Os melhores discos de 2021 na opinião de João Renato Alves

Colaborador do site e editor das páginas da Van do Halen escolhe 10 álbuns de destaque e faz outras 49 menções honrosas

Chegou o momento de escolher os melhores álbuns do ano. A pandemia trouxe duas consequências mais fortes aos artistas: 1) sem os shows, o que deu para fazer foi se concentrar em estúdio, com direito a alguns lançando novidades em sequência; 2) a descarga emocional se revelou intensa, com muitos trabalhos emotivos e catalisadores de toda a energia acumulada pela tristeza e até mesmo o luto dos tempos atuais.

Antes de partir para o ranking, vale reforçar aquilo que é dito todo ano: esta é uma lista pessoal. São os discos que EU mais gostei, escolhas estritamente pessoais, sem objetivo de se tornar palavra definitiva. Você não está errado por curtir algum que não está aqui ou por não ter gostado de algum que entrou. “Faltou fulano de tal”. Não, não faltou, apenas não coloquei. “Esqueceu aquele”. Não, não esqueci, apenas não coloquei.

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Sendo assim, comecemos pelo top 10.

1. Carcass – Torn Arteries (Death Metal)

O Carcass pode demorar, mas nunca decepciona. Jeff Walker, Bill Steer e quem mais estiver na formação sabem como fazer um som agressivo e, ao mesmo tempo, muito marcante, com melodias que grudam na cabeça em uma estrutura quase Pop de composição. Porém, claro que o Metal come solto nos arranjos, coisa que só mentes diferenciadas conseguem fazer com tamanha precisão. Em comparação a Surgical Steel, seu antecessor direto, se trata de uma obra menos acelerada e com maiores variações de andamento. Mas o que importa de verdade, que é o fator qualidade, se mantém nas alturas, sacramentando o grupo como ainda relevante após mais de três décadas.

2. Heavy Feather – Mountain Of Sugar (Classic/Blues Rock)

O quarteto sueco comandado pela vocalista Lisa Lystam chega ao segundo disco repetindo a exuberância da estreia. A fórmula retrô se mantém, com influência de bandas como Cream, Free e Heart. A produção potencializa a sonoridade vintage, colaborando com o clima e fazendo com que o álbum parecia ter sido encapsulado na virada dos anos 1960 para os 70 e apenas descoberto agora. Por sorte, isso não compromete o resultado final e a banda acerta na mosca mais uma vez, merecendo alçar voos maiores.

3. The Pretty Reckless – Death By Rock And Roll (Rock Alternativo)

A banda de Taylor Momsen precisou superar sérios obstáculos – o maior deles a morte do produtor Kato Khandwala, com quem haviam trabalhado em todos os discos até aqui – para dar o grande salto de amadurecimento na carreira. Mas a aposta se pagou e o quarto álbum de estúdio traz vários momentos certeiros, com canções memoráveis. Ousadia premiada com a faixa-título, quinta música a chegar ao topo da parada Mainstream Rock da Billboard, fato inédito para um grupo comandado por uma mulher.

4. Beartooth – Below (Heavy Metal)

Em seu quarto disco, o projeto do vocalista e multi-instrumentista Caleb Shomo se distancia dos primórdios Metalcore e reafirma posição como uma das grandes revelações dos últimos anos com seu disco mais pesado até o momento. A agressividade casa perfeitamente com a proposta do álbum, que foi iniciado antes da pandemia, mas inevitavelmente absorveu o clima que se instalava no mundo. E mesmo sendo tão fora dos padrões, há espaço para músicas que se encaixariam nas programações de rádios menos ortodoxas. Surpreende e conquista.

5. Tremonti – Marching In Time (Heavy Metal)

É quase certo que o projeto com o sobrenome do guitarrista (e aqui vocalista) Mark Tremonti não alcançará o sucesso do Creed ou Alter Bridge. Porém, é aqui que ele deixa seu lado mais pesado aflorar sem se preocupar com qualquer tipo de concessão. O quinto álbum do grupo é o auge da criatividade do músico até o momento, com várias canções empolgantes e execução muito acima da média, ratificando o motivo de Mark ser considerado um dos grandes instrumentistas de sua geração. Vale a pena tanto para fãs quanto para desfazer narizes distorcidos de quem não aprecia seus outros trabalhos.

