Em uma rara entrevista recente, o lendário Bob Dylan falou sobre seu gosto musical um tanto eclético – palavra usada muitas vezes de forma injusta ou não tão exata, mas com um encaixe preciso aqui. O “Poeta Maldito” citou uma série de artistas – novos e velhos, conhecidos e desconhecidos – de causar inveja a qualquer grande conhecedor ou crítico musical da atualidade.
A conversa rolou com Jeff Slate, do The Wall Street Journal, com trechos postados também no site oficial do cantor. Dylan explicou que embora ainda aprecie o som do vinil, não dispensa ouvir músicas no rádio, em CDs e também no streaming.
A partir daí, ele começou a dar uma verdadeira aula de conhecimento musical, inicialmente com artistas mais antigos, alguns não tão famosos.
“Eu descubro coisas intuitivamente quando na maioria das vezes não estou procurando por nada. Tiny Hill, Teddy Edwards, pessoas assim. Artistas obscuros, canções obscuras. Tem uma música de Jimmy Webb que Frank Sinatra gravou, chamada ‘Whatever Happened to Christmas’, acho que ele gravou nos anos 60, mas acabei de descobrir.
‘A-Tiskit, A-Tasket.’, de Ella Fitzgerald, Janice Martin, a Elvis feminina. Já ouviu ela? Joe Turner está sempre me surpreendendo com pequenas nuances e coisas. Ouço muito Brenda Lee. Não importa quantas vezes eu a ouça, é como se tivesse acabado de conhece-la. Ela é uma alma velha. Mais tarde, eu descobri um guitarrista fantástico, Teddy Bunn. Ouvi ele em um disco de Mead Lux Lewis e Sid Catlett.”
Bob Dylan: de Metallica a Eminem
Em seguida, Bob Dylan explicou que recebe indicações de amigos artistas e compositores e que também acompanha shows ao vivo. Ele citou alguns dos nomes dos quais já conferiu shows, agora com uma lista mais moderna, mas ainda bastante eclética.
“Os irmãos do Oasis, gosto de ambos. Julian Casablancas (The Strokes), The Klaxons, Grace Potter. Vi o Metallica duas vezes. Fiz esforços especiais para ver Jack White e Alex Turner (Arctic Monkeys). Zac Deputy, o descobri depois. Ele é um show de um homem só, como Ed Sheeran, mas ele senta quando toca. Sou fã de Royal Blood, Celeste, Rag and Bone Man, Wu-Tang (Clan), Eminem, Nick Cave, Leonard Cohen, qualquer um com feeling para palavras e linguagem, qualquer um cuja visão seja paralela à minha.”
Antonín Dvořák e Duff McKagan solo
Ao citar as música que costumam fazer parte de suas playlists, o cantor seguiu eclético ao falar nomes que vão de Duff McKagan, baixista do Guns N’ Roses, a compositores clássicos.
“’Waterloo Sunset’ (The Kinks) está na minha playlist e foi gravada nos anos 60. ‘The Stealer’, a música do Free, está lá há um bom tempo também, junto com Leadbelly and the Carter Family. Tem uma música de Duff McKagan chamada ‘Chip Away’ que tem um significado profundo para mim. É uma canção gráfica… (Antonín) Dvořák, ‘Moravian Duets’. Acabei de descobrir, mas tem mais de 100 anos.”
Pode não parecer, pela idade, mas Bob Dylan sabe do que fala quando comenta sobre música moderna. A própria entrevista tem relação com um livro lançado por ele em novembro de 2022, intitulado “A Filosofia da Canção Moderna” (tradução livre), no qual versa sobre o tema. Ainda não há previsão de lançamento do volume em português.
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