Nirvana remixou “In Utero” para deixá-lo mais comercial? Conheça a história

Banda liderada por Kurt Cobain precisou recorrer a outro produtor para refazer parte do trabalho desempenhado por Steve Albini no álbum

Após o estrondo causado por “Nevermind” (1991), o Nirvana produziu aquele que seria seu último álbum de estúdio. Lançado em 21 de setembro de 1993, “In Utero” passou longe de causar o mesmo impacto do antecessor, embora tenha feito sucesso, e uma das possíveis explicações teria sido a produção problemática, que levou a banda a remixar o disco todo.

Para a dura missão de suceder “Nevermind”, notório por seu som polido e bem produzido, a banda liderada pelo vocalista e guitarrista Kurt Cobain recrutou o produtor Steve Albini. Juntos eles optaram por fazer exatamente o inverso do álbum anterior – a ideia era soar rústico, natural e pouco produzido.

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O problema é que, aparentemente, essa nova proposta não agradou muito. Os próprios integrantes do Nirvana, banda completa por Krist Novoselic (baixo) e Dave Grohl (bateria), ficaram em dúvida a respeito disso.

Reclamações

Após um processo de produção e mixagem inicial relativamente tranquilo, o Nirvana enviou cópias do disco ainda não masterizado para várias pessoas, incluindo executivos do selo Gold Mountain, da DGC e da gravadora Geffen Records. A reação não poderia ter sido pior: ninguém gostou de como “In Utero” soava naquele momento.

Segundo o jornalista Michael Azerrad, as reclamações apontavam que partes das músicas eram inaudíveis. Dizia-se, ainda, que os singles jamais tocariam nas rádios e que até mesmo o nível das composições tinha decaído.

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Essas críticas, como já era esperado, tinham uma raiz um pouco mais profunda: o nome de Steve Albini para a produção já não era favorecido pela gravadora desde o começo. A ideia, então, era forçar a banda regravar tudo com outro produtor.

Nirvana muda de opinião

De início, os integrantes do Nirvana estavam irredutíveis: eles queriam lançar o álbum em sua versão original. Contudo, Kurt Cobain logo mudou de opinião. Em entrevista à Circus, ele relatou algumas de suas primeiras impressões ouvindo o disco em casa, o que resultaria em uma dúvida por parte do trio a respeito do que fazer com a sonoridade.

“A primeira vez que toquei o disco em casa, eu sabia que tinha algo errado. Durante toda a primeira semana, eu não estava realmente interessado em ouvi-lo – e isso geralmente não acontece. Não sentia emoção com aquilo, estava apático.”

Após muita ponderação, o trio decidiu que o baixo e os vocais estavam inaudíveis e pediu para que Albini remixasse o disco – o que ele recusou. O grupo, então, partiu para o processo de masterização, com Bob Ludwig, queixando-se dos mesmos problemas. Na versão final, apenas Krist Novoselic parecia minimamente satisfeito com o material.

Em meio a tantas incertezas, Steve Albini declarou em entrevista ao Chicago Tribune que achava que a gravadora não lançaria “In Utero”. A fala do produtor rapidamente se espalhou, o que levou tanto o Nirvana quanto a Geffen Records a se manifestarem para negar a afirmação do produtor.

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Nos bastidores, rolou até mesmo bronca do chefão da gravadora, David Geffen, com relação a um artigo publicado pela Newsweek. O produtor admitiu, anos depois, que não deveria ter dito aquilo.

In Utero deixa o útero

Em meio ao turbilhão de pré-lançamento, o Nirvana cogitou até mesmo trazer Andy Wallace, que trabalhou em “Nevermind”, para remixar “In Utero”.

No final, mesmo sob protestos de Steve Albini, Scott Litt remixou as músicas que seriam promovidas como singles: “Heart-Shaped Box”, “All Apologies” e “Pennyroyal Tea”. Inclusive, a última faixa mencionada sequer foi lançada.

Anos depois, Albini revelou que a “torta de climão” com o Nirvana e com a Geffen dificultou seu trabalho nos meses seguintes, pois ninguém queria contratá-lo para novas gravações.

O que ninguém imaginava é que “In Utero” era a despedida do Nirvana em estúdio. Curiosamente, o “adeus” em estúdio não parece ter acontecido da forma que Kurt Cobain gostaria.

O vocalista e guitarrista cometeu suicídio em abril do ano seguinte, encerrando precocemente a história do grupo que parecia ainda ter muito a entregar – algo que “In Utero”, apesar dos pesares, mostra bem.

Capa do álbum “In Utero”, do Nirvana

* Texto desenvolvido em parceria por André Luiz Fernandes e Igor Miranda. Pauta e edição geral por Igor Miranda; redação e apuração adicional por André Luiz Fernandes.

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André Luiz Fernandes
André Luiz Fernandes
André Luiz Fernandes é jornalista formado pela Universidade Metodista de São Paulo (UMESP). Interessado em música desde a infância, teve um blog sobre discos de hard rock/metal antes da graduação e é considerado o melhor baixista do prédio onde mora. Tem passagens por Ei Nerd e Estadão.

1 COMENTÁRIO

  1. Quando ouvi esse disco pela primeira vez achei muito estranho. E olha que o disco que mais curto do Nirvana nem é um disco rs é a coletânea “Incesticide” cheia de Punk Rock e New Wave… e confesso que não curto muito esse in utero. Na verdade os 4 discos do Nirvana são totalmente diferentes entre si. Bleach é pesadão, bem garagem. Nevermind é o barulho polido pra vender… e deu muito certo! Incesticide é a coletânea mais maravilhosa de lados B e Covers da história! E esse In Utero que acho estranhão, denso… é o que menos gosto.

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