Entrevista: Jon Oliva discute volta do Savatage, futuro e problemas de saúde

Vocalista e tecladista não participará da turnê de reunião — que começa no Brasil —, mas garante estar envolvido até mesmo com a escolha do setlist

O Savatage está de volta. A cultuada banda americana de heavy metal, de flertes notórios com o progressivo e até o power, não se apresentava ao vivo desde a edição 2015 do Wacken Open Air — e sua última turnê havia ocorrido em 2002. Agora, o grupo retorna para uma série de apresentações na América do Sul (abril) e Europa (junho).

Este novo capítulo começa no Brasil, com show no festival Monsters of Rock ao lado de Scorpions, Judas Priest, Europe, Opeth, Queensrÿche e Stratovarius. O evento acontece no Allianz Parque, em São Paulo, em 19 de abril. Especula-se que a banda ainda realize uma performance à parte, dois dias depois, no Espaço Unimed, casa de eventos na mesma cidade.

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O único membro fundador ainda vivo não estará presente. O vocalista e tecladista Jon Oliva sofreu em 2023 um acidente que lhe causou uma fratura em três regiões da vértebra T7. Nos últimos tempos, também foi diagnosticado com dois problemas de saúde: esclerose múltipla, doença crônica em que o sistema imunológico destrói a cobertura protetora de nervos, e doença de meniére, distúrbio no ouvido interno que causa episódios de vertigem (tontura).

Em entrevista coletiva realizada por Zoom, com apenas este jornalista representando o Brasil, Oliva — que não apareceu em vídeo, somente em áudio — reforçou várias vezes a fratura como impeditivo para sua presença na tour. Disse estar se locomovendo em cadeira de rodas, revelou que não consegue sequer cantar atualmente devido às dores que sente e destacou que precisa aguardar a cura natural de sua vértebra, pois optou por não fazer cirurgia. “Queriam colocar coisas de metal no meu corpo, mas pessoas com quem eu conversei falaram para não fazer isso, pois eu me arrependeria”, explicou.

Por conta disso, Zak Stevens (voz), Johnny Lee Middleton (baixo), Chris Caffery (guitarra), Al Pitrelli (guitarra) e Jeff Plate (bateria) farão a turnê. Porém, Jon está envolvido nos bastidores. “Não estaria aqui agora falando com vocês se não estivesse”, afirmou ele, que garantiu estar responsável pela escolha de repertório, acompanhamento dos ensaios e seleção de um tecladista para se juntar ao quinteto o substituindo.

O músico em questão ainda não foi definido, pois a ideia é testá-lo pessoalmente com o grupo primeiro. Todavia, o líder comentou que não deve ser alguém ligado ao Trans-Siberian Orchestra, projeto sinfônico do falecido letrista e produtor do Savatage, Paul O’Neill, de maior sucesso do que a iniciativa principal.

A formação de turnê do Savatage em 2025 (Foto promocional de autoria não informada / crédito a JDPWORKS no arquivo)

Além disso, Jon garantiu que um novo álbum está todo composto — ao menos a parte musical, pois as letras ainda não foram feitas. Ele aguarda a realização da turnê e a melhora de sua condição de saúde para se dedicar às gravações.

A seguir, você confere as principais declarações de Jon Oliva durante a entrevista coletiva. Os assuntos foram divididos em tópicos.

Turnê do Savatage

Planejamento para turnê vinha sendo discutido antes do acidente.
Jon Oliva:
“Falamos sobre fazer isso [a turnê] por alguns anos. Infelizmente, fraturei minha coluna em três regiões. É muito doloroso cantar, até mesmo andar, então não pude participar. Mas não queria cancelar, porque os fãs do Savatage esperaram por tanto tempo e são fãs tão leais. E esses caras [os músicos] esperaram 20 anos para tocar. Então que façam, tudo bem, não me importo. Só quero dar aos fãs algo para mostrar a eles que ainda estamos unidos, que tudo está bem e que estamos trabalhando em um novo material. […] Estarei em todos os ensaios, montarei o show e tudo mais. Estou envolvido nisso o máximo que posso.”

Morte de Paul O’Neill impediu retorno definitivo do Savatage após show em 2015.
JO:
“Quando Criss [Oliva, guitarrista e irmão de Jon] faleceu [em 1993], isso simplesmente interrompeu qualquer progresso. Pensávamos no que iríamos fazer. [Quando Paul faleceu] Não consegui lidar com tudo isso na época. Estávamos no embalo e simplesmente saímos de cena. Coisas estranhas acontecem quando você perde alguém tão próximo. Foi um período muito difícil, assim como quando Criss faleceu. Mas a vida continua e espero que, agora, possamos fazer um novo álbum juntos, os caras façam os shows e aí vemos o que vai acontecer. Estou ansioso.”

