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Entrevista: Richie Faulkner fala sobre Elegant Weapons, Judas Priest e encontro com a morte

Guitarrista de 43 anos elege ainda suas músicas e álbuns favoritos da lendária banda de heavy metal à qual integra há mais de uma década

Guitarrista do Judas Priest desde 2011, Richie Faulkner está prestes a lançar um novo capítulo em sua jornada musical: o Elegant Weapons, cujo disco de estreia intitulado “Horns for a Halo” chega às plataformas digitais nesta sexta-feira (26) via Nuclear Blast. Com uma mistura explosiva de riffs poderosos, melodias vocais cativantes e letras que abordam temas universais, o álbum promete levar os fãs em uma jornada sonora intensa.

Além da empolgação em torno do lançamento de “Horns for a Halo”, a trajetória de Faulkner enfrentou um momento desafiador. Durante uma performance no palco em 2021, o guitarrista foi surpreendido por um aneurisma aórtico, situação que exigiu intervenção médica urgente.

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Apesar do susto e da necessidade de uma cirurgia delicada, ele mostrou coragem e determinação em sua recuperação. Agora, compartilha conosco sua história inspiradora de superação e resiliência.

Ah, e claro, falamos bastante de Judas Priest; inclusive a respeito do vindouro álbum da banda.

Elegant Weapons: de Thin Lizzy a Black Label Society

Richie Faulkner se juntou ao Judas Priest para a turnê “Epitaph” (2011-2012), que a princípio marcaria a despedida da banda dos palcos. Acabou não sendo. Com Faulkner a bordo, o Priest gravaria dois novos álbuns de estúdio — “Redeemer of Souls” (2014) e “Firepower” (2018) — e faria três turnês, incluindo a presente “50 Heavy Metal Years”, que passou pelo Brasil em dezembro de 2022.

Sendo assim, faz mais de dez anos que Faulkner vem planejando o que fazer após o Priest encerrar as atividades. Mas somente a “droga da pandemia” o possibilitou finalmente tirar a ideia do papel:

“Ninguém estava em turnê, o novo álbum do Priest estava praticamente todo composto, então, criativamente, eu poderia aplicar todas as minhas novas ideias ao que se tornou o disco do Elegant Weapons.”

A pandemia deu a Richie o tempo e o foco necessários para reunir todas as ideias em que havia trabalhado. Quando se deu conta, tinha músicas suficientes não para um EP, mas para um álbum completo. Ele só estabeleceu uma coisa: não queria algo que soasse igual ao Judas Priest.

“Queria que soasse diferente, que mostrasse uma parte diferente do meu DNA, e acho que consegui.”

Em relação ao som e ao estilo, o guitarrista lança mão do bom e velho “melódico, mas pesado” tipicamente atribuído a grupos que não são nem totalmente hard rock, nem totalmente heavy metal:

“Não é metal tipo o Judas Priest, mas há elementos de metal na fórmula. Posso ouvir ali Black Sabbath, Priest, U.F.O., Thin Lizzy e Black Label Society, mas teve gente que ouviu também Scorpions e Alice in Chains. No fim das contas, se situa em algum lugar entre o hard e o metal.”

O processo de composição, como fica evidente no decorrer do disco, foi ditado conforme os riffs que Faulkner compunha; afinal, para ele, “o riff é o que manda”:

“Adoro riffs, adoro tocar riffs, a forma como os riffs soam. Para mim, é a primeira coisa que chama a atenção. Se não tiver um bom riff, é melhor que tenha uma boa melodia vocal para compensar. Uma pessoa que não fala inglês não vai conseguir entender o que está sendo cantado, mas vai curtir um bom riff ou uma boa melodia imediatamente. A melodia gruda antes que possam ver a letra.”

Letras sem reinvenção da roda

No que diz respeito às letras, por não se considerar grande letrista, Richie Faulkner deixou essa etapa do processo a cargo dos colegas de Elegant Weapons — a saber, o vocalista Ronnie Romero, o baixista Rex Brown e o baterista Scott Travis, sendo que os dois últimos já deram lugar, respectivamente, a Dave Rimmer e Christopher Williams. Ainda assim, comentou acerca dos principais temas abordados:

“Não acho que haja nada de inovador; não estamos reinventando a roda. Há amor perdido em ‘Ghost of You’; pode se referir a um amor que se foi ou à morte de alguém. ‘Blind Leading the Blind’ é uma maneira um pouco dramática de olhar para o mundo; é como se uma figura tirânica liderasse as pessoas, e não fizesse a menor ideia de o que está fazendo. Pense nas pessoas, nas instituições e em tudo mais que tira vantagem dos outros. Cabe a nós realmente criar as nossas próprias maneiras de resolver as coisas.”

Mas também há em “Horns for a Halo” algumas canções que pincelam no tema do ocultismo, como “White Horse”.

