‘Ømni’, novo disco do Angra, se sai melhor que a encomenda

Angra – “Ømni”
Lançado em 16 de fevereiro de 2018

A impressão era de que “Ømni”, nono álbum de estúdio do Angra, seria um fiasco. O primeiro single do álbum, “Travelers Of Time”, não agradou. As reações negativas foram potencializadas pelo lyric video amador e de péssimo gosto, lançado ainda em 2017.

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Apesar disso, “Ømni” é um disco muito bom. Saiu, na verdade, melhor que a encomenda.

O Angra, aliás, pode ser criticado por muitas atitudes em sua trajetória. Entretanto, a banda, que é uma das grandes representantes do metal brasileiro, jamais pode ser repreendida por tentar sobreviver das glórias do passado.


Ainda que com alguns tropeços, a última década do Angra foi marcada por uma nova tentativa de reinvenção. Com as saídas do vocalista Edu Falaschi, em 2012, e do baterista Ricardo Confessori, em 2014, seria cômodo tentar trazer nomes do passado para as vagas, como Andre Matos e Aquiles Priester.

Todavia, o Angra parecia disposto a fazer algo novo quando anunciou que Fabio Lione, consagrado pelo trabalho com o Rhapsody Of Fire, seria o novo vocalista, e que o jovem Bruno Valverde assumiria as baquetas. O primeiro trabalho com a nova formação foi “Secret Garden”, de 2014, que impressionou, positivamente, por trilhar caminhos musicais um pouco diferentes – e até mais obscuros.

Novamente produzido por Jens Bogren, “Ømni” é o segundo disco do “novo Angra”, que, agora, já não conta mais com o guitarrista Kiko Loureiro, atual integrante do Megadeth – ele foi substituído por Marcelo Barbosa, do Almah. Ainda que seja um trabalho menos inovador que seu antecessor, o novo álbum da banda tem qualidade e merece ser ouvido com atenção.

Conceitual, o álbum conta breves históricas de ficção científica que estão interligadas entre si. A temática principal narra a mudança na humanidade provocada, no ano de 2046, por uma inteligência artificial. As letras, como de costume, são muito bem trabalhadas.

“Light Of Transcendence” abre o disco com uma plena execução da “fórmula Angra”: power metal de pegada veloz, exuberância técnica e vocais de extensão desafiadora. “Travelers Of Time”, por sua vez, é guiada por um incrível senso de percussão, seja pela bateria ou pelas incursões de outros instrumentos, especialmente na entrada. Também não faltam passagens melódicas e o guitarrista Rafael Bittencourt. Gostei da faixa, embora tenha recebido muitas críticas ao ser lançada como single.

Um pouco confusa, “Black Widow’s Web” é um dos grandes experimentos do disco. A faixa conta com participações das cantoras Alissa White-Gluz, do Arch Enemy, e Sandy – ela mesma, a filha de Xororó e ex-dupla de Junior que, hoje, trilha uma carreira musical cada vez mais distante do pop. Apesar das convidadas desempenharem bem suas funções, o resultado final não me agradou tanto.

“Insania”, por sua vez, tem cara de clássico do Angra. Começa com vocais em coro, cai, volta com tudo e cativa, em especial, pela interpretação de Fabio Lione. O senso melódico se mostra ainda mais apurado em “The Bottom Of My Soul”, guiada pelos vocais do guitarrista Rafael Bittencourt e por instrumentos acústicos e de orquestra. Quase um hard rock.

“War Horns”, única faixa a contar com Kiko Loureiro, é, provavelmente, uma das mais pesadas – e melhores – do disco. “Caveman”, na sequência, mantém o nível no alto com suas inserções de “brasilidade”, com direito a coro em trechos em português, que remetem aos melhores momentos do álbum “Holy Land” (1996).

“Magic Mirror” se destaca por sua segunda metade, bem progressiva, onde vai de riffs grosseiros a passagens com piano e outros instrumentos de orquestra. Em seguida, a balada “Always More” agrada pelas linhas de guitarra, mas soa deslocada, ao menos musicalmente, da tracklist do álbum – especialmente se considerarmos que a segunda parte do trabalho beira o irretocável.

Faixa de maior duração do disco, “Silence Inside” justifica os seus 8 minutos e meio. De início, lembra “The Shadow Hunter”, do álbum “Temple Of Shadows” (2004). Depois, adquire personalidade própria ao aliar peso e técnica progressiva. Uma das melhores músicas feitas pelo Angra nos últimos tempos. A instrumental “Infinite Nothing”, que compila as principais melodias do disco, encerra a audição. Há, ainda, uma regravação de “Z.I.T.O.” que integra a edição japonesa do álbum.

No geral, “Ømni” soa como uma continuação natural de “Secret Garden”. Embora o antecessor me agrade um pouco mais por sua concepção “dark”, a formação atual soa, atualmente, mais entrosada e desenvolve melhor a proposta que o Angra tentou (mas não conseguiu) desenvolver na segunda metade da década de 2000: power metal criativo, técnico, atualizado e com altas doses progressivas.

Individualmente, os três integrantes mais novos se destacam de formas diferentes em “Ømni”. Embora ainda aposte em linhas vocais meio exageradas, Fabio Lione deu sangue novo ao Angra. Era o vocalista que a banda queria. Muito técnico, Bruno Valverde não deixa saudades de Ricardo Confessori e mostrou evolução particular em comparação a “Secret Garden”. O estreante Marcelo Barbosa também caiu como uma luva, por ter sido muito influenciado, justamente, por Kiko Loureiro. Entretanto, os solos inventivos de Kiko ainda fazem falta – e esse é um dos poucos pontos fracos do álbum.

Para quem começou a década em crise, com um show questionável no Rock In Rio e problemas internos expostos ao público, o Angra caminha para o fim da década de 2010 com muito do que se orgulhar. “Ømni” mostra, mais uma vez, que uma das grandes bandas de metal do Brasil merece respeito – pelo que fez e pelo que faz.

Nota 8,5

Fabio Lione (vocal)
Rafael Bittencourt (guitarra, violão, ukulele, vocal na faixa 5)
Marcelo Barbosa (guitarra, violão)
Felipe Andreolli (baixo)
Bruno Valverde (bateria)

Músicos adicionais:
Sandy e Alissa White-Gluz (vocais na faixa 3)
Kiko Loureiro (guitarra na faixa 6)

1. Light of Transcendence
2. Travelers of Time
3. Black Widow’s Web
4. Insania
5. The Bottom of My Soul
6. War Horns
7. Caveman
8. Magic Mirror
9. Always More
10. Ømni – Silence Inside
11. Ømni – Infinite Nothing

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Igor Miranda
Igor Miranda
Igor Miranda é jornalista formado pela Universidade Federal de Uberlândia (UFU), com pós-graduação em Jornalismo Digital. Escreve sobre música desde 2007. Além de editar este site, é colaborador da Rolling Stone Brasil. Trabalhou para veículos como Whiplash.Net, portal Cifras, revista Guitarload, jornal Correio de Uberlândia, entre outros. Instagram, Twitter e Facebook: @igormirandasite.

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