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Muito além do Iron Maiden: a discografia de Paul Di’Anno pós-1981

Ainda que limitada em alcance e diminuta em números, carreira do vocalista possui inúmeros bons momentos; quase sempre abreviados pelas mais diversas razões

Um comentário no Facebook foi o catalisador do artigo abaixo. “Paul Di’Anno lançou coisas inéditas depois do Iron Maiden?”, perguntou um leitor, talvez exprimindo a dúvida que pode ser a de muitos outros. A resposta é “Sim”.

Paul Andrews nasceu no dia 17 de maio de 1958 em Londres, Inglaterra. Mais velho de dez filhos dos dois casamentos de sua mãe, quando era adolescente curtia diferentes estilos de som, como relata ao biógrafo do Iron Maiden, Mick Wall, para o livro “Run to the Hills: A Biografia Autorizada” (Generale, 2014):

“Sex Pistols, The Clash, The Damned, Led Zeppelin, Rolling Stones. Gostava de muita coisa, e, à medida que fiquei mais velho, comecei a ampliar os horizontes. Hoje, se você me perguntar qual é o meu cantor favorito de todos os tempos, direi: ‘Pavarotti’.”

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Ouviu falar do Maiden pela primeira vez em 1977. A convite de um colega, foi assistir a um show da banda num pub e deu o fora depois de duas músicas. Segundo ele, “Era um pavor, simplesmente terrível!”.

Quis o destino, porém, que Paul se juntasse ao “pavoroso” Maiden em novembro de 1978, substituindo o cantor original Paul Mario Day. Tendo adotado o sobrenome italiano do pai, gravou os dois primeiros álbuns de estúdio do grupo; o homônimo em 1980 e “Killers” em 1981.

Foi demitido mais tarde naquele ano quando as bebedeiras e o jeitão bad boy começaram a provocar cancelamentos de shows. Daí, iniciou uma caminhada solo na qual nem sempre a música esteve em primeiro lugar. Mas esse não é o foco do presente texto.

A discografia de Paul Di’Anno pós-Iron Maiden

Di’Anno

É no mínimo bizarro o fato de a primeira empreitada de Paul Di’Anno após ser demitido do Iron Maiden ter sido justamente o que é tido como o grande ponto de interrogação da carreira do vocalista. Isso porque o Di’Anno, formado em 1983 inicialmente sob a alcunha de Lonewolf, traz contornos de melodic rock e AOR. É o que menos se poderia esperar do cara tido como um dos mais durões da New Wave of British Heavy Metal (NWOBHM).

A formação responsável pelo único LP, homônimo e lançado em 1984 pela nanica FM Records, trazia ainda três crias do hard rock egressos do grupo Minas Tirith: o guitarrista Lee Slater, o baixista Kevin Browne e o tecladista Mark Venables. P.J. Ward na segunda guitarra e Dave Irving na bateria completavam o time.

“Flaming Heart” e “Heartuser” foram os singles trabalhados durante a turnê na qual foi registrado um ao vivo, “Live at the Palace”, que foi relançado em DVD em 2012 com o título “Live from the Camden Palace”. Como fica evidente nesse show, não obstante a insistência do público, Di’Anno se recusava terminantemente a cantar músicas do Iron Maiden — o que pode ter contribuído para colocar um ponto final nas atividades do grupo após o término de seu único giro.

Gogmagog

Idealizado por Jonathan King, figurão da indústria fonográfica cuja maior façanha foi ter descoberto o Genesis, o Gogmagog foi uma vã tentativa de ópera-rock inspirada na Bíblia.

Ao lado de Paul Di’Anno estavam seu ex-colega de Iron Maiden, o baterista Clive Burr, além de três figuras de certo renome na cena britânica: os guitarristas Pete Willis (ex-Def Leppard) e Janick Gers (ex-Gillan e futuramente Iron Maiden) e o baixista Neil Murray (ex-Whitesnake).

Um único compacto de nome “I Will Be There” foi gravado e lançado em 1985. À faixa-título composta por Russ Ballard, juntam-se a autoral “Living in a Fucking Time Warp” e “It’s Illegal, It’s Immoral, It’s Unhealthy, But It’s Fun”, creditada ao próprio King.

Vale mencionar que a importância do Gogmagog para a carreira de Di’Anno é tanta que ele sequer o cita em seu livro de memórias, “The Beast” (2010).

Battlezone

Em 1985, com os guitarristas John Hurley e John Wiggins, o baixista Pete West e o baterista Bob Falck, Paul Di’Anno montou o Strike, posteriormente renomeado Battlezone. A premissa era levá-lo de volta para o som clássico da NWOBHM.

Em “Fighting Back” (1986), o primeiro dos dois álbuns do grupo, versos sedentos por sangue chamam o Iron Maiden para a briga. Já “Children of Madness” (1987) — com Graham Bath (ex-Persian Risk) e Steve Hopgood substituindo Hurley e Falck — redireciona o foco para a MTV, que ao incluir o videoclipe da embaraçosamente comercial “I Don’t Wanna Know” em sua programação, abriu as portas do mercado americano para o grupo.

Vale notar que o período oitentista à frente do Battlezone coincidiu com a fase mais visualmente exagerada de Di’Anno, que nas fotos da época pode ser visto ostentando mullets à Chitãozinho & Xororó e óculos escuros Ray-Ban Aviador, como um Pete “Maverick” Mitchell dos becos londrinos. Um terceiro álbum “Feel My Pain”, trazendo o brasileiro Paulo Turin (morto em 2021) na guitarra, seria lançado em 1998, mesmo ano em que Paul resolveu cessar as atividades da banda.