“Não quer dizer necessariamente que acredito nisso, embora ache muito interessante. Mas não gosto de falar muito sobre significados. Gosto que as pessoas tirem suas próprias conclusões das letras. Há canções que conhecemos e amamos e atribuímos a elas um significado, e a intenção do autor pode ter sido outra, completamente diferente, mas isso não importa. Nós atribuímos significados nossos e essa é a coisa mágica da música.”

“Muito trabalho a ser feito”

Richie Faulkner nega, ou pelo menos não se lembra, que qualquer uma das dez faixas do Elegant Weapons tenha sido originalmente escrita para o Judas Priest. “Pode ser que sim”, diz ele antes de comparar o processo criativo de ambas as bandas:

“Com o Priest, o trabalho é conjunto com Glenn Tipton e Rob Halford. No Elegant Weapons não há essa dinâmica. Coube a mim criar todos os riffs. Não tive um Glenn a quem recorrer. Também no Priest você não pode menosprezar o fato de que são mais de cinquenta anos de carreira e que talvez haja uma expectativa dos fãs a ser cumprida; o que não se aplica ao Elegant Weapons, que apenas tem de criar algo novo, em vez de pensar num legado.”

Capitanear um projeto musical fora da “máquina bem-azeitada” que é o Judas Priest traz desafios, mas também recompensas. Do ponto de vista das turnês, por exemplo, uma estrutura é infinitamente menor do que a outra, então…

“Há mais trabalho a ser feito. Você bota a mão na massa muito mais, e acho que é importante para uma banda nova que as coisas sejam assim. Não é ‘pensar pequeno’, mas quando tudo está ao alcance, é você quem controla tudo. Há prós e contras; você pode controlar muito mais coisas, mas há muito mais trabalho a ser feito, porque não há outras pessoas que possam fazer isso por você. Mas fazer por si mesmo garante que a imagem e a integridade da banda sejam resguardadas desde o início. No fim das contas, é uma coisa boa.”

Prestes a estrear a nova banda nos palcos — em shows abrindo para o tributo ao Pantera na Europa em junho e julho —, Faulkner não poderia estar mais empolgado com as ainda infinitas possibilidades no horizonte:

“É muito empolgante, e justamente por não fazer ideia de como isso vai mudar e crescer é que me sinto empolgado. Estou ansioso para cair na estrada e me conectar com as pessoas da maneira que só a música ao vivo permite. Isso é o que fortalece uma banda. Vejamos como se dá essa evolução. Não sei o que o futuro reserva. Mas agora, vamos tocar ao vivo, nos conectar com os fãs, voltar para o estúdio, gravar outro álbum, e interromper o ciclo; interromper para que possamos crescer individualmente antes de nos encontrarmos outra vez.”

Judas Priest: gratidão e predileção

Faz 11 anos desde que Richie Faulkner foi recrutado para substituir K.K. Downing na segunda guitarra do Judas Priest. Com o tempo, e em razão do diagnóstico de doença de Parkinson e subsequente afastamento de Glenn Tipton das turnês, Faulkner virou o número um, deixando a cargo do produtor Andy Sneap o papel de copiloto das seis cordas.

Mas mesmo que não tivesse conseguido a vaga, Faulkner já teria se dado por satisfeito. Para ele:

“Só de ser considerado para essa posição, foi incrível… Apenas ser considerado, e depois conseguir a vaga e sair em turnê, hasteando a bandeira não apenas da banda, mas do metal e estar no palco ocupando o lugar que antes pertencia ao K.K. e continuar esse legado e todas essas coisas… Como guitarrista, você não pode realmente pedir uma honra maior, e estar em cima do palco com esses caras, tocando essas músicas, com tantos fãs ao redor do mundo… isso é enorme, cara. Então sou incrivelmente grato à banda e aos fãs pela oportunidade.”

Embora reconheça que todas as músicas com as quais contribuiu para o Priest tenha um significado especial, Faulkner cita uma que está entre as principais do álbum “Redeemer of Souls”:

“Tenho um carinho especial por ‘Halls of Valhalla’, talvez porque foi um dos primeiros riffs que eu lembro de ter apresentado e lapidado, e ainda a tocamos ao vivo às vezes e, talvez por isso, eu diria ela.”

Quando questionado sobre quais são suas músicas favoritas do Priest para tocar ao vivo, Faulkner também puxa sardinha para o seu lado. Depois de citar clássicos como “Victim of Changes”, “The Sentinel” e “Painkiller”, aponta uma canção presente em “Firepower”:

“Teve uma música que tocamos na última turnê chamada ‘Never the Heroes’, e eu realmente gostei de tocá-la; trata-se de uma canção mid-tempo sobre soldados em guerra a qual eu realmente gostei de tocar ao vivo. É aquilo: o Judas Priest não tem música ruim. Mas as que mencionei são definitivamente algumas das minhas favoritas.”

Contrariando as expectativas criadas a partir das duas respostas anteriores, o guitarrista surpreende na escolha de álbum do Judas Priest que gostaria de tocar na íntegra em um show. Apesar de ter respondido “Painkiller” de imediato, ele acrescentou:

“O ‘Defenders of the Faith’ é o meu favorito, sempre foi o meu favorito, mas não acho que dure tempo suficiente para um show. Então talvez tocasse o ‘Defenders’ e o ‘Screaming for Vengeance’ em uma noite e depois, na noite seguinte, o ‘Painkiller’ e o ‘Killing Machine’.”

