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Como o Iron Maiden foi marcado por rupturas em “Fear of the Dark”

Além das despedidas de Bruce Dickinson (temporária) e de Martin Birch (permanente), nono álbum de estúdio da banda traz abordagem mais experimental que de costume

O Iron Maiden, grupo conhecido por manter-se fiel à sua proposta sonora durante boa parte de seus primeiros dez anos de carreira, estava criativamente estagnado no início da década de 1990. Os anos 1980 haviam terminado e por mais que o grupo tivesse atingido os maiores níveis de sucesso possíveis no heavy metal, também pareciam ter extraído tudo da fórmula de sucesso.

O grupo estava numa encruzilhada quando começou a produzir “Fear of the Dark”, nono álbum de sua carreira.

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Volta ao começo mal fadada

O disco anterior, “No Prayer for the Dying” (1990), prometia uma volta ao som clássico do Maiden. A proposta causou briga interna, com o guitarrista Adrian Smith deixando o grupo antes das gravações e sendo substituído por Janick Gers.

“No Prayer” teve a distinção de ter sido o primeiro disco gravado no celeiro da casa de Steve Harris, baixista e principal compositor do grupo, usando o Rolling Stones Mobile Studio. Entretanto, a ideia não deu tão certo, conforme o vocalista Bruce Dickinson contou no livro “The Wicked Man”:

“Era uma m#rda! Era um disco que soava horrível e eu queria que nunca tivéssemos feito daquele jeito. Naquela época, fui tão culpado quanto qualquer um ao dizer: ‘Legal! A gente tá coberto de palha! Que zoeira!’”

Apesar de o trabalho ter rendido o primeiro número 1 nas paradas inglesas do grupo, com o single “Bring Your Daughter… to the Slaughter”, o senso geral era que o grupo estava muito perto de se tornar autoparódia.

Repensando os planos

O desastre das gravações de “No Prayer for the Dying” motivou Harris a transformar o celeiro num estúdio de verdade, apelidado de Barnyard. Além disso, ele começou a ter um papel ainda maior nas gravações. 

Para esse disco novo, ele ficaria encarregado da produção pela primeira vez, juntamente com Martin Birch, produtor do grupo desde “Killers” (1981). O arranjo ainda não era ideal, como Dickinson descreveu em “The Wicked Man”:

“Houve uma pequena melhora porque Martin [Birch] veio e supervisionou o som. Mas havia grandes limitações naquele estúdio – simplesmente pelo espaço físico, coisas assim. Acabou não sendo tão ruim, mas, você sabe, ainda um pouco aquém.”

Como que o Maiden respondeu a essa adversidade e à ameaça de se tornarem irrelevantes? Com 58 minutos e 57 segundos da maior variedade musical já oferecida pela banda em qualquer outro lançamento até então.

Um pouco de tudo

O primeiro single de “Fear of the Dark” foi “Be Quick or Be Dead”, que flertava com o tempo mais rápido de bandas de thrash metal. “Wasting Love”, por sua vez, era uma power ballad composta por Dickinson e Gers para o primeiro disco solo do vocalista, “Tattooed Millionaire” (1990). Há ainda momentos como a arena-rocker “From Here to Eternity”, a melancólica “Afraid to Shoot Strangers” e a curiosamente direta “The Apparition” – tudo isso no mesmo trabalho.

Até mesmo as temáticas líricas passaram por ligeiras mudanças, passando a abordar assuntos mais contemporâneos. A já citada “Afraid to Shoot Strangers”, por exemplo, é sobre a Guerra do Golfo. “Fear is the Key”, por sua vez, trazia uma reflexão sobre o medo que a Aids trouxe às relações sexuais. Já “Weekend Warrior” aborda os hooligans do futebol. Todos os tópicos estavam em debate na Inglaterra ou no restante do mundo naquele período.

