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A história de “Psycho Circus”, o disco da reunião fake do Kiss

Por anos, fãs achavam que Ace Frehley e Peter Criss tinham tocado no álbum, o que não é verdade

Não dá para negar: “Psycho Circus”, décimo-oitavo álbum de estúdio do Kiss, é uma “farsa”. Nem por isso, deve ser ignorado.

O trabalho marcou, ou deveria ter marcado, a reunião em definitivo da formação original da banda. Os “chefões” Paul Stanley e Gene Simmons voltaram a tocar com o guitarrista Ace Frehley e o baterista Peter Criss ainda em 1996, mas resolveram selar o retorno com um disco de músicas inéditas.

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  • Como ocorreu a reunião da formação original do Kiss

O grande problema é que nem tudo andava bem nos bastidores do Kiss. Entre debates por dinheiro e situações envolvendo os velhos vícios, Ace Frehley e Peter Criss estavam “batendo cabeça” com Paul Stanley e Gene Simmons.

Em meio aos conflitos, Frehley e Criss acabaram ficando de fora de boa parte das músicas do disco, tendo sido substituídos por Tommy Thayer e Kevin Valentine, respectivamente. Só que os músicos originais foram creditados e fingiu-se, por algum tempo, que eram eles mesmos que tocavam no álbum.

Tommy Thayer, curiosamente, foi o escolhido para substituir Ace Frehley após sua saída em definitivo, já na década seguinte. Anteriormente, Thayer havia tocou com o Black ‘N Blue, banda gerenciada por Gene Simmons. Após o fim do grupo, passou a trabalhar nos bastidores do Kiss.

Kevin Valentine, por sua vez, passou por várias bandas como Donnie Iris And The Cruisers, Cinderella, Shadow King, The Lou Gramm Band e por aí vai, além de ter tocado na música ‘Take It Off’, do próprio Kiss.

De quem foi a ideia?

Vale destacar que a decisão de manter Ace Frehley e Peter Criss fora de ‘Psycho Circus’ partiu do produtor Bruce Fairbairn, conforme relata o engenheiro de som Mike Poltnikoff no livro ‘Kiss Por Trás das Máscaras’:

“Embora Gene e Paul quisessem se apresentar como a banda original no disco, quando Bruce ouviu Ace e Peter tocarem na pré-produção, pensou em fazer o tipo de disco que ele queria fazer e Ace e Peter não se encaixavam como instrumentistas.”

A opção é polêmica, mas, talvez, tenha critérios técnicos válidos por trás. Era evidente que Frehley e Criss, como músicos, não estavam em seus melhores momentos nos palcos. Não dá para imaginar muitas contribuições de peso de ambos caso fossem mantidos nas sessões.

Apesar dos pesares…

Apesar das ausências, ‘Psycho Circus’ traz (ou tenta trazer) o ouvinte aos tempos áureos de Kiss. Todos os elementos de um bom álbum da banda se fazem presentes.

Ou seja, não há do que se reclamar por aqui: seja pela icônica faixa-título, pelos momentos roqueiros de Paul Stanley em ‘I Pledge Allegiance To The State Of Rock And Roll’ e ‘Raise Your Glasses’, pela sombria ‘Within’ (inspirada em Doutor Estranho, personagem da Marvel que era bem lado B até o filme de 2016) e por ‘Into The Void’, com a assinatura de Ace Frehley.

Por outro lado, a essência ‘fake’ de ‘Psycho Circus’ é notável nos momentos mais forçados do disco. ‘You Wanted The Best’, por exemplo, tenta apresentar os vocais dos quatro integrantes, mas é uma faixa forçada. ‘I Finally Found My Way’, com os vocais de Peter Criss, é como uma “nova ‘Beth'”, só que brega e deslocada. ‘We Are One’ também soa piegas, embora tenha mais virtudes que as anteriores.

Quase ninguém desconfiou que o disco de reunião do Kiss era, na verdade, Paul Stanley e Gene Simmons com dois músicos de estúdio. Por isso, ‘Psycho Circus’ foi um grande sucesso comercial. Vendeu 500 mil cópias nos Estados Unidos em um mês, sendo mais de 100 mil delas apenas na primeira semana de lançamento.

