Ingo Schwichtenberg: da glória à ruína

Ingo Schwichtenberg foi o baterista da banda alemã Helloween de 1984 até 1993. O artigo a seguir relata um pouco da vida do músico, que tragicamente cometeu suicídio em 1995. Muitos pensam que depressão é “frescura”, mas vale a pena se colocar no lugar de alguém que passou por tantas dificuldades.

Texto retirado da comunidade de Orkut “Helloween” e devidamente editado para melhor entendimento.
No dia 18 de maio de 1965, nascia na Alemanha uma das histórias de vida mais complexas se tratando de um astro da música. Ingo Schwichtenberg nasceu em uma família típica alemã, com uma irmã. Estudou em uma escola muito conservadora, mas sempre ouvia Rock e se vestia como os astros, o que causava algumas controvérsias na familia e na escola. Sua irmã, Laura, lembra: “Ele era muito independente e apesar de sempre ser taxado de drogado e encrenqueiro, era adorado por quem o conhecia”.
Apesar de tudo, sua família nunca proibiu Ingo de ir em busca de seus sonhos, logo permitindo que tocasse bateria a noite, após o colégio. O jovem entrou para uma banda de Heavy Metal em 1984, aos 19 anos, que viria a se chamar Helloween. Fontes não oficiais dizem que o nome vem de Ingo: ele teria escrito o nome típico americano “Halloween” erroneamente, substituindo a letra “A” por “E”, mas agradando o guitarrista e vocalista Kai Hansen (há outras versões sobre a criação de nome).
Ainda com Kai nos vocais, a banda tocava em muitos festivais alemães sendo uma das principais bandas. A vinda de Michael Kiske garantiu mais destaque e uma explosão em toda a Europa, Ásia e América do Norte. Foi ainda na época do álbum “Keeper of the Seven Keys Part 1” que Ingo ganhou seus primeiros prêmios com a baqueta: Baqueta de Prata de Vünksh Vast Vha Festival, Prêmio Bateria III, Besten Schlagzeuger in der Saison, etc. O baterista se tornou consagrado por tocar como uma “metralhadora”, com rapidez e criatividade ao mesmo tempo.
Não era à toa que Ingo ganhou o apelido de Mr. Smile (Senhor Sorriso) – era muito divertido e para ele, era sacrificante tirar fotografias sem sorrir. Kai dizia: “é dificil aparentar ser mau e ele sorrir igual idiota”.
“Keeper Of The Seven Keys Part 2” foi lançado e o sucesso aumentou. Kai teve uma séria briga com Mr. Smile durante a gravação do clipe de “I Want Out”, pois Ingo deveria surgir da piscina sem sorrir e cantar o refrão da música para a câmera, mas ele sempre surgia da águas sorrindo e a banda foi obrigada a cortar a cena antes que seu rosto aparecesse. Com o passar do tempo, Ingo foi aparecendo nas entrevistas com maior frequência e dificilmente deixava de brincar, principalmente com o amigo Michael Kiske, que se aliava ao baterista para tirar sarro dos entrevistadores.
Com o aprimoramento de sua técnica, os novos prêmios “Baterista da Europa” e “Baquetas de Ouro de Hamburgo” e o lançamento de “Pink Bubbles Go Ape”, o declínio começou. Basicamente, foi a partir de uma entrevista dada em 1992 que as mudanças começariam. Após ser perguntado quais eram as coisas vitais da sua vida, Ingo respondeu: “com certeza minha mulher que eu amo, meu filho, meus pais, amo tocar bateria, minha saúde e claro… o Helloween”.
Tudo começou a desmoronar no ano de 1993. As brigas no Helloween eram constantes, e as rivalidades aumentaram mais ainda com o álbum “Chamaleon”. Pouco tempo após o lançamento, sua mulher fugiu com seu vizinho e amigo, apenas deixando a criança e um bilhete, que dizia: “cuide de nosso bebê”. No mesmo ano, pouco após o inicio da turnê, Ingo sai de um show e recebe uma ligação dolorosa: o carro onde seu filho e sua babá estavam sofreu um acidente sem sobreviventes.
