Helloween celebra legado e consagra retornos com o álbum “Helloween”

Novo trabalho é o primeiro em estúdio desde as voltas de Michael Kiske e Kai Hansen, que se juntam a Andi Deris, Michael Weikath, Sascha Gerstner, Markus Grosskopf e Dani Löble

O novo álbum do Helloween está entre nós. Também intitulado “Helloween”, o disco chega a público por meio da gravadora Nuclear Blast Tonträger Produktions- und Vertriebs GmbH, com edição em CD nacional da Shinigami Records.

Trata-se do primeiro trabalho do Helloween desde os retornos do vocalista Michael Kiske e do guitarrista Kai Hansen, que se integraram aos outros cinco membros, formando um septeto. A formação é completa por Andi Deris (vocal), Michael Weikath e Sascha Gerstner (guitarras), Markus Grosskopf (baixo) e Dani Löble (bateria).

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As gravações de “Helloween” foram conduzidas pelos produtores Charlie Bauerfeind e Dennis Ward, com mixagem de Ronald Prent (Iron Maiden, Def Leppard, Rammstein) no Valhalla Studios. As sessões rolaram, parcialmente, no H.O.M.E. Studios, em Hamburgo, na Alemanha, onde o Helloween fez seus primeiros trabalhos em estúdio.

O grupo utilizou, inclusive, o mesmo console de gravação dos álbuns “Master of the Rings”, “Time of the Oath” e “Better Than Raw”, os primeiros com Andi Deris na formação, produzidos ainda na década de 1990. Também foi aproveitado o mesmo kit de bateria tocado pelo saudoso Ingo Schwichtenberg, membro original do grupo que nos deixou em 1995, nos discos “Keeper of the Seven Keys”, ainda dos anos 1980.

Ouça o álbum abaixo, via Spotify, ou clique aqui para conferir em todas as plataformas digitais. Uma resenha pode ser conferida a seguir.

Não dá para não ficar no hype com uma reunião como a do Helloween. As voltas de Michael Kiske e Kai Hansen, sem abrir mão de Andi Deris e Sascha Gerstner, que vinham ocupando as vagas deixadas por eles no passado, foi um acerto enorme, devidamente refletido na turnê “Pumpkins United”, a primeira do grupo como septeto.

Estava na hora de sacramentar essa reunião em um álbum. Demorou, mas deu certo: o disco sairia em 2020, mas a pandemia fez com que o lançamento fosse adiado para 2021.

Como o Helloween fez algo praticamente inédito no mundo do heavy metal com sua reunião, ao trazer integrantes de volta sem dispensar outros, havia muitos caminhos a se seguir. Todos eles, porém, convergiam para um álbum de celebração do legado da banda, não só dos trabalhos áureos com Kiske e Hansen, como, também, os registros elogiados junto de Deris.

Em entrevista exclusiva a IgorMiranda.com.br, Andi já havia deixado claro que o álbum “Helloween” não replicaria apenas a sonoridade oitentista da banda.

“Para mim, é uma jornada legal e eu espero que essa seja a impressão que as pessoas tenham quando ouçam o álbum: que é uma jornada super legal através de três décadas de metal. Acho que o time de produção combinou isso, em termos de som. Eles acharam o som que não só te lembra da década de 1980, pois lembra, como também dos anos 1990, 2000… tudo está ali.”

Dessa forma, quem esperava um novo “Keeper of the Seven Keys”, pode se decepcionar – parcialmente, já que há algumas faixas que remetem àquela sonoridade. Quem buscava por momentos com referências a “Walls of Jericho”, único trabalho da banda com Kai Hansen nos vocais, cairá do cavalo: Hansen dedica-se bem mais às guitarras por aqui, pois foi assim que o grupo ficou famoso.

Tem som épico no álbum? Tem, claro que tem. Alguns remetem aos “Keepers”, outros mesclam elementos de heavy metal clássico com o contemporâneo. Também tem aquelas passagens influenciadas por hard rock dos melhores momentos de Andi na banda. Tudo isso foi embalado em uma produção de sonoridade caprichada, com timbres vívidos e, especialmente, uma cozinha pulsante.

“Out for the Glory” abre o álbum com a aura de um clássico do Helloween da década de 1980, com seus contornos épicos e demonstrações de técnica dos integrantes. Toda a música é interpretada por Michael Kiske – que segue cantando muito -, com trechos breves de Kai Hansen.

