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Savatage prioriza espetáculo e emociona no Monsters of Rock 2025

Banda americana incorporou o espírito minucioso do Trans-Siberian Orchestra no show inaugural de sua primeira turnê em mais de 20 anos

Quando o Savatage iniciou sua apresentação no Allianz Parque com um minuto quase imperceptível de atraso, ficou escancarada a principal diferença em relação aos shows de estreia do grupo no país em 1998. “The Ocean”, instrumental de abertura do álbum “The Wake of Magellan” (1997), não veio como uma faixa pré-gravada, mas sim executada pelos músicos em cima do palco.

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Herança óbvia do Trans-Siberian Orchestra, um mamute natalino nos Estados Unidos nascido de “Christmas Eve 12/24”, faixa do disco “Dead Winter Dead”, lançado pelo Savatage em 1995. Ao ser regravada sob o novo nome em seu primeiro álbum, “Christmas Eve and Other Stories” (1996), transcendeu o “bloqueio midiático” às bandas do heavy metal oitentista naquela década e, desde então, já conquistou três vezes disco de platina.

Foto: Gustavo Diakov / @xchicanox

O TSO virou um fenômeno no mercado de shows natalinos nos Estados Unidos, marcado por produções grandiosas e direção musical minuciosa, com todos os instrumentos ouvidos pela plateia executados ao vivo por alguém em cima do palco, sem uso de backing tracks para complementar. Essa característica esteve presente na apresentação inaugural da primeira turnê do Savatage em mais de vinte anos.

Foto: Gustavo Diakov / @xchicanox

Não foi sempre que, nos trinta anos de Monsters of Rock, um artista veio ao Brasil e gerou tamanha repercussão internacional como o Savatage. Desde que o grupo entrou num hiato que mais pareceu um final não-anunciado após uma turnê no verão europeu em 2002, apenas duas vezes o clássico grupo de heavy metal formado na casa dos irmãos Jon e Criss Oliva em Tampa, na Flórida, no final da década de 1970 como Avatar, subiu ao palco.

Uma, em 2003, sem usar o próprio nome, numa apresentação homenageando os dez anos da morte de Criss Oliva, o guitarrista fundador falecido num acidente de carro. Em 2015, Savatage e Trans-Siberian Orchestra, criador e criatura, dividiram os dois palcos principais do Wacken Open Air num espetáculo grandioso.

Foto: Gustavo Diakov / @xchicanox

Nenhuma das duas apresentações indicava uma reunião do Savatage como a que ocorreu no Monsters of Rock, quando subiram ao palco o vocalista Zak Stevens, os guitarristas Al Pitrelli e Chris Caffery, o baixista Johnny Lee Middleton e o baterista Jeff Plate. No telão, formava-se a icônica guitarra estilizada com rosas da contracapa de “Streets — A Rock Opera” (1991).

Foto: Gustavo Diakov / @xchicanox

O quinteto registrou os discos “Dead Winter Dead” e “The Wake of Magellan” ao lado de Jon Oliva, ausente por problemas de saúde, que foi substituído por dois tecladistas. Paulo Cuevas, colombiano, e Shawn McNair, americano, também ficaram responsáveis por ajudar nos backing vocals.

Foto: Gustavo Diakov / @xchicanox
Foto: Gustavo Diakov / @xchicanox

Não foi só lá fora que a reunião gerou expectativas. Já no show do Stratovarius, a pista esteve bem mais cheia em relação à edição de 2023 e camisetas do Savatage apareciam em número similar a um dos co-headliners, o Judas Priest, e superior ao da principal atração da noite, o Scorpions.

Foto: Gustavo Diakov / @xchicanox

Logo após “The Ocean”, a outra marca deste primeiro show do Savatage ficou clara. De forma surpreendente, a banda executou a parte inicial de “City Beneath the Surface”, faixa-título do único EP lançado pelo Avatar em 1983, posteriormente regravada no segundo lançamento do Savatage, o EP “The Dungeons Are Calling” (1984), uma das principais músicas utilizadas para abrir os shows do grupo enquanto continha os irmãos Oliva juntos no palco.

