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Entrevista: 7 perguntas para Fernanda Lira

Vocalista e baixista da Crypta compartilhou detalhes de seu projeto cantando músicas de Amy Winehouse e revelou planos futuros de sua banda

Nas últimas semanas, Fernanda Lira estreou o projeto “Canta e Conta Amy Winehouse”, em que presta homenagem à saudosa cantora britânica não apenas com música, mas também compartilhando histórias de sua trajetória. A vocalista e baixista da Crypta levou a iniciativa para São Paulo e Brasília, tem data marcada no Rio de Janeiro (Blue Note, 16/04) e promete realizar mais shows ao longo deste ano.

Antes da primeira apresentação, ocorrida durante o evento Rolling Stone Sessions no Cine Joia, este que vos escreve pôde conversar com Fernanda a respeito do projeto e, claro, sobre Crypta — que ainda não havia anunciado a saída da guitarrista Jéssica di Falchi. O bate-papo saiu em vídeo na Rolling Stone Brasil (veja a íntegra aqui), mas vale trazer algumas respostas para o site IgorMiranda.com.br.

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Entrevista com Fernanda Lira (Crypta, tributo a Amy Winehouse)

Como surgiu a ideia de fazer o projeto:
Fernanda Lira: “É a primeira vez que faço um show completo cantando com a voz limpa. Quem me acompanha nas redes, sabe que sou eclética como artista. O metal é parte mais importante da minha vida — tudo que eu sou hoje, artisticamente falando, devo ao metal —, mas ouço e canto outras coisas. Sempre postava vídeos cantando Amy Winehouse, Beyoncé, e a galera abraçou muito bem, acho que por ser inusitado. Daí, pediam: ‘pô, você tem que ter um projeto paralelo nessa pegada’. Tenho a ideia de ter um projeto paralelo com outras preferências, como blues, soul, um pouco de jazz. Porém, como gerencio a Crypta e faço a maior parte do trabalho burocrático, isso me toma muito tempo. Só que pensei que ter esse tributo seria uma ponte interessante entre a Fernanda, que as pessoas conhecem, a ‘@fefemetal’, e esse projeto que um dia eu quero desenvolver.
E Amy costumavam ser os vídeos favoritos das pessoas. Falavam: “Pô, eu adoraria ver você com a Amy, acho que vocês combinam, o lance da autenticidade, a personalidade e tal”, que eu concordo também, em partes. E a Amy sempre foi uma grande inspiração pra mim.”

Artista “multifacetada”:
FL: “Estou em um momento de artista multifacetada, com todo o universo que apresento nas redes sociais. Pensei em expandir isso profissionalmente também. Antes que o povo se desespere: a Crypta continua como meu projeto principal. Mas senti que gostaria de expandir pra outras coisas. Estou melhorando o meu projeto de palestras e painéis de conversas que já costumava fazer. Farei uma palestra sobre gerenciamento de carreira em breve. E aí pensei em fazer logo esse projeto, aproveitando que estou em casa. Gosto de desafio, acho que isso me move bastante. Pra mim, a minha experiência cantando limpo é ‘chuveiralmente’, dentro do chuveiro. Fiz muita participação com voz limpa, mas até então, nunca fiz um show completo com a minha voz limpa. É um desafio empolgante.”

Formato do show:
FL: “Tenho uma ‘bandona’ no sentido de: são 10 pessoas, para ficar o mais parecido com a Amy possível. Vocal, backing vocals com as dancinhas, baixo, guitarra, piano, bateria, trio de sopros — sax barítono, sax alto e trompete. A ideia é realmente contemplar muito do que a Amy já fazia ao vivo. A maioria das músicas vem do ‘Back to Black’, disco de maior sucesso dela. Também teremos alguns covers de ska ali, músicas que ela gostava de fazer ao vivo. Praticamente não existia um show dela sem um cover. E coloquei mais músicas do ‘Frank’, primeiro disco dela, que pouca gente conhece e tem uma sonoridade bem diferente do ‘Back to Black’. Quis mostrar que também existe qualidade além do ‘Back to Black’. Tem composições mais cruas da Amy ali, tanto liricamente como instrumentalmente. São músicas que funcionavam, na minha opinião, muito melhor ao vivo do que no estúdio.”