Detalhes sobre o setlist.
JO:
“Eu defini o setlist. São cerca de 26 músicas e eu estarei em cada ensaio. Também iremos adicionar algumas surpresas, não posso revelar. Mas estou bem envolvido. Eu não estaria fazendo isso aqui [entrevista] se não estivesse envolvido. Escolhi algumas mais antigas, como ‘Sirens’, ‘Gutter Ballet’, ‘Edge of Thorns’, ‘Jesus Saves’, ‘Believe’, ‘Hall of the Mountain King’, músicas que sinto que precisamos tocar. E muitas coisas de ‘Handful of Rain’ (1994, primeiro álbum desde a morte de Criss Oliva) em diante. Misturei o quanto pude. O tempo passa rápido e as pessoas não percebem o quão rápido um show é. Quero que as pessoas ouçam também as músicas mais obscuras, como ‘Morphine Child’, ‘Miles Away’, ‘Follow Me’, ‘Damien’, ‘Dead Winter Dead’, ‘This is the Time’, ‘The Wake of Magellan’, ‘The Hourglass’, ‘Chance’. Os ensaios serão terríveis para esses caras — estarei em cima deles. [Risos]”

A escolha do tecladista.
JO:
“Ainda estamos fazendo testes para tecladista. Estou sendo muito criterioso nessa escolha. Tenho uma lista de caras e todos eles são muito bons, mas eu preciso avaliar em um ensaio junto da banda para ver quem se encaixa melhor. Não é algo totalmente finalizado. Estou no processo. São em maioria caras de fora, não são do Trans-Siberian Orchestra.”

Por que o Brasil foi escolhido para começar a turnê.
JO:
“Bem, vocês nos ofereceram mais dinheiro. [Risos] Estou brincando. Me diverti muito no Brasil [em turnês realizadas em 1998, incluindo o Monsters of Rock daquele ano, e 2001]. Antes de me machucar, eu falava: ‘se vamos fazer isso, vamos começar ao Brasil’. Falava disso dois anos atrás. Quando decidimos fazer isso, acho que nosso escritório contatou o Monsters of Rock, ou eles nos contataram. Essa parte não é comigo, meu trabalho é a música e definir que isso será um show matador. Mas fico feliz por começarmos no Brasil — apesar da questão de dinheiro. [Risos]”

O sucesso da turnê e a possibilidade de entrada de datas extras.
JO:
“Estou um pouco surpreso com a venda de ingressos. Prova o que eu digo: fãs de Savatage são muito leais e nos apoiam há muitos anos. Não sei se iremos adicionar mais datas, não tenho certeza disso, pois não é minha função. Apenas perguntam e eu respondo se podemos fazer. Temos o suficiente agora.” [Assessor complementa que é tarde demais para incluir datas extras agora, por conta de questões logísticas — casas de eventos estão ocupadas, assim como festivais estão escalados —, mas isso abre portas para planos futuros.]

Saúde de Jon Oliva

Fratura na vértebra afetou capacidade de andar e até de cantar.
Jon Oliva:
“Fraturei a vértebra T7 em três regiões e também tive outras pequenas fraturas. […] Eu não percebi que essa fratura na coluna em três partes iria afetar minha capacidade de andar — além de afetar minha voz, pois fica doloroso de cantar. Meu estilo de cantar é apoiado no belting, eu canto muito alto. E dói muito. Jurei para mim que não iria subir no palco estando apenas 50%. Não estou feliz com isso, mas os fãs significam mais para mim do que qualquer coisa. Não sou do tipo: ‘se eu não puder ir, ninguém vai’.”

Estilo de vida de Jon Oliva atualmente.
JO:
“Estou em uma dieta o máximo que posso [risos]. Meu estilo de vida é bem doloroso. Não estou dançando por aí nem nada, estou apenas parado. Preciso esperar que essas fraturas se curem, pois eu não queria fazer cirurgia. Eles queriam colocar coisas de metal no meu corpo, mas pessoas com quem eu conversei falaram para não fazer isso, pois eu me arrependeria. De toda forma, não posso fazer nada, estou em casa. É muito frustrante, para ser honesto. Não consigo descrever isso. É muito decepcionante. Mas é a situação que tenho. Não aconselho ninguém a quebrar a coluna. É a maior dor que senti em toda a minha vida. Apenas preciso esperar curar e se seguir o planejamento para começar a fisioterapia, farei.”

“Se eu tento dar aqueles gritos… esqueça. Soa como se alguém estivesse me esfaqueando. Como posso sair e cantar ‘Hall of the Mountain King’ se não consigo? Vou ficar no chão gritando como uma criança.”
— Jon Oliva

Novo álbum do Savatage

Estágio atual do novo álbum.
Jon Oliva:
“Já tenho praticamente um álbum pronto. Tenho trabalhado nele de vez em quando. Estávamos falando sobre a turnê antes de eu sofrer meu acidente. Tenho trabalhado em coisas há provavelmente um ano. Se eu reunir os caras para gravar, estará pronto. Mas queríamos fazer essa turnê.”

