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A história da capa revolucionária de “Sgt. Pepper’s Lonely Hearts Club Band”, dos Beatles

Em seu oitavo álbum de estúdio, quarteto apostou em trabalho visual inventivo e repleto de referências

Durante a maior parte dos anos 1960 e o auge da British Invasion, um dos aspectos mais retrógrados dos discos sendo lançados por bandas revolucionando a música pop era a arte das capas. Isso, claro, antes de “Sgt. Pepper’s Lonely Hearts Club Band”, oitavo álbum de estúdio dos Beatles.

Inicialmente compostas de fotos dos grupos em becos, calçadas ou estacionamentos rotativos em Londres, as capas foram evoluindo aos poucos, com um pouco mais de aplicação de direção de arte aos conceitos. Ainda assim, era geralmente uma foto da banda e só.

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Coube à maior e mais aventureira banda desse período quebrar esse molde.

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Identidade visual

Os Beatles arriscaram uma mudança nesse padrão com a capa do disco anterior, “Revolver” (1966). Múltiplas representações visuais dos integrantes do grupo estiveram presentes numa colagem feita pelo artista alemão Klaus Voorman, amigo do grupo de longa data.

Apesar de não conter uma imagem explicitamente fiel dos quatro integrantes, os Beatles eram tão famosos e visíveis que era muito fácil reconhecê-los nos desenhos espalhados pela capa.

Para a sequência com “Sgt. Pepper’s Lonely Hearts Club Band”, o grupo decidiu dar um passo além. O disco era em si conceitual, então precisava de uma capa que refletia isso, reforçando visualmente a variedade da música.

Falando à Rolling Stone, Paul McCartney conta como bolou o conceito inicial, trabalhado depois pelos artistas pop Jann Haworth e Peter Blake:

“Fiz muitos desenhos de nós sendo apresentados ao Lorde Prefeito, com muitos dignitários e muitos amigos nossos em volta, e era pra ser a gente em frente a um relógio floral do norte enorme, e éramos para parecer uma banda de metais. Isso evoluiu para se tornar a capa de Peter Blake.”

Em entrevista resgatada pelo site Far Out Magazine, Peter Blake conta sua resposta a esses conceitos iniciais:

“Eu ofereci a ideia que se eles teriam acabado de fazer um concerto num parque, a capa poderia ser uma foto do grupo logo após o show com a plateia, que estaria os observando. Se fizéssemos isso usando recortes de papelão, poderia ser um público mágico de quem for que eles quisessem.”

Foto da turma de 1967

A lista inicial de pessoas a serem incluídas na capa abrangia celebridades da época como Bob Dylan, Lenny Bruce, Karlheinz Stockhausen; figuras históricas como Karl Marx, Oscar Wilde, George Bernard Shaw, Carl Jung; e até mesmo divindades como Lakshmi e Buddha.

Fora as representações de diferentes eras dos Beatles, como em “Revolver”. A seleção tinha o objetivo de refletir a natureza eclética dos interesses não só do grupo, mas também da equipe por trás da capa. Era para ser uma colagem viva de tudo por trás do movimento, uma foto de turma do imaginário popular da Inglaterra em 1967.

Além dos recortes de papelão, também haveriam bonecos de cera emprestados do Museu da Madame Tussaud, famoso por mostrar representações visuais de figuras históricas em meio a celebridades de cada época desde antes da existência da câmera fotográfica.

Figuras potencialmente controversas como Jesus Cristo (cuja menção por John Lennon arrumou encrenca para o grupo nos Estados Unidos), Mahatma Gandhi e Adolf Hitler (uma sugestão bizarra de Lennon) foram deixadas de fora.

A sessão de fotos

A banda, junto com Haworth, Blake e o diretor de arte Robert Fraser, fechou a lista de pessoas e objetos na capa. Ao todo, foram 87 elementos no quadro final, fotografados por Michael Cooper.

O projeto visual de “Sgt. Pepper’s Lonely Hearts Club Band” foi o mais ambicioso já visto na indústria musical até aquele momento, custando cerca de 3 mil libras para ser montado. Além da capa, cada LP continha um encarte interno com insígnias da banda do Sargento Pimenta e bigodes falsos para recortar e parecer com o grupo, que deixou para trás os tons monocromáticos do passado em favor de uma explosão de cores adequada à nova era da psicodelia.

Foto alternativa

O disco foi um sucesso esmagador, reconhecido até hoje como um dos maiores de todos os tempos. O mesmo vale para a capa, que foi homenageada e/ou satirizada tantas vezes a ponto de ser tarefa fútil contar.

Entre essas reproduções, vale ressaltar “We’re Only In It For The Money”, disco de Frank Zappa cuja capa tirou sarro dos Beatles menos de um ano após o lançamento de “Sgt. Pepper’s”; “Sinister Slaughter”, do Macabre, cuja capa contém uma colagem de serial killers e outras figuras assustadoras; além de versões mais bem humoradas dos Simpsons, Mad Magazine, Vila Sésamo e Muppets.