O único guitarrista e o próximo álbum

Não deu para evitar perguntar a Richie Faulkner o que ele achou de quando o Judas Priest anunciou que continuaria somente com ele como guitarrista. Diz ele que “seria estranho, e é por isso que acabamos não fazendo”. Mas o que mais impactou na revogada da decisão foi a opinião contrária dos fãs:

“Eles se mostraram tão fervorosos que decidimos que era melhor não fazermos isso.”

Sabe-se que o Judas Priest está preparando o sucessor de “Firepower”, ainda sem título ou data de lançamento definidos. Faulkner conta que a gravação está “quase pronta, só temos que mixá-lo, masterizá-lo e depois mandá-lo para a fábrica e lançá-lo”. Ele antecipa que haverá versão em vinil (“Veremos o processo de fabricação a seguir”) e que as músicas…

“Soam fantásticas. Não faria sentido lançar um novo disco, se não soassem fantásticas e não tivéssemos a certeza de que é o melhor álbum que podemos fazer.”

O guitarrista revela ainda que a banda gravou mais músicas do que o necessário para fechar um álbum, pois “não queríamos que fosse muito longo”. Ele não se lembra quantas são, mas que “provavelmente teremos que cortar algumas”.

A vida após a quase morte

No dia 26 de setembro de 2021, Richie Faulkner sofreu um aneurisma aórtico no palco com o Judas Priest e foi levado às pressas ao hospital. Ele pensou que poderia ser um princípio de infarto. Felizmente, era a última música do set e…

“Tínhamos uma equipe médica de prontidão que pôde me examinar imediatamente. Fui levado para o hospital que, felizmente, ficava a poucos quilômetros de distância e, felizmente, era um dos melhores hospitais do coração nos Estados Unidos, se não o melhor, e eles me levaram direto para o centro cirúrgico. E salvaram a minha vida.”

Dada a taxa de mortalidade, Faulkner pode se considerar sortudo por estar vivo. Ele mesmo reconhece a vida após o aneurisma como um “bônus”:

“Não era para eu estar aqui, né? Eu não deveria estar vivo, então qualquer coisa depois disso; falar com você, fazer música, os discos, as turnês que vieram na sequência, é tudo um bônus, sabe? Tudo o que acontece agora é um bônus.”

Passados alguns meses do incidente, Faulkner retomou os trabalhos em caráter quase que terapêutico.

“Liguei para os empresários e disse: ‘quero terminar este disco [do Elegant Weapons], lançá-lo’. Foi uma parte do processo de cura voltar à estrada, voltar a trabalhar com o Priest e terminar a turnê. Tudo fez parte da cura, sabe?”

Ver a morte de perto afetou as perspectivas de Faulkner não só em relação à sua carreira musical, mas à vida em geral. Por não sabermos quanto tempo nos resta, ele aconselha:

“Se você tem um disco para fazer ou uma banda que deseja montar, ou um livro que deseja escrever ou qualquer outro projeto… qualquer coisa que queira fazer ou qualquer coisa que queira ver, então faça acontecer. Faça, porque você nunca sabe o que está por vir. Levante-se e faça, porque ninguém vai ficar aqui para sempre.”

A retomada dos trabalhos não ocorreu sem seus próprios “bônus”. Mudanças na rotina e no estilo de vida foram necessárias após o episódio para evitar problemas de saúde semelhantes no futuro. Faulkner revela estar tomando “uma porrada de remédios”, além de…

“Fazer dieta e coisas assim, mas, em comparação com o que algumas pessoas passam, só precisar tomar remédios e fazer dieta é muito pouco. Tenho uma prima que tem diabetes e perdeu as duas pernas. Entende? Algumas pessoas passam por muito mais desafios do que eu estou passando.”

“Com tanta música sendo feita hoje, ter pessoas dispostas a ouvir a sua música é um privilégio”, reconhece Faulkner antes de deixar um recado para aqueles que ouvirão “Horns for a Halo” no dia do lançamento:

“Espero que vocês gostem. É tudo o que posso desejar. E espero vê-los nos futuros shows.”

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Marcelo Vieira
Marcelo Vieirahttp://www.marcelovieiramusic.com.br
Marcelo Vieira é jornalista graduado pelas Faculdades Integradas Hélio Alonso (FACHA), com especialização em Produção Editorial pela Universidade Estadual Paulista (UNESP). Há mais de dez anos atua no mercado editorial como editor de livros e tradutor freelancer. Escreve sobre música desde 2006, com passagens por veículos como Collector's Room, Metal Na Lata e Rock Brigade Magazine, para os quais realizou entrevistas com artistas nacionais e internacionais, cobriu shows e festivais, e resenhou centenas de álbuns, tanto clássicos como lançamentos, do rock e do metal.

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