O baterista, então, já utilizava drogas, não só as comuns de rockstars como cocaína e maconha, mas anti-depressivos e calmantes também. O álcool era o principal vício. A esquizofrenia atacava frequentemente. A depressão aguda e toda a recente desgraça fez com que Ingo fosse retirado durante um dos shows da turnê de “Chameleon”. Foi tirado a força do palco após ter um ataque de memória e a lembrança da morte de seu filho, comum na esquizofrenia, resultando em um choro que não parava e o incapacitava de começar o show.
A briga entre Kiske e Weikath se consumou e os dois não se falaram mais. Weikath, nomeado líder da banda, chamou outro baterista para substituir o Senhor Sorriso, pois tinham um contrato para cumprir. Ritchie Abdel Nabi foi o substituto temporário, mas não dava conta do recado. Em 22 de dezembro de 1993, Kiske fez seu último show com o Helloween e afirmou que só voltaria se Ingo voltasse com ele.
O ano de 1994 foi o mais turbulento da vida de Schwichtenberg. O alemão se internou em uma clínica de reabilitação, mesmo com os médicos dizendo que não adiantava, pois não havia o menor estímulo para a sua recuperação. O cenário piorou em agosto de 1994, quando Ingo recebeu uma visita de sua esposa na clínica e a mesma estava grávida do vizinho. Seu pai faleceu neste período, cometendo suicídio por conta da esquizofrenia, que também tinha.
Quando foi dito que aquele trecho de entrevista marcaria as mudanças, não foi a toa. Ingo disse que as coisas mais importantes em sua vida eram “com certeza minha mulher que eu amo, meu filho, meus pais, amo tocar bateria, minha saúde e claro… o Helloween”. Ele já não tinha mulher, filho, seu pai, a bateria, a saúde, nem o Helloween. Uli Kusch, recém-saído do Gamma Ray já havia sido anunciado como o baterista oficial.
Sem chances de novidades em sua vida, no dia 8 de março de 1995, Ingo saiu em uma manhã ensolarada pela porta da frente do hospital, deixando apenas um bilhete endereçado a sua irmã, Laura Schwichtenberg: “Obrigado por tudo. Me desculpe, mas não tenho saída”. Caminhou até a estação de trem de Friedrichsberg, em Hamburgo, onde ficou até pouco depois do almoço. Após longo tempo refletindo, Ingo se jogou nos trilhos de trem, pondo fim a sua própria vida.
Kai Hansen, em recente entrevista, disse, com lágrimas nos olhos, que se arrepende de não te-lo chamado para o Gamma Ray. Michael Kiske fez as músicas “Always” e “Do I Remember A Life?” em homenagem ao amigo, e disse: “Rezo todos os dias a Deus, pedindo perdão ao erro do Mr. Smile”. O Helloween dedicou o album “The Time Of The Oath” a Ingo.
Apesar de tanto tempo, ele ainda recebe cartas e pequenos bonecos que ele mesmo criou na forma de abóbora, em sua homenagem. Está enterrado no cemitério Waldfriedhof Volksdorf, em Hamburgo. Em seu túmulo, baquetas desenhadas assim como no folheto que ganhou no prêmio Baquetas de Ouro. Sua última bateria está em um museu em Hamburgo.

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Igor Miranda
Igor Miranda
Igor Miranda é jornalista formado pela Universidade Federal de Uberlândia (UFU), com pós-graduação em Jornalismo Digital. Escreve sobre música desde 2007. Além de editar este site, é colaborador da Rolling Stone Brasil. Trabalhou para veículos como Whiplash.Net, portal Cifras, revista Guitarload, jornal Correio de Uberlândia, entre outros. Instagram, Twitter e Facebook: @igormirandasite.

1 COMENTÁRIO

  1. Sou fã do helloween, sou da época do grupo do Orkut, conheci a banda em 98 pelo álbum better than raw, os discos do Ingo só depois de 2000 tive acesso eu sempre ouvia falar dos keepers, mas sem ouvir era difícil ter opinião, depois que ouvi os álbuns que o Ingo toca bateria entendi que aquela formação não era pelo dinheiro, era pelo prazer e eles tinham sintonia, adoro os discos do deris, grapow e Uli kusch. Mas o Ingo será eterno. Longa vida aos abóboras que realizaram o desejo dos fãs e se reuniram com vários membros clássicos.

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