O Iron Maiden, grupo conhecido por manter-se fiel à sua proposta sonora durante boa parte de seus primeiros dez anos de carreira, estava criativamente estagnado no início da década de 1990. Os anos 1980 haviam terminado e por mais que o grupo tivesse atingido os maiores níveis de sucesso possíveis no heavy metal, também pareciam ter extraído tudo da fórmula de sucesso.
O grupo estava numa encruzilhada quando começou a produzir “Fear of the Dark”, nono álbum de sua carreira.
Volta ao começo mal fadada
O disco anterior, “No Prayer for the Dying” (1990), prometia uma volta ao som clássico do Maiden. A proposta causou briga interna, com o guitarrista Adrian Smith deixando o grupo antes das gravações e sendo substituído por Janick Gers.
“No Prayer” teve a distinção de ter sido o primeiro disco gravado no celeiro da casa de Steve Harris, baixista e principal compositor do grupo, usando o Rolling Stones Mobile Studio. Entretanto, a ideia não deu tão certo, conforme o vocalista Bruce Dickinson contou no livro “The Wicked Man”:
“Era uma m#rda! Era um disco que soava horrível e eu queria que nunca tivéssemos feito daquele jeito. Naquela época, fui tão culpado quanto qualquer um ao dizer: ‘Legal! A gente tá coberto de palha! Que zoeira!’”
Apesar de o trabalho ter rendido o primeiro número 1 nas paradas inglesas do grupo, com o single “Bring Your Daughter… to the Slaughter”, o senso geral era que o grupo estava muito perto de se tornar autoparódia.
Repensando os planos
O desastre das gravações de “No Prayer for the Dying” motivou Harris a transformar o celeiro num estúdio de verdade, apelidado de Barnyard. Além disso, ele começou a ter um papel ainda maior nas gravações.
Para esse disco novo, ele ficaria encarregado da produção pela primeira vez, juntamente com Martin Birch, produtor do grupo desde “Killers” (1981). O arranjo ainda não era ideal, como Dickinson descreveu em “The Wicked Man”:
“Houve uma pequena melhora porque Martin [Birch] veio e supervisionou o som. Mas havia grandes limitações naquele estúdio – simplesmente pelo espaço físico, coisas assim. Acabou não sendo tão ruim, mas, você sabe, ainda um pouco aquém.”
Como que o Maiden respondeu a essa adversidade e à ameaça de se tornarem irrelevantes? Com 58 minutos e 57 segundos da maior variedade musical já oferecida pela banda em qualquer outro lançamento até então.
Um pouco de tudo
O primeiro single de “Fear of the Dark” foi “Be Quick or Be Dead”, que flertava com o tempo mais rápido de bandas de thrash metal. “Wasting Love”, por sua vez, era uma power ballad composta por Dickinson e Gers para o primeiro disco solo do vocalista, “Tattooed Millionaire” (1990). Há ainda momentos como a arena-rocker “From Here to Eternity”, a melancólica “Afraid to Shoot Strangers” e a curiosamente direta “The Apparition” – tudo isso no mesmo trabalho.
Até mesmo as temáticas líricas passaram por ligeiras mudanças, passando a abordar assuntos mais contemporâneos. A já citada “Afraid to Shoot Strangers”, por exemplo, é sobre a Guerra do Golfo. “Fear is the Key”, por sua vez, trazia uma reflexão sobre o medo que a Aids trouxe às relações sexuais. Já “Weekend Warrior” aborda os hooligans do futebol. Todos os tópicos estavam em debate na Inglaterra ou no restante do mundo naquele período.
Entretanto, a faixa mais importante é a que veio a dar nome ao disco. “Fear of the Dark”, a música, não só se tornou um dos maiores clássicos do grupo, mas também criou o modelo futuro de composições dos caras.
Aquela imagem mental que temos de canções do Iron Maiden: início lento, com espaço no arranjo para o coro dos fãs nos shows, apenas para a banda entrar com força, culminando com refrão antêmico, solos e o mesmo ritmo lento no fim. Não começaram a fazer isso em “Fear of the Dark”, mas a faixa-título do disco de 1992 foi o momento em que todos esses elementos entraram no lugar.
Logo quando tudo entrou no lugar, tudo quebrou
O álbum “Fear of the Dark” foi um grande sucesso nas paradas, atingindo o primeiro lugar no Reino Unido e número 12 nos Estados Unidos. Contudo, o peso de quase 15 anos de estrada começou a aparecer.
Após as gravações do disco, Martin Birch anunciou sua aposentadoria e o grupo estava sem seu mentor no estúdio.
Em 1993, houve um baque ainda maior: Bruce Dickinson deixou o grupo para se dedicar à sua carreira solo. Brigas por causa de suas performances nas turnês remanescentes do contrato tornaram o clima extremamente tenso entre o vocalista e Steve Harris.
A saída de Dickinson colocou o Iron Maiden em uma fase terrível, com o pobre Blaze Bayley na tarefa nada invejável de suceder um dos maiores vocalistas da história do heavy metal.
A banda atingiu o fundo do poço até que, em 1999, Harris convidou Dickinson (e Adrian Smith) de volta. O baixista deu a explicação da decisão a Mick Wall em “Iron Maiden – Run to the Hills: A Biografia Autorizada”:
“O negócio é, nós conhecemos Bruce sabemos do que ele é capaz, e você pensa: ‘bem, melhor o diabo que você conhece’. Digo, nós nos demos bem durante, sei lá, 11 anos, e então… depois que pensei a respeito, não tive muito problema com isso.”
Desde então, Dickinson permanece firme e forte nos vocais do grupo. Quase nenhuma canção de “Fear of the Dark” seguiu sendo tocada dos shows, mas a faixa-título continua tendo seu lugar especial em praticamente todo repertório.
Iron Maiden – “Fear of the Dark”
- Lançado em 11 de maio de 1992 pela EMI; produzido por Martin Birch e Steve Harris.
Faixas:
- Be Quick or Be Dead
- From Here to Eternity
- Afraid to Shoot Strangers
- Fear Is the Key
- Childhood’s End
- Wasting Love
- The Fugitive
- Chains of Misery
- The Apparition
- Judas Be My Guide
- Weekend Warrior
- Fear of the Dark
Músicos:
- Bruce Dickinson (vocal)
- Dave Murray (guitarra)
- Janick Gers (guitarra)
- Steve Harris (baixo)
- Nicko McBrain (bateria)
Músico adicional:
- Michael Kenney (teclados)
* Texto por Pedro Hollanda, com pauta e edição por Igor Miranda.
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Saudade dessa época!!!! Gosto muito dos albuns No prayer e Fear of the Dark…aquela atmosfera sombria que pairava sobre os albuns deixou algo estranho e ao mesmo tempo bom. Se para a banda foram tempos tenebrosos, para os fãs foi uma coisa boa em termos de timbre e dinamismo nos albuns!!!!
Para quem teve esses álbuns em vinil entenderá ou entende o que quero dizer em termos de ambientação sonora!!!! valeu !!!!
E esse foi o primeiro álbum em que Derek Riggs deixou de assinar as capas…