Nem o show cancelado de Roger Waters em Frankfurt impedirá o cantor de ir até a cidade alemã no dia 28 de maio. Mesmo após ter a apresentação no local anulada pelo conselho municipal por antissemitismo, o ex-Pink Floyd comunicou nas redes sociais que ainda assim realizará tal viagem como forma de protesto.
Com a notícia do cancelamento em fevereiro e com outras datas da turnê prestes a tomar o mesmo rumo, o músico recorreu à Justiça para contornar a situação. Em nota divulgada à imprensa no mês passado, sua equipe argumentou que a ação era “inconstitucional” e “sem justificativa” e que “aqueles que desejam vê-lo se apresentar devem ser livres para fazê-lo”.
Desde o início de março, está circulando na internet uma petição no site Change.org, criada pela comediante Katie Halper, a fim de reverter a conduta. Assinaram o documento Peter Gabriel, Eric Clapton, Tom Morello, Brian Eno e Robert Wyatt, além de Nick Mason, ex-colega de Waters no Pink Floyd, e outras 34 mil pessoas.
No entanto, nada parece ter surtido muito efeito. Pelo Instagram, Waters revelou recentemente que o governo de Frankfurt não respondeu aos seus pedidos judiciais dentro do prazo e que decidiu comparecer à cidade de qualquer maneira.
“Vamos de qualquer forma. Porque os direitos humanos são importantes. Porque a liberdade de expressão é importante.”
Depois, na postagem, ele mencionou os três mil judeus detidos no Festhalle, espaço onde se apresentaria, durante a “Noite dos Cristais” (série de ataques nazistas contra judeus em novembro de 1938), e Sophie Scholl, ativista alemã antinazista. Por fim, ressaltou sua ida a Frankfurt sem especificar se vai performar de fato.
“Nós nos lembramos da ‘Noite dos Cristais’. Assim como Sophie Scholl, nossos pais estavam ao lado daqueles 3 mil homens judeus e hoje estamos com os palestinos. Vamos ir a Frankfurt no dia 28 de maio!”
Os cancelamentos
O conselho municipal de Frankfurt anunciou no fim de fevereiro o cancelamento do show de Roger Waters na cidade, anteriormente marcado para acontecer no Festhalle em 28 de maio. Em uma declaração oficial, o conselho municipal categorizou a posição anti-Israel do cantor como prova de seu status de “um dos antissemitas mais famosos do mundo”.
A entidade apontou os esforços do ex-integrante do Pink Floyd em promover um boicote cultural ao país, devido a uma política aplicada agressivamente pelo governo israelense com relação a cidadãos palestinos que muitas outras autoridades compararam ao apartheid na África do Sul.
No mesmo mês, um grupo de políticos da Câmara Municipal de Colônia se uniu para impedir a apresentação do ex-Pink Floyd no local, agendada para o dia 9 de maio, na Lanxess Arena. “Não deve haver espaço para conteúdo antissemita em nossos palcos”, disseram em carta. Em resposta, a administração da Lanxess Arena afirmou que não tinha qualquer poder para barrar o concerto por causa de suas “obrigações contratuais”.
No caso de Munique, partidos de centro e de esquerda fizeram uma aliança neste mês e pediram conjuntamente para que o show do ex-integrante do Pink Floyd no dia 21 de maio, no Olympiahalle, não aconteça. A razão está no posicionamento do artista a favor da Rússia em relação à Guerra na Ucrânia e dos comentários contra Israel. Além dos lugares citados, Berlim e Hamburgo são outras cidades alemãs que, até o momento, receberão o cantor.
Em outras circunstâncias, Roger Waters também teve shows cancelados na Polônia. O músico se apresentaria em Cracóvia, nos dias 21 e 22 de abril. A nota oficial divulgada na época se limita a anunciar a decisão, sem mais explicações. Porém, informações obtidas nos bastidores dão conta de que recentes posicionamentos do músico sobre o atual conflito na Ucrânia teriam influenciado.
Pouco tempo antes do cancelamento, Waters publicou uma carta aberta direcionada a Olena Zelenska, primeira-dama ucraniana. Nela, pede que o país esteja disposto a negociar o fim do conflito com a Rússia, além de criticar as nações que fornecem suporte de armamento. O texto gerou uma série de críticas ao ex-líder do Pink Floyd.
Em postagem nas redes sociais, Waters se manifestou negando ter sido o responsável pelo cancelamento dos shows, contrariando o que fontes locais teriam alegado.
Roger Waters e Israel
Roger Waters faz parte do movimento BDS (traduzido: Boicote, Desinvestimento e Sanções), que promove boicote em diversas esferas, inclusive cultural, a Israel. O motivo é a política aplicada agressivamente pelo governo israelense com relação a cidadãos palestinos que muitas outras autoridades compararam ao apartheid na África do Sul. Os objetivos são, de acordo com a organização, “o fim da ocupação e da colonização dos territórios palestinos, igualdade de direitos para os cidadãos árabes de Israel e respeito ao direito de retorno dos refugiados palestinos”.
Durante a The Wall Tour, que teve mais de 200 shows entre 2010 e 2013, Waters incluiu na produção um porco voador estampado com a estrela de Davi junto de várias logomarcas corporativas. Para muitos, tal retratação reforça estereótipos em torno do povo judeu.
Em 2020, como observa o Tenho Mais Discos Que Amigos, Roger foi criticado por apontar em entrevista ao Middle East Media Research Institute uma suposta conexão entre a morte de George Floyd, homem negro assassinado pela polícia americana, e Israel, ao dizer que militares israelenses foram os responsáveis por ensinar aos estadunidenses a técnica de pressionar o pescoço de alguém rendido com o joelho. Ele chegou a dizer que o país estaria “orgulhoso” pelo crime cometido.
Clique para seguir IgorMiranda.com.br no: Instagram | Twitter | Facebook | YouTube.