A faixa até começa bem envolvente, mas parece estender-se demais, especialmente após os solos. É como se eles mostrassem todas as cartas de uma vez, o que complica a sustentação de qualquer canção. Por outro lado, os segundos finais, que desaceleram para a conclusão, são de arrepiar.

A seguinte, “Fear of the Fallen”, soa mais coesa e bem estruturada. É uma das melhores do disco. Já conhecida do público, pois foi liberada como single, a canção adota a típica essência do heavy metal oitentista – com direito a introdução acústica bem climática, sempre usada nas ramificações europeias do gênero naqueles tempos.

Embora comece com a voz de Andi Deris, a faixa é conduzida em formato de dueto, junto de Michael Kiske. A verdade é que as duas vozes se encaixam tão bem que não dá mais para imaginar o Helloween sem os dois juntos.

“Best Time”, única música do álbum creditada a mais de um compositor – Andi Deris e Sascha Gerstner -, remete aos álbuns mais recentes do Helloween e até ao Unisonic, que reuniu Michael Kiske e Kai Hansen na década passada. Além de ter um gancho melódico principal bem melódico, a faixa acerta ao explorar os graves de Kiske e azeitar a dinâmica de dobras com Deris.

“Mass Polution”, típica criação de Andi Deris, é o momento mais hard rock – e despretensioso – do álbum. O compositor da música gravou seus vocais ligado no 220v por aqui, enquanto o time de guitarristas apresentou nesta faixa alguns dos melhores solos do álbum.

“Angels”, mais dark, é como um encontro do Helloween clássico com o contemporâneo. Traz uma veia moderna na construção, o que se alia perfeitamente ao sempre jovial timbre de voz de Michael Kiske, remetendo aos tempos iniciais do grupo.

Apesar de um ligeiro som de sintetizador ao fundo, “Rise Without Chains” é Helloween puro. O entrosamento entre Andi e Michael, que alternam-se entre graves e agudos, é evidente nesta faixa. Senti, porém, que a bateria de Dani Löble poderia ter oferecido algo a mais por aqui, já que as bases de guitarra permitiam isso.

Em seguida, temos “Indestructible”, a única composição de Markus Grosskopf para o álbum. A canção se inicia como um hard rock intenso, guiado pelos vocais de Andi Deris, mas cai para um refrão típico de power metal, com os vocais de Michael Kiske indo lá nas alturas e intervenções cirúrgicas de Kai Hansen – não só no microfone, como, também, na guitarra cruzada, remetendo à sua fase áurea no grupo.

“Robot King” é, ao mesmo tempo, uma das mais pesadas e progressivas do play. Como pede o protocolo, Andi Deris e Michael Kiske gravaram seus vocais movidos à base de ódio. O refrão, por sua vez, tem o caráter épico que o fã de Helloween costuma adorar – mesmo tom dos solos, com um devido desfile de técnica.

Por ser uma das mais longas da tracklist, com 7 minutos ao todo, a faixa ainda explora outros climas, incluindo um incrível pós-solo de ritmo cadenciado. Tende a se tornar uma das favoritas dos fãs.

Saímos de uma das mais longas para uma das mais curtas do disco: “Cyanide”, com seus 3 minutos e meio, tem como destaque uma mescla entre metal clássico e contemporâneo, além da pitada hard rock típica das composições de Andi Deris. Em um álbum com tantos vocais e guitarras, a faixa, enfim, apresenta a bateria de Dani Löble como destaque, em uma pegada mais dinâmica.

Exaltando a assinatura criativa de Michael Weikath, “Down in the Dumps” convence já na abertura – climática, com entrada gradual de instrumentos, logo estoura nos pedais duplos mais insanos do álbum. A composição se destaca pelas transições entre passagens pesadas e épicas, de melodia bem aberta. É a primeira ocasião em que se ouve a voz aguda de Kai Hansen por algum tempo a mais, embora sua guitarra esteja bem presente em todo o disco.

Hansen, aliás, é o responsável pelo momento final do álbum. É ele o compositor da vinheta “Orbit”, bem ao estilo Queen, e a épica “Skyfall”, que encerra a tracklist convencional do disco (algumas versões têm “Golden Times”, “Save My Hide” e “Pumpkins United” como bônus) e já era conhecida do público, pois foi liberada, ainda em abril, como primeiro single.

