Os álbuns do Black Sabbath com Tony Martin, comentados pelo próprio cantor

Responsável pelos vocais da banda nos períodos de 1987 a 1991 e 1993 até 1997 gravou ao todo cinco discos de estúdio em parceria com o guitarrista Tony Iommi

Quando garoto, Tony Martin sequer gostava de Black Sabbath. Para ele, a banda era um horror.

Quis o destino, porém, que o vocalista se juntasse ao grupo em meados de 1987, permanecendo a bordo de maneira intermitente por quase uma década. Gravou ao todo cinco álbuns de estúdio com o Sabbath: “The Eternal Idol” (1987), “Headless Cross” (1989), “Tyr” (1990), “Cross Purposes” (1994) e “Forbidden” (1995).

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Embora tenha produzido um bocado desde então – incluindo álbuns à frente do Empire, a parceria com o italiano Dario Mollo no The Cage e empreitadas solo –, quase sempre suas entrevistas recaem no período em que esteve ao lado de Tony Iommi, resistindo bravamente numa cena musical desafiadora e em constante mudança.

Abaixo você confere análises de cada um dos cinco álbuns de estúdio do Black Sabbath na fase Tony Martin feitas pelo próprio, compiladas a partir de entrevistas a diversos sites e veículos no decorrer dos anos:

Tony Martin e seus álbuns com o Black Sabbath

“The Eternal Idol” (1987)

Não obstante tenha sido efetivado como vocalista do Black Sabbath em 28 de maio de 1987, Tony Martin já vinha sendo cortejado pelo management da banda um ano antes. Em entrevista ao BraveWords, ele declarou:

“O empresário do Tony [Iommi] na época, Patrick Meehan, me pediu para ficar de prontidão porque a banda estava tendo problemas com Glenn Hughes durante a gravação do álbum ‘Seventh Star’. Não sei quais problemas eram esses, mas fiquei com medo porque não sou páreo para Glenn Hughes – ninguém é. Daí eles resolveram o que precisava ser resolvido com o Glenn, e no comecinho da turnê o Ray Gillen entrou em cena.”

Ray Gillen gravou os vocais de “The Eternal Idol”, mas deixou a banda antes do lançamento. Ao Vinyl Writer Music, Martin relembrou:

“Ray saiu para formar o Blue Murder com John Sykes, e eles [os empresários] me pediram para ficar a postos novamente. Primeiro, me deram uma música para cantar, ‘The Shining’, e depois me mandaram para casa. Dois dias depois, o Tony ligou e disse: ‘A vaga é sua. Você tem uma semana para regravar os vocais do álbum’, então tome pressão.”

Em semanas, Tony Martin foi de ilustre desconhecido para vocalista do Black Sabbath. Embora tudo tenha se desenrolado numa velocidade inacreditável, ele vê com bons olhos sua estreia na banda.

“‘The Eternal Idol’ foi o álbum que me apresentou ao modus operandi do Black Sabbath. Não precisei compor nada nem criar nenhuma melodia; já estava tudo pronto na época que cheguei. Tudo o que precisei fazer foi cantar. E nesse processo eu pude aprender; quer dizer, tive que aprender rápido sobre como era estar no Sabbath. Eles [Tony Iommi e os outros] eram 12 anos mais velhos que eu e era difícil acompanhá-los, mas eu fiz o que pude, e minha voz estava a meu favor.”

“Headless Cross” (1989)

Tendo aprendido como o Black Sabbath funcionava em estúdio, Tony Martin ampliou sua atuação para o setor criativo. Como resultado, tornou-se o principal letrista da banda, conforme relembrou ao Vinyl Music Writer.

“Bem, no ‘Headless Cross’ era eu escrevendo e bolando as melodias vocais e coisas assim. Então, dá para ver a diferença, realmente, entre ele e o ‘The Eternal Idol’. No ‘Headless Cross’, sou eu cantando aquilo que compus.”

Deixar as letras a cargo de Martin resultou no maior apanhado de versos apócrifos e ocultistas já presente num disco do Sabbath. Apesar de não ser conceitual, em “Headless Cross” prevalece uma temática provocadora; às vezes, exageradamente satânica, mas, sobretudo, de alto teor literário. Ao Metal Rules, o cantor destacou:

“Toda a coisa de Deus contra o Diabo – quero dizer, bandas escrevem sobre a luta do bem contra o mal há décadas. Então, o truque ou o segredo realmente foi transformar isso em historinhas. No ‘Headless Cross’, por exemplo, escolhi falar sobre Deus e o Diabo principalmente de acordo com a tradição inglesa. Bem, esse sou eu.”

Além dos dois Tonys, o Sabbath na época contava com o baterista Cozy Powell e o tecladista Geoff Nicholls, ambos já falecidos.

“Tínhamos Cozy Powell conosco, então as coisas começaram a melhorar para nós. Parecia que as pessoas estavam voltando a se interessar pela banda. Com isso, eu me senti bem por fazer parte. Foi um tempo bom.”

“Tyr” (1990)

Se “Headless Cross” foi visto como um recomeço para o Black Sabbath, esperava-se que o disco seguinte consolidasse a nova e produtiva fase.

Uma diferença fundamental entre “Tyr” e seu antecessor é o teor das letras. Em “Headless”, as referências ao diabo eram tantas que Tony Iommi pediu a Tony Martin para pegar mais leve. O resultado foi um disco metade conceitual inspirado na mitologia nórdica no qual a capa certamente evoca o conteúdo.

