Em 2013, a complicada relação do Stone Temple Pilots com Scott Weiland chegou a um ponto onde era impossível continuar. O vocalista foi demitido em fevereiro daquele ano e houve uma breve disputa judicial pelo uso do nome da banda, que acabou mantido pelos irmãos Dean e Robert DeLeo e pelo baterista Eric Kretz. Faltava então um novo cantor para seguinte em frente – e a vaga foi ocupada por Chester Bennington.
A opção pelo frontman do Linkin Park pode parecer um pouco improvável, já que ele tinha sua banda principal em plena atividade no período. Mas Chester, que faleceu em 2017 – menos de dois anos após Scott – era um grande fã da clássica banda grunge e não poderia deixar a oportunidade passar.
O artista manteve seus dois empregos entre 2013 e 2015 e se sua entrada parecia não fazer sentido, a química entre os músicos mostrou que o STP havia escolhido muito bem. Uma pena que a fase tenha durado tão pouco tempo.
Chegando devagar
O primeiro show do Stone Temple Pilots com Chester Bennington aconteceu em maio de 2013. Na segunda apresentação, marcada para o dia seguinte, o grupo já introduziu no setlist uma música nova, intitulada “Out of Time”, também liberada na internet para download gratuito.
Sobre sua entrada, Bennington contou em entrevista ao site Suicide Girls como tudo ocorreu.
“Na verdade foi tão fácil quanto uma ligação. Em uma tarde, recebi a pergunta. Temos pessoas em comum que trabalham em várias bandas diferentes, tanto conosco quanto com eles, e me perguntaram se eu queria trabalhar com o STP. Me informaram de que haviam tirado Scott e queriam seguir em frente e compor novas músicas, fazer turnês e soprar vida de volta na banda. E eu disse sim.”
A tranquilidade do momento era evidente, até mesmo pelo contraste dos últimos anos do grupo com Scott Weiland. Enquanto fã, Chester era um profundo conhecedor das músicas e se adaptou muito bem aos shows que logo começaram a ser mais frequentes, transformando-se em uma turnê.
O vocalista obteve a bênção de seus colegas de Linkin Park para manter as duas agendas e embarcou de cabeça no projeto.
Stone Temple Pilots with Chester Bennington
A parceria rendeu um EP intitulado “High Rise”, que saiu no fim de 2013 e foi creditado a Stone Temple Pilots with Chester Bennington, deixando claro que se tratava de uma nova fase. Além do single “Out of Time”, o EP trouxe mais quatro músicas, todas elas compostas pelos quatro integrantes, incluindo “Black Heart”, que também obteve destaque na época.
Em entrevista à Rolling Stone ao lado do baixista Robert DeLeo, o vocalista deixou claro que havia um bom clima nos processos de composição e gravação. DeLeo, por sua vez, cita o fato de que todas as partes se complementavam muito bem, o que ficava evidente no EP e nos shows.
Chester disse:
“Para nós a transição tem sido tão suave criativamente enquanto banda quanto possível. E o fato de que nos damos tão bem, que gostamos da companhia um do outro, temos a mesma ética de trabalho e estamos todos curtindo o que estamos fazendo. Tem sido ótimo de várias formas. Ao mesmo tempo, tenho a chance de compor músicas com dois dos meus compositores favoritos de todos os tempos, Robert e Dean. Compor música com esses caras, isso é algo que posso riscar da minha lista de coisas a fazer.”
Ainda sobre o nome, houve uma ideia inicial de rebatizar a banda, mas o próprio Bennington foi contra isso. O vocalista do Linkin Park deu suas razões em entrevista ao The Pulse of Radio (transcrita pelo Blabbermouth), explicando que o legado do Stone Temple Pilots não podia ser perdido por conta de uma mudança de formação.
“Conversamos sobre talvez mudar o nome da banda e fazer algo novo. Honestamente, meu problema era: por que abrir mão de algo que vocês trabalharam tanto para ter? Esse é o seu legado, você não precisa desistir dele porque uma pessoa não fez as coisas da forma que todos queriam que fosse, não fez as coisas como todos planejaram. Nós devemos poder seguir em frente.”
No início de 2015, a banda passou a se apresentar novamente apenas como Stone Temple Pilots, deixando claro que Chester era oficialmente um membro da banda.
Infelizmente, a parceria que parecia perfeita, não ia durar muito tempo. Todavia, no fim das contas, seria por uma boa razão.
O fim do sonho
Em novembro daquele ano, Chester Bennington e Stone Temple Pilots confirmaram que estavam seguindo caminhos separados. A separação foi amigável e a razão dada na época foi a questão da agenda do vocalista com o Linkin Park, que tornaria a permanência nas duas bandas inviável.
Em comunicado oficial, o grupo declarou:
“Que anos incríveis e belos todos nós tivemos juntos. Foi uma honra para nós tocar e ver todos vocês recentemente na turnê. Nós aproveitamos muito nosso tempo com Chester, não só profissionalmente, mas até mesmo a nível pessoal. Infelizmente, ficou evidente que a agenda e o tempo estavam trabalhando contra nós.”
Em 2017, meses antes de falecer, Bennington contou em entrevista para a rádio Q104.3 FM sobre outro fator que facilitou sua saída do Stone Temple Pilots. Além da agenda com o Linkin Park, o vocalista optou por priorizar sua família, já que o trabalho com as duas bandas estava mantendo-o longe de casa por bastante tempo, gerando problemas na relação com os filhos.
Conforme transcrito pelo Loudwire, ele disse:
“A única razão pela qual eu não continuei foi por causa dos meus filhos, eles choravam sempre que eu ia para a estrada com o STP. Quando eu saio em turnê com o Linkin Park, eles ficam: ‘ok, te vemos quando você voltar’. E eles entendem o que estou fazendo. Mas quando eu saía com o STP, eles choravam.
Comecei a perceber, acho que eles pensavam que eu estava escolhendo fazer isso ao invés de ficar em casa com eles, porque antes eu terminava com o Linkin Park e voltava para casa. Estava difícil para minha família. Basicamente, eu disse: ‘Quer saber? Tenho que parar de ser egoísta aqui e quando eu não estiver com o Linkin Park, tenho que estar em casa com os meus bebês’.”
De forma trágica, Chester Bennington acabou tirando a própria vida no mesmo ano de 2017, impossibilitando qualquer reedição da parceria.
O Stone Temple Pilots seguiu em frente e encontrou o vocalista Jeff Gutt, com quem segue em atividade até hoje, de forma muito mais estável do que nos tempos com o também saudoso Scott Weiland.
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