Em outubro de 1993, Ed Leffler, empresário de longa data do Van Halen, morreu após uma batalha contra o câncer. Quem passou a assumir a gerência da banda a partir daquele momento foi Ray Danniels — à época, conhecido pelo trabalho com o Rush e cunhado de Alex Van Halen, já que era casado com a irmã da esposa do baterista.
Segundo Sammy Hagar, os termos da contratação do profissional representaram a pior decisão tomada pelo grupo. Não só isso: para ele, está entre as piores envolvendo uma banda de rock de maneira geral. O vocalista opinou a respeito em entrevista de 2000 à Green Magazine, resgatada pela Far Out Magazine.
De acordo com o cantor, Danniels se juntou à equipe da banda com um único objetivo: o dinheiro. O novo empresário queria se beneficiar ao máximo ao exigir uma porcentagem sobre a receita bruta em vez do lucro líquido – ou seja, sem considerar os gastos e impostos antes da divisão dos ganhos. Ele explicou:
“Danniels entrou para uma banda que já havia vendido 40 milhões de discos. Ele queria mais do que uma parte igual nos lucros. Queria uma porcentagem da receita bruta, não do lucro líquido. Dando parte da receita bruta, ele ganharia mais do que todo mundo. Eu disse ‘que se f#da’, mas os caras ficaram meio indecisos. Eddie [Van Halen] e Al acabaram dando a ele 2,5% a mais da parte deles. Eu não dei.”
O Red Rocker ainda alegou que Danniels demandava vantagens que nem o próprio cantor tinha. Isso incluía uma parcela do faturamento dos primeiros discos:
“Ele também queria uma porcentagem de todos os discos antigos. Eu disse ‘de jeito nenhum’ […]. Eu subo no palco e canto ‘Jump’ e ‘Panama’ todas as noites e não ganho um centavo pelos discos anteriores à minha entrada, nem nunca pedi por isso. Ed Leffler nunca pediu coisas assim para a gente e nunca ganhou nada [com isso]. Então por que o Danniels deveria? É uma das piores decisões de negócios que já vi em uma banda de rock”.
Em sua autobiografia “Red” (2012), Sammy atribuiu sua primeira saída do Van Halen em 1996 ao empresário. Ao longo dos anos, reforçou o argumento, como em uma entrevista de vídeo resgatada pelo Far Out Magazine, na qual falou:
“Ele estava manipulando Eddie, dizendo: ‘por que você deixa esse cara comandar a banda?’, no caso eu. Era minha banda. Eles concordavam com tudo, e então esse cara novo entra e começa a provocar Eddie. Eu não gostava do cara novo, mas ele envenenou a banda e nos separou. Nós ainda estaríamos juntos.”
A música que marcou de vez o racha entre Van Halen e Sammy Hagar
Lançada em 23 de abril de 1996, “Humans Being” representou o desfecho da primeira era Van Hagar, apelido dado à fase do Van Halen com Sammy Hagar nos vocais. Ela entrou na trilha sonora do filme “Twister”, que se tornou obra referencial no subgênero conhecido como “disaster movie”.
Poucas semanas após a música chegar às rádios e seu videoclipe à televisão, o cantor bateria em retirada. As versões se confundem até hoje. De um lado, os irmãos Van Halen sempre sustentaram que Hagar optou por sair. Do outro, o frontman disse ter sido mandado embora por telefone. Nunca saberemos a realidade – até porque Eddie já não está mais entre nós.
De acordo com dados compilados pelo Songfacts e seus colaboradores, o Van Halen deveria ter tirado o primeiro semestre de 1996 para repouso. Eddie faria uma cirurgia no quadril, seu irmão Alex passaria por um tratamento no pescoço (após fazer a turnê de “Balance” com a região imobilizada) e a esposa de Sammy Hagar se preparava para ter o primeiro filho.
Contudo, eles acabaram convencidos pelo empresário Ray Danniels de que “Twister” faria muito sucesso e que o dinheiro os sustentaria até o final do ano. Ele estava certo: o filme arrecadou US$ 494 milhões em bilheteria mundial.
Sammy compôs uma música chamada “The Silent Extreme”, rebatizada de “Humans Being” por Alex. As sessões renderam atritos, já que o vocalista estava em Maui, Havaí, com a esposa grávida e os outros queriam que ele voasse para o estúdio em Los Angeles e finalizasse a canção.
O processo acabou sendo apressado, a ponto de a letra ter sido criada quase no improviso. O clima ruim e o trabalho mal-feito minaram a relação de vez.
Sammy Hagar em Las Vegas
Entre abril e maio de 2025, o show “The Best of All Worlds”, em que Sammy Hagar presta uma homenagem ao Van Halen, será transformado em uma residência para o Dolby Live, local com capacidade para 5,2 mil pessoas no Park MGM, em Las Vegas, Estados Unidos. As apresentações acontecem nos dias 30 de abril e 2, 3, 7, 9, 10, 14, 16, 17 de maio.
Em nota, Hagar comenta:
“Estou muito ansioso por esta residência e por poder ficar em um só lugar para que possamos ter o som e a produção completamente ajustados. Isso também permite que a banda faça experimentos com o setlist todas as noites — é por isso que será exclusivo para Las Vegas — em vez de viajar o dia todo em turnê, não tendo tempo para ensaiar e fazer mudanças. Planejo me aprofundar mais no catálogo do Van Halen e na minha carreira solo, Montrose e Chickenfoot também. Os fãs terão muitas surpresas.”
Hagar atualmente toca acompanhado de seu ex-colega de Van Halen, Michael Anthony (baixo, backing vocals), Joe Satriani (guitarra), Kenny Aronoff (bateria) e Rai Thistlethwayte (teclados). Aronoff ocupa a vaga deixada por Jason Bonham.
Entre as novidades do setlist anunciadas por Sammy destaca-se “Don’t Tell Me (What Love Can Do)”, single de “Balance” (1995), último do cantor com a banda dos irmãos Eddie e Alex Van Halen. Sobre a faixa, o vocalista afirmou:
“Tecnicamente, é uma música brutal para cantar. Me coloquei em uma fria. (Mas) vamos tocá-la na residência em Vegas. Vou adicioná-la ao show.”
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