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Como o Linkin Park evitou a “maldição do segundo álbum” com “Meteora”

Fragilidade atemporal da temática resultou em milhões de cópias vendidas no mundo e hits como “Numb”, “Somewhere I Belong” e “Faint”

No amanhecer do novo milênio, o Linkin Park foi uma das maiores novidades do rock. Em seu primeiro álbum, “Hybrid Theory” (2000), o grupo reescreveu as possibilidades do nu metal, adotando a música eletrônica de uma forma que complementasse seu talento ao invés de limitá-lo.

Mas não foram só as guitarras fora do tom e os samplings que fizeram o disco vender 12 milhões de cópias nos Estados Unidos e 25 milhões no mundo inteiro. Toda uma geração que cresceu na época encontrou em músicas como “Crawling” e “In the End” ajuda em seus próprios períodos sombrios.

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Mais ainda encontrariam nos carros-chefes do álbum seguinte, “Meteora”, que evitaria a “maldição do segundo álbum” ao vender 16 milhões de cópias.

A inspiração para o título veio do maior sítio arqueológico da Grécia. Patrimônio mundial da Unesco desde 1989, Meteora consiste em 24 mosteiros suspensos no topo das montanhas ao norte do país; daí seu nome, que traduzido significa “meio do céu” ou “perto das nuvens”.

Entretanto, basta ler algumas das letras do álbum para concluir que de nubígeno “Meteora” não tem é nada.

13/80

Durante a Ozzfest Tour, no verão de 2001, o Linkin Park adotou uma espécie de jornada dupla: à noite, animava multidões do palco; de dia, compunha e gravava demos na parte de trás de seu ônibus. Em oito meses, cerca de 80 canções tomaram forma.

Entretanto, ao se fecharem estúdio com o produtor Don Gilmore no início de 2002, o vocalista Chester Bennington, o rapper Mike Shinoda, o guitarrista Brad Delson, o baixista David “Phoenix” Farrell, o baterista Rob Bourdon e o DJ Joseph Hahn concluíram que, dessas 80, apenas 13 eram elegíveis para lançamento.

Definitivamente não eram quaisquer 13. “Somewhere I Belong”, “Faint”, “Numb”, “Breaking the Habit”, “From the Inside”. Se excluirmos a vinheta “Foreword” — composta, basicamente, por barulhos de Shinoda quebrando coisas no estúdio —, quase metade da tracklist de “Meteora” acabaria sendo lançada como single tamanha sua força individual.

Força essa obtida sob diversas formas de pressão, sendo a maior delas, de acordo com Delson, em entrevista para a MTV, a vinda deles mesmos:

“Você não pode controlar o sucesso comercial de um disco, então não tem como objetivo investir energia nisso. Mas a qualidade do seu disco depende inteiramente de você, e você não pode culpar quem quer que seja se escrever músicas ruins. Antes de fazer o ‘Meteora’, escutei o ‘Hybrid Theory’ e pensei: ‘Cara, realmente sinto orgulho do que fizemos aqui. Não lembro de como foi e não sei se conseguiremos fazer novamente. Ferrou’. Então, felizmente, fomos capazes de focar totalmente no processo por 18 meses, e isso nos ajudou a fazer um grande disco.”

Um grande disco, sem dúvidas, mas cujas letras foram motivadas por grandes sofrimentos.

A música mais emotiva do Linkin Park

Dores reprimidas expressadas em versos que denotam tanto vulnerabilidade quanto raiva; refrãos construídos em torno de gritos angustiantes de estourar as veias. A juventude se via representada na música do Linkin Park. Pudera: compõem o arco temático de “Meteora” sentimentos e circunstâncias com os quais o público, sobretudo o mais jovem e confuso, se identificava — como ser vítima de bullying em “Easier to Run” — e vociferava “Eu não serei ignorado!”, tal como no refrão de “Faint”.

Numa de suas últimas entrevistas, à Music Choice, Bennington descreveu sua mente como um “bairro barra-pesada, no qual eu não deveria estar andando sozinho”. Mas muito antes de o vocalista se tornar exemplo visível e midiático de como a depressão é uma luta diária e permanente, seu sofrimento já inspirava os colegas.

Biógrafa de Bennington, a italiana Rosanna Costantino define “Breaking the Habit”, o quinto single de “Meteora”, como “a música mais emotiva” já gravada pelo Linkin Park. A autora fundamenta seu ponto no fato de que Chester Bennington desabou a chorar e teve muita dificuldade em cantá-la no estúdio, saindo e reentrando várias vezes da cabine de gravação em lágrimas, e nas apresentações ao vivo, não escondia a intensa comoção que lhe acometia. Muitas vezes se ajoelhava e cantava com a cabeça entre as mãos.

