Como era ser guitarrista de Frank Zappa? Steve Vai revela em detalhes

Com apenas 20 anos de idade, o guitarrista entrou para a banda de um dos músicos mais geniais daquela geração

Antes de se tornar um dos guitar heroes mais respeitados do mundo, Steve Vai foi um dos integrantes mais jovens da banda solo de outro célebre músico: Frank Zappa. Sua história ao lado dele aconteceu de maneira pouco convencional – como muita coisa envolvendo Zappa – e ao longo dos anos, ele revelou detalhes dessa experiência.

Em 1978, Vai tinha 18 anos e era um estudante da prestigiada Berklee College of Music quando resolveu entrar em contato com o ídolo. Ele enviou ao veterano uma gravação de sua banda na época, chamada Morning Thunder, bem como uma transcrição da partitura de “The Black Page”, do próprio Zappa, para mostrar seus conhecimentos.

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O líder do Mothers of Invention acabou rejeitando Steve Vai em sua banda por ser muito jovem, mas decidiu empregar o novo talento de outra forma: por 2 anos, o estudante de Berklee trabalhou transcrevendo peças e composições de Zappa, um trabalho hercúleo por si só.

Quando completou 20 anos, Steve se mudou para próximo de onde Frank vivia e tentou entrar para a banda novamente. Deu certo, mas não sem testes bem peculiares.

Frank Zappa testa Steve Vai

Em entrevista ao podcast “Striking a Chord”, transcrita pelo Ultimate Guitar, Steve Vai contou que precisou fazer pequenos testes para se juntar a Frank Zappa. O veterano costumava aparecer com folhas de música escrita e pedir para que os músicos reproduzissem, sem mais explicações.

“Ele era duro… tive que passar por vários minitestes porque acho que o problema de Frank comigo era sair em turnê com um moleque de 20 anos. ‘Ele vai conseguir tocar? Ele vai ser capaz de aprender toda essa música e tocá-la adequadamente?’

Então eu fui colocado em um monte de pequenos testes diferentes. Havia uma passagem realmente difícil em uma música chamada ‘Wild Love’, com todos aqueles poliritmos, é apenas um interlúdio. Tive que tocar para ele por telefone uma vez, foi uma das primeiras coisas.”

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Apesar de trabalhar muito com partituras, notas e toda a parte teórica das composições, não era necessário saber ler música para trabalhar com Frank Zappa. Em entrevista ao podcast “The French Connection”, também com transcrição do Ultimate Guitar, Vai disse:

“Tommy Mars (tecladista) e Vinnie Colaiuta (baterista) eram alguns dos maiores leitores de partitura do mundo, sem dúvida, mas tinham vários caras que absolutamente não tinham ideia do que era uma nota escrita. Talvez alguns dos vocalistas, como Ray White ou Ike Willis, mas eles não precisavam, porque para o Frank isso não importava.

Se você tinha algo, ele acharia uma forma de tirar isso de você, mesmo sem saber nada sobre música. Se você conhecia música, ele te daria a folha, tipo: ‘ok, toque isto’. Mas se você não soubesse, ele tocaria para você e diria: ‘ok, toque isto.’”

“O timbre está na sua cabeça”

Steve Vai finalmente passou a integrar a banda de Frank Zappa de forma oficial no fim de 1980, após toda a sequência de testes. Seu tempo no grupo duraria até 1983.

O período foi de muito aprendizado e dificuldades – incluindo uma severa depressão, com episódios de síndrome do pânico, algo que Vai chama de “medo de enlouquecer”.

Ainda muito jovem, ele se lembra de algumas lições que teve com Zappa e uma delas dizia respeito ao seu timbre da guitarra. Em entrevista ao Sweetwater, novamente transcrita pelo UG, ele relembrou um conselho que só passou a entender alguns anos depois.

“Depois do meu primeiro show com Frank, estávamos sentados tomando café da manhã no dia seguinte, daí perguntei: ‘como fui?’ E ele disse: ‘bem, cara, acho você um ótimo guitarrista, mas seu timbre soa como um sanduíche de presunto elétrico’. Eu disse: ‘mas eu tenho o equipamento, tenho a Strato (guitarra Fender Stratocaster), tenho o amplificador… por quê?’. Então, ele falou: ‘o timbre está na sua cabeça’. Não entendi o que isso significava, pensava que eram só palavras bonitas. Mas Frank estava correto. Demorei um tempo para descobrir isso.”

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A questão do timbre iria seguir na cabeça de Vai até sua entrada no Alcatrazz, em 1983, quando deixou a banda de Zappa. Durante a entrevista com o The French Connection, ele explicou que não tinha muita abertura para fazer experimentos com amplificadores e equipamento com Frank, o que mudou quando entrou para sua nova banda.

“Quando você está usando um amplificador Marshall de 100 watts, para conseguir um timbre real, você precisa ligar aquela coisa alto – e eles são altos. E com ele eu nunca pude ligar alto. Jamais. Quando eu estava com Frank, eu jamais poderia abrir o volume de um Marshall no palco. Quando eu entrei no Alcatrazz, foi quando pude começar a me abrir com o timbre, experimentando com alguns Marshalls.”

A partir desse momento, Steve Vai passou a ter uma identidade maior como guitarrista, até se transformar no ícone que é hoje. Na carreira dele, Frank Zappa acabou assumindo o posto de um professor – nem sempre dos mais gentis, mas certamente um dos mais capacitados e engenhosos.

* Texto por André Luiz Fernandes, com pauta e edição por Igor Miranda.

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André Luiz Fernandes
André Luiz Fernandes
André Luiz Fernandes é jornalista formado pela Universidade Metodista de São Paulo (UMESP). Interessado em música desde a infância, teve um blog sobre discos de hard rock/metal antes da graduação e é considerado o melhor baixista do prédio onde mora. Tem passagens por Ei Nerd e Estadão.

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