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Rafael Bittencourt detalha análise de plágio de Adele: “me fascinou”

Guitarrista do Angra ficou responsável pelo laudo técnico que apoia acusação do compositor Toninho Geraes contra cantora britânica

Como noticiado, Rafael Bittencourt, guitarrista do Angra, foi o responsável por elaborar o laudo técnico que apoia a acusação do compositor Toninho Geraes contra a cantora Adele. O processo está correndo na Justiça desde fevereiro de 2024. 

Em sua análise, o músico — e bacharel em Composição Musical e Regência pela Faculdade Santa Marcelina — avaliou que “Million Years Ago”, faixa creditada à artista britânica junto ao produtor Greg Kurstin e lançada no álbum “25” (2015), é plágio de “Mulheres”, criação de Geraes célebre na voz de Martinho da Vila ainda na década de 1990.

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Conversando com o jornal O Globo, Bittencourt disse que “existem muitas coincidências para que tudo não passe de pura coincidência”. Apontou, ainda, que “as duas obras podem ser executadas simultaneamente sem cacofonia, sem macular a harmonia, a ideia rítmica ou a melodia”. Na ocasião, explicou:

“Imagine que eu peça para várias pessoas desenharem um trem com uma locomotiva e sete vagões, representando a regra dos oito compassos musicais. Os vagões podem ter tamanhos diferentes. E cada um deles deve ter pelo menos quatro camadas com texturas e cores diferentes. Qual a chance de duas pessoas, no mundo todo, desenharem praticamente o mesmo trem?”

Durante episódio recente de seu podcast Amplifica com participação do guitarrista Luiz Arantes, o assunto entrou em pauta. Segundo o membro do Angra, tudo começou com o convite de Deborah Sztajnberg, advogada de Toninho, que procurava um músico conhecido e formado para participar do caso. 

Conforme transcrição do site IgorMiranda.com.br, Bittencourt disse: 

“Precisavam de um músico com formação para criar um laudo. Foi muito doido porque eu fiquei no meio de uma reforma, furando parede e martelando, com isso na cabeça e, nos intervalos, escrevendo, ouvindo as duas músicas, comparando e analisando […]. Já tinham alguns lados feitos por maestros, mas eles queriam colocar algum músico que tivesse formação e fosse conhecido. Me sinto honrado e privilegiado por ter feito esse trabalho, eu adorei. Foi uma experiência maravilhosa e completamente nova entrar nisso, pesquisar e tal.”

Ao ouvir as duas canções para estudá-las, Rafael não percebeu tantas similaridades exatas — até prestar atenção com um olhar mais atento. Ele comenta:

“Ao ouvir as duas músicas, num primeiro momento, não pareceu que fosse um plágio descarado, uma cópia exata […]. Mas outros maestros já tinham feito análises e eu saquei algumas coisas que realmente eram coincidências muito suspeitas e muito bem disfarçadas. E aí o assunto me fascinou. Porque aí eu entrei quase que numa brincadeira de detetive.”

As “coincidências”, explicadas por Rafael Bittencourt

Rafael Bittencourt elencou as várias “coincidências” percebidas entre as duas gravações. Também concluiu que “é muito difícil” Adele não ter ouvido a faixa brasileira nenhuma vez: 

“As duas músicas podem ser tocadas simultaneamente com as mesmas pausas, os respiros, motivos [sequência de notas que formam uma melodia reconhecível e memorável], introdução, a harmonia é exatamente a mesma. O desenho melódico, quando não é a mesma nota, tá na mesma nota da harmonia. Algum contato com a música eu acho que ela teve, mesmo que inconsciente […]. Eu não posso dizer se teve ou não a intenção [de plagiar], mas as coincidências são tão grandes que é muito difícil ela não ter sido exposta a isso, sem que ela tenha ouvido pelo menos uma vez a música.”

Por fim, o músico deixou claro que não cabe a ele decidir o que aconteceu nos bastidores. Seu papel era fazer um laudo de forma explicativa e didática, que será analisado pelo juiz, como pontuado: 

“O laudo vem para explicar para o juiz essas coisas, então não pode ser muito técnico, precisa ser mais didático do que técnico. Eu coloquei desenhinho das figuras lá, coloquei várias partituras para que ele visse aquelas figurinhas combinadas.”

Adele vs. Toninho Geraes

A Justiça do Rio de Janeiro ordenou em dezembro que “Million Years Ago”, música lançada por Adele no álbum “25” (2015), seja retirada das plataformas digitais e só seja reproduzida ou comercializada sob autorização de Toninho Geraes. A decisão, que cabe recurso, foi tomada em meio ao processo de plágio movido pelo brasileiro, compositor do hit “Mulheres”, gravada por Martinho da Vila.