6. Spiritbox – Eternal Blue (Post-Metal/Metalcore)

Após a boa repercussão dos primeiros EPs e singles, a banda canadense comandada pelo casal Courtney LaPlante (vocais) e Mike Stringer (guitarra) lança seu primeiro trabalho completo e justifica todo o incensamento da mídia especializada, que colocou o trabalho no topo de suas listas. Melodias de tão fácil assimilação que chegam quase a ser radiofônicas se juntam a uma execução altamente técnica. Não à toa, o disco chegou a altos postos nas paradas internacionais, como o 13º lugar nos Estados Unidos. Um feito e tanto para um novo artista ligado ao Metal.

7. Sad Theory – Léxico Reflexivo Umbral (Melodic Death Metal)

É sempre satisfatório conferir um bom álbum de Metal cantado em português. E os paranaenses do Sad Theory capricharam no sétimo full-length. A temática é inspirada na já consagrada série Black Mirror, promovendo reflexões sobre a ressignificação da humanidade com o avanço e a dependência da tecnologia para a sobrevivência. Tudo isso embalado por uma sonoridade agressiva e muito bem executada, refletindo a experiência de duas décadas de estrada. Digno de uma das bandas mais criativas da nossa cena.

8. Inglorious – We Will Ride (Hard Rock)

Não havia mais dúvidas sobre o fato de a banda britânica ter se tornado um dos principais nomes do Hard Rock contemporâneo. Porém, o Inglorious não se mostrou satisfeito e o quarto disco será sempre lembrado como um dos pontos altos de sua carreira. Injetando peso e se permitindo arriscar com uma produção mais moderna, o grupo encontra o equilíbrio perfeito entre agradar um público saudosista e ainda assim oferecer algo que agrada novas gerações. O destaque inevitável vai para Nathan James, vocalista e líder da empreitada, uma das melhores vozes surgidas recentemente.

9. Jinjer – Wallflowers (Prog/Groove Metal)

Não tem sido muito difícil esbarrar com o nome da banda ucraniana nos últimos anos. E a fama se justifica a cada novo disco, chegando ao ápice no quarto full-length de sua carreira. As estruturas elaboradas apresentam agressividade sem descuidar do aspecto emocional na abordagem, que ganhou contornos melancólicos compreensíveis em um mundo pandêmico. Não representa uma mudança radical em comparação aos trabalhos anteriores, mas mostra um grupo ainda mais encorpado em sua proposta.

10. Jerry Cantrell – Brighten (Hard/Classic Rock)

As estruturas das músicas do disco não são tão diferentes assim das do Alice In Chains. Mas aqui Jerry deixa um pouco o peso de lado, investindo em uma pegada mais setentista, de bases acústicas melódicas que proporcionam momentos de beleza singular. A opção de usar músicos diferentes a cada faixa ao invés de uma banda dão um pouco da ideia do clima que foi buscado. E a escolha do cover ter recaído sobre “Goodbye” de Elton John (em versão aprovada pelo próprio) não deixa esconder de qual fonte o protagonista bebeu a inspiração.

Outros 49 álbuns de destaque

E agora, em ordem alfabética, outros 49 que curti e fui anotando durante o ano.

Accept – Too Mean To Die (Heavy Metal): Em seu primeiro disco sem o baixista Peter Baltes – além de estrear a formação com três guitarras – o Accept mantém a fórmula vencedora e mostra estar em uma fase tão inspirada quanto no seu auge de popularidade. Wolf Hoffmann capricha nos riffs e solos, deixando claro que não quer deixar a banda se tornar objeto de culto em ondas saudosistas. Talvez esteja um pouco abaixo do impacto causado em Blood Of The Nations e Stalingrad, discos que resgataram o grupo. Mas ainda é uma ótima pedida para os fãs.

Act Of Denial – Negative (Melodic Death Metal): Com músicos como o vocalista Björn “Speed” Strid (Soilwork, Night Flight Orchestra) e o baixista Steve DiGiorgio (Testament, Death) na formação, além de convidados como Bumblefoot, o projeto dos guitarristas Voi Cox e Luger empolga na estreia. A mistura de peso, melodia e groove oferece características que consagraram as figuras conhecidas e ainda apontam um frescor em novas misturas de elementos. Difícil apontar algum momento como destaque, é preciso desfrutar na íntegra para absorver como as coisas fluem no tracklist.

