Como o guitarrista Jerry Cantrell se tornou co-vocalista do Alice in Chains

Um dos destaques da sonoridade do Alice in Chains é o uso do co-vocal de Jerry Cantrell. Como essa dinâmica passou a ser usada? O guitarrista explica em entrevistas que tudo começou de forma natural.

O Alice in Chains, uma das grandes bandas do chamado movimento grunge, traz um fator peculiar em sua sonoridade: boa parte das músicas traz o guitarrista Jerry Cantrell operando como uma espécie de co-vocalista. A dinâmica foi iniciada ainda com Layne Staley, cantor falecido em 2002, e tornou-se mais evidente com o atual titular da função, William DuVall.

Essa, curiosamente, não era a intenção original. Embora o vocal de apoio da Cantrell seja ouvido desde o primeiro álbum do Alice in Chains, “Facelift” (1990), o guitarrista pretendia apenas contribuir com seu instrumento e oferecer, no máximo, alguns backing vocals.

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Em entrevista ao canal da Gibson no YouTube, com transcrição via Ultimate Guitar, no ano de 2020, Jerry Cantrell relembrou que curtia a dinâmica de vocais de apoio – algo que, segundo ele, faltava entre as bandas de Seattle, cidade nos Estados Unidos onde nasceu o grunge.

“Sempre fui fã de bandas que têm múltiplas vozes e múltiplos vocalistas, pessoas que podem oferecer uma paleta diferente. É algo que sempre gostei, mas que as bandas de Seattle não tinham muito. Nunca quis ser a voz principal, só queria tocar guitarra, compor e fazer alguns backing vocals, pois é mais fácil e tínhamos Layne Staley.”

A admiração por Layne Staley deixava Jerry Cantrell bem tranquilo no que diz respeito aos vocais do Alice in Chains.

“Eu achava que não precisava cantar nada, pois Layne dava conta do recado. Nunca ouvi nada como a voz dele em toda a minha vida e sei que nunca irei ouvir. E era legal estar em uma banda com ele, onde criamos essas músicas juntos. Ele tinha personalidade, não soava como ninguém e ninguém soa como ele.”

Jerry Cantrell como vocalista principal

Em pouco tempo, surgiu a ideia de Jerry Cantrell assumir o vocal principal de algumas músicas do Alice in Chains.

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Apesar disso, a proposta de trazer o canto de Jerry em destaque para as músicas da banda surgiu de forma natural. O primeiro registro do guitarrista assumindo o microfone principal do grupo está na música “Brother”, presente no EP “Sap”, de 1992.

Ainda ao canal da Gibson no YouTube, o músico relatou:

“Lembro de conversar com Layne, especialmente em nosso primeiro EP, pois foi a minha primeira experiência cantando em uma gravação do Alice. Layne dizia: ‘cara, essas são suas letras e, sem ofensas, elas devem significar mais para você… adoro cantá-las, mas são suas palavras, você deveria cantar em algumas delas’.”

A primeira reação do guitarrista foi negativa. Depois, ele acabou comprando a ideia.

“Eu dizia que não queria cantar, pois não era tão bom cantor quanto Layne, mas ele me elogiou, disse que eu deveria tentar e eu comecei a cantar cada vez mais. Viramos uma banda de vocais conjuntos, em vez de eu assumir apenas os backing vocals.”

Mudança na dinâmica do Alice in Chains

Em 2002, infelizmente, Layne Staley nos deixou. O vocalista, afundado em drogas, não resistiu a uma overdose.

O Alice in Chains já havia entrado em hiato anos antes e, com a morte de Layne, a ideia inicial era que a banda nunca mais voltasse. Os músicos já estavam seguindo suas vidas, com Jerry Cantrell dando início a uma carreira solo – assumindo a voz principal – no fim da década de 1990.

Em 2000, o guitarrista conheceu William DuVall, então vocalista de uma banda chamada Comes With the Fall. Fez amizade com os músicos e, algum tempo depois, não só chamou o grupo para abrir a turnê que divulgava seu álbum solo “Degradation Trip”, como, também, convidou DuVall para cantar as partes de Staley nos covers de Alice in Chains.

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Em meio a essa turnê, Layne Staley morreu. O Alice in Chains parecia ter acabado.

Em 2005, porém, Cantrell, o baixista Mike Inez e o baterista Sean Kinney, que haviam tocado juntos em outras oportunidades entre 1996 e 2002, se reuniram para um show beneficente. No ano seguinte, entraram em turnê com William DuVall, anunciando um retorno oficial da banda.

Foi quando o guitarrista decidiu assumir ainda mais espaço como vocalista. Passou a cantar mais trechos das músicas, deixando o posto de “backing vocal de luxo” para se tornar, de vez, um co-vocalista.

Em entrevista à Billboard, no ano de 2018, o músico refletiu que, por ser o principal compositor das músicas do Alice in Chains, oferece uma identificação singular ao interpretá-las.

“Compus muito dessa m*rda, ainda componho. Então, eu carrego isso comigo, a linguagem que criamos juntos. E aprendi muito com isso. A banda tem um som específico, então, quando seguimos, sabíamos que não mudaria tanto.”

O músico pontuou, ainda, que o processo foi facilitado pela presença de Mike Inez e de Sean Kinney.

“Outra razão pela qual a banda soa tão intacta é que três de nós ainda estamos aqui. Esses caras são muito importantes e isso é muito negligenciado. Todos sempre querem falar sobre William e eu, mas esses caras são muito importantes, Sean Kinney e Mike Inez. Além disso, há a identidade do som que nos carregou.”

Com relação à sua dinâmica junto de William DuVall, Cantrell definiu:

“Falando sobre Will e eu, é uma situação de piloto e co-piloto. Qualquer um de nós pode assumir a qualquer momento.”

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Igor Miranda
Igor Miranda
Igor Miranda é jornalista formado pela Universidade Federal de Uberlândia (UFU), com pós-graduação em Jornalismo Digital. Escreve sobre música desde 2007. Além de editar este site, é colaborador da Rolling Stone Brasil. Trabalhou para veículos como Whiplash.Net, portal Cifras, revista Guitarload, jornal Correio de Uberlândia, entre outros. Instagram, Twitter e Facebook: @igormirandasite.

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