Entrevista: Julia Lage fala sobre Smith/Kotzen, Vixen, origem no baixo e mais

Baixista brasileira casada com Richie Kotzen se juntou ao projeto do marido com Adrian Smith para turnês; baterista Bruno Valverde, também de nosso país, completa formação

Recentemente, a gravadora BMG disponibilizou “Better Days… And Nights”, segundo trabalho da empreitada Smith/Kotzen, em CD no Brasil e streaming em todo o mundo. Trata-se da junção de quatro faixas de estúdio com cinco gravadas ao vivo durante o até agora único giro do projeto.

Acompanhando Adrian Smith e Richie Kotzen, que dividem guitarras e vocais, há dois brasileiros: o baterista Bruno Valverde (Angra) e a baixista Julia Lage, esposa de Kotzen que vem fazendo bonito também como substituta de Share Ross no Vixen.

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Batemos um papo com Julia Lage, que dos Estados Unidos falou sobre sua participação no Smith/Kotzen, antecipou novidades em relação ao Vixen e muito mais.

Entrevista com Julia Lage (Smith/Kotzen, Vixen)

Origem e banda 50% verde e amarela

Na minha resenha do álbum “Smith/Kotzen” eu escrevi que uma aliança entre os dois não era coisa tão improvável, em razão das jam sessions que rolavam em sociais na casa um do outro. Você foi uma das pessoas que sacou o potencial dessa parceria e os incentivou a levar isso para além do ambiente informal?

Julia Lage: Não só saquei como fazia parte dessas jams, né? Mas quem falou primeiro foi a Nathalie, esposa do Adrian. Ela sugeriu: “Por que vocês dois não tentam compor algo juntos? Fazer um disco pra valer”. Foi aí que eles se tocaram.

Embora você não tenha tocado no disco, imagino que tenha visto as músicas tomando forma. Ainda assim, o convite para tocar nos shows pegou você de surpresa ou era meio que esperado que, se houvesse shows, você seria a baixista?

Pegou um pouco de surpresa, sim. Eu obviamente acompanhei o processo; ele [Adrian] vinha aqui para compor, nós quatro viajamos juntos e eles compuseram na viagem também. Mas eu estava junto do meu marido só. Acabou que o convite veio dele. Não foi uma coisa pela qual eu esperava nem que eu tenha sugerido. Acho que eles [Adrian e Richie] queriam uma banda relativamente “desconhecida”, para que o foco fosse total neles.

E como o Bruno acabou entrando na jogada?

O Bruno já era nosso amigo. A gente chegou a fazer audições com outros bateristas, mas quando o Bruno sentou à bateria, deu aquele “clique”: “É, a cozinha é essa”.

O fato de o Bruno ser brasileiro facilita em alguma coisa? Como é a comunicação dentro da banda?

Sinceramente, não faz tanta diferença. A gente fala inglês o tempo todo quase. Certas coisas preciso explicar ao Bruno em português porque o sotaque britânico do Adrian às vezes é difícil de entender, mas a gente se acostuma.

Na estrada com o Smith/Kotzen

Me fala dos shows.

Curti muito tocar. As músicas são muito boas e as linhas de baixo são muito gostosas de tocar. Fora o que é tocar com os dois, né? Já toquei com meu marido algumas vezes, mas com o Adrian? Um ícone! Cresci ouvindo Iron Maiden e estar com ele no palco é fora de série. Embora estivéssemos ali para fazer música, acabamos nos divertindo muito. Sempre depois dos shows a gente se abraçava e celebrava porque tinha aquela empolgação de começo de namoro, sabe? Depois do último show a gente se abraçou e bateu aquela vontade de chorar, pois vai demorar um pouco até que possamos tocar juntos novamente.

O Richie contou que não houve lá uma grande rotina de ensaios para esses shows porque ele odeia ensaiar. Você acredita que essa falta de ensaio é parte responsável pelo caráter de improviso dos shows?

Totalmente. Se você assiste a um show do Richie, é improviso o tempo todo. Lógico que há músicas, refrãos, mas na hora dos solos ele se transforma. Acho que é disso que ele gosta, de quando tem essa emoção do momento, de não saber para onde a música vai. A gente ensaiou, sim, mas na hora dos solos era o que eles dois sentiam. Gosto disso também. Mas ensaiar é necessário para ler o que a outra pessoa quer fazer. Foi nos ensaios que me entendi com o Bruno e entendi o ritmo e a dinâmica da banda. Mas ensaiar demais não porque subtrai um pouco da espontaneidade, do improviso.