No entanto, antes de seu riff clássico iniciar, a banda voltou para “The Wake of Magellan” e executou a teatral “Welcome”. O lado metálico ficaria num segundo plano para um espetáculo à la Trans-Siberian Orchestra, com cada música executada de forma minuciosa enquanto era exibido um vídeo dedicado a ela no telão.

Durante a hora em que o Savatage ficou no palco no Allianz Parque, o repertório foi primordialmente formado pelas músicas gravadas desde a entrada de Zak Stevens no grupo em 1993. “The Wake of Magellan” e “Chance” receberam coros do público e trouxeram os tradicionais vocais em contraponto, marca registrada dos discos a partir de “Handful of Rain” (1994), cuja faixa-título veio coincidentemente quando uma rara garoa paulistana caía sobre o estádio.

Das músicas registradas por Jon Oliva, foram escolhidas as que já eram usuais sob a voz do sucessor, como “Jesus Saves” — tocada logo no início do set numa velocidade muito mais lenta do que o usual —, “Sirens” e “Hall of the Mountain King”, que fecharam de forma vigorosa a apresentação, além de “Gutter Ballet”, no meio do set e sem o dueto em jogral característico da segunda metade dos anos 90.

Foto: Gustavo Diakov / @xchicanox

Depois de “Edge of Thorns”, quando uma fã invadiu o palco enquanto Chris Caffery fazia o seu melhor para reproduzir o icônico solo de Criss Oliva e Zak Stevens aleatoriamente chutava desajeitado para o público bolas de futebol autografadas pela banda, a notável ausência do carismático Jon Oliva foi suprida em “Believe”.

A primeira parte da balada de “Streets” foi executada apenas no sistema de som do Allianz Parque enquanto o telão mostrava uma versão gravada em estúdio por Jon Oliva tocando um piano de cauda. A banda toda entrou após o primeiro refrão e Stevens assumiu a voz principal. Durante o solo, foram exibidas imagens de Criss Oliva, antes de o irmão Jon reaparecer nas telas na parte final da música, encerrando a homenagem aos membros ausentes.

Depois de mais de vinte anos sem realizar turnês e estreando justamente num cenário do tamanho do oferecido pelo Monsters of Rock, além da correria de preparação normal de um festival de palco único, era natural que a apresentação do Savatage fosse um pouco enferrujada — apesar da exibição praticamente irretocável dos músicos, em especial do vocalista Zak Stevens. Ainda assim, nem de perto eles exibiram o vigor típico do grupo que conquistou o público naquela edição de 1998, quando o status da banda se elevou no país para que escolhessem o Brasil neste retorno.

Foto: Gustavo Diakov / @xchicanox

Talvez tenha sido a tensão típica de uma estreia em Copa do Mundo daquela seleção da qual muito se espera. Com mais tempo e numa situação mais controlada, o show agendado para o Espaço Unimed dois dias depois, com abertura do Opeth, promete emocionar ainda mais o público do que já o fez no Allianz Parque.

Foto: Gustavo Diakov / @xchicanox

Savatage — ao vivo no Monsters of Rock 2025

  • Local: Allianz Parque
  • Data: 19 de abril de 2025
  • Produção: Mercury Concerts

Repertório:

  1. The Ocean
  2. City Beneath the Surface (introdução)
  3. Welcome
  4. Jesus Saves
  5. The Wake of Magellan
  6. Dead Winter Dead
  7. Handful of Rain
  8. Chance
  9. Gutter Ballet
  10. Edge of Thorns
  11. Believe (c/ Jon Oliva no telão)
  12. Sirens
  13. Hall of the Mountain King
Foto: Gustavo Diakov / @xchicanox

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Thiago Zuma
Thiago Zuma
Formado em Direito na PUC-SP e Jornalismo na Faculdade Cásper Líbero, Thiago Zuma, 43, abandonou a vida de profissional liberal e a faculdade de História na USP para entrar no serviço público, mas nunca largou o heavy metal desde 1991, viajando o mundo para ver suas bandas favoritas, novas ou velhas, e ocasionalmente colaborando com sites de música.

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