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Testament joga em casa e promove noite de celebração ao thrash no Rio

Em sua 5ª passagem pela cidade, banda californiana executou setlist repleto de clássicos e mostrou por que segue relevante após quase 40 anos de carreira

Em sua quinta passagem pelo Rio de Janeiro, o Testament voltou ao Circo Voador, local que os recebeu em três das quatro oportunidades anteriores (1989, 2015 e 2017). A única exceção se deu em 2007, no hoje extinto Canecão. Assim, pode-se dizer que a banda estava jogando em casa, e a escolha do palco não poderia ser mais acertada.

A atual turnê nacional do grupo foi iniciada em Limeira, no último sábado (16/08). O itinerário contou ainda com visitas a Curitiba (17/08), Belo Horizonte (19/08) e Brasília (21/08) antes da capital fluminense. São Paulo os recebe neste domingo (24) para a conclusão do giro, antes levado a Costa Rica, Colômbia, Peru, Chile e Argentina.

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Foto: Paty Sigiliano @paty_sigilianophotos

O Circo Voador é conhecido por sua localização central na Lapa, com fácil acesso por transporte público, o que democratiza a chegada dos fãs de todas as regiões da cidade. Com capacidade para 2,2 mil pessoas, oferece boa visibilidade de praticamente todos os pontos e raro conforto para acessar o bar entre músicas. Atmosfera ideal para a intensidade de um show de thrash metal.

Reckoning Hour

Para iniciar os trabalhos da noite, o escolhido foi o Reckoning Hour. Criado em 2013, o grupo carioca de metalcore tem dois álbuns e dois EPs no currículo. Ofereceu um sólido show de 30 minutos para o público que começava a ocupar o Circo Voador.

Foto: Paty Sigiliano @paty_sigilianophotos

J.P. (vocais), Philip Leander (guitarra), Johnny Kings (bateria) e Cavi Montenegro (baixo) executaram um repertório de seis músicas que alternavam partes agressivas, com direito a screamos/guturais e blast beats, e mais melódicas, ainda que sempre sem dispensar as afinações mais graves. Um aquecimento bem eficiente para a ocasião, mesmo não se tratando de uma banda thrash.

Foto: Paty Sigiliano @paty_sigilianophotos

Testament

O relógio já batia 22h naquela quente noite de sábado (23), logo após ter rolado “Fight For Your Right (To Party)”, dos Beastie Boys, no som mecânico, quando Chris Dovas (bateria) se posicionou em seu kit; Eric Peterson (guitarra) e Chuck Billy (voz) surgiram pela lateral direita do palco, enquanto Alex Skolnick (guitarra) e Steve Di Giorgio (baixo) vieram pelo flanco oposto e ocuparam suas posições.

De cara, ofereceram uma trinca avassaladora do álbum “Practice What You Preach” (1989), celebrado em uma recente turnê americana durante a qual foi executado na íntegra. Empolgado desde o começo, Chuck sorria e acenava para um Circo Voador praticamente lotado. O som, no entanto, estava um pouco abafado e baixo. Conseguia-se ouvir os instrumentos, mas a voz de Billy ficou prejudicada pelo problema técnico.

Foto: Paty Sigiliano @paty_sigilianophotos

Pouco importava para a plateia, que abriu os primeiros moshpits em tempo recorde, já nos acordes iniciais de “Practice What You Preach”. “Sins of Omission” nos brindou com um solo classudo de Skolnick, enquanto “Perilous Nation”, música pouco explorada anteriormente pela banda, deve ter caído nas graças do quinteto com a turnê comemorativa do álbum — ainda bem, pois trata-se de uma pedrada magistral com letra atualíssima e, ao vivo, intro estendida de baixo do habilidoso Di Giorgio.

Na sequência, “The Pale King” provou que o Testament soube atualizar sua sonoridade no novo milênio sem perder suas características essenciais. Logo depois, uma viagem aos primórdios com “The Haunting”; Peterson, a pedra angular da banda, relembrou que a canção foi escrita em 1986, há quase 40 anos. Di Giorgio, ao invés de lançar mão de uma palheta para tocar seu instrumento, optou por uma… baqueta! “Rise Up”, por sua vez, chama atenção por seu refrão grudento — dá para chamar de hit?

Foto: Paty Sigiliano @paty_sigilianophotos

É interessante notar como a carreira do grupo sempre ofereceu sons de alta qualidade. O público, composto por fãs de diferentes faixas etárias, reconhece: canções antigas ou as novas foram celebradas da mesma forma.