Apesar disso, “Tyr” quase atendeu pela infame alcunha de “Satanic Verses”. No Facebook, Martin escreveu:

“Quando o ‘Tyr’ estava sendo gravado em 1990, o assunto título do álbum entrou em pauta após um telefonema dos empresários do Sabbath. Estávamos em estúdio na época e começamos a examinar os títulos sugeridos para ver se eles se sustentavam. Cozy Powell sugeriu usarmos ‘Satanic Verses’, que é o título de um livro escrito por Salmon Rushdie que supostamente criticava a religião muçulmana. A repercussão negativa obrigou o autor a viver na clausura durante grande parte de seus dias. Quando Cozy sugeriu, ficamos tipo… cara… você só pode estar de sacanagem! Ele disse: ‘Que nada! Pense só na publicidade que isso vai ter!’”

O nome “Tyr” foi sugerido pelos empresários da banda, e o resto é história.

“Fomos a uma reunião em Londres onde eles explicaram o conceito e a arte… mas por um momento houve uma chance… ainda que pequena… de que o álbum poderia ter sido chamado de ‘Satanic Verses’!”

“Cross Purposes” (1994)

Depois que foi encerrada a turnê de “Dehumanizer” (1992), álbum que promoveu a reunião da formação responsável por “Mob Rules” (1981) por meio do retorno do vocalista Ronnie James Dio e do baterista Vinny Appice, a dupla deixou o Black Sabbath mais uma vez.

Sempre sob aviso, Tony Martin voltou ao posto trazendo Bobby Rondinelli para as baquetas. Um fato curioso sobre este álbum é que é o único do Sabbath da era Martin que Geezer Butler tocou e contribuiu com letras, coescrevendo a maioria delas com o cantor. Em entrevista ao site da Gibson, o próprio destacou:

“‘Cross Purposes’ é um disco com letras muito inteligentes, mais reais do que históricas.”

Entre os assuntos abordados em “Cross Purposes” estão a guerra da Iugoslávia (“Dying for Love”), a cultura de isolamento dos Amish (“I Witness”) e o cerco ao Ramo Davidiano do autoproclamado profeta David Koresh, que resultou na morte de 80 pessoas em 1993 (“Psychofobia”). À Inner View Magazine, em 1994, o vocalista esclareceu:

“Algumas pessoas pensam que essa música [‘Psychofobia’] é sobre Ronnie [James Dio], mas eu nego isso! [Risos]”

“Forbidden” (1995)

Quase uma década após a parceria com o Run-D.M.C. ressuscitar a carreira e dar um boost nas vendas do Aerosmith, os empresários pensaram que isso funcionaria com o Black Sabbath. Ao site da Gibson, Tony Martin refletiu:

“Houve uma reunião nos escritórios do Sabbath em Londres para discutir a possibilidade de fazer álbum ao estilo ‘Rap Sabbath’. Achei que não ia dar certo e falei isso. Cozy Powell também achou que não funcionaria. Então me disseram que o [rapper] Ice-T ia participar, mas não especificaram o que ele iria fazer. Só descobri [que o rapper participaria de uma das faixas, ‘The Illusion of Power’] quando estava no estúdio cantando as faixas. Portanto, tem todo um mal-estar envolvido. No fim das contas, o álbum [produzido por Ernie C, do Body Count] não funcionou.”

Embora exista uma meia dúzia que o ame, o último álbum de Martin no Black Sabbath é amplamente tido pelos fãs como o pior já gravado pela banda. O vocalista concorda, embora reconheça que fatores externos prejudicaram o andamento do trabalho.

“As músicas [do ‘Forbidden’] funcionavam muito bem nos ensaios, só que aí eu fiquei sabendo – não pelos meus colegas – que uma reunião com o Ozzy [Osbourne] estava nos planos. Comecei a ter a sensação de que meus dias na banda estavam contados novamente, então fiquei muito inquieto e não conseguia me concentrar. Daí, acho que não fiz um bom trabalho.”

O último lançamento do Black Sabbath a conter a voz de Tony Martin é a coletânea “The Sabbath Stones”, de 1996, lançada apenas com o intuito de cumprir contrato com a gravadora I.R.S.

Exceto por “The Eternal Idol”, lançado ainda pela Warner Bros. – e que foi relançado em formato deluxe em 2020 –, todos os demais álbuns da era Martin encontram-se tanto fora de catálogo quanto indisponíveis em todas as plataformas digitais.

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Marcelo Vieira
Marcelo Vieirahttp://www.marcelovieiramusic.com.br
Marcelo Vieira é jornalista graduado pelas Faculdades Integradas Hélio Alonso (FACHA), com especialização em Produção Editorial pela Universidade Estadual Paulista (UNESP). Há mais de dez anos atua no mercado editorial como editor de livros e tradutor freelancer. Escreve sobre música desde 2006, com passagens por veículos como Collector's Room, Metal Na Lata e Rock Brigade Magazine, para os quais realizou entrevistas com artistas nacionais e internacionais, cobriu shows e festivais, e resenhou centenas de álbuns, tanto clássicos como lançamentos, do rock e do metal.

1 COMENTÁRIO

  1. Bons tempos de Tony Martin…Headless Cross, musicão dukralho!!!! Fase mais hard rock, só faltava Iommi dar aquelas rodadinhas com a guitarra e o chute para o alto como fazia e ainda faz Yngwie Malmsteen!!!! Tony seria o Blaze Bayley da época…muito criticado, mal falado e acima de tudo os que falavam mal…seriam os primeiros a tá lá no show do Sabbath vendo o cara cantando!!!! valeu!!!!

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