Crítica: “Guardiões da Galáxia: Especial de Festas” é impecavelmente autêntico

Em clima de despedida e com o último filme da equipe cada dia mais próximo, Marvel nos entrega uma de suas melhores e mais originais produções

Não há como negar, mas “Guardiões da Galáxia” é a Capela Sistina da Marvel Studios e James Gunn, seu Michelangelo. Digo isso pois, colocado na ponta do lápis, tudo o que pertence a este universo foi dignamente trabalhado. Não à toa, o desajustado grupo de heróis fora da lei é a única produção do gênero, que amansa o coração de lendas do cinema como Steven Spielberg.

Ciente disso e preparando os fãs para a despedida do grupo em “Guardiões da Galáxia: Volume 3”, a Marvel tira do fundo de seu coração uma aventura de Natal completamente original. Nos 42 minutos de duração de “Guardiões da Galáxia: Especial de Festas”, a assinatura de seu criador está lá para te fazer sorrir, gargalhar, se emocionar e, acima de tudo, agradecer – afinal, “Guardiões da Galáxia” sempre foi o melhor presente da Casa das Ideias.

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Um insano Natal

Disponível no Disney+, “Guardiões da Galáxia: Especial de Festas” traz o desajustado grupo de heróis no comando de Luganenhum e tentando reconstruir o local. Porém, após perder Gamora (Zoë Saldaña) não só uma, mas duas vezes, Peter Quill (Chris Pratt) encontra-se desolado e aquém daquele irreverente líder. Com isso, Mantis (Pom Klementieff) e Drax (Dave Bautista), decidem dar o melhor natal da vida de Peter e assim, lhe presentear com ninguém menos que seu herói: o ator Kevin Bacon.

O especial é completamente insano – ou seja, é a cara de James Gunn. Tudo é sem sentido, exagerado, excêntrico, forçado e, curiosamente, extraordinário. É surreal o quanto as coisas dão certo quando estão nas mãos do autêntico diretor.

Ajuda, ainda, o formato que a Marvel deveria investir mais vezes. Estes especiais com menos de uma hora já tiveram êxito com “Lobisomem na Noite” e agora voltam a acertar. Constroem de forma crível o que se propõe, mas sem cansar como as séries. Um especial desse de Agatha Harkness, por exemplo, seria muito mais útil do que o vindouro seriado.

Simples e certeiro

A simplicidade é uma das marcas de “Guardiões da Galáxia: Especial de Festas”. Feita pelas ruas de Hollywood, a obra traz uma premissa básica e já tanto usada sobre encontrar o presente ideal e salvar o Natal. Ainda assim, é feito de forma nova, leve, corajosa e sem medo do ridículo.

A agilidade não te deixa respirar, assim como a falta de compromisso que chega ao ponto de mencionar Batman e Bruce Wayne em uma obra da Marvel. James Gunn não está nem aí e nós gostamos disso.

Diferentemente de outras obras recentes, onde o humor foi um problema, aqui as piadas entram nos lugares certos e funcionam. Sem falar na boa adição ao grupo do cão Cosmo, que é dublado por ninguém menos que a atriz Maria Bakalova (“Borat 2”).

O especial consegue não ser somente uma história à parte da Marvel: há questões para o futuro do Universo Compartilhado Marvel (UCM) e aprofundamento correto no peso do passado de Peter Quill, um personagem desenvolvido de forma primorosa.

Conexão com o futuro

A trama inteligente de “Guardiões da Galáxia: Especial de Festas” acerta ao dar protagonismo a Mantis, uma personagem que até então não tinha a menor importância dentro do UCM. Na esteira do carisma de Drax, a heroína interpretada por Pom Klementieff brilha com uma ótima e sentimental história surpresa para o futuro dos Guardiões.

Mas o principal, além de toda mensagem sobre o que realmente gostaríamos de ganhar no Natal, é entender como encontraremos Peter Quill no último filme do grupo. Se pararmos para analisar, estamos diante de alguém que nunca teve razão para ser feliz.

Um difícil adeus

Em recente entrevista, James Gunn disse que chorou durante toda a escrita de “Guardiões da Galáxia: Volume 3”. O filme, que será oficialmente a despedida deste grupo e focará em Rocket (Bradley Cooper), terá a dura missão de encerrar com chave de ouro uma das maiores criações da sétima arte.

O que James Gunn e seu fechadíssimo grupo fizeram fizeram é digno de aplausos. Dá para imaginar o desespero de Kevin Feige ao pensar no diretor comandando a concorrente DC daqui para frente.

Porém, o principal que este especial de festas faz por nós, após a péssima Fase 4, é nos lembrar que estamos diante dos últimos minutos com este tão carismático conjunto de heróis outrora desconhecidos.

Pistas foram dadas, a banda Old 97’s faz um musical divertidíssimo, o ator Mark Hamill aparece como um bêbado (duvido você reparar sem pausar) e Kevin Bacon, além de ter sido um espetáculo em tela, também disse algo do tipo: “nos vemos de novo na Páscoa”. Que venham as teorias.

Em 5 de maio de 2023, veremos pela última vez toda essa galera que tanto nos fez rir ao longo desses mais de dez anos. Sentimentalismo à parte, após dois Natais tristes por conta da pandemia, foi um deleite entrar no clima com os Guardiões da Galáxia.

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Raphael Christensen
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Ator, Diretor, Editor e Roteirista Formado após passagem pelo Teatro Escola Macunaíma e Escola de Atores Wolf Maya em SP. Formado em especialização de Teatro Russo com foco no autor Anton Tchekhov pelo Núcleo Experimental em SP. Há 10 anos na profissão, principalmente no teatro e internet com projetos próprios.

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