Um dos pontos altos foi a lembrança da insana “D.N.R. (Do Not Resuscitate)”, oriunda de “The Gathering” (1999), álbum que representou o “gol de honra” de sua geração na segunda metade dos anos 1990. No período em que outras bandas thrash lançaram trabalhos menos inspirados, o Testament soou mais extremo que seu habitual e foi feliz na aposta. Emendando nela — e também ainda dessa década —, “Low” trouxe um pouco mais de cadência ao espetáculo.

Foto: Paty Sigiliano @paty_sigilianophotos

De volta aos anos 2000, “Native Blood” — composta “para todos aqueles que não têm voz”, segundo Billy — mostrou o Testament flertando com blast beats, com destaque para Dovas, que segurou as partes insanamente rápidas com competência e precisão cirúrgica. Para um breve respiro, tivemos a semibalada “Trail of Tears”, que assim como no show anterior da turnê, foi dedicada ao recentemente falecido Brent Hinds (ex-Mastodon).

Foto: Paty Sigiliano @paty_sigilianophotos

Skolnick assumiu brevemente o microfone para reforçar o lançamento do novo álbum, “Para Bellum”, em 10 de outubro e citar as parcerias em turnês com bandas brasileiras, agradecendo o carinho que sempre recebem por aqui. “Electric Crown” trouxe nova velocidade ao espetáculo, enquanto “Souls of Black” foi introduzida por novo mini solo de baixo de Di Giorgio.

“Return to Serenity” trouxe mais um respiro e precedeu a grande surpresa da noite, com a inclusão de mais uma faixa de “Practice What You Preach” — no caso, “The Ballad”, tocada pela primeira vez na tour. Apesar do nome e de seu andamento mais lento e cadenciado de início, é composta também por uma parte acelerada e pesada. Poder ouvi-la ao vivo foi uma grata experiência.

Foto: Paty Sigiliano @paty_sigilianophotos

Não é bem um bis, mas a banda saiu do palco, deixando apenas Dovas para um rápido e efetivo solo de bateria, que contou com uma leve ajuda de Di Giorgio na parte final — dado que ele surgiu novamente com baqueta ao lado do colega e também fez uso do kit. “First Strike is Deadly” trouxe novamente todas as características clássicas do thrash da Bay Area e, claro, foi recebida por mais um moshpit.

Foto: Paty Sigiliano @paty_sigilianophotos

“Over the Wall”, com seus riffs rápidos e cortantes, antecedeu a cadenciada “More Than Meets the Eye”, marcada por seu indefectível coro de “ôôôôôôô”. Para finalizar, um dos maiores hinos do thrash americano: “Into the Pit”. Com menos de três minutos, a música é a definição de agressividade em formato musical, com o baixo pulsante de Di Giorgio e todo o Circo Voador gritando seu título.

Foto: Paty Sigiliano @paty_sigilianophotos

Encerrou-se, assim, mais uma passagem de sucesso do Testament pelo Rio de Janeiro. O setlist foi bem balanceado e passeou por quase toda a discografia. Foi impossível não notar a ausência de clássicos como “The New Order” ou “Raging Waters”, bem como de qualquer música do play mais recente, “Titans of Creation” (2020). Entretanto, isso apenas evidencia a qualidade da carreira do Testament: 100 minutos já não são suficientes para cobrir com justiça os inúmeros clássicos lançados ao longo de quase quatro décadas de carreira.

Foto: Paty Sigiliano @paty_sigilianophotos

Testament — ao vivo no Rio de Janeiro

  • Local: Circo Voador
  • Data: 23 de agosto de 2025
  • Turnê: Latin American Tour 2025
  • Produção: Liberation MC

Repertório:

  1. Practice What You Preach
  2. Sins of Omission
  3. Perilous Nation
  4. The Pale King
  5. The Haunting
  6. Rise Up
  7. D.N.R. (Do Not Resuscitate)
  8. Low
  9. Native Blood
  10. Trail of Tears
  11. Electric Crown
  12. Souls of Black
  13. Return to Serenity
  14. The Ballad
  15. Drum Solo
  16. First Strike Is Deadly
  17. Over the Wall
  18. More Than Meets the Eye
  19. Into the Pit
Foto: Paty Sigiliano @paty_sigilianophotos

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Diego Garcia
Diego Garciahttps://igormiranda.com.br
Engenheiro, com mestrado em mobilidade urbana e especializações em finanças e design de serviços, equilibra seus afazeres profissionais com uma paixão profunda por rock, hard rock e heavy metal, em suas mais variadas vertentes. Começou a colecionar CDs, DVDs e Blurays aos 8 anos de idade e não parou mais, mesmo com a chegada do streaming. Não mede esforços para ir a shows e a festivais.

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