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O Adrian vem de uma banda cujas apresentações são milimetricamente ensaiadas. Acha que no Smith/Kotzen ele pode se soltar um pouco mais?

Acho que sim. Ele divide os vocais com o Richie, né? Pra ele acho que é muito legal assumir esse posto de frontman e poder falar mais. Nos shows, acho até que ele se comunicava mais com a plateia do que o Richie. Era ele quem apresentava a banda, falava entre as músicas, e estava bem solto, diferente de como é no Iron Maiden. Se bem que no Iron Maiden tem que ser tudo ensaiado, igual ao disco. A galera sabe todos os solos e quer cantar junto nos solos.

Futuro do Smith/Kotzen e Julia Lage solo

Neste momento, o Adrian está em turnê com o Maiden e eu imagino que o Richie esteja trabalhando em algum outro projeto… mas já tem novos capítulos a serem abertos da parceria entre os dois?

Sim, eles e a gravadora estão empolgadíssimos, todos querem dar continuidade. A repercussão foi muito boa. O Adrian está com o Iron, mas vem para cá no fim do ano, então é possível que os dois se encontrem e comecem a trabalhar em novas músicas, e acho que eles também querem fazer mais shows.

Acha que a sua participação pode ser estender ao processo criativo e à gravação em estúdio?

Existem conversas sobre isso. De repente vamos os quatro, inclusive o Bruno, juntos pro estúdio. É uma possibilidade. Se vai acontecer ou não, ainda não sei. De repente faço uma participação. No processo criativo pode até ser mais fácil do que na gravação em si, né? Mas não tem garantia de nada.

E quanto à sua carreira solo? Você lançou uns singles nos últimos meses… O que teremos de novidades?

Estou terminando meu primeiro álbum solo. Faz muitos anos que estou querendo fazê-lo e durante a pandemia eu compus muita coisa. Lancei alguns singles e estou fechando um CD que, se Deus quiser, sai até o final do ano. E tem a Vixen também. Entrei na banda no começo do ano e tem sido muito bacana. Estou gravando material com elas.

Sangue novo no Vixen

Antes de entrar na Vixen, você tentou montar um projeto com a Britt [Lightning, guitarrista]. Acha que uma coisa levou a outra?

Sem dúvida. Foi a Britt que me indicou, tanto que eu não fiz teste, ensaio, nada. Entrei na banda no palco. Conheci as meninas três horas antes. A Brit falou: “ela não precisa de ensaio ou teste; tem que ser ela e ponto”. Ela me conhece e sabe que a minha vibe ia bater com a das meninas, que a gente tem mais ou menos a mesma personalidade e o mesmo idealismo. Acabou que deu tudo certo. Conhecia algumas músicas, aí obviamente elas me mandaram as músicas que a gente ia tocar no show e eu aprendi. Fiquei muito feliz e honrada porque a banda é muito bacana e as meninas são muito legais.

Você entrou no lugar da Share Ross, baixista da formação clássica que, entre idas e vindas, ficou umas três décadas na banda. Deu para sentir o peso da responsabilidade?

Deu, sim. Rolou aquele peso nos ombros, tipo “nossa, eu estou na Vixen”, mas eu estava e ainda estou confiante. O que eu queria era honrar as linhas de baixo dela, fazer tão bem-feito quanto ela; afinal, ela é a baixista da formação que estourou. Nos conhecemos, ela foi super gente-boa. Estava feliz com a decisão de sair da banda e eu a assegurei de que faria o melhor possível. Elas têm muitos hits que tocam até hoje nas rádios aqui nos Estados Unidos.

Da formação clássica da Vixen resta apenas a baterista Roxy Petrucci. Isso é meio similar ao que rola com o Eagles. Don Henley [baterista e único remanescente da formação original] defende a continuidade da banda alegando que não é sobre quem está tocando, mas o que está sendo tocado. Você concorda? A música, no fim das contas, é o mais importante?

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Concordo, mas quando a pessoa que compôs a música está ali tocando a emoção é maior, né? Mas no fim das contas o que importa é a música estar sendo bem representada, valorizada. Os fãs sabem que não são as pessoas que gravaram a música que estão lá tocando, mas estão curtindo do mesmo jeito. A música representa a banda. Enquanto a música continuar sendo tocada, a banda não morrerá. Músicos envelhecem, morrem, então essa continuidade é necessária. Estamos representando aquela geração. Ah, e eu amo Don Henley! [Risos.]

