Dead Kennedys devolve cachê à produtora após shows cancelados no Brasil

A produtora EV7 Live, que traria o Dead Kennedys para uma turnê pelo Brasil neste mês de maio, anunciou que chegou a um acordo com a banda para a devolução do cachê antecipado – o grupo chegou a dizer que destinaria o dinheiro para “instituições de caridade”. Dessa forma, de acordo com a nota, os reembolsos aos fãs que compraram ingressos para as apresentações canceladas poderão ser iniciados em breve.

Foi destacado, ainda, que “declarações foram feitas no calor do momento por ambas as partes e não refletem a situação como está agora”. Apesar disso, as camisetas e pôsteres com a arte que gerou toda a repercussão – e o cancelamento da turnê -, seguem à venda na loja da produtora, ainda que sem o nome “Chicken Kennedys”, conforme divulgado inicialmente.

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– Jello Biafra escreve texto sobre confusão do Dead Kennedys no Brasil

Leia a nota na íntegra:

“Aos fãs e clientes. EV7 Live e Dead Kennedys chegaram a um acordo amigável para o infeliz cancelamento das datas da turnê brasileira.

A banda está devolvendo o dinheiro que havia sido enviado antecipadamente e poderemos então começar os reembolsos para todos os fãs. O reembolso começará a ser feito dentro dos próximos dias, após a chegada do dinheiro ao Brasil. Os fãs/clientes das cidades de São Paulo, Belo Horizonte e Brasília receberão instruções por e-mail. Os fãs do Rio podem aguardar o reembolso diretamente na próxima fatura do cartão utilizado na compra.

Declarações foram feitas no calor do momento por ambas as partes e não refletem a situação como está agora.”

Entenda o caso

A arte original que promovia os shows do Dead Kennedys no Brasil, de Cristiano Suarez, mostra o que parece ser uma família com camisas da seleção brasileira (com o escudo trocado por uma cruz), com maquiagem de palhaço. Um dos filhos diz: “eu amo o cheiro de pobre morto pela manhã!”. A ilustração também apresenta tanques de guerra disparando bandeiras com cifrão, simbolizando dinheiro.

Horas após o pôster ser divulgado pela EV7 Live, no dia 22 de abril, o Dead Kennedys havia emitido uma nota dizendo que não autorizou a veiculação da imagem. “A mensagem da banda tem sido, e ainda continua sendo, incentivar que todos pensem por si mesmo, não dizer para eles o que eles devem pensar”, disse o grupo.

Em entrevista concedida ao UOL horas antes da banda divulgar sua nota de “não-autorização”, Cristiano Suarez explicou o conceito por trás da arte. “O ‘bozo’ é uma alfinetada, mas eu queria mais criticar o estereótipo da classe média brasileira, que adotou a cultura do armamentismo, que louva armas e acha que é possível resolver tudo na base da bala, que acha que o exército deve cuidar da segurança pública”, afirmou ele.

Também antes da nota de “não-autorização” divulgada pelo Dead Kennedys, Eliel Vieira, produtor de eventos da EV7 Live, falou ao G1 sobre a reação da banda após a arte ter sido divulgada. “A banda não deu palpite em relação ao pôster. Eles até ficaram um pouco assustados com a repercussão muito forte. O pessoal ficou falando que eles estavam criticando o presidente e tal. Receberam isso até com bastante susto”, disse.

No dia 26 de abril, a banda anunciou nas redes sociais que cancelaria os shows devido às reações ao pôster. Curiosamente, a publicação também foi apagada.

“Nós nunca colocamos nosso público em risco, visto que isso não representa o que somos. Por esta razão, infelizmente estamos bastante tristes em informar que a banda não mais poderá tocar no Brasil este ano; sentimos que esta é realmente a única alternativa de manter as pessoas seguras”, disse a banda, em publicação já removida de sua página.

Já no fim do mês, a EV7 Live afirmou que os shows ainda poderiam acontecer. “Enviamos ontem (domingo, 28 de abril) um e-mail ao empresário e agente da banda solicitando informações e nos foi dito que teremos uma posição oficial da banda amanhã sobre isto, dia 30, à tarde aqui no Brasil. O post na página da banda foi apagado e não sabemos o que isto significa. Saberemos amanhã (terça, 31) e voltaremos aqui com todos os detalhes”, disse a produtora, dias antes de confirmar o cancelamento definitivo.

Por fim, a produtora contou que a turnê foi cancelada e expôs seu lado da situação. Foi negada a versão de que a banda não autorizou a divulgação do pôster. Camisetas com a arte, adaptando o nome do grupo para “Chicken Kennedys”, foram divulgadas para venda.

Entenda a linha do tempo

– 22/4, à tarde: EV7 Live divulga pôster polêmico, feito por Cristiano Suarez, para promover os shows do Dead Kennedys no Brasil. A repercussão é enorme.

– 22/4, entre tarde e noite: Cristiano Suarez afirma ao UOL que a arte foi criada para “criticar o estereótipo da classe média brasileira, que adotou a cultura do armamentismo”. Eliel Vieira, produtor da EV7, falou ao G1 que a banda “não deu palpite” em relação ao pôster e que integrantes “ficaram um pouco assustados com a repercussão”.

– 22/4, à noite: Poucas horas depois da divulgação do flyer e das declarações de Suarez e Vieira, Dead Kennedys afirma que não autorizou a veiculação do pôster e alegou que “a mensagem da banda tem sido, e ainda continua sendo, incentivar que todos pensem por si mesmo, não dizer para eles o que eles devem pensar”. Pelas redes sociais, Cristiano Suarez afirmou que a banda aprovou e até divulgou a arte.

– 26/4: Dead Kennedys anuncia, pelo Facebook, que cancelou os shows no Brasil para não colocar o público em risco. Por outro lado, a banda afirma que os integrantes consideraram “que o pôster ficou bem legal” e que concordam com a ideia.

– 29/4: EV7 Live revela que o anúncio de cancelamento foi apagado pelo Dead Kennedys no Facebook. Foi considerada a possibilidade das datas ainda acontecerem, pois a empresa ainda estava negociando como contornar a situação.

– 3/5: Cancelamento é oficializado pela EV7 Live, expondo sua versão sobre o caso.

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Igor Miranda
Igor Miranda
Igor Miranda é jornalista formado pela Universidade Federal de Uberlândia (UFU), com pós-graduação em Jornalismo Digital. Escreve sobre música desde 2007. Além de editar este site, é colaborador da Rolling Stone Brasil. Trabalhou para veículos como Whiplash.Net, portal Cifras, revista Guitarload, jornal Correio de Uberlândia, entre outros. Instagram, Twitter e Facebook: @igormirandasite.

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