Pop art em seu auge.

Quem é quem na capa

* Lista abaixo via Wikipédia.

Fila superior

  • (1) Sri Yukteswar Giri (guru hindu)
  • (2) Aleister Crowley (ocultista)
  • (3) Mae West (atriz)
  • (4) Lenny Bruce (comediante)
  • (5) Karlheinz Stockhausen (compositor)
  • (6) W. C. Fields (comediante/ator)
  • (7) Carl Jung (psiquiatra)
  • (8) Edgar Allan Poe (escritor)
  • (9) Fred Astaire (ator/dançarino)
  • (10) Richard Merkin (artista e amigo de Peter Blake)
  • (11) A Garota Vargas (do artista Alberto Vargas)
  • (12) Leo Gorcey (a imagem foi removida da capa, mas resta um espaço)
  • (13) Huntz Hall (ator)
  • (14) Simon Rodia (designer e construtor das Watts Towers)
  • (15) Bob Dylan (cantor/compositor)

Segunda fila

  • (16) Aubrey Beardsley (ilustrador)
  • (17) Sir Robert Peel (primeiro-ministro britânico do século XIX)
  • (18) Aldous Huxley (escritor)
  • (19) Dylan Thomas (poeta)
  • (20) Terry Southern (escritor)
  • (21) Dion DiMucci (cantor/compositor)
  • (22) Tony Curtis (ator)
  • (23) Wallace Berman (artista)
  • (24) Tommy Handley (comediante)
  • (25) Marilyn Monroe (atriz)
  • (26) William S. Burroughs (escritor)
  • (27) Sri Mahavatar Babaji (guru hindu)
  • (28) Stan Laurel (ator/comediante)
  • (29) Richard Lindner (artista)
  • (30) Oliver Hardy (ator/comediante)
  • (31) Karl Marx (filósofo político)
  • (32) H. G. Wells (escritor)
  • (33) Sri Paramahansa Yogananda (guru hindu)
  • (34A) James Joyce (poeta e romancista irlandês) – pouco visível abaixo de Bob Dylan
  • (34) Anônimo (boneco de cera de cabeleireiro)

Terceira fila

  • (35) Stuart Sutcliffe (artista/ex-Beatle)
  • (36) Anônimo (boneco de cera de cabeleireiro)
  • (37) Max Miller (comediante)
  • (38) A “Petty Girl” (do artista George Petty)
  • (39) Marlon Brando (ator)
  • (40) Tom Mix (ator)
  • (41) Oscar Wilde (escritor)
  • (42) Tyrone Power (ator)
  • (43) Larry Bell (artista)
  • (44) David Livingstone (missionário/explorador)
  • (45) Johnny Weissmuller (nadador olímpico/ator de Tarzan)
  • (46) Stephen Crane (escritor) – pouco visível entre a cabeça de Issy Bonn e o braço levantado
  • (47) Issy Bonn (comediante)
  • (48) George Bernard Shaw (dramaturgo)
  • (49) H. C. Westermann (escultor)
  • (50) Albert Stubbins (jogador de futebol inglês)
  • (51) Sri Lahiri Mahasaya (guru)
  • (52) Lewis Carroll (escritor)
  • (53) T. E. Lawrence (“Lawrence da Arábia”)

Fila da frente

  • (54) Modelo de cera de Sonny Liston (boxeador)
  • (55) Uma “menina mesquinha” (por George Petty)
  • (56) Modelo de cera de George Harrison
  • (57) Modelo de cera de John Lennon
  • (58) Shirley Temple (atriz infantil) – pouco visível atrás dos modelos de cera de John e Ringo, primeira de três aparições na capa
  • (59) Modelo de cera de Ringo Starr
  • (60) Modelo de cera de Paul McCartney
  • (61) Albert Einstein (físico) – amplamente obscurecido
  • (62) John Lennon segurando uma trompa francesa
  • (63) Ringo Starr segurando um trompete
  • (64) Paul McCartney segurando um cor anglais
  • (65) George Harrison segurando um flautim
  • (65A) Bette Davis (atriz) – cabelo pouco visível em cima do ombro de George
  • (66) Bobby Breen (cantor)
  • (67) Marlene Dietrich (atriz/cantora)
  • (68) Mahatma Gandhi foi planejado para este cargo, mas foi excluído antes da publicação
  • (69) Um legionário americano
  • (70) Modelo de cera de Diana Dors (atriz)
  • (71) Shirley Temple (atriz mirim) – segunda aparição na capa

* Texto por Pedro Hollanda, com pauta e edição por Igor Miranda.

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Pedro Hollanda
Pedro Hollanda
Pedro Hollanda é jornalista formado pelas Faculdades Integradas Hélio Alonso e cursou Direção Cinematográfica na Escola de Cinema Darcy Ribeiro. Apaixonado por música, já editou blogs de resenhas musicais e contribuiu para sites como Rock'n'Beats e Scream & Yell.

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