Angelus Apatrida – Angelus Apatrida (Thrash Metal): Ultrapassando duas décadas de carreira, a banda espanhola mostra ainda ter muita lenha para queimar com um trabalho energético e lotado de momentos marcantes. O Thrash Metal veloz e riffeiro do quarteto possui muitas referências, mas não soa como reciclagem do que já foi feito, impondo um registro todo pessoal. O resultado empolga quem já era fã e tem tudo para agradar quem ainda não conhece. Daqueles discos que você ouve sem notar o tempo passar e já aperta o play novamente na sequência.

Anette Olzon – Strong (Symphonic Metal): O segundo trabalho solo da cantora sueca a reaproxima do estilo que a deixou conhecida pelas massas, investindo em uma sonoridade mais pesada e abordando temas introspectivos e dramáticos, influenciada pela perda do pai para o Covid-19. O resultado é o que de melhor Anette ofereceu desde os tempos de Nightwish, alternando melodias palatáveis com experimentos nos arranjos e até mesmo uma busca por influências atualizadas do que faz sucesso no segmento proposta pela obra. Boa oportunidade para reaproximar quem a deixou para trás nos últimos tempos.

Arc Of Life – Arc Of Life (Prog Rock): Reunindo membros atuais, antigos e de turnê do Yes, o projeto oferece uma estreia que não poderia lembrar outra coisa. O interessante é que há espaço para explorar influências da fase oitentista da “nave-mãe”, com referências a obras como 91025 e Big Generator, trazendo aquele frescor Pop sem descuidar da complexidade. Sim, Jon Davison canta como Jon Anderson e Billy Sherwood não faz qualquer questão de não lembrar que é o substituto de Chris Squire. Mas a qualidade das composições vence qualquer resistência em um disco que merece ser conferido.

At The Gates – The Nightmare Of Being (Melodic Death Metal): A segunda fase da carreira dos suecos é, no mínimo, tão interessante quanto a primeira. Ao ponto de que eles se permitem experimentar sem descaracterizar o som e ainda oferecer um sopro de novidade. Aqui, o grupo flerta abertamente com o Prog e o Jazz, incluindo orquestrações e instrumentos como saxofone. O contexto não se desvirtua e um novo momento de destaque na discografia ganha vida. Talvez um pouco fora da curva para fãs mais ortodoxos, mas esse nunca foi o público que o At The Gates buscou, de qualquer modo.

Baest – Necro Sapiens (Death Metal): O quinteto dinamarquês chega ao terceiro disco e se firma de vez como uma das grandes revelações do Death Metal nos últimos anos. A pegada mais tradicional é acompanhada por passagens Doom feitas com execução primorosa. Mas o grande destaque vai para o vocalista Simon Olsen, dono de um registro potente e sombrio, lembrando David Vincent dos tempos de Morbid Angel e Mikael Akerfeldt nos primórdios do Opeth.

Blacktop Mojo – Blacktop Mojo (Hard/Southern Rock): Em seu quarto trabalho de estúdio, o grupo investe em novo elementos ao seu estilo reconhecido pela alcunha de Texas Grunge. Há mais espaço para groove e melodias trabalhadas com referências do puro Rock de Arena, além de pitadas de Blues que fazem toda a diferença. O resultado é dos mais agradáveis, gerando uma série de hits genuínos (poderia facilmente figurar em uma rádio Rock menos limitada ao repertório de sempre) e dando sensação de frescor sem alterar as principais características da banda.

Blaze Bayley – War Within Me (Heavy Metal): O vocalista britânico vem mantendo uma constância impressionante na qualidade de seus álbuns. A regularidade permanece neste aqui, o décimo de inéditas desde que foi convidado a se retirar do Iron Maiden – contando os lançados apenas como Blaze e com nome completo. A sonoridade abre mão de alguns elementos mais agressivos dos antecessores, o que é compensado por um capricho exemplar nas melodias. Trata-se de um dos trabalhos mais simples e diretos de Blaze na carreira solo, o que não se torna problema em momento algum.

Bloody Hammers – Songs Of Unspeakable Terror (Hard Rock/Doom Metal): Em seu sexto disco, o duo americano aposta em uma sonoridade mais simples e direta – nenhuma faixa chega a três minutos e meio – em comparação aos trabalhos anteriores. A pegada é mais Hard e menos Doom, embora não tenha perdido aquele clima meio filme de terror, meio funeral. Parafraseando o review do Blabbermouth, soa quase uma mistura de Misfits com Volbeat. Pode parecer estranho, mas faz sentido quando a gente escuta.