A música que conclui o trabalho é, talvez, a que oferece maior “fan service” entre todas. Remetendo diretamente ao Helloween da década de 1980, a faixa tem momentos de destaque reservados a cada um dos integrantes, além de um refrão cujo gancho melódico gruda na mente.

Há de se destacar, ainda, a presença de vários climas na música. É quase um power progressivo, devido às mudanças não só de ritmo, como, também, de orientação melódica. Promete convencer bastante nos shows.

É difícil corresponder a tanto hype, mas “Helloween”, o álbum, cumpre bem sua função. Não era um trabalho para reinventar a roda: aqui, a onda é celebrar o legado. Também não era a ocasião para tentar emular uma sonoridade específica, por isso, há referências a vários momentos da trajetória do grupo.

Embora seja desafiador acomodar três guitarras e três vocais (ainda que um deles apareça só de vez em quando) em um disco, dá para dizer que essa missão foi bem cumprida. A maioria das músicas foi concebida como dueto e, no geral, deu certo, pois as vozes de Kiske e Deris casam muito bem.

Também parece ter sido um acerto definir quem seria o time responsável pelas músicas. Mais da metade do material foi composto por Andi Deris (quatro faixas e uma co-autoria com Sascha Gerstner) e Michael Weikath (três faixas), com colaborações pontuais de Gerstner (uma faixa e uma co-autoria), Markus Grosskopf (uma faixa) e Kai Hansen (uma faixa e uma vinheta).

Tal decisão, que geraria faíscas nos velhos tempos de Helloween, permitiu que o álbum tivesse um bom fio condutor e um conceito artístico mais definido. Caso acomodasse composições de todos os integrantes, ou mais inserções de membros específicos, o disco poderia soar confuso.

Como pontos de atenção, há de se destacar, primeiro, que nem todas as músicas precisavam ser tão longas. Por outro lado, é quase certo que os fãs de longa data vão curtir esses pequenos e eventuais exageros – o que torna esse álbum não tão recomendado para conhecer a banda.

Além disso, como destacado no comentário sobre uma das músicas, senti falta de uma bateria mais dinâmica em um âmbito geral. Dani Löble é um grande instrumentista, mas pode ter ficado em segundo plano na produção de suas linhas. Sinto que isso até fez o baixo de Markus Grosskopf aparecer menos que o esperado. Por sorte, o bom trabalho vocal e a coesão entre as guitarras trata de amenizar um pouco as coisas.

“Helloween”, o álbum, não só satisfaz o desejo dos fãs por performances criativas da nova formação, como, também, gera ansiedade pelo que vem por aí. Caso a banda opte por ousar um pouco mais em seus próximos trabalhos, será ainda mais divertido acompanhá-los. Se seguirem a pegada celebrativa desse registro que acaba de ser lançado, provavelmente o melhor do grupo desde “The Dark Ride” (2000), também não tem problema. Eu, particularmente, não vou reclamar.

O álbum está em minha playlist de lançamentos, atualizada semanalmente. Siga e dê o play:

Helloween – “Helloween”

Michael Kiske (vocal)
Andi Deris (vocal)
Kai Hansen (guitarra, vocal)
Michael Weikath (guitarra)
Sascha Gerstner (guitarra)
Markus Grosskopf (baixo)
Daniel Löble (bateria)

  1. Out for the Glory (Michael Weikath)
  2. Fear of the Fallen (Andi Deris)
  3. Best Time (Andi Deris e Sascha Gerstner)
  4. Mass Polution (Andi Deris)
  5. Angels (Sascha Gerstner)
  6. Rise Without Chains (Andi Deris)
  7. Indestructible (Markus Grosskopf)
  8. Robot King (Michael Weikath)
  9. Cyanide (Andi Deris)
  10. Down in the Dumps (Michael Weikath)
  11. Orbit (Kai Hansen)
  12. Skyfall (Kai Hansen)
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Igor Miranda
Igor Miranda
Igor Miranda é jornalista formado pela Universidade Federal de Uberlândia (UFU), com pós-graduação em Jornalismo Digital. Escreve sobre música desde 2007. Além de editar este site, é colaborador da Rolling Stone Brasil. Trabalhou para veículos como Whiplash.Net, portal Cifras, revista Guitarload, jornal Correio de Uberlândia, entre outros. Instagram, Twitter e Facebook: @igormirandasite.

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