Chegamos ao fim de mais um ciclo. 2022 foi o primeiro ano de quase normalidade após a pandemia. Desse modo, esperava-se um cinema forte e que recuperasse os praticamente dois anos de recessão pesada, mas foi um período regular no quesito de bons filmes – sem grandes surpresas, mas repleto de decepções monumentais.
Por outro lado, foi um ano onde o terror se reinventou e deu um salto absurdo de qualidade, além de o cinema estrangeiro ter se firmado em sua alta escalada. A criatividade foi louvada e nós, público, recuperamos a lembrança do porquê amamos a sétima arte.
Confira abaixo a minha lista dos 10 melhores filmes de 2022. Nela, tento fugir (um pouco) das cartas já marcadas do ano.
Os 10 melhores filmes de 2022 para Raphael Christensen
10) “Terrifier 2”
Apesar de não ser melhor que o primeiro, o novo longa de Damien Leone é de uma brutalidade e violência para se encher os olhos. “Terrifier 2” cumpre perfeitamente tudo o que promete: diverte, assusta, perturba, choca e coloca o terror gore na estrada para os próximos anos. Além, é claro, da consolidação do palhaço Art – que certamente se firmará como um ícone do terror.
9) “Arremessando Alto”
Os olhos brilham para a nova fase da carreira de Adam Sandler, que enfim se coloca como o competente ator que é. “Arremessando Alto” é mais uma prova disso. Trata-se de um drama esportivo de primeira qualidade, que resgata tantos elementos deste gênero tão rechaçado. Há ainda um Sandler visceral, vivendo cada segundo do filme da forma mais frenética que apenas ele é capaz de suportar.
8) “O Homem do Norte”
Onde tem o diretor Robert Eggers, tem um grande filme. Ao menos tem sido assim desde 2015 com o extraordinário “A Bruxa”. “O Homem do Norte” é, como costumo brincar, o verdadeiro live-action para adultos de “O Rei Leão”. Um filme extremamente carregado de violência e ódio, que traz um retrato impecável da era viking, além de ser sustentado por uma base Shakespeariana que ajuda a transformar tudo em um grandioso épico.
7) “X – A Marca da Morte”
2022 foi o ano do terror. Há anos esse novo modelo de enxergar o medo tem amadurecido e acredito que finalmente chegamos no momento de colher os frutos disso. Este longa da extraordinária produtora A24 traz uma pegada moderna, mas com ares clássicos – e completamente eficiente.
À primeira vista, “X – A Marca da Morte” é apenas mais um filme slasher ao estilo Michael Myers ou Jason Voorhees, contudo, o habilidoso diretor Ti West quis ir além. O visionário atrás das câmeras optou por nos trazer uma história de matança suja, com um vilão batido, mas de forma primorosa. Carregou-se de tudo que deu certo no passado e adicionou uma rara e original visão de desenvolvimento de personagens.
6) “The Batman”
De longe este foi o título mais complexo de se colocar na lista, pois demorei até bater o martelo. Em 2022, o público chegou à um nível de esgotamento muito grande com filmes de heróis. Foi um ano com muitas produções, a grande maioria de qualidade duvidosa e seguindo um modelo à risca que já não satisfaz mais ninguém.
É aí onde entra “The Batman”. O diretor Matt Reeves foi perspicaz ao entender isso e trazer uma história do personagem que focasse no título de maior detetive do mundo que o Homem Morcego carrega. Além disso, o sempre excelente Robert Pattison deu um novo charme ao papel, assim como a retratação de Gotham feita como poucas vezes antes. Um belo diferencial em meio a tanta mesmice.
5) “Pinóquio por Guillermo del Toro”
Sem sombra de dúvidas, esta é uma obra histórica da animação e do stop motion. O filme conseguiu ir tão fundo na história e no drama do famoso boneco de madeira que não é exagero dizer que superou a clássica animação de 1940 da Disney.
A animação usa o fascismo como pano de fundo de uma história carregada de mensagens, simbolismos e conexões com a vida de uma forma que apenas Guillermo Del Toro seria capaz de fazer. Nunca antes se viu uma visão para esta história como aqui retratada. Também merece destaque todo trabalho técnico por trás, que deve ficar com algumas estatuetas douradas importantes em 2023.
4) “Argentina, 1985”
Sou apaixonado por filmes com a temática investigativa sobre algo histórico. “Argentina, 1985” foi além nesse sentido. É brilhante a forma como é conduzida a história sobre um grupo de advogados que precisam reunir provas contra militares da ditadura argentina.
O filme é bem montado e frenético. Não perde tempo com asneiras e foca onde tem que focar, além de ter atenção nos diálogos que estão colocando em tela. É tudo bem amarrado e encaminhado, inclusive pela forma como eles trazem as histórias aterrorizantes sobre as torturas sofridas por civis. Um retrato extremamente importante sobre o que é uma ditadura em um país. As chances de termos que “aguentar” nossos hermanos com Copa do Mundo e Oscar são imensas.
3) “Os Fabelmans”
É muito louco pensar no quanto o diretor Steven Spielberg está no coração de todos. Afinal, estamos falando de uma lenda viva do cinema. Em “Os Fabelmans”, ele decidiu escrever e dirigir sua própria cinebiografia – que tem grandes chances de dar ao cineasta um Oscar. O trabalho é tão impecável que me fez pensar por dias se este não é meu filme favorito do ano.
A obra retrata desde a infância do diretor até o descobrimento de toda a sua paixão por cinema enquanto forma de se contar uma história. Apaixonante e emocionante, do tipo que te faz repensar sua vida e suas paixões, muitas vezes abdicadas em prol de outra coisa. “Os Fabelmans” estreia no Brasil apenas no começo de 2023, mas já tem sido exibido nos Estados Unidos.
2) “Tudo em Todo o Lugar ao Mesmo Tempo”
Cinema é, acima de tudo, criatividade. E quando tal característica dá um salto em prol de uma história, é necessário reverenciar. “Tudo em Todo o Lugar ao Mesmo Tempo” acerta tanto nesse sentido que se tornou uma obra única. Nada igual foi feito antes – e acho que vai demorar para que algo do mesmo nível seja feito após.
A história é redonda, bem direcionada e provoca reflexão. A montagem impecável e um timing cômico sofisticadíssimo são outros acertos. Dirigido pelos visionários Dan Kwan e Daniel Scheinert (os “Daniels”), o longa celebra o cinema como fonte de criatividade, além de colocar no devido pedestal a atriz Michelle Yeoh, que pode sim vencer o Oscar por esse filme, uma vez que sua única adversária em pé de igualdade é a atriz Cate Blanchett por “Tár”.
1) “Top Gun: Maverick”
Nada mudará o que meu coração diz sobre “Top Gun: Maverick”. Foi o filme que, após muitos anos, me fez relembrar por que amo o cinema enquanto espetáculo, alma, paixão e verdade.
Aqui, Tom Cruise está em sua melhor forma e o roteiro é simples, mas desenvolvido à perfeição. O maior certo esteve na ausência de medo em realizar um filme como se fazia cinema antigamente. Há homenagens a cenas clássicas, ação produzida de forma impecável, cenas emocionantes, passagens bem-humoradas… tudo o que se esperava está aqui e ainda vai além, ao adquirir vida própria independentemente do longa antecessor.
“Top Gun: Maverick” bateu de jeitos diferentes em cada um – infelizmente, para alguns, da pior forma possível em função da polarização política. Em meu caso, ainda bem, veio do jeito certo.
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