Buckcherry – Hellbound (Hard Rock): Apesar de nunca ter alcançado grande sucesso – muito por não se encaixar em nenhum momento no que dominava as paradas, nem mesmo as segmentadas –, não foram poucas as vezes que o Buckcherry entregou material de qualidade. Hellbound é digno de representar a discografia do grupo, oferecendo o Hard Rock agitado e melódico nas medidas certas que os caracterizou nos mais de vinte anos de carreira. Não vai mudar o status de Josh Todd e companhia, mas tem tudo para agradar os fãs do gênero.

Crazy Lixx – Street Lethal (Hard/Melodic Rock): O quinteto sueco entrou em uma constante nos últimos discos onde consegue manter a fórmula e sempre soar interessante dentro de sua proposta. A sonoridade remete aos anos 1980 sem parecer mera cópia, com melodias grudentas, refrães grandiosos e clima festeiro na medida certa, amparados por uma produção condizente com o momento atual. Não é o que de melhor já fizeram (New Religion segue insuperável e, provavelmente, assim será para o resto da carreira), mas vale muito a conferida. Diversão garantida.

Crowne – Kings In The North (Hard/Melodic Rock): Reunindo membros do Europe, H.E.A.T, The Poodles e Art Nation (além da participação de Love Magnusson, guitarrista do Dynazty), o supergrupo desfila uma série de influências dentro do espectro do Hard Rock, em alguns momentos até mesmo resvalando no Heavy Metal. As músicas trazem aquelas características que remetem de cara à tradição sueca e vão agradar os fãs das bandas principais dos envolvidos em cheio.

Cruzh – Tropical Thunder (AOR/Melodic Rock): O grupo sueco se concretiza como revelação em seu segundo disco, com uma sonoridade que irá agradar quem aprecia nomes clássicos como Def Leppard e Danger Danger, além de outros mais recentes, como Crazy Lixx e Brother Firetribe. As composições são simples e marcantes, com vários daqueles clichês típicos do Rock de Arena executados à perfeição, compensando qualquer sensação de falta de criatividade.

Crypta – Echoes Of The Soul (Death Metal): Fernanda Lira e Luana Dametto deram um primeiro passo certeiro após o rompimento com a Nervosa. A estreia da Crypta é um deleite para fãs do Death Metal, misturando a pegada old school a uma produção que não deixa o trabalho soar ultrapassado. As guitarristas Sonia Anubis (Burning Witches) e Tainá Bergamaschi (Hagbard) completam a formação e se destacam com riffs e solos inspirados. Um belo cartão de apresentação e a certeza de não haver motivos para temer o recomeço.

The Dead Daisies – Holy Ground (Hard Rock): A entrada de Glenn Hughes foi decisiva para que o coletivo musical (eles usam essa denominação ao invés de banda, dada a grande rotatividade de formações) comandado pelo milionário australiano David Lowy lançasse o melhor disco de sua carreira. As músicas ganharam maior groove, além do ar setentista que o baixista e vocalista domina tão bem. O tracklist colabora, com maior coesão em comparação aos trabalhos anteriores, conseguindo se manter forte até o final.

Dirty Honey – Dirty Honey (Hard/Classic Rock): Reverenciada como uma das grandes revelações dos últimos anos, a banda americana confirma todas as expectativas em seu primeiro full-length. Como noutras épocas do estilo em questão, o quarteto é simples e direto, em um disco que não chega a meia hora de duração e conquista justamente por sua característica de urgência a cada acorde executado com total competência por quem realmente entende do assunto. Fãs de Aerosmith, Bad Company, Guns N’ Roses e afins não podem deixar passar.

Eclipse – Wired (Hard/Melodic Rock): Nem parece tanto, mas já são dez álbuns de estúdio da banda de Erik Martensson. E o melhor é que a qualidade não cai, ao contrário, mostrando um grupo cada vez mais conciso. A pegada Hard Rock de arena se mantém intacta, com músicas prontas para serem entoadas e melodias que não saem da cabeça após a primeira conferida. Também há espaço para um certo toque épico na maneira como os vocais são sobrepostos, dando quase um clima de torcida em estádio de futebol. O resultado é bem melhor do que a descrição pode indicar em um primeiro momento.

