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Necrobutcher nega que Mayhem seja nazi e desabafa sobre shows cancelados no Brasil

Banda teve apresentações suspensas em Porto Alegre e Brasília, em março de 2023, por denúncias sobre posicionamentos neonazistas

O Mayhem esteve no Brasil pela última vez em março de 2023, para shows em Porto Alegre e Brasília. Porém, ambas as apresentações foram canceladas após entrarem na mira das autoridades devido a uma série de denúncias online sobre posicionamentos neonazistas dos músicos. 

Com a suspensão do primeiro compromisso no país, o grupo publicou uma nota assinada pelo baterista Hellhammer negando apoio a “racismo, homofobia ou qualquer outro crime de ódio”. Agora, Necrobutcher voltou a contestar as acusações e aproveitou para desabafar sobre toda a situação vivida por aqui — especialmente porque a banda retornará para uma performance em São Paulo, na Vip Station, neste domingo (7).

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Durante entrevista concedida ao canal Heavy Metal On Line, o baixista afirmou “não acreditar” que o Mayhem tenha tido duas apresentações canceladas no Brasil. Para ele, a situação não faz sentido, já que se trata de “um país desenvolvido, com liberdade de expressão”.

Conforme transcrição do site IgorMiranda.com.br, ele explicou:  

“É uma faca de dois gumes. Posso falar sobre isso agora e vai chamar atenção. E então alguns filhos da p#ta podem cancelar esse show [que vai acontecer em São Paulo] também. Então, talvez seja melhor ficar quieto sobre isso. Mas ao mesmo tempo, já que você perguntou… não posso acreditar que isso tenha ocorrido. Em um país como o Brasil, com liberdade de expressão. Vocês não são mais um país de terceiro mundo. Vocês são um país desenvolvido, elegeram governos.”

À época, o deputado estadual Leonel Radde (PT-RS) se mobilizou para pedir o cancelamento do show em Porto Alegre, confirmado com dias de antecedência. Porém, no caso de Brasília, a suspensão aconteceu já com o público dentro da casa, sob ameaça policial. Sem citar nomes, Necrobutcher relembrou o momento: 

“A corrupção política… eu não sabia que era tão ruim [no Brasil]. E que um maldito político, por alguma razão, vocês sabem como eles são: querem entrar nos jornais. É o que eles fazem: eles tentam encontrar uma maneira de entrar nos jornais. O cara encontrou o Mayhem e ele sabia que éramos uma banda maluca, com uma história maluca e tudo o mais. E então, ele sentiu como: ‘agora vou impedir essa banda de tocar aqui, então virarei um herói, estarei nas páginas principais, salvar a comunidade desta p#rra satânica, canibais terroristas’. Ele se tornaria um herói: ‘olha o que eu fiz, eu salvei vocês dessas pessoas terríveis que tentaram fazer um show aqui’. E ele se safou dessa. Pensei: ‘não, vamos fazer isso [o show]’. Mas as pessoas da casa de eventos ficaram assustadas, porque os policiais chegaram lá. Pensamos: ‘que p#rra está acontecendo aqui?’. Tudo era legalizado. O local foi alugado. Pagam impostos. Nada estava errado. Não havia risco de segurança, não havia embriaguez, não se vendia bebidas para os jovens, não havia problemas com incêndio, fumaça — não havia nada de errado. Era uma questão política. E não era a prefeitura ou algo assim. Foi apenas um político corrupto que quis fazer barulho sobre si nos jornais. E ele conseguiu impedir o show. Eu não conseguia acreditar. Por sorte, eu já estive no Brasil antes, mas poderia ter sido a última vez que estaríamos aí. Mas voltaremos e tocaremos apenas em São Paulo.”

O músico pontuou que todo o cenário gerou prejuízos aos artistas, responsáveis por arcar com as despesas de “dois cancelamentos sem razão”. Não só, como também à comunidade local, que se beneficiaria com a realização das performances: 

“Estamos indo ao Brasil por anos. Fizemos muitos shows bem-sucedidos. Todos estavam felizes. Nunca houve nenhum problema. E não desistimos de vocês, mesmo com isso acontecendo. Também houve um problema financeiro, pois cancelamos dois shows no meio da turnê sem razão. E caiu direto para nós. Quem mais iria pagar por esta m#rda? Não poderíamos processar a p#rra do governo. Tudo está indo bem por quase 30 anos. Fazemos todos felizes. Pense: quando fazemos um show, gera tantas outras coisas… as pessoas que trabalham no local, as pessoas no entorno que vendem comida, o pessoal que vende bebida, quem transporta. Traz tanto para as comunidades. Todos se beneficiam. Impedir um show de rock é atirar em sua própria cabeça.”