Caso a determinação não seja seguida, será aplicada uma multa de R$ 50 mil. Apesar da exigência de suspensão imediata, a canção segue disponível em streaming.

O juiz Victor Agustin Cunha, do Tribunal de Justiça do Estado do Rio de Janeiro, indicou que “Million Years Ago” teria forte indício “da quase integral consonância melódica” com “Mulheres”, gravada por Martinho da Vila em 1995, no disco “Tá Delícia, Tá Gostoso”. Especialistas analisaram ambas as composições.

Toninho Geraes acusou Adele publicamente de plágio em setembro de 2021. Quase três anos depois, ingressou de forma oficial com um processo contra a artista, além do produtor e co-autor Greg Kurstin, as gravadoras Universal Music Publishing MGB Brasil Ltda e Sony Music Entertainment Brasil Ltda e o selo Beggars Group.

O compositor pede R$ 1 milhão de indenização. Em declaração à Folha, o advogado Fredímio Trotta declarou ter tentado um acordo extrajudicial. Sem sucesso, decidiu por ingressar com uma ação. Além disso, ele alega que as companhias disseram não ter responsabilidade sobre a composição da obra, apenas sobre sua distribuição.

O que diz a defesa

A Universal Music apresentou recurso visando derrubar a liminar que vetou a execução de “Million Years Ago”. A empresa defende que a faixa “não viola direitos autorais”, conforme “atestado por dois pareceres independentes”, e que “as semelhanças entre as duas obras se devem, em essência, ao fato de diversas músicas utilizarem um clichê musical conhecido como Progressão de Acordes pelo Círculo de Quintas [nota: sequência de notas distanciadas por intervalos de quinta justa]”.

Um trecho da defesa afirma:

“A concessão da liminar é desproporcional e provoca dano inverso aos Réus, uma vez que a suspensão imediata de ‘Million Years Ago’ acarretará prejuízos econômicos significativos e comprometerá a liberdade artística dos envolvidos, especialmente considerando a popularidade e o impacto cultural de suas produções.”

Entenda a acusação

Em documentos obtidos pela revista Veja ainda no ano de 2021, o brasileiro alega que as notas da introdução de “Mulheres” seriam repetidas em vários momentos da música de Adele. A avaliação feita por Toninho Geraes aponta que 88 compassos, quase 90% da canção completa, teria sido reproduzida em “Million Years Ago”.

À revista, Geraes se limitou a dizer:

“Fiquei estarrecido quando me dei conta. A melodia e a harmonia são iguais. É uma cópia escancarada.”

Acusações de plágio são mais comuns do que se imagina, mas há uma coincidência neste caso. A mesma música de Adele já foi comparada com outras duas composições: uma lançada pelo turco Ahmet Kaya, chamada “Acilara Tutunmak”, e “Hay Amores”, gravada por Shakira em 2007.

Caso essas alegações também sejam provadas, similaridades com outras faixas podem ter sido descobertas. E mal dá para saber quem teria copiado quem, já que a composição de Kaya, lançada em 1985, é mais antiga que todas as outras.

O advogado de Toninho Geraes, Fredímio Biasotto Trotta, apontou ao jornal O Estado de S. Paulo que a decisão é mundial, não apenas nacional, e “inédita na história da música brasileira por ser proferida no início do processo e em um caso de plágio internacional”. Vale lembrar que Jorge Ben Jor já venceu uma ação do tipo contra Rod Stewart, porém, décadas atrás — ou seja, quando ainda não existiam plataformas de streaming — e sem uma deliberação similar logo de cara.

Ainda de acordo com Trotta, um vídeo publicado em seu canal no YouTube se mostrou, em sua visão, como “a maior prova de plágio trazida até agora ao processo”. Trata-se de um registro onde um grupo de músicos, incluindo a cantora Ju Vianna, interpreta de forma simultânea “Million Years Ago” e “Mulheres”, visando sobrepor as composições. Segundo o advogado, a ideia da versão — que adequa tom e ritmo — é “eliminar alguns dos disfarces composicionais ou interpretativos dos responsáveis pelo plágio”.

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Maria Eloisa Barbosa
Maria Eloisa Barbosahttps://igormiranda.com.br/
Maria Eloisa Barbosa é jornalista, 24 anos, formada pela Faculdade Cásper Líbero. Colabora com o site Keeping Track e trabalha como assistente de conteúdo na Rádio Alpha Fm, em São Paulo.

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