Enforced – Kill The Grid (Thrash Metal/Crossover): Diretamente de Richmond, estado da Virginia, o quinteto americano Enforced oferece um Thrash Metal com pitadas de Death e Hardcore transbordando fúria e energia. Em seu segundo disco dá para perceber influências de Slayer, Sepultura dos primórdios, Possessed e até mesmo de formações recentes, como o já lendário Power Trip. Rápido e direto, Kill The Grid é um verdadeiro deleite em seus 41 minutos de duração divididos em 9 faixas.

Every Time I Die – Radical (Hardcore/Metalcore): O nono full-length do quinteto novaiorquino é um belo exemplo de como manter conexão com as raízes e, ao mesmo tempo, evoluir tanto musical quanto liricamente. Os ecos do Hardcore dos primórdios permanecem paralelamente ao uso de novas influências e elementos, que em alguns momentos chegam até a flertar com o Pop sem abalar a essência sonora do grupo. Tomara que os recentes desencontros com o vocalista Keith Buckley sejam solucionados, pois a julgar por Radical, dá para esperar muita coisa boa para o futuro.

FarCry – Balance (Hard/Melodic Rock): A banda americana lançou dois ótimos discos na virada entre a década passada e a atual, posteriormente entrando em um hiato que parecia definitivo. Porém, o guitarrista Pete Fry encontrou parceria no vocalista Bob Malone, reformou o grupo de instrumentistas e resgatou o nome. A nova era começa resgatando a história de onde ela parou, com um trabalho no ponto para agradar fãs de Harem Scarem, Van Hagar, Danger Danger e outras do gênero.

Fear Factory – Aggression Continuum (Industrial/Groove Metal): É uma pena que as constantes brigas entre Dino Cazares e Burton C. Bell, que resultaram na saída do vocalista, tenham ofuscado o principal quando falamos no novo álbum do Fear Factory. Aggression Continuum é um dos melhores entre os mais recentes, fazendo frente aos melhores momentos da carreira do grupo. A pegada fulminante dos instrumentos convencionais aliados à tecnologia reedita a fórmula vencedora de outrora e entregam um produto final instigante. Mas claro que o foco acaba ficando com a roupa suja que os próprios músicos fizeram questão de lavar em público.

Gojira – Fortitude (Death/Groove/Prog Metal): Há diferentes modos de exaltar a força da banda francesa. Joe e Mario Duplantier são o exemplo básico da importância de adotar um discurso que reverbere positivamente e desperte interesse nas pessoas. Além disso, a qualidade musical do quarteto já está mais que comprovada, os transformando em um dos nomes mais relevantes na cena. Fortitude prossegue no caminho de transformar o Gojira em uma ponta de lança do Metal atual. Mesmo que para isso seja preciso gerar desconfiança naqueles que acham que a banda não deveria mudar em relação aos primórdios.

Helloween – Helloween (Power Metal): Um dos discos mais esperados dos últimos anos oferece mais do que um “fan service” – ainda que traga vários. O Helloween soube condensar músicas que remetem a vários momentos de sua história e conseguiu fazer com que a formação aumentada não se embolasse, o que pode ser considerado o grande desafio em uma situação como essa. Há espaço para todo mundo brilhar e transformar o álbum no ponto alto do grupo no século atual. Tomara que Michael Kiske – que não contribuiu com composições – siga se sentindo confortável em abraçar o Metal, pois é o que sabe fazer de melhor.

Herman Frank – Two For A Lie (Heavy Metal): Sem muito alarde, o guitarrista alemão que fez história com Accept e Victory vai construindo uma sólida carreira solo, apoiado por integrantes de bandas de gabarito como Masterplan e Jaded Heart. Two For A Lie entrega mais uma boa coleção de músicas embasadas no lado mais tradicional do Heavy Metal, com riffs e melodias simples, diretas e marcantes. Não vai mudar a vida de ninguém, mas reúne qualidades suficientes para garantir a diversão do início ao fim da audição.

Hot Breath – Rubbery Lips (Hard/Rock And Roll): Após a boa repercussão do EP homônimo, a banda sueca comandada pela vocalista e guitarrista Jennifer Israelsson lança o primeiro full-length, contando com uma série de músicos já experiente na cena local e entregando um Rock simples, cru e direto. As principais referências vêm das cenas garageiras americana e inglesa dos anos 1960 e 70, com riffs, melodia e pegada marcantes. Também dá para captar influências de conterrâneos e contemporâneos, como Hellacopters e Backyard Babies, entre outros.

