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Mais extremo, Machine Head tenta voltar de onde parou com “Of Kingdom and Crown”

Com novos músicos, banda de Robb Flynn equilibra bem passado e presente e acerta quando peso fala mais alto do que sonoridades modernas

Em seu 10º disco de estúdio, “Of Kingdom and Crown”, o Machine Head busca se recolocar nos eixos. O grupo perdeu em 2018 dois de seus integrantes mais longevos – o guitarrista Phil Demmel e o baterista Dave McClain – e desde então tenta se reconstruir, após uma breve reunião da formação do primeiro álbum, “Burn My Eyes” (1994), com Logan Mader (guitarra) e Chris Kontos (bateria).

Hoje, o grupo liderado por Robb Flynn (voz e guitarra) e desde 2013 com a presença de Jared MacEachern (baixo) parece mais estável com Wacław “Vogg” Kiełtyka (guitarra) e Matt Alston (bateria). Desde 2019 o quarteto tem disponibilizado singles, alguns dos quais fazem parte do novo álbum. Ainda assim, há um detalhe importante no que diz respeito à formação do disco: Alston é creditado, mas não toca, pois Navene Koperweis assumiu a função como músico de estúdio.

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O conceito

Outra novidade que “Of Kingdom and Crown” traz para a discografia do Machine Head é o fato de ser o primeiro álbum conceitual da banda. A história se passa em uma terra arrasada e futurista, onde o céu é sempre vermelho. Nesse mundo conheceremos as tramas de Ares e Eros, dois anti-heróis que entram em um frenesi assassino depois de perderem pessoas amadas.

Segundo Robb Flynn, o enredo é vagamente baseado em um anime apresentado a ele por seus filhos: “Shingeki no Kyojin”, também conhecido como “Attack On Titan”. A semelhança, conforme o próprio frontman explica em material de divulgação, está no fato de que não há heróis e vilões na história, apenas pessoas movidas por suas próprias ações e que causaram estragos no caminho.

“O álbum e o conceito são vagamente baseados pelo anime japonês ‘Attack On Titan’, no sentido de que, na série, não existe cara ‘bom’ ou cara mau’… ambos os lados acreditam que estão fazendo a coisa certa, mas ambos estão cometendo atrocidades e maldades.”

Das 13 faixas de “Of Kingdom and Crown”, três são vinhetas e quatro foram disponibilizadas como singles anteriormente. No entanto, todas elas se adequam ao conceito do disco.

“Of Kingdom and Crown” faixa a faixa

Os trabalhos abrem com “Slaughter the Martyr”, um épico de quase 10 minutos e meio. A introdução longa e lenta desagua em riffs furiosos, além de refrãos poderosos. Uma boa abertura, que remete aos melhores momentos do Machine Head em um passado mais ou menos longínquo.

A sequência traz um dos singles anteriormente lançados, “Choke on the Ashes of Your Hate”, que pesa a mão no lado mais “Bay Area” do Machine Head. É um thrash metal furioso e próximo da porção mais pesada do gênero. O passeio pelo metal extremo continua com “Become the Firestorm”, com blast beats e riffs que parecem saídos do death ou até do black metal.

A primeira vinheta do álbum, “Overdose”, abre caminho para “My Hands are Empty”, primeiro single de “Of Kingdom and Crown”, lançado ainda em 2020. Abre com um canto “quase gregoriano” de Robb Flynn, antes da pancadaria entrar de fato. Há elementos mais modernos, especialmente nos vocais, e remete ao trabalho de inéditas anterior da banda: o criticado “Catharsis” (2018).

“Unhallowed”, outro dos singles já conhecidos, é marcada pelo bom trabalho das guitarras de Flynn e Kiełtyka, com riffs e solos bem executados. “Assimilate” é a segunda vinheta, seguida por “Kill Thy Enemies”, uma das poucas faixas do álbum que resgata a pegada com mais “groove” que o Machine Head costumava entregar em seus primórdios.

Por sua vez, “No Gods, No Masters” aposta em um refrão ganchudo, mas mostra uma queda de qualidade, talvez por apostar em uma sonoridade mais moderna, que quase se aproxima do nu metal, quando a ordem do dia claramente é o lado mais extremo da força. As coisas melhoram um pouco em “Bloodshot”, uma pancada mais “clássica”, com refrão forte e mais um bom trabalho de guitarras.

O nível segue alto em “Rotten”, onde a banda volta a flertar com o metal extremo com muita competência, mas sem perder a identidade. Com boas mudanças de andamento, é um thrash de primeira linha e prova novamente que o Machine Head está em um momento mais pesado do que melódico.

“Terminus” é a última vinheta e antecede o encerramento “Arrows in Words From the Sky”. Também disponibilizada como single anteriormente, a música traz uma atmosfera grandiosa, mas não faz jus aos melhores momentos de “Of Kingdom and Crown”, e se encaixa no lado mais moderno da sonoridade do Machine Head. Alguns dos melhores solos do disco estão presentes por aqui, mas talvez não seja o encerramento ideal.

De volta aos trilhos

Em “Of Kingdom and Crown”, Robb Flynn e seus comandados – novos e antigos – parecem tentar voltar aos trilhos. Os equívocos de “Catharsis” não foram totalmente deixados de lado, mas a banda está disposta a provar que ideias que nasceram ali podem ser bem executadas. E aqui, de fato, foram.

A regravação de “Burn My Eyes” em 2019, com a formação de 1994, pode ter feito bem a Flynn, que entregou bons riffs e acertou muito quando resolveu inserir algum groove. Mas o grande êxito realmente aconteceu quando a banda olhou para suas influências mais extremas.

Em uma análise comparada, alguns dos melhores momentos do álbum evocam lembranças de nomes como Slayer, Testament e Sepultura. E isso pode ser um bom indicativo de quais caminhos a banda deve seguir quando retornar de vez aos trilhos.

No fim das contas, “Of Kingdom and Crown” soa como o início desse retorno. Embora o “perigo” de descarrilar ainda ronde o trem do Machine Head, o maquinista Robb Flynn parece estar firme o suficiente para não permitir que isso aconteça. Assim esperamos.

Ouça “Of Kingdom and Crown” a seguir, via Spotify, ou clique aqui para conferir em outras plataformas digitais.

O álbum está na playlist de lançamentos do site, atualizada semanalmente com as melhores novidades do rock e metal. Siga e dê o play!

Machine Head – “Of Kingdom and Crown”

  1. “Slaughter the Martyr”                              
  2. “Choke on the Ashes of Your Hate”      
  3. “Become the Firestorm”
  4. “Overdose”
  5. “My Hands Are Empty”               
  6. “Unhallowed” 
  7. “Assimilate”
  8. “Kill Thy Enemies”
  9. “No Gods, No Masters”              
  10. “Bloodshot”
  11. “Rotten”
  12. “Terminus”
  13. “Arrows in Words from the Sky”

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André Luiz Fernandes
André Luiz Fernandes
André Luiz Fernandes é jornalista formado pela Universidade Metodista de São Paulo (UMESP). Interessado em música desde a infância, teve um blog sobre discos de hard rock/metal antes da graduação e é considerado o melhor baixista do prédio onde mora. Tem passagens por Ei Nerd e Estadão.

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