Por que também contar a história de Amy Winehouse no show:
FL: “A ideia desse ‘Canta e Conta’ foi porque desde o começo, primeiro, eu gosto de falar — já deu pra reparar. Aprecio todos os tributos, mas senti que eu gostaria de fazer uma homenagem à Amy além do entretenimento apenas, sabe? Sou fã incondicional da Amy, então, sou estudiosa dela. Tenho uma tatuagem gigante dela na perna. E há muito mais sobre Amy Winehouse do que o público geral conhece e do que a mídia retratou na época. Amy é um dos universos mais interessantes na música. Tinha uma personalidade única, um jeito único de compor, era muito autêntica, muito firme nas coisas que queria, uma mente brilhante na hora de compor. E sempre senti pena por se falar apenas da questão de drogas e da vida pessoal conturbada. Foi um recorte importante, mas existe mais por trás. Existe um ser humano incrível por trás. Então, o show é como se fosse uma biografia musicada. Entre as músicas, falarei mais sobre Amy, quem era, o que gostava, como compunha, como era a mente dela, como eram os amigos e especialmente abrir debates sobre saúde mental.
Tudo isso da Amy aconteceu há 15, 20 anos. Que debate estava tendo na época sobre saúde mental? A Amy foi diagnosticada com depressão quando muito jovem. Ela tinha alguns distúrbios alimentares. Psicólogos falam hoje que ela muito provavelmente tinha transtorno de personalidade borderline. Não era falado na época. Gostaria de trazer com esse projeto debates como: ‘como teria sido Amy se acontecesse nos dias de hoje?’. Será que ela teria buscado apoio quanto à saúde mental? Ou será que teria sucumbido antes, por causa dos haters na internet, hoje muito piores do que na época. Gostaria de debater o quanto não falar sobre saúde mental contribuiu para a morte precoce da Amy.
Queria trazer um debate também sobre essa questão de drogas, de álcool, trazer um paralelo para a minha vida também. Mesmo eu sendo vegana, sóbria, abstêmia, ainda me inspiro com ela que tinha outra visão, outro estilo de vida.”

Como conheceu o trabalho de Amy Winehouse:
FL: “É uma das coisas mais frustrantes quando você se apaixona por uma artista que infelizmente já faleceu e você fica tipo: ‘Caraca, meu, é isso? Tem essas, sei lá, 30 músicas ali da Amy, e eu ouvir só isso para sempre?’. Quando eu ouvia muito metal, a única coisa que fora que eu ouvia era blues, soul e um pouquinho de jazz. Só que a Amy ficou muito no meu imaginário por conta do apelo midiático totalmente pop. Não tenho problema algum com pop. Hoje, tenho uma tatuagem da Beyoncé, já fui quase cancelada algumas vezes dentro do metal por gostar de Beyoncé. Porém, na época, com toda aquela mentalidade mais restrita de ‘isso não é metal’, negligenciei a carreira da artista.
Até que, um dia, quando eu dava aulas de inglês na época, um aluno meu falou: ‘eu vou colocar uma música aqui que eu acho que você vai gostar’, enquanto nos preparávamos para a aula. Ele colocou um DVD da Amy. Vi aquilo, aquela estética, aquela música maravilhosa, aquela voz única, aquele visual impressionante, aquela autenticidade… aquilo conversou comigo de muitas maneiras. Eu me apaixonei de cara e comecei a ficar louca, completamente viciada. Consumia tudo que tinha dela, li tudo que tinha dela, assisti a tudo que tinha dela.
A música me pegou, mas o que gerou identificação foram as curiosidades que fui descobrindo, as coisas que temos em comum. Por exemplo: ela é virginiana também, a cor favorita é rosa, ela também lia tarô, o sonho dela era ser jornalista, como eu também. Sempre tive muitas coisas em comum com a Amy. Sempre gostei muito da autenticidade também. Sou muito firme nas minhas convicções e não gosto de ficar em caixinhas. Falo de veganismo, sobriedade, eu yoga, música pop, cultura, filme, livro. Amy era uma pessoa assim: muito expansiva, expressiva quanto aos gostos, muito firme nas opiniões. Ela me ajudou a me libertar e entender que é importante você se agradar, ser livre, porque você inspira outras pessoas a serem livres também.”