Joe Bonamassa – Time Clocks (Blues Rock): O incansável bluesman segue mantendo ritmo de quase um disco por ano em sua carreira solo. Aqui, ele se aventura por influências fora do seu tradicional, abrindo espaço para muitas baladas com maiores inspirações de Southern e Country, além do R&B e Soul Music. Por conta das restrições da pandemia, a maior parte do trabalho foi feito no formato power trio, com as outras participações sendo acrescentadas posteriormente. Como resultado, temos um trabalho mais cru e espontâneo que o habitual, com a qualidade de sempre.

Joel Hoekstra’s 13 – Running Games (Hard Rock/Heavy Metal): O guitarrista do Whitesnake lança o segundo disco de seu projeto solo investindo em um Hard Rock com pitadas metálicas no mais tradicional que a mistura oferece, remetendo aos anos 1970 e 80. O vocalista Russell Allen (Symphony X, Adrenaline Mob) colabora com performances inspiradas, mostrando mais uma vez o poder de interpretação que possui. Daqueles álbuns que a gente aperta o play e se deixa levar sem se dar conta do tempo passando.

Killing – Face The Madness (Thrash Metal): A banda dinamarquesa lançou seu primeiro full-length este ano e já começou metendo o pé na porta. A sonoridade remete ao Thrash oitentista e inclui até mesmo algumas bases com referência do Black Metal em seus primórdios de tosqueira e diversão, além de riffs mais tradicionais. Influências de Slayer, Exodus e Kreator podem ser percebidas em toda a audição, onde se destaca os vocais rasgados do também baixista Rasmus Soelberg. Uma estreia mais do que promissora.

Labyrinth – Welcome To The Absurd Circus (Power/Prog Metal): A banda italiana não se tornou tão significativa quanto outras de sua geração, mas consegue manter uma discografia consistente. Em seu nono trabalho, o sexteto consegue fugir dos clichês que funcionam como armadilha no que se propõem e oferecem uma série de músicas marcantes e cheias de detalhes que cativam. Só não precisavam ter escolhido o batido cover para “Dancing With Tears In My Eyes”, do Ultravox, que meio mundo já regravou.

Land Of Gypsies – Land Of Gypsies (Hard/Classic Rock): Após ser chutado de forma nada delicada pelo Great White, o vocalista Terry Ilous (XYZ) passou a investir em novos projetos, incluindo a carreira solo e o Gang Of Souls, que antes mesmo de qualquer atividade alterou o nome para Land Of Gypsies. Agora, o grupo disponibiliza seu álbum de estreia praticando um Hard Rock com bastante influência dos anos 1970, especialmente de nomes como Free, Bad Company, Deep Purple e Whitesnake dos primórdios, entre outros.

Leverage – Above The Beyond (Prog/Melodic Rock): Os finlandeses consolidam de vez a formação estreada no disco anterior, DeterminUS, oferecendo seu melhor trabalho entre os cinco já lançados – todos de qualidade inquestionável. O mais difícil é enquadrar em um subgênero. Aqui tem AOR, Prog Metal, Heavy Rock, Hard e tudo mais que imaginar. Já o mais fácil é curtir, pois o sexteto consegue encaixar as mais variadas influências com maestria, oferecendo um álbum que os mantém em alta cotação junto aos apreciadores, mesmo não tendo alcançado a projeção que mereciam.

Long Shadows Dawn – Isle Of Wrath (Hard Rock): O conhecido vocalista escocês Doogie White se juntou ao guitarrista sueco Emil Norberg (Persuader) e lançou um dos melhores discos em tempos recentes de sua carreira. A sonoridade remete aos trabalhos do cantor junto a nomes históricos como Rainbow e Michael Schenker Group/Fest, apostando em um Hard Rock com claras influências setentistas na pegada e melodias. As canções são de fácil assimilação e oferecem uma audição muito agradável. Admiradores do protagonista terão muito a desfrutar.

Mammoth WVH – Mammoth WVH (Hard Rock): Quem esperava ver Wolfgang Van Halen seguindo os passos do pai em termos sonoros, caiu do cavalo. Apostando em um Hard Rock moderno com referências alternativas, o multi-instrumentista imprimiu cara própria ao material e se deu muito bem no primeiro desafio. Lógico que há uma ou outra referência em momentos específicos, mas nada que o faça ficar preso à sombra de Eddie. É raro vermos filhos de músicos históricos se dando bem ao seguir os passos do genitor, mas aqui temos um dos exemplares mais bem resolvido até hoje.

