sua declaração na entrevista ao New York Times de que artistas afro-americanos e mulheres não são ‘articulados’ o suficiente para se expressar sobre seu próprio trabalho é absurda. Para alguém que narra o cenário musical há mais de 50 anos, é um insulto para aqueles de nós que estão abaixo desses gênios esquecidos.

Ouvir que ele acredita que Stevie Wonder não é articulado o suficiente para expressar seus pensamentos sobre qualquer assunto é, francamente, um insulto. Ouvir que Janis Joplin, Joni Mitchell, Tina Turner ou qualquer uma das muitas artistas mulheres que ele escolhe não mencionar não são dignas do status de ‘mestre’. cheira a uma divisão MACHISTA e comportamento excludente.

O pedido de desculpas de Werner só solidifica a ideia. O fato de seu livro ser um reflexo de sua visão de mundo sugere que ele é limitado e pequeno”.

O que Jann Wenner havia dito

No bate-papo com o The New York Times, ao ser questionado sobre a falta de mulheres na obra recém-lançada, Jann Wenner justificou:

“A seleção não foi deliberada. Foi meio intuitivo ao longo dos anos, simplesmente aconteceu dessa maneira. As pessoas tinham que atender a alguns critérios, mas era apenas meu interesse pessoal e amor por elas. No que diz respeito às mulheres, nenhuma delas era tão articulada o suficiente neste nível intelectual.”

Ao receber a oportunidade de reformular as suas observações, Wenner reafirmou a opinião.

“Não é que elas não sejam gênios criativos. Não é que sejam inarticuladas, mas tenha uma conversa profunda com Grace Slick ou Janis Joplin. Por favor, fique à vontade. Você sabe, Joni Mitchell não era uma filósofa do rock ‘n’ roll. Ela não passou, na minha opinião, nesse teste. Nem pelo trabalho dela, nem pelas outras entrevistas que deu. As pessoas que entrevistei eram o tipo de filósofos do rock.”

Quanto à exclusão de artistas pretos, responsáveis pelo nascimento do rock and roll, Jann argumentou:

“Dos artistas negros – você sabe, Stevie Wonder é um gênio, certo? Suponho que quando você usa uma palavra tão ampla como ‘mestres’, o erro é usar essa palavra. Talvez Marvin Gaye ou Curtis Mayfield? Quero dizer, eles simplesmente não se articularam nesse nível. Você sabe, apenas por uma questão de relações públicas, talvez eu devesse ter ido e encontrado uma artista negra e uma mulher para incluir aqui, mesmo que não correspondesse ao padrão histórico, apenas para evitar esse tipo de crítica. Eu tive a chance de fazer isso. Talvez eu seja antiquado e não dê a mínima ou algo assim. Gostaria, em retrospectiva, de ter entrevistado Marvin Gaye. Talvez ele fosse o cara. Talvez Otis Redding, se estivesse vivo, teria sido o cara.”

Posteriormente, por meio de um comunicado, ele pediu desculpas pelas declarações. Destacou que não escolheu apropriadamente as palavras utilizadas e que está disposto a encarar as consequências de seu erro.

“Durante minha entrevista ao The New York Times, fiz comentários que diminuíram as contribuições, a genialidade e o impacto de artistas negros e mulheres e peço desculpas de todo o coração por esses comentários. O livro ‘Masters’ é uma coleção de entrevistas que fiz ao longo dos anos que, na minha concepção, melhor representavam uma ideia do impacto do rock ‘n’ roll no meu próprio mundo. Essas entrevistas não estavam lá para englobar toda a música e seus diversos e importantes criadores, mas para refletir os pontos altos da minha carreira. São entrevistas que eu senti que ilustraram a abrangência e experiência nessa minha carreira. Elas não refletem meu apreço e admiração por uma infinidade de artistas de diferentes grupos responsáveis por mudar o mundo, cujas músicas e ideias eu reverencio e celebrarei e divulgarei enquanto viver. Compreendo totalmente a natureza inflamatória de palavras mal escolhidas e peço desculpas profundas, aceito as consequências.”

Sobre o Living Colour

O Living Colour foi criado em 1984 pelo guitarrista Vernon Reid, famoso na cena jazzística nova-iorquina. O projeto só chegou a sua formação clássica em 1986, com Reid, Corey Glover nos vocais, Muzz Killings no baixo e Will Calhoun na bateria.

O grupo desenvolveu um som que combinava jazz, funk, metal, punk rock e música experimental, além de apresentações ao vivo com elementos visuais inovadores criados pelo iluminador Andy Elias.

Em meio a uma batalha para serem levados à sério como uma banda de rock, Reid conseguiu um trabalho como guitarrista no que viria a ser o primeiro disco solo de Mick Jagger, “Primitive Cool”. Essa conexão profissional levou o vocalista a ver o Living Colour ao vivo. A impressão desse show foi tamanha a ponto de Jagger pausar as gravações do álbum solo por uma semana e produzir duas demos do grupo. A resistência das gravadoras continuou, mas eventualmente esse apadrinhamento foi suficiente para a Epic Records decidir apostar no grupo.

“Cult of Personality” é o maior hit do Living Colour e faz parte de “Vivid”, seu álbum de estreia, lançado em 3 de maio de 1988. O disco vendeu mais de 2 milhões de cópias nos Estados Unidos, enquanto o single rendeu à banda o Grammy de Melhor Performance de Hard Rock e o MTV Video Music Award de Melhor Vídeo de Grupo e Melhor Novo Artista.

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Maria Eloisa Barbosa
Maria Eloisa Barbosahttps://igormiranda.com.br/
Maria Eloisa Barbosa é jornalista, 24 anos, formada pela Faculdade Cásper Líbero. Colabora com o site Keeping Track e trabalha como assistente de conteúdo na Rádio Alpha Fm, em São Paulo.

1 COMENTÁRIO

  1. Qualquer pessoa que acompanha a Rolling Stone sabe que a revista sempre foi racista, misógina e neoliberal. Wenner é um alpinista social de marca maior.

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