Entretanto, a faixa mais importante é a que veio a dar nome ao disco. “Fear of the Dark”, a música, não só se tornou um dos maiores clássicos do grupo, mas também criou o modelo futuro de composições dos caras.

Aquela imagem mental que temos de canções do Iron Maiden: início lento, com espaço no arranjo para o coro dos fãs nos shows, apenas para a banda entrar com força, culminando com refrão antêmico, solos e o mesmo ritmo lento no fim. Não começaram a fazer isso em “Fear of the Dark”, mas a faixa-título do disco de 1992 foi o momento em que todos esses elementos entraram no lugar.

Logo quando tudo entrou no lugar, tudo quebrou

O álbum “Fear of the Dark” foi um grande sucesso nas paradas, atingindo o primeiro lugar no Reino Unido e número 12 nos Estados Unidos. Contudo, o peso de quase 15 anos de estrada começou a aparecer.

Após as gravações do disco, Martin Birch anunciou sua aposentadoria e o grupo estava sem seu mentor no estúdio.

Em 1993, houve um baque ainda maior: Bruce Dickinson deixou o grupo para se dedicar à sua carreira solo. Brigas por causa de suas performances nas turnês remanescentes do contrato tornaram o clima extremamente tenso entre o vocalista e Steve Harris.

A saída de Dickinson colocou o Iron Maiden em uma fase terrível, com o pobre Blaze Bayley na tarefa nada invejável de suceder um dos maiores vocalistas da história do heavy metal. 

A banda atingiu o fundo do poço até que, em 1999, Harris convidou Dickinson (e Adrian Smith) de volta. O baixista deu a explicação da decisão a Mick Wall em “Iron Maiden – Run to the Hills: A Biografia Autorizada”:

“O negócio é, nós conhecemos Bruce  sabemos do que ele é capaz, e você pensa: ‘bem, melhor o diabo que você conhece’. Digo, nós nos demos bem durante, sei lá, 11 anos, e então… depois que pensei a respeito, não tive muito problema com isso.”

Desde então, Dickinson permanece firme e forte nos vocais do grupo. Quase nenhuma canção de “Fear of the Dark” seguiu sendo tocada dos shows, mas a faixa-título continua tendo seu lugar especial em praticamente todo repertório.

Iron Maiden – “Fear of the Dark”

  • Lançado em 11 de maio de 1992 pela EMI; produzido por Martin Birch e Steve Harris.

Faixas:

  1. Be Quick or Be Dead
  2. From Here to Eternity
  3. Afraid to Shoot Strangers
  4. Fear Is the Key
  5. Childhood’s End
  6. Wasting Love
  7. The Fugitive
  8. Chains of Misery
  9. The Apparition
  10. Judas Be My Guide
  11. Weekend Warrior
  12. Fear of the Dark

Músicos:

  • Bruce Dickinson (vocal)
  • Dave Murray (guitarra)
  • Janick Gers (guitarra)
  • Steve Harris (baixo)
  • Nicko McBrain (bateria)

Músico adicional:

  • Michael Kenney (teclados)

* Texto por Pedro Hollanda, com pauta e edição por Igor Miranda.

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Pedro Hollanda
Pedro Hollanda
Pedro Hollanda é jornalista formado pelas Faculdades Integradas Hélio Alonso e cursou Direção Cinematográfica na Escola de Cinema Darcy Ribeiro. Apaixonado por música, já editou blogs de resenhas musicais e contribuiu para sites como Rock'n'Beats e Scream & Yell.

2 COMENTÁRIOS

  1. Saudade dessa época!!!! Gosto muito dos albuns No prayer e Fear of the Dark…aquela atmosfera sombria que pairava sobre os albuns deixou algo estranho e ao mesmo tempo bom. Se para a banda foram tempos tenebrosos, para os fãs foi uma coisa boa em termos de timbre e dinamismo nos albuns!!!!
    Para quem teve esses álbuns em vinil entenderá ou entende o que quero dizer em termos de ambientação sonora!!!! valeu !!!!

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