Killers

Mantendo o baterista Steve Hopgood, o guitarrista Nick Burr e o baixista Gavin Cooper da derradeira formação do Battlezone a bordo e contando com um braço direito de peso na figura de Cliff Evans (do baluarte da NWOBHM Tank), Paul Di’Anno trouxe à tona o Killers.

Em sua primeira encarnação (1990 a 1997), o grupo lançou apenas dois álbuns de estúdio. No repertório tanto de “Murder One” (1992) quanto de “Menace to Society” (1994), covers — entre eles um de “Remember Tomorrow” do Iron Maiden — dividem espaço com músicas autorais que estão entre as mais pesadas gravadas pelo vocalista, como “Think Brutal”, prova de que Rob Halford (Judas Priest) não foi o único cantor britânico majoritariamente associado ao metal tradicional a ser seduzido pelo som do Pantera na década de 1990.

Com o ao vivo “Live” (1997) teve fim a primeira encarnação do Killers. Duas novas tentativas foram feitas — uma em 2001, outra em 2013 —, mas com somente Di’Anno e Evans do line-up original, tudo o que chegou às lojas foi um novo ao vivo (“Live at the Whiskey”, de 2001) e algumas coletâneas.

Enfim, Paul Di’Anno

No começo dos anos 2000, ciente de que daria para capitalizar em cima dos discos que alavancaram sua carreira, Paul Di’Anno começou a excursionar mundo afora interpretando músicas dos dois primeiros álbuns do Iron Maiden. Paralelo a isso, seguiu produzindo sob vários nomes, frequentemente revisitando as canções mais conhecidas de seu catálogo e prestando homenagens aos artistas que compõem o seu background musical.

Destacam-se “Nomad” (2000) e “The Living Dead” (2006) — ambos com participação do baixista Felipe Andreoli (Angra) e do baterista Aquiles Priester —, além do ao vivo “Hell Over Waltrop” (2021), gravado em 2006 na Alemanha, que traz setlist dos mais abrangentes, com direito a covers de Ramones (“Blitzkrieg Bop”) e Alex Harvey (“The Faith Healer”).

Em 2015, Paul registrou os vocais de “The League of Shadows”, full length de estreia do alemão Architects of Chaoz. O grupo segue na ativa até hoje, com o cantor italiano Titta Tani.

Foi na Croácia, onde viveu radicado até pouco tempo atrás sob os cuidados do autor e sumidade em Iron Maiden Stjepan Juras, que Di’Anno embarcou em sua mais recente aventura. Com os guitarristas Ante Pupačić Pupi e Hrvoje Madiraca, deu vida ao Warhorse, cujo politizado single de estreia “Stop the War” saiu em maio do ano passado.

Outras empreitadas

Muitos outros projetos dos quais Paul Di’Anno fez ou faz parte nunca saíram do papel, produziram mais do que algumas demos ou levaram para o estúdio brincadeiras consumadas sobre o palco.

Um deles foi o Shanghai Tyger, que trazia o baixista Andy Wrighton (Tokyo Blade) no lineup. O grupo deixou apenas uma gravação datada de 1983 para a posteridade.

Outro foi o Praying Mantis. Di’Anno se junto a essa lenda da NWOBHM em 1989, mas no ano em que permaneceu no posto nenhum material foi gravado.

O mesmo vale para a parceria com Dennis Stratton (1995-1996), o The Almighty Inbredz e o Rockfellas — projeto de covers com os brasileiros Marcão (guitarrista do Charlie Brown Jr), Canisso (baixista do Raimundos) e Jean Dolabella (baterista do Ego Kill Talent e ex-Sepultura).

Lista dos trabalhos citados no texto

Di’Anno (1ª encarnação)

  • “Di’Anno” (1984)
  • Ao vivo “Live at the Palace” (1984)

Gogmagog

  • Compacto “I Will Be There” (1985)

Battlezone

  • “Fighting Back” (1986)
  • “Children of Madness” (1987)
  • “Feel My Pain” (1998)

Killers

  • “Murder One” (1992)
  • “Menace to Society” (1994)
  • Ao vivo “Live” (1997)
  • Ao vivo “Live at the Whiskey” (2001)

Di’Anno (2ª encarnação)

  • “Nomad” (2000)
  • “The Living Dead” (2006)
  • “Hell Over Waltrop” (2021, gravado em 2006)

Architects of Chaoz

  • “The League of Shadows” (2015)

Warhorse

  • Single “Stop the War” (2022)

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Marcelo Vieira
Marcelo Vieirahttp://www.marcelovieiramusic.com.br
Marcelo Vieira é jornalista graduado pelas Faculdades Integradas Hélio Alonso (FACHA), com especialização em Produção Editorial pela Universidade Estadual Paulista (UNESP). Há mais de dez anos atua no mercado editorial como editor de livros e tradutor freelancer. Escreve sobre música desde 2006, com passagens por veículos como Collector's Room, Metal Na Lata e Rock Brigade Magazine, para os quais realizou entrevistas com artistas nacionais e internacionais, cobriu shows e festivais, e resenhou centenas de álbuns, tanto clássicos como lançamentos, do rock e do metal.

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