Como seria se Tim Maia, que nos deixou há 20 anos, ainda estivesse vivo?

Tim Maia morreu jovem. Ele tinha apenas 55 anos quando, em 8 de março de 1998, passou mal enquanto gravava uma apresentação para o canal de TV pago Multishow no Teatro Municipal de Niterói. O cantor havia sofrido uma crise de hipertensão e estava com um edema pulmonar. Uma semana depois, no dia 15, ele faleceu, por complicações geradas a partir de um grave quadro de infecção.

Por outro lado, Tim Maia viveu seus 55 anos a mil. Não dá para dizer que foram exatamente bem vividos, graças às controvérsias e aos vícios que, em alguns momentos, chegaram a impedi-lo de ser um artista ainda melhor que já era. Graças a isso, é difícil imaginar como seria se ele ainda estivesse vivo.

- Advertisement -

Assim como a música que fazia, Tim Maia era, em personalidade, intenso. Boa parte do folclore em torno dele é, de fato, real e está bem retratado no livro “Vale Tudo”, assinado por Nelson Motta – é, aliás, a melhor obra biográfica de algum artista que já pude ler.

Até chegar ao estrelato, Tim Maia passou por poucas e boas. Montou um grupo com Roberto Carlos – e brigou com o primeiro -; foi para os Estados Unidos, onde aprendeu muito e sofreu ao fazer algumas escolhas erradas; voltou ao Brasil e precisou da ajuda do próprio Roberto, com quem havia brigado, para explodir de vez.

Os quatro primeiros discos da obra de Tim Maia, todos autointitulados e lançados, ano a ano, entre 1970 e 1973, são incríveis. Tim era dono não só de um vozeirão, como, também, tinha incrível senso musical. Compunha letra e melodia, interferia em cada nota tocada pela banda e sabia qual direcionamento artístico queria dar à sua carreira: tarefa para poucos, pois sua proposta heterogênea de juntar soul e funk a elementos da MPB, do samba e até do baião, era diferente. Mas Sebastião Rodrigues Maia era muito talentoso e entendia do riscado.

Ainda na década de 1970, envolveu-se com a Cultura Racional e lançou dois álbuns que, embora tenham letras controversas – basicamente, só mandam o ouvinte ler o livro “Universo em Desencanto” – é acompanhado de um senso musical intenso. Temperamental, logo largou a doutrina e disparou acusações contra seu líder, Manuel Jacinto Coelho.

Tim continuou afiado a partir daí, com álbuns do porte de “Tim Maia Disco Club” (1978) e “O Descobridor dos Sete Mares” (1983), mas as histórias mais folclóricas a seu respeito começaram a acontecer: vícios, brigas e ausência a shows e compromissos profissionais tornaram-se uma constante.

O cantor puxou um pouco o freio na década de 1990, quando os excessos começaram a pesar. Foi, ainda, a sua década mais produtiva em estúdio: ele lançou 9 álbuns entre 1990 e 1997, sendo que cinco deles foram só no último ano. Alguns registros exploravam campos pelos quais Tim não havia transitado ainda, como “Tim Maia Interpreta Clássicos da Bossa Nova” (1990), “Tim Maia & Os Cariocas: Amigos do Rei” (1997) e “What a Wonderful World” (1997), com versões de bossa nova, MPB e canções em inglês, respectivamente.

É complicado, de verdade, imaginar como estaria Tim Maia em 2018, caso estivesse vivo. A tarefa é difícil, justamente, porque não dá para pensar em Tim respirando aos 75 anos. Os excessos do cantor eram muito evidentes e, infelizmente, até demoraram a cobrar seu preço.

Tendo em vista seus últimos anos, Tim Maia, provavelmente, teria seguido como um artista muito produtivo. Ter lançado 9 álbuns em 7 anos é um feito louvável, ainda mais no preguiçoso mercado fonográfico brasileiro.

Enquanto Roberto Carlos, outro nome forte da nossa música popular, lançou apenas três álbuns e um apanhado de singles – muitos deles, para novelas de TV ou com fins mais comerciais que artísticos – desde 1997, Tim Maia teria gravado muita coisa, ainda mais que estava com sua gravadora, Vitória Régia Discos, integralmente na ativa desde 1990. De certo modo, ele precisava estar mais ativo: estava com muitas dívidas e precisava dar retorno a quem o cobrava.

O soul/funk enérgico que consagrou Tim Maia, seria, ainda, coisa do passado para seus discos. Os registros finais do cantor estão muito mais entregues ao pop romântico, algo que – e é difícil evitar a constante comparação – Roberto Carlos também fazia.

Imagino que o carioca teria, inclusive, continuado a apostar nas regravações. Embora tenha sido ótimo compositor, ele também era um intérprete fora de série.

No que diz respeito às apresentações, não daria para colocar a mão no fogo por Tim Maia. Quando estava bem, era imbatível. Estava sempre acompanhado de bons músicos na Banda Vitória Régia e roubava a cena com propriedade ao cantar e agitar o público. O problema era quando não estava tão legal – jogava todos os refrãos para o público, brigava com o técnico de som e, por vezes, até abandonava a apresentação pela metade – ou, mesmo, quando não aparecia.

Por fim, os posicionamentos de Tim Maia seriam um pouco menos misteriosos que suas aparições no palco. O cantor manifestava opiniões ligadas à esquerda, é dono da célebre frase “no Brasil, não só as putas gozam, os cafetões são ciumentos e os traficantes são viciados: os pobres são de direita” e chegou a se filiar no Partido Democrático Trabalhista (PDT), embora não tenha lançado candidatura.

Em 1997, um ano antes de morrer, Tim disse ao jornal ‘Folha de S. Paulo‘ que queria se candidatar ao Senado Federal. “Quero ver uma universidade afro-brasileira em pé no Brasil”, afirmou ele, que também pontuou que defenderia “os músicos, que são explorados pelas multinacionais”.

Seja por posicionamentos políticos ou por comentários avulsos, as redes sociais de Tim Maia, caso tivesse contas, também ferveriam. Tim, como dito anteriormente, era intenso.

Embora seja divertido pensar num mundo com Tim Maia ainda vivo, é suficiente pensar que o tivemos por 55 anos. Sua obra e seu legado permanecem intactos, duas décadas após sua morte.

ESCOLHAS DO EDITOR
InícioOpiniãoComo seria se Tim Maia, que nos deixou há 20 anos, ainda...
Igor Miranda
Igor Miranda
Igor Miranda é jornalista formado pela Universidade Federal de Uberlândia (UFU), com pós-graduação em Jornalismo Digital. Escreve sobre música desde 2007. Além de editar este site, é colaborador da Rolling Stone Brasil. Trabalhou para veículos como Whiplash.Net, portal Cifras, revista Guitarload, jornal Correio de Uberlândia, entre outros. Instagram, Twitter e Facebook: @igormirandasite.

DEIXE UMA RESPOSTA (comentários ofensivos não serão aprovados)

Por favor digite seu comentário!
Por favor, digite seu nome aqui


Últimas notícias

Curiosidades