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5 discos para conhecer Sly Stone, o gênio que roubou a cena em Woodstock

Líder da Sly and the Family Stone revolucionou o funk, quebrou preconceitos no rock e, para muitos, fez o melhor show do festival ícone da contracultura

Seja lá qual for a definição de gênio no âmbito da música, Sly Stone tem lugar garantido em qualquer enciclopédia do assunto. O líder da Sly and the Family Stone, falecido nesta segunda-feira (9) aos 82 anos, esgarçou barreiras entre estilos como funk, rock, soul e pop, injetando o tempero negro africano ao caldeirão technicolor da psicodelia em fins dos anos 1960 — e além.

À frente de uma das primeiras bandas multirraciais a conquistar o estrelato, Sly foi símbolo da convergência entre canção de protesto, música dançante/viajante e hit radiofônico. Para muitos, inclusive, foi dele o melhor show de Woodstock, roubando a cena no festival que cristalizou o auge da contracultura.

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Se o não menos excepcional Jimi Hendrix muitas vezes foi acusado de direcionar sua música para um público majoritariamente branco e não entrar em embates sócio-políticos, Sly Stone transitou com desenvoltura pelas prateleiras mais altas da indústria fonográfica sem abrir mão de um discurso afiado e conectado diretamente aos anseios da comunidade afrodescendente. Isso se verifica em obras-primas contestadoras como “Stand!” (1969) e “There’s a Riot Goin’ On” (1971).

Mas a nata de sua produção artística se estende para mais alguns discos. A seguir, listamos cinco grandes momentos de Sylvester Stewart, vulgo Sly:

5 discos para conhecer Sly Stone

“Dance to the Music” (1968)

O segundo álbum da Sly and the Family Stone dá o primeiro spoiler do que a banda seria capaz de fazer no ápice de seus poderes. A faixa-título, “Dance to the Music”, introduz no imaginário popular do rock produzido nos Estados Unidos um, até então raro, grupo mestiço – formado por negros e brancos, homens e mulheres – com uma estética sacana, irresistível ritmicamente e também uma voz inconfundível.

Cantor, compositor, produtor e multi-instrumentista, Sly Stone não era o líder da “Família Pedra” à toa. O grupo trazia também um irmão (Freddie Stone, guitarrista) e uma irmã (Rose Stone, tecladista) dele, mas o maestro era, de fato, Sly. Essa liderança, acompanhada de uma riqueza instrumental invejável, fica nítida em “Higher”, embrião do que viria a ser “I Want to Take You Higher”.

“Dance to the Music” entrou para o Top 10 de singles da Billboard e foi o primeiro sucesso do combo. Outros destaques do álbum são “I Ain’t Got Nobody (For Real)”, “Color Me True”, “Ride the Rhythm” e a suíte “Dance to the Medley”, com 12 minutos que vão da raiz do funk à experimentação lisérgica.

“Stand!” (1969)

Após lançar as bases do “psychedelic soul”, a Sly and the Family Stone voltou à carga já no ano seguinte com sua obra definitiva. “Stand!”, lançado em 1969, é o disco que catapultou Sly e sua banda para o topo das paradas com o hit “Everyday People”.

No entanto, o álbum é praticamente um best of da fusão entre funk/soul e rock/pop, partindo da afrontosa e irônica “Don’t Call Me Nigger, Whitey” até o orgasmo instrumental de “Sex Machine”, passando pelas famosíssimas “I Want to Take You Higher”, “You Can Make It If You Try” e “Sing a Simple Song”.

Stand! era o disco mais quente da época e comprovou seu indiscutível valor na noite de 17 de agosto de 1969, quando a Sly and the Family Stone tomou de assalto o palco de Woodstock para levantar e botar para dançar centenas de milhares de hippies. No mesmo ano, a banda também foi aclamada no Harlem Cultural Festival, que ficou conhecido como “o Woodstock negro”, em Nova York.

“There’s a Riot Goin’ On” (1971)

James Brown pode ser — e é — o pai do funk, mas Sly Stone se tornou seu expoente mais revolucionário. O músico nascido no Texas e radicado na Haight-Ashbury, coração psicodélico de São Francisco, Califórnia, elevou o nível de experimentalismo funk a outro patamar com seu disco mais chapado de todos, “There’s a Riot Goin’ On”.

De Miles Davis a Herbie Hancock, de Thundercat a Kamasi Washington, passando por Funkadelic, Prince e Red Hot Chili Peppers… O número de artistas influenciados por este trabalho é imensurável. Ouça “Luv N’ Haight”, “Family Affair” e a faixa-título e comprove o alcance.

Aqui, Sly Stone e sua trupe abandonam o otimismo e o apelo pop acessível de seu álbum anterior para explorar uma outra sonoridade. É um disco mais difícil, certamente, mas que recompensa o ouvinte dedicado. Cada vez mais imerso nas drogas, Sly se trancava no estúdio por horas a fio e testava tudo que fosse possível, desde técnicas de overdub e looping até bateria eletrônica — e claro, diferentes entorpecentes.

“Fresh” (1973)

O último grande disco da Sly and the Family Stone? Provavelmente, sim. Na mesma velocidade em que chegou ao topo, Sly iniciou sua derrocada. Assim como seus dois antecessores, “Fresh” também chegou ao número um das paradas de R&B, mas já apresentava algumas fraturas na sonoridade da banda.

“If You Want Me to Stay” é o carro-chefe do repertório e oferece uma excelente interpretação de Sly, assim como “Frisky”, “Babies Makin’ Babies” e “Skin I’m In”. No entanto, o multi-instrumentista se mostrava cada vez mais obcecado por técnicas que envolviam a lapidação e sobreposição de faixas de forma interminável.

Isso acabou minando o impacto e a intensidade de algumas canções, que soam menos atraentes do que poderiam — “Keep On Dancin'”, por exemplo. Uma constatação que, infelizmente, perduraria nos trabalhos seguintes da banda. Não sem motivo, a “Família Pedra” se desintegraria rapidamente em seguida, tentando em vão algumas reuniões sem grande êxito na segunda metade da década de 1970.

“The Woodstock Experience” (2009)

Em 2009, celebrando os 40 anos de aniversário, finalmente foi lançada a “Woodstock Experience”, caixa contendo discos com as apresentações de artistas que detonaram no festival. A Sly and the Family Stone, claro, não poderia ficar fora dessa.

O material também saiu em CDs avulsos, acompanhados de algum álbum de estúdio de cada um dos grupos (Jefferson Airplane, Santana, Janis Joplin etc). No caso da Family Stone, “Stand!” vinha junto no pacote. No entanto, o que interessa aqui é mesmo a apresentação acachapante da banda na noite do dia 17 de agosto.

Estão presentes, naturalmente, os maiores sucessos de Sly Stone e sua gangue: “You Can Make It If You Try”, “Everyday People”, “Dance to the Music”, “I Want to Take You Higher”, “Sing a Simple Song” e “Stand!”, dentre outros. Simplesmente um retrato sonoro fiel do quão impactante, selvagem e cativante foi o show da Sly and the Family Stone no festival dos festivais.

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Guilherme Gonçalves
Guilherme Gonçalves
Guilherme Gonçalves é jornalista formado pela Universidade Federal de Goiás (UFG). É repórter do Globo Esporte e atua no jornalismo esportivo desde 2008. Colecionador de discos e melômano, também escreve sobre música e já colaborou para veículos como Collectors Room, Rock Brigade e Guitarload. Atualmente, revisa livros das editoras Belas Letras e Estética Torta e edita o Morbus Zine, dedicado a resenhas de death metal e grindcore.

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