Formado em 1991, o Rage Against the Machine surgiu com a proposta de criticar o sistema capitalista. Com posicionamentos alinhados à esquerda, a banda se destacou por condenar o imperialismo cultural, a brutalidade policial, a desigualdade social, entre outras formas de opressão. Agora, curiosamente, músicos dos Estados Unidos querem criar uma versão oposta: um “Rage Against the Machine” de direita.
Como publicado pela Loudwire, um anúncio no site de classificados Craigslist está convocando “um baixista e baterista politicamente conservadores para iniciar a versão de direita do Rage Against The Machine”. Feita em Kannapolis, cidade na Carolina do Norte, por um cantor, a publicação ainda diz:
“Pretendo cantar, tocar guitarra e compor muitas músicas revoltadas e gostaria de fazer turnês pela região abrindo eventos políticos. Também quero montar um repertório com covers voltados para a liberdade. Se você ama os Estados Unidos e está revoltado com o que a esquerda e os globalistas fizeram com o nosso país, entre em contato comigo.”
Essa não é a primeira vez que tentam viabilizar uma banda do tipo. Em 2020, um grupo americano chamado Youth of America e descrito “ao estilo do Rage Against the Machine com orientação política conservadora e libertal” divulgou que estava em busca de um vocalista “para lutar contra o pensamento progressista” em referência ao Partido Democrata.
Conforme a Rolling Stone Brasil, o comunicado destacou:
“Desde que você tenha a mesma linha de pensamento e queira derrubar os democratas tanto quanto nós, mande um e-mail! Pense nos vocais do Rage Against the Machine e é isso que estamos procurando. Estamos cientes de que o Rage Against the Machine é democrata/progressista, estamos fazendo o oposto! Eles são citados para ter uma ideia do estilo.”
Tom Morello e os fãs de direita
Apesar do posicionamento claro, o Rage Against the Machine ainda lida com interpretações errôneas. Chegou ao ponto de fãs de extrema direita terem usado músicas do grupo em eventos nos Estados Unidos.
Em entrevista de 2021 ao The Guardian, o guitarrista Tom Morello refletiu sobre esse tipo de apropriação, não apenas do repertório do RATM, como também de outros artistas. Ele disse:
“Primeiro de tudo, não há como explicar a estupidez. Existe uma longa lista de hinos da esquerda radical que são mal compreendidos por idiotas que os cantam em eventos como esse, desde ‘This Land is Your Land’ de Woody Guthrie até ‘Born in the USA’ de Bruce Springsteen e ‘Imagine’ de John Lennon. Essas pessoas realmente não fazem ideia do que estão cantando.”
Mesmo com a falta de interpretação de pessoas a quem define como “idiotas de extrema direita”, o artista destacou o alcance que só a música proporciona por meio de sua capacidade de fazer o público refletir sobre temas relevantes. Ele declarou:
“A única coisa que eu aponto em todos esses casos é que há um poder na música que lança uma rede ampla. Isso é uma coisa boa, não uma coisa ruim. Nessa rede, haverá os idiotas de extrema direita, mas também haverá pessoas que nunca consideraram as ideias apresentadas nessas músicas e são forçadas a considerar essas ideias porque o rock’n’roll é ótimo. Você pode colocar uma batida em uma palestra de Noam Chomsky [filósofo e ativista] – ninguém quer isso, mas não haverá como confundir o conteúdo – ou você pode fazer uma música que seja atraente.”
Em 2020, o músico até mesmo respondeu a um fã que, pelo X/Twitter, reclamava de seu posicionamento nas músicas. Na rede social, o indivíduo primeiramente escreveu:
“Eu costumava ser um fã até suas opiniões políticas serem divulgadas. A música é meu santuário e a última coisa que eu quero ouvir é bobagem política enquanto ouço música. No que depender de mim, você está acabado. Continue falando muito e arruinando sua base de fãs.”
Então, Morello compartilhou a mensagem do antigo admirador e afirmou:
“Scott! De qual música minha você era fã que NÃO tinha ‘bobagens políticas’? Preciso saber, para que eu possa remover do catálogo.”
Sobre o Rage Against the Machine
O Rage Against the Machine atingiu o mainstream em 1992, graças ao sucesso do álbum de estreia homônimo. A sonoridade única, vinda da combinação de heavy metal, punk, hip hop e funk, aliou-se ao ativismo político explorado nas composições. As atividades foram encerradas com o disco de covers “Renegades” (2000).
Ao longo das décadas seguintes, o RATM se reuniu em ocasiões pontuais, incluindo a turnê “Public Service Announcement” inicialmente marcada para 2020, adiada em função da pandemia e realizada mesmo após o vocalista Zack de la Rocha ter sofrido uma lesão no pé. A ideia era realizar mais apresentações, porém, o grupo foi encerrado novamente e não há previsão para retorno.
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