A turnê lotou estádios por todo o mundo – incluindo no Brasil – e foi a primeira tour da história da música a ter telões em 3D. O marketing foi tão grande que até um game inspirado no álbum, ‘Psycho Circus: The Nightmare Child’, foi disponibilizado à época.

O sucesso não maquiou os problemas internos do Kiss, que anunciou, logo após o fim da turnê de ‘Psycho Circus’, que iria se aposentar. Também ‘fake’: a banda não encerrou suas atividades mesmo após uma longa turnê de despedida e seguiu atividades com o já citado Thayer e o baterista Eric Singer, que já havia integrado a banda no início dos anos 1990. Stanley e Simmons justificam que só decretaram o “fim” porque não queriam mais tocar com Frehley e Criss.

A falta de honestidade em ‘Psycho Circus’, por vezes, incomoda. Por isso, não é a melhor porta de entrada para a discografia do Kiss. Ainda assim, é um bom álbum. Vale a pena dar uma chance e “se deixar ser enganado”.

Kiss – “Psycho Circus”

Paul Stanley – vocal (nas faixas 1, 3, 6, 7 e 9), guitarra base, violão, baixo em 5, 7 e 8, backing vocals
Gene Simmons – vocal (em 2, 5, 6 e 10), baixo, backing vocals
Ace Frehley – vocal e guitarra (em 4, 6 e 11), backing vocals
Peter Criss – vocal (em 6 e 8), bateria (em 4), backing vocals

Músicos adicionais:

Kevin Valentine – bateria (em todas as faixas, exceto em 4)
Tommy Thayer – guitarra (em todas as faixas, exceto em 4 e 6)
Bruce Kulick – guitarra em 2 (intro)
Shelley Berg – piano em 8 e 10
Bob Ezrin – piano Rhodes em 8

01. Psycho Circus
02. Within
03. I Pledge Allegiance To The State Of Rock And Roll
04. Into The Void
05. We Are One
06. You Wanted The Best
07. Raise Your Glasses
08. I Finally Found My Way
09. Dreamin’
10. Journey Of 1,000 Years

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Igor Miranda
Igor Miranda
Igor Miranda é jornalista formado pela Universidade Federal de Uberlândia (UFU), com pós-graduação em Jornalismo Digital. Escreve sobre música desde 2007. Além de editar este site, é colaborador da Rolling Stone Brasil. Trabalhou para veículos como Whiplash.Net, portal Cifras, revista Guitarload, jornal Correio de Uberlândia, entre outros. Instagram, Twitter e Facebook: @igormirandasite.

5 COMENTÁRIOS

  1. Comentário infeliz. Mesmo lendo em 2021. Nada de problemas reais na banda remetem a ‘fake’ ou inverdades. Dessa vez você foi péssimo ao extremo e tentou capitalizar sobre o Kiss, mas…

    • Concordo. Fake ele diz, mas muitas destas faixas Ace e Peter tocaram ao vivo, o que me faz acreditar que poderiam tê-las executado também em estúdio. De forma geral, o álbum é fiel a musicalidade original do Kiss. Foi minha porta de entrada para começar a gostar da banda, lá em 1999. E mesmo após ouvir e decorar álbuns clássicos, segue sendo meu álbum favorito até hoje.

    • Qual o sentido de capitalizar falando mal de uma banda? Essa é a via oposta. Quem quer capitalizar, fica puxando o saco, ora.

      O disco traz uma reunião fake. A banda não se reuniu de verdade nesse álbum. Isso não tira a qualidade das músicas, mas a reunião não foi real nesse trabalho.

  2. Incrivelmente foi meu primeiro contato com o kiss, quando eu tinha 13 anos. Eu que já gostava de Raul e Creedance, mas percebi que realmente era um fã de rock com esse disco.

  3. Como diria Paul Stanley “falem bem ou falem mal, mas falem do KISS…” o sucesso da banda sempre incomodou. Se leva o nome KISS, é KISS! Independente de membros adicionais, já que todo mundo sabe que as únicas “coisas” intocáveis no KiSS são Gene e Paul… até que se aposentem, transformem o KISS em franquia e a banda continue com outras formações. Goste ou odeie, continuará sendo KISS…

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