O Red Hot Chili Peppers buscou renovar-se em “Stadium Arcadium” (2006), seu nono álbum de estúdio. Não houve grande mudança em termos de estilo, nem alteração na formação: o maior responsável por esse frescor na sonoridade do disco foi o guitarrista John Frusciante, que deu uma abordagem diferente ao seu trabalho.
Anteriormente adepto de um estilo mais minimalista de tocar, muito influenciado pelo punk e new wave, o músico abandonou o “menos é mais” em “Stadium Arcadium” para uma abordagem mais completa. Pode parecer mais exibicionista, na ótica de alguns, mas não foi o objetivo.
Aqui, Frusciante resgatou as influências que o guiaram no início de sua carreira, a partir de nomes como Eddie Van Halen, Tony Iommi, Jimi Hendrix e Steve Vai, donos de estilos mais grandiosos no instrumento. Isso acabou o aproximando de um certo virtuosismo, ainda que de uma forma mais particular.
Porém, uma influência mais direta no som que Frusciante viria a apresentar em “Stadium Arcadium” viria do The Mars Volta, banda conhecida do rock progressivo experimental, e da amizade com o guitarrista Omar Rodríguez-López.
Essa “pitada” no som de Frusciante chegou a ser citada pelo vocalista Anthony Kiedis em entrevista à Rolling Stone, em 2006:
“John sempre teve uma confiança discreta, mas agora ele gosta de ser barulhento e parte disso veio do contato com o The Mars Volta. Omar Rodríguez-López é tão roqueiro que John ficou tipo: ‘é hora de soltar tudo’. Estar na frente, ter aquela guitarra pesada bem na cara. John sempre foi capaz disso, mas ele não sentia isso. Agora ele sente.”
Resgatando “Mother’s Milk”
Alguns fãs do Chili Peppers podem não ter se dado conta na época, mas a sonoridade de John Frusciante em “Stadium Arcadium” era mais próxima do que o trabalho que ele havia feito em “Mother’s Milk”, (1989), seu primeiro álbum com a banda. Muito disso vem de um elemento técnico: o uso de mais camadas na gravação das guitarras.
A diferença é que em “Mother’s Milk”, essas camadas foram mais uma exigência do produtor Michael Beinhorn do que de Frusciante, que em muitos momentos era contra o recurso.
Já em “Stadium Arcadium”, o guitarrista se sentiu mais a vontade para explorar as camadas sonoras após ter feito experimentos com o uso de sintetizadores em seu álbum solo “Shadows Collide with People” (2004).
John Frusciante muda novamente o Red Hot Chili Peppers
As mudanças na abordagem de John Frusciante também trouxeram impacto no método de composição.
No álbum anterior, “By The Way” (2002), o guitarrista havia sido o principal responsável pelas composições. Em “Stadium Arcadium”, além de estar tocando de uma forma diferente, ele dividiu a autoria das canções de forma mais igualitária com o baixista Flea, que estava insatisfeito com a metodologia anterior.
A evolução do Red Hot ao lado de Frusciante seria interrompida em 2009, três anos após o lançamento de “Stadium Arcadium”, quando o guitarrista anunciou sua segunda saída da banda. Na época, ele relatou que queria se dedicar mais a projetos solo, além de fugir do ritmo intenso de turnês.
Em seu lugar, entrou Josh Klinghoffer, um músico também competente, que trabalhou com Frusciante em sua carreira solo e era dono de um estilo bem similar. O novato, porém, optou por “jogar para o time” na maior parte do tempo, contribuindo menos que seu antecessor para o processo autoral dos álbuns que gravou com a banda – “I’m With You” (2011) e “The Getaway” (2016).
John retornou no fim de 2019 e, desde então, o Red Hot Chili Peppers está trabalhando em um novo álbum. Vamos acompanhar.
* Texto desenvolvido em parceria por Igor Miranda e André Luiz Fernandes. Pauta, edição geral e argumentação-base por Igor Miranda; redação geral e apuração adicional por André Luiz Fernandes.
Para mim esse disco (Stadium Arcadium) é muito bom, e ao mesmo tempo um pedido de desculpas aos fãs mais antigos da banda. By the Way, mesmo tendo o Frusciante é um disco chato demais.