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Cavalera celebra “Chaos A.D.” com coros, pulos e rodas em SP

Em set curto, intenso e sem discursos, a família Cavalera deixou seu recado em noite ativista por meio das letras ainda atuais do disco de 1993

À primeira vista, unir o thrash metal grooveado dos irmãos Cavalera ao soturno trip hop do Massive Attack (resenha deste show em breve) pareceu uma combinação inusitada. A ideia de convidar os fundadores do Sepultura veio da própria banda inglesa.

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A apresentação em conjunto no Espaço Unimed, em São Paulo, ocorrida na última quinta-feira (13) e realizada pela 30e, foi parte da campanha “A Resposta Somos Nós”, criada pela Coordenação das Organizações Indígenas da Amazônia Brasileira (COIAB). O objetivo foi dar maior visibilidade às questões ambientais de sustentabilidade, que vêm sendo discutidas na COP30, em Belém, com foco na preservação dos territórios e culturas dos povos originários.

A noite eclética e ativista, porém, começou trinta minutos mais tarde do que o previsto. Pouco antes do horário agendado, 20h15, o Espaço Unimed ainda estava esvaziado. Talvez fosse devido ao trânsito de dia útil na capital paulista, ou pela falta de interesse de parte dos fãs do Massive Attack na atração de abertura. Quando finalmente Max (voz e guitarra) e Iggor Cavalera (bateria) subiram ao palco com o hino “Refuse/Resist” (vídeo abaixo), a pista premium mal tinha preenchido a metade do seu espaço.

O show teve como tema Chaos A.D. (1993), álbum que pavimentou a carreira dos irmãos para além do thrash metal e foi executado quase na íntegra — ficaram de fora “Kaiowas”, “Clenched Fist” e o cover de “The Hunt” (New Model Army). Quando o disco foi lançado, o Sepultura começava a entender sua posição única no cenário internacional. Temas genuinamente brasileiros ecoavam em outros países da mesma forma como os músicos se identificavam com questões universais. Os assuntos tratados mais de 30 anos atrás, infelizmente, seguem atuais.

Foto: @pridiabr via 30e

Diferente do que seria o show do Massive Attack, porém, os Cavalera focaram-se mais na reprodução das músicas, deixando o ativismo para quem se interessasse pelas letras. A exceção veio na primeira de duas faixas de Roots (1996) executadas na noite, “Itsári”, que interrompeu a sequência de “Chaos A.D.” pouco depois da metade do set. Enquanto Iggor fazia praticamente um solo de bateria, os cânticos de povos originários e os instrumentos acústicos eram reproduzidos pré-gravados no sistema de som.

Foto: @pridiabr via 30e

A execução do álbum de 1993 não obedeceu à ordem de sua tracklist e teve um vídeo temático especial para cada faixa no telão ao fundo do palco. “Refuse/Resist” começou colocando quem já estava na pista para pular e abrir as primeiras rodas na sua parte intermediária. “Slave New World” manteve a animação na sequência, até porque Max Cavalera não deixaria a peteca cair nos 45 minutos nos quais esteve no palco do Espaço Unimed.

O vocalista e guitarrista, bem mais magro do que em sua última apresentação três anos atrás no Brasil, regeu o público como quis. Foi obedecido quando pediu para baterem a cabeça ao final de “Nomad” e ao puxar palmas e pulos em “Propaganda”. Quando lembrou para uma pista que então se enchia de estarmos em um show de metal, nem precisava dar a ordem para as rodas surgirem em “Biotech is Godzilla”.

Em “We Who Are Not as Others”, Max comandou os coros na arrastada música e aproveitou para apresentar seu filho mais novo, Igor Amadeus, empolgadíssimo no palco e responsável pelo baixo durante a noite. O intruso na família foi o guitarrista Travis Stone (também do Pig Destroyer, com passagens por Noisem e Necropsy), que fez o possível para reproduzir os solos sem descaracterizar o original.

Foto: @pridiabr via 30e

Depois de Iggor Cavalera ter seu momento de brilho solitário em “Itsári” — não que sua performance até então não fosse digna de nota, como nas viradas incessantes ao final de “Amen” —, o grupo retornou ao palco para “Manifest”. A faixa sobre a chacina do Carandiru, de 1992, não teve nenhuma menção à “megaoperação policial” do Rio de Janeiro ocorrida dias antes que superou seu número de mortos. Assim como na clássica “Territory”, a última do “Chaos A.D.” no show, o máximo a ocorrer foi aparecer uma bandeira da Palestina no meio da pista durante a frenesi do público.

Se surpreendeu por “Kaiowas” não ter feito parte do repertório de uma noite em que a defesa dos povos originários foi o principal motivo para unir os Cavalera ao Massive Attack, ninguém ficou surpreso quando “Roots Bloody Roots” fechou a apresentação. E, claro, nem mesmo quem havia chegado para a atração principal ficou parado ou deixou de cantar seu refrão numa pista que já estava quase lotada.

Com apenas 45 minutos de set, os Cavalera — Conspiracy ou não — seguem em “dívida” com o Brasil por não terem voltado antes, principalmente por ter deixado o país de fora de suas turnês executando as celebradas regravações dos primórdios do Sepultura. Max, com sua carreira prolífica, já ficou por mais de dez anos sem se apresentar por aqui na virada do século. Em boa forma e com seu carisma inabalável, não há motivos para não retornar logo para uma turnê própria, seja com Soulfly, Go Ahead and Die ou qualquer outro projeto.

Repertório:

  1. Refuse/Resist
  2. Slave New World
  3. Nomad
  4. Amen
  5. We Who Are Not as Others
  6. Biotech Is Godzilla
  7. Propaganda
  8. Itsari
  9. Manifest
  10. Territory
  11. Roots Bloody Roots

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Thiago Zuma
Thiago Zuma
Formado em Direito na PUC-SP e Jornalismo na Faculdade Cásper Líbero, Thiago Zuma, 43, abandonou a vida de profissional liberal e a faculdade de História na USP para entrar no serviço público, mas nunca largou o heavy metal desde 1991, viajando o mundo para ver suas bandas favoritas, novas ou velhas, e ocasionalmente colaborando com sites de música.

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