Ozzy Osbourne dá exemplo de dedicação em meio às dificuldades pessoais com “Patient Number 9”

Novo álbum mostra o Madman dedicado e acompanhado de um time de feras

Embora tenha descontentado uma parte dos fãs, “Ordinary Man” (2020) foi o sopro de algo diferente na carreira de Ozzy Osbourne. Após uma sequência de discos repetitivos e monótonos, o Madman oferecia um trabalho que poderia ser diferenciado de seus antecessores. Mais simples em alguns momentos, absorvendo as influências dos convidados em outros, o fato é que o play tem o mérito de simplesmente possuir identidade própria, gostem os adeptos ou não.

Com o mundo ainda parado devido à pandemia, Ozzy entendeu que era hora de dar prosseguimento aos trabalhos com o produtor Andrew Watt. Mais ambientado com o formato proposto, se cercou de outra série de convidados. Alguns até mesmo podemos considerar surpreendentes, como Jeff Beck e Eric Clapton. Outros com aquele sentimento de volta para casa, vide Tony Iommi e Zakk Wylde.

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A faixa-título de “Patient Number 9” abre o tracklist e mostra que não houve qualquer problema em admitir que se trata de um trabalho de estúdio, soando experimental quando necessário e familiar quando essencial. A música combina esses dois mundos com excelência. A seguir é a vez de Mike McCready (Pearl Jam) se juntar à banda em “Immortal”. Com apenas 3 minutos de duração, traz uma das melhores performances vocais do protagonista da obra, mostrando uma firmeza cada vez mais distante ao vivo.

O reencontro com Zakk Wylde se concretiza em “Parasite”, que remete às décadas recentes do cantor. A coisa melhora em 100% com a primeira participação de Tony Iommi. “No Escape From Now” arrancará lágrimas dos fãs do Black Sabbath, deixando a curiosidade de como seria um novo disco da banda. Na sequência, “One of These Days”, polêmica parceria com Eric Clapton. Digo polêmica porque o próprio Ozzy destacou que o guitarrista inglês se sentiu incomodado com a letra da canção. De qualquer modo, não deixa de ser curioso conferir o resultado, embora não faça tanta diferença no conjunto da obra.

Jeff Beck retorna na melódica “A Thousand Shades”, com um sabor sessentista em seu arranjo. Em “Mr. Darkness” temos uma variação rítmica que soa interessante, mas deixa no ar a sensação inevitável de déjà-vu. Da mesma forma, “Nothing Feels Right” poderia ter saído das sessões de algum dos discos dos anos 1990, servindo como a típica baladinha que as rádios mais roqueiras do período tocariam à exaustão. A derradeira participação de Zakk Wylde acontece em “Evil Shuffle”, com riffs bem encaixados.

Porém, quando o assunto é riff, Tony Iommi segue insuperável. “Degradation Rules” entrega o esperado pelos admiradores da dupla de Birmingham que mudou o mundo nos anos 1970. E a gaita emociona pelo simbolismo. Em “Dead and Gone” temos o mais próximo do Ozzy oitentista, com uma melodia de fácil assimilação. A semibalada “God Only Knows” e a quase vinheta “Darkside Blues” encerram os trabalhos sem maiores destaques.

Não se sabe ainda se Ozzy poderá cumprir a agenda da No More Tours 2, programada para o ano que vem. Sendo o Parkinson uma doença progressiva e limitadora, os prognósticos a médio e longo prazo não são os melhores. A volta à Inglaterra está cercada de um clima de despedida alimentado pelo próprio em entrevistas recentes. Já se sabe que uma equipe de enfermeiros irá se revezar na propriedade dando auxílio 24 horas por dia.

Dito isso, há dois caminhos que podemos esperar: a aposentadoria definitiva ou a consolidação de um trabalho mais focado no estúdio. Seria até uma bela ironia ver Ozzy seguindo o caminho que seus heróis Beatles fizeram na segunda metade da carreira. “Patient Number 9” não acrescenta muito à história de Ozzy Osbourne, mas proporciona uma sensação de esperança ao ouvinte. É inspirador ver alguém se entregando de tal forma ao que ama, mesmo com todas as dificuldades.

O fato é que a qualidade das composições com Tony Iommi faz com que a ideia de um novo álbum de despedida do Black Sabbath não pareça uma má ideia. Andrew Watt poderia muito bem conduzir os trabalhos de forma satisfatória, já que Rick Rubin foi uma tentativa reprovada por basicamente todos os envolvidos. Aguardemos.

  1. Patient Number 9 (feat. Jeff Beck)
  2. Immortal (feat. Mike McCready)
  3. Parasite (feat. Zakk Wylde)
  4. No Escape From Now (feat. Tony Iommi)
  5. One of Those Days (feat. Eric Clapton)
  6. A Thousand Shades (feat. Jeff Beck)
  7. Mr. Darkness (feat. Zakk Wylde)
  8. Nothing Feels Right (feat. Zakk Wylde)
  9. Evil Shuffle (feat. Zakk Wylde)
  10. Degradation Rules (feat. Tony Iommi)
  11. Dead and Gone
  12. God Only Knows
  13. Darkside Blues
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João Renato Alves
João Renato Alveshttps://twitter.com/vandohalen
João Renato Alves é jornalista graduado pela Universidade de Cruz Alta (RS) e pós-graduado em Comunicação e Mídias Digitais. Colabora com o Whiplash desde 2002 e administra as páginas da Van do Halen desde 2009. Começou a ouvir Rock na primeira metade dos anos 1990 e nunca mais parou.

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