Necrobutcher fala sobre nazismo

Por fim, Necrobutcher reforçou que o Mayhem não mantém qualquer vínculo com a extrema direita e que, embora defenda a liberdade de expressão, reconhece que há um limite aceitável. Em sua visão, há nazistas e fascistas em todos os gêneros musicais — o que não se aplica ao grupo:

“Já ouvi falar desse tipo de banda política e que se autodenomina black metal, com atitudes de extrema direita. Mas não somos isso. Longe disso. Nunca fomos isso. Você pode dizer que isso existe em todos os diferentes tipos de música: os skinheads no punk, o pessoal do folk que é de direita nos Estados Unidos tocando só com um violão, música country hillbilly com viés de direita, também tem os hooligans nos estádios de futebol arrumando briga — eles têm bandas. Tem essa coisa ruim, nazista e fascista em todos os tipos de música. Até na música erudita deve ter, quem sabe? Wagner não era? Já ouviu falar de uma banda chamada Ace of Base? Eles deveriam ser banidos! [Risos] E é música pop. Há limite para coisas extremistas. O limite é quando… definitivamente existe um limite. Liberdade de expressão é importante, mas há um limite nas fronteiras da sociedade, digamos, para os humanos, para todos.”

Os shows cancelados do Mayhem em 2023

Como mencionado, o Mayhem esteve no Brasil pela última vez, em março de 2023, para shows em Porto Alegre e Brasília – ambos cancelados devido a uma série de denúncias online sobre posicionamentos neonazistas dos músicos.

O evento no Rio Grande do Sul teve sua não realização confirmada com dias de antecedência. Por sua vez, o concerto na capital nacional foi impedido de ocorrer com o público já dentro da casa de eventos, após a banda de abertura ter se apresentado e os organizadores serem ameaçados de prisão.

O baterista Jan Axel Blomberg, conhecido artisticamente como Hellhammer, entrou para o Mayhem em 1988. No livro “Lords of Chaos: A Sangrenta História do Metal Satânico Underground” — lançado pela primeira vez em 1998 a respeito da história do Black Metal norueguês —, o baterista disse que o “black metal é para pessoas brancas” (via AV Club).

Já em 2004, em entrevista ao site ThyDoom, a declaração foi outra:

“Eu não dou a mínima se os fãs são brancos, pretos, verdes, amarelos ou azuis. Para mim, música e política não andam de mãos dadas.”

Dias antes da apresentação — que acabaria suspensa — em Porto Alegre, o deputado estadual Leonel Radde (PT-RS) publicou um vídeo em que descreveu o Mayhem como “banda neonazista da Noruega” e apresentou imagens que afirmou corroborar com suas alegações. Ele disse:

“Pode-se dizer que a banda é abertamente neonazista, utilizando símbolos do nazismo e do neonazismo norueguês. No logo, tem uma cruz gamada adaptada e também a roupa de um dos integrantes tem as famosas totenkopf, que são as caveiras da SS nazista.”

Leonel utilizou como base para o registro as informações compartilhadas pelo professor de Filosofia e pesquisador Renato Levin-Borges (via Revista Fórum). À época, o educador criticou as atitudes de Hellhammer ao declarar que o baterista “já se declarou contra a ‘mistura de raças’, apareceu já com suástica no braço e costumavam ensaiar em estúdio cheio de totenkopf nazis”.

Quando o primeiro dos dois shows no Brasil foi cancelado, o Mayhem publicou uma nota assinada por Hellhammer na qual nega apoiar “racismo, homofobia ou qualquer outro ‘crime de ódio’”. O baterista reconheceu que “relatos contrários a isso tenham circulado no passado a respeito de membros individuais”, mas definiu a situação como “algo distante no passado e nunca foi considerado como nenhuma forma de posição oficial para a banda”. Leia a íntegra:

“O Mayhem é uma entidade não política com milhares de fãs ao redor do mundo, com todos os tipos de experiência e todos os tipos de crenças, ideias e preferências, e todo fã do Mayhem é tratado com o mesmo respeito. Nem a banda nem nenhum de seus membros apoiam o racismo, a homofobia ou qualquer outro ‘crime de ódio’. Embora relatos contrários a isso tenham circulado no passado a respeito de membros individuais da banda, isto é algo distante no passado e nunca foi considerado como nenhuma forma de posição oficial para a banda. Cada pessoa nesse mundo vive e tem que responder por seus atos, ações e ideias e serão julgados de acordo; qualquer forma de julgamento baseada na vivência de uma pessoa, na sua cor de pele, preferência sexual ou qualquer coisa que eles não possam ter o controle a respeito é um ato de fraqueza e será rejeitado pela banda. Qualquer fã de Mayhem é bem-vindo nos shows, independente de suas vivências, crenças ou orientação, desde que eles não perturbem os outros. O Mayhem acredita em maximizar seu potencial e libertar sua mente de pensamentos e ideias opressivas. Qualquer um ou qualquer coisa que diminua você é seu verdadeiro inimigo. Conceitos mundanos e questões sociais estão abaixo da liberdade da mente. Jan Axel & Mayhem”

Antes da turnê cancelada em 2023, o Mayhem esteve no Brasil em outras seis ocasiões, nos anos de 2008, 2011, 2013, 2016, 2018 e 2022. Na última visita a contar com shows devidamente realizados, o grupo tocou no Open the Road Festival, em São Paulo, e no Maranhão Open Air, em São Luís.

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Maria Eloisa Barbosa
Maria Eloisa Barbosahttps://igormiranda.com.br/
Maria Eloisa Barbosa é jornalista, 24 anos, formada pela Faculdade Cásper Líbero. Colabora com o site Keeping Track e trabalha como assistente de conteúdo na Rádio Alpha Fm, em São Paulo.

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