Novidades do Vixen, o que teremos?

Ano que vem estaremos aí no Brasil, em abril, no Summer Breeze!

Cartas a uma jovem baixista

Por que o baixo?

Eu queria ser baterista, mas minha mãe falou: “Julia, não tem como colocar uma bateria no apartamento, né?” Daí peguei o baixo. Eu queria estar na cozinha de alguma maneira e não sabia o porquê. O baixo me confortava muito. É um som quente, redondo e que também faz a rítmica toda. Quando eu ouvia o Iron Maiden no rádio, falava: “preciso tirar essas linhas de baixo!” Daí, quando descobri o Rush, pirei. Eu já tocava um pouquinho de violão, mas acho que foi o baixo que me escolheu.

Sendo assim, quais são os seus baixistas favoritos?

O Geddy Lee, do Rush, foi uma influência muito grande, assim como o Steve Harris. Gosto de baixistas que tocam diferente, como o Sting, que tem uma digitação diferente e também por ele tocar e cantar. Lembro que ouvia o Jaco [Pastorius] e pirava, apesar de não conseguir tocar um décimo do que ele tocava. Sempre curti muito o Marcus Miller, o Victor Wooten. Ele é um alienígena, né? [Risos.]

Qual é a sua dica para a menina que está começando a tocar e quer seguir os seus passos e viver de música?

Primeiro de tudo, você tem que tocar porque gosta. O objetivo não pode ser ficar rico ou famoso. Isso vem com o tempo se você tiver algo de verdadeiro ali. A música tem que fazer sentido para você. E é preciso ter dedicação. Sei que cansa ficar praticando escalas; afinal, você só quer tocar, ainda mais adolescente. Então tire músicas, tente tirá-las de ouvido. É importante que você desenvolva o seu ouvido, porque ninguém vai te dar a tablatura; vão mandar você tirar a música e você vai ter que se virar para tirar certo. Dependendo da dificuldade, desacelere, vá acelerando aos poucos. Muito da parte técnica você aprende mais tirando música do que treinando escalas. Fora que se diverte mais. Isso também é importante: se divertir com o instrumento, pois só assim você vai se apaixonar por ele.

O maridão Richie Kotzen

O Richie, seu marido, é um dos grandes artistas em atividade. De todos os trabalhos da carreira dele, qual é, na sua opinião, o melhor de todos?

Acho que o álbum mais fodástico dele é o “Into the Black”. É um álbum que ouço e fico tipo, “uau!”. Tem um pouquinho de tudo dele ali, sabe? Se alguém quiser realmente conhecer o Richie, esse é o álbum.

Por fim, ele não fala muito do disco que gravou com o Poison [“Native Tongue”, de 1993]. Você gosta desse disco?

Vou ser sincera: nunca ouvi o disco todo. Só conheço as músicas que ele toca [nos shows] e que ele compôs. Não sei se ele tem problema em falar desse disco porque tem muito orgulho de tê-lo feito, mas eu realmente nunca ouvi.

Ouça “Better Days… And Nights” a seguir, via Spotify, ou clique aqui para conferir em outras plataformas digitais.

Smith/Kotzen – “Better Days… And Nights”

DAYS:

  1. Better Days
  2. Got A Hold On Me
  3. Hate And Love
  4. Rise Again

NIGHTS:

  1. Hate and Love (Live)
  2. Got A Hold On Me (Live)
  3. Scars (Live)
  4. You Don’t Know Me (Live)
  5. Running (Live)

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Marcelo Vieira
Marcelo Vieirahttp://www.marcelovieiramusic.com.br
Marcelo Vieira é jornalista graduado pelas Faculdades Integradas Hélio Alonso (FACHA), com especialização em Produção Editorial pela Universidade Estadual Paulista (UNESP). Há mais de dez anos atua no mercado editorial como editor de livros e tradutor freelancer. Escreve sobre música desde 2006, com passagens por veículos como Collector's Room, Metal Na Lata e Rock Brigade Magazine, para os quais realizou entrevistas com artistas nacionais e internacionais, cobriu shows e festivais, e resenhou centenas de álbuns, tanto clássicos como lançamentos, do rock e do metal.

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