A ideia original de “Breaking the Habit” foi de Shinoda, que começou a escrevê-la inspirado pelos problemas de Bennington com as drogas. A ideia era tentar fazê-lo entender o mal que estava causando a si próprio e o quanto ele era importante para Mike e para os outros integrantes da banda. Ele conta:

“Essa é uma música que eu tentei escrever por cinco anos, mas depois em duas horas ela veio. Foi espantoso, e fiquei orgulhoso. Trabalhei muito duro no ritmo, nos arcos, no piano, no vocal, me empenhei, e os caras me ajudaram muito. A performance de Chester é uma das melhores.”

A mensagem parece ter sido compreendida pelo público, que escolheu o videoclipe dirigido por Hahn como preferido dos telespectadores na edição de 2004 do Video Music Awards, da MTV.

“Meus únicos amigos eram Jack Daniels e Mary Jane”

“Meteora” chegou às lojas em março de 2003 e, mesmo a crítica tendo dito que era uma espécie de continuação de “Hybrid Theory”, acusando-o de pouca originalidade, o lançamento teve um sucesso clamoroso de público. Só na primeira semana, vendeu cerca de 810 mil cópias, estreando no primeiro lugar da Billboard. No final de 2003, havia ultrapassado as sete milhões de cópias em todo o mundo, tornando-se o quarto álbum mais vendido do ano.

Apesar dos números suntuosos, Chester revelou, em entrevista à Kerrang! que o período, marcado por bebedeiras e abuso de drogas, foi um dos mais difíceis de sua vida:

“Eu me sentia condenado a ser uma pessoa sozinha. Achava que nunca teria um relacionamento satisfatório com ninguém. Achava que meus únicos amigos eram Jack Daniels e Mary Jane.”

Todos sabemos onde isso desaguou: catorze anos mais tarde, Bennington cometeu suicídio por enforcamento na casa onde morava em Los Angeles.

*No Brasil, o Centro de Valorização da Vida (CVV), associação civil sem fins lucrativos, oferece apoio emocional e prevenção do suicídio, gratuitamente, 24 horas por dia. Qualquer pessoa que queira e precise conversar, pode entrar em contato com o CVV, de forma sigilosa, pelo telefone 188, além de e-mail, chat e Skype, disponíveis no site www.cvv.org.br.

Linkin Park – “Meteora”

  • Lançado em 25 de março de 2003 pela Warner Music
  • Produzido por Don Gilmore e Linkin Park

Faixas:

  1. Foreword
  2. Don’t Stay
  3. Somewhere I Belong
  4. Lying From You
  5. Hit The Floor
  6. Easier To Run
  7. Faint
  8. Figure.09
  9. Breaking The Habit
  10. From The Inside
  11. Nobody’s Listening
  12. Session
  13. Numb

Músicos:

  • Chester Bennington (vocais)
  • Mike Shinoda (rap vocals; guitarra base nas faixas 3, 5, 6, 7, 10, 15 e 16); teclados nas faixas 5, 6, 8 e 9; piano nas faixas 12 e 13); samples; arranjos de corda nas faixas 7 e 9)
  • Brad Delson (guitarra)
  • Dave “Phoenix” Farrell (baixo)
  • Joe Hahn (samples e programação)
  • Rob Bourdon (bateria)

Músicos adicionais:

  • David Campbell (arranjos de corda nas faixas 7 e 9)
  • Joel Derouin, Charlie Bisharat, Alyssa Park, Sara Parkins, Michelle Richards e Mark Robertson (violino)
  • Evan Wilson, Bob Becker (viola de arco)
  • Larry Corbett, Dan Smith (violoncelo)
  • David Zasloff (flauta shakuhachi na faixa 11)

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Marcelo Vieira
Marcelo Vieirahttp://www.marcelovieiramusic.com.br
Marcelo Vieira é jornalista graduado pelas Faculdades Integradas Hélio Alonso (FACHA), com especialização em Produção Editorial pela Universidade Estadual Paulista (UNESP). Há mais de dez anos atua no mercado editorial como editor de livros e tradutor freelancer. Escreve sobre música desde 2006, com passagens por veículos como Collector's Room, Metal Na Lata e Rock Brigade Magazine, para os quais realizou entrevistas com artistas nacionais e internacionais, cobriu shows e festivais, e resenhou centenas de álbuns, tanto clássicos como lançamentos, do rock e do metal.

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