As conquistas da Crypta:
FL: “Crypta é a minha paixão, minha maior dedicação. Sou apaixonada pela minha banda. Quando saí da minha banda anterior (Nervosa), decidi que essa banda seria feita com muito amor, Acho que consegui trazer isso desde o começo. Muito trabalho também, gente: não tem pausa para CEO de banda de metal: a gente acorda e dorme respondendo mensagem. Não existe sábado e domingo. Com toda essa paixão, a gente espera que a nossa banda chegue em algum lugar. Mas a Crypta não para de me surpreender. Ainda temos uma caminhada muito grande, muitos aprendizados e realizações para ter, mas acho que estamos em um lugar muito maior do que eu esperava no momento. Jamais esperei que, com um disco de metal, de death metal, a gente pudesse alcançar as paradas da Billboard muito bem posicionadas, em mais de uma categoria. Jamais esperei que iríamos tocar em algum dos maiores festivais do mundo, num espaço de tempo tão curto, sendo uma banda de death metal latino-americana — existe uma diferença, é mais difícil, trabalhoso e corrido. Tenho uma alegria muito grande.
Mas os sonhos conquistados até aqui — que achei que levaríamos décadas para conquistar — servem como combustível. ‘Pô, se eu conseguir chegar aqui, tem muito mais que eu posso realizar’. Apesar de eu ter uma carreira de quase 20 anos aí no metal com outras bandas autorais, a Crypta é uma banda muito jovem para tudo que a gente conquistou. Temos 4 anos e meio ainda, sabe? Fico muito feliz. Mas temos muito o que fazer ainda.”

Próximos planos da Crypta:
FL: “Acabamos de sair de uma turnê onde, em um ano, fizemos 138 shows, passando por três turnês na Europa, duas nos Estados Unidos, turnê no Brasil. Então, decidimos pisar no freio. Faremos só umas quatro turnês [risos]. Mas vamos passar mais tempo em casa, porque estamos compondo o nosso terceiro disco. É um disco conceitual. Já estou com o conceito pronto na cabeça. Já iniciamos o processo de composição, está engatinhando, mas vai desembocar logo mais. Tivemos uma reunião que direcionaram algumas coisas e estamos muito empolgadas. Acreditamos muito nesse disco. Nossas ideias estão borbulhando. Em meio a todo esse processo de composição, faremos algumas turnês. Já temos uma turnê confirmada na Europa, outra praticamente confirmada aqui no Brasil, além de uma na América Latina e uma nos Estados Unidos, tudo em 2025. Ano que vem, lançamento de disco. Iremos produzir com calma e deve sair na segunda metade de 2026. Trabalhamos com gravadora e eles têm um processo interno deles também. Mas estamos a todo vapor. Todas temos outros projetos, mas não significa que a Crypta será deixada de lado, nem que não está legal. É que precisamos dar vazão a tudo que passa nas nossas cabeças. Acho que isso dá gás para a própria Crypta. Sempre acreditei que outros projetos dão um sopro de ar fresco para trazer outras dinâmicas.”

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Igor Miranda
Igor Miranda é jornalista formado pela Universidade Federal de Uberlândia (UFU), com pós-graduação em Jornalismo Digital. Escreve sobre música desde 2007. Além de editar este site, é colaborador da Rolling Stone Brasil. Trabalhou para veículos como Whiplash.Net, portal Cifras, revista Guitarload, jornal Correio de Uberlândia, entre outros. Instagram, Twitter e Facebook: @igormirandasite.

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