Massacre – Resurgence (Death Metal): São mais de 35 anos de história, mas este é apenas o quarto full-length da carreira do Massacre. Por sorte, o que falta em frequência compensa em qualidade. Mesclando novos e antigos membros, o grupo americano comandado pelo vocalista Kam Lee (que precisou travar disputa judicial pelos direitos do nome) oferece um Death Metal tradicional mesclado a momentos dramáticos e melodias bem elaboradas. Sem fazer muito alarde, mas com bastante eficiência, temos o retorno do ano aqui.

Mastodon – Hushed And Grim (Groove/Sludge Metal): Mergulhando no luto da morte do manager e amigo Nick John, o Mastodon entrega um de seus melhores trabalhos, retomando a complexidade que ficou em falta nos álbuns mais recentes. Não é acessível e pode desafiar ouvidos menos acostumados, mas a sensação de recompensa a cada nova escutada é gratificante. Não à toa, o quarteto é um dos mais relevantes e criativos surgidos no Metal (rótulo que eles muitas vezes renegam por conta da natureza limitadora) em décadas recentes.

Mother Road – II (Hard/Blues Rock): Após o primeiro disco em 2014, o projeto do vocalista Keith Slack (Steelhouse Lane) e do guitarrista Chris Lyne (Soul Doctor) deu uma parada nas atividades, retornando apenas agora. E a volta se mostrou um grande acerto musical. A sonoridade é voltada ao Hard/Blues Rock guiado pelos riffs e cheio de melodias grudentas que parecem ter vindo diretamente dos anos 1970. Há espaço até para sessões de metais e órgão Hammond, oferecendo um clima todo especial.

Of Mice & Men – Echo (Metalcore/Melodic Death Metal): O grupo juntou dois EPs lançados no primeiro semestre deste ano – Timeless e Bloom, de fevereiro e maio respectivamente – adicionou três novas composições, um cover e ofereceu uma bela mistura de agressividade e melodias que soam surpreendentemente acessíveis sem desvirtuar os padrões característicos. Apesar de registrar diferentes momentos, o tracklist soa bastante coeso, com faixas que os fãs irão aprovar e entoar a plenos pulmões em futuros shows.

Orden Ogan – The Final Days (Power Metal): O quinteto alemão se tornou uma verdadeira resistência do Power Metal nos últimos anos, abraçando as características do subgênero e as revigorando sem soar como um pastiche do passado. Em seu sexto disco traz convidados como Gus G. e Ylva Eriksson, vocalista do Brothers Of Metal, para uma celebração aos principais atributos do som a que se propõem. O resultado final é um trabalho empolgante para quem aprecia, sacramentando o grupo como um dos nomes da linha de frente na atualidade.

Smith/Kotzen – Smith/Kotzen (Hard Rock): Todo disco envolvendo Richie Kotzen acaba pendendo para o estilo característico de seus trabalhos solo em maior ou menor escala. Aqui não seria diferente. E é interessante ver como Adrian Smith, lendário guitarrista e instrumentistas mais versátil do Iron Maiden, pôde colocar seu estilo nessa realidade. A dupla não decepciona, com variações e a junção de estilo díspares, mas que ao mesmo tempo formam uma mistura deveras interessante. Não é o melhor que os dois já fizeram, mas garante a qualidade e merece ser apreciado.

Silver Lake By Esa Holopainen – Silver Lake By Holopainen (Prog Rock/Metal): O guitarrista do Amorphis permitiu se aventurar na gravação do disco de seu projeto solo. Há músicas que flertam com o Pop, boa parte delas com o Rock Progressivo, enquanto outras vão buscar influências no lado mais extremo do Metal e assim por diante. E não causa estranheza, ainda mais conhecendo o background do protagonista, que chamou uma série de vocalista convidados além de arriscar em temas instrumentais muito bem arranjados. Tem de tudo um pouco e o resultado é uma salada saborosa.

Soen – Imperial (Prog Metal): Em seu quinto álbum, o grupo comandado pelo baterista Martin López, ex-Opeth, atinge a maturidade musical, mesclando a complexidade da execução com melodias acessíveis sem desvirtuar as características a que se propõem. O grande destaque vai para o vocalista Joel Ekelöf, impondo emoção e firmeza às interpretações. Não há faixas tão longas quanto os antecessores, mas há momentos dignos de nota em profusão durante todo o tracklist.

Station – Perspective (Hard Rock/AOR): A banda novaiorquina (raro aparecer algo nesse estilo vindo de lá) chega ao quarto disco mantendo a competência na execução de seu Hard Rock com referências da virada dos anos 1980 para os 90 com passagens melódicas memoráveis. Há espaço até para momentos ambientais, que dão um tempero todo especial às composições e oferecem um clima que seria amistosamente radiofônico em outras épocas. Méritos para o guitarrista, tecladista e principal compositor Chris Lane, que demonstra entender do riscado.

Suidakra – Wolfbite (Melodic Death/Black/Celtic/Folk Metal): Ninguém pode acusar a banda alemã de soar previsível em seus discos. Por mais que haja uma linha lógica a se seguir, sempre há alguma surpresa. Em Wolfbite, temos a retomada da agressividade dos primeiros anos, mas sem abandonar os experimentos recentes, oferecendo belos interlúdios acústicos. O resultado tem tudo para empolgar quem acompanha a trajetória de quase três décadas do grupo, além de poder servir como um bom exemplar de apresentação a quem não está familiarizado.

The Treatment – Waiting For Good Luck (Hard Rock): Em seu quinto disco de inéditas, a banda britânica segue tendo certa dificuldade para manter a formação intacta – estreiam um baixista e é o segundo com o atual vocalista. Porém, isso não se reflete negativamente no Hard Rock consistente que praticam, com referências a AC/DC, Aerosmith e afins. Riffs de guitarra na linha de frente e refrões marcantes ditam o ritmo por aqui, transformando a experiência da audição em algo muito agradável sem soar como mera repetição de clichês.

Volbeat – Servant Of The Mind (Hard Rock/Heavy Metal): Já afirmado como banda grande – ao menos no circuito europeu, onde é headliner de festivais e toca em arenas de porte considerável – o Volbeat injeta peso em seu novo disco e oferece o melhor trabalho entre os mais recentes da discografia. A fórmula em si não se alterou, mas claramente há um cuidado maior com os riffs e a pegada agressiva. As composições são de muito fácil assimilação, proporcionando uma audição agradável até para quem não está muito familiarizado com o grupo. Um ótimo exemplo de como um artista pode se renovar sem abandonar as características que o consagraram.

W.E.T. – Retransmission (AOR/Melodic Rock): O projeto reunindo Jeff Scott Soto, Erik Martensson (Eclipse) e Robert Sall (Work Of Art) mantém a invencibilidade em seu quarto trabalho de estúdio. Aliás, vale uma menção mais que honrosa ao segundo citado, que se estabelece de vez como principal compositor no combalido estilo a que se propõe, conseguindo soar renovado a cada disco – e ele lança novidades com frequência. Apreciadores de melodias marcantes, instrumental cristalino e vocais combinados com perfeição não terão do que reclamar.

Wig Wam – Never Say Die (Hard Rock): Após quase uma década sem novidades, o quarteto norueguês volta com seu trabalho mais pesado e direto. Não que a estrutura primordial tenha se alterado drasticamente. Porém, dá para perceber maiores incursões na faceta metálica da banda, deixado o Glam um pouco de lado. Nada que vá perturbar os fãs mais ferrenhos, já que a principal característica está mantida, que é oferecer canções marcantes com aquela empolgação que faz o ouvinte aumentar o volume sem se dar conta.

Wolftooth – Blood & Iron (Heavy/Doom Metal): Não tem jeito, é o terceiro disco do quarteto americano e a terceira vez que entram em nossa lista. Blood & Iron não se desvia do padrão de seus antecessores, com riffs do mais puro Doom Metal alinhados ao lado mais clássico do Heavy em suas características melódicas. Porém, é possível notar uma clara preocupação com os vocais que não havia nos anteriores, com belas harmonias. O resultado é muito interessante, proporcionando um clima vintage à audição. Mas é claro que o ponto forte segue residindo nas guitarras, com direito a ataques duplos e fraseados que remetem a tempos e bandas gloriosas.

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João Renato Alves
João Renato Alveshttps://twitter.com/vandohalen
João Renato Alves é jornalista graduado pela Universidade de Cruz Alta (RS) e pós-graduado em Comunicação e Mídias Digitais. Colabora com o Whiplash desde 2002 e administra as páginas da Van do Halen desde 2009. Começou a ouvir Rock na primeira metade dos anos 1990 e nunca mais parou.

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