Material de sobra à disposição.
JO:
“Temos material para quatro álbuns. Só as letras não estão escritas, mas musicalmente está feito. E é culpa minha que tudo tenha parado, por conta das fraturas.”

Próximo álbum não deve ser o último.
JO:
“Eu falei [em outra entrevista] que este deve ser o último, mas agora não tenho certeza. Eu tenho esse material todo. Vou fazer o quê? Lançar um álbum quádruplo? Não acho que será o último.”

Zak Stevens participará das gravações.
JO:
“Zak está envolvido com o próximo álbum. Eu compus quatro ou cinco músicas para Zak e eu cantarmos juntos. Ele será parte disso.”

Assuntos variados

As perdas de Criss Oliva e Paul O’Neill — e o momento do Trans-Siberian Orchestra.
Jon Oliva:
“Foi estranho, mas estou envolvido com a formação do TSO com Paul. Eu precisava fazer outras coisas além do Savatage. Encontrei Zak, gostei da voz dele. Falei: ‘ele não tenta soar como eu’. Era diferente. A ideia era fazer o álbum ‘Edge of Thorns’ [sem Jon cantando] e eu voltar para o seguinte, ‘Handful of Rain’, tendo dois cantores. Mas Criss faleceu. Foi como Paul faleceu: isso pausou tudo. Esse tipo de coisa acontece e precisamos seguir. Paul era meu melhor amigo no mundo e Criss era meu irmão. Eram meus parceiros. E eu perdi ambos. Isso teve seu efeito em mim. Foi muito difícil para continuar. Precisei manter o Trans-Siberian Orchestra seguindo. Eu me mantive mais envolvido nisso nos últimos anos do que quando Paul estava vivo. O Trans-Siberian Orchestra é uma grande organização, com 300 pessoas envolvidas, meus cabelos estão ficando grisalhos rapidamente. [Risos]”

Fãs de Trans-Siberian Orchestra enfim reconhecem o Savatage.
JO:
“Saí em minha cadeira de rodas [risos] com um motorista para me levar para alguns shows do Trans-Siberian Orchestra. Neles, muita gente estava com camisetas do Savatage. Pessoas iam até a mesa de som, onde eu estava, e pediam autógrafos. Os fãs de TSO enfim entenderam que o TSO não existiria sem Savatage. O Savatage começou o TSO. É legal que as pessoas tenham percebido isso, voltando para ouvir os álbuns do Savatage. E isso ajudou a popularidade do Savatage a ser construída. É bom que as pessoas enfim percebam que é uma família só. Eu não poderia fazer músicas como ‘Christmas Day’ para o Savatage. É uma ótima vitrine para um compositor – e ficou muito grande. Vendemos 20 mil ingressos em arenas esportivas para dois shows no mesmo dia. É impressionante.”

O que faz a obra do Savatage despertar interesse até os dias de hoje.
JO:
“Acho que a qualidade. Muitas coisas do Savatage são atemporais. Não ficam datadas. Meio que me lembra do Black Sabbath, do álbum ‘Paranoid’. Não fica velho. Eu estava ouvindo anteontem: você coloca para tocar e aquilo ainda se destaca. Acho que isso acontece muito com o Savatage. ‘Hall of the Mountain King’, por exemplo, ainda é algo que se destaca. Resiste ao teste do tempo.”

Lembranças do show no Monsters of Rock Brasil 1998.
JO:
“Um de meus shows favoritos foi no Monsters of Rock no Brasil. Ainda me lembro do show e eu achei que o lugar iria desabar, por conta das pessoas pulando. Cheguei a ver a parte superior do estádio se movendo. Al chegou a dizer: ‘vamos acabar destruindo esse lugar, como vamos sair daqui?’. Falei: ‘corra como se sua vida dependesse disso’. [Risos]”

O melhor álbum do Savatage na opinião de Jon Oliva.
JO:
“É difícil de responder. O álbum que mais significa para mim é ‘Streets’, porque meu irmão, Paul e eu realmente trabalhamos muito juntos naquele álbum. Levou um ano para gravar. Eu me diverti mais fazendo aquele álbum porque tinha muitas músicas e mostrou todos os lados da banda. Desde músicas como ‘Agony and Ecstasy’ até ‘Believe’ e ‘Somewhere in Time’. Esse é provavelmente o meu favorito. Mas eu gosto de todos. Eu amo ‘Power of the Night’, amo todos eles. Mas escolho ‘Streets’ pela forma como nós três trabalhamos no material e pela gravação, foi o primeiro álbum que fizemos digitalmente. Éramos a cobaia do Record Plant porque eles tinham acabado de obter todas essas coisas digitais e fomos a primeira banda a usar. Foi incrível. Cantei ‘Believe’ umas 304 vezes e… usaram o terceiro take.”

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Igor Miranda
Igor Miranda
Igor Miranda é jornalista formado pela Universidade Federal de Uberlândia (UFU), com pós-graduação em Jornalismo Digital. Escreve sobre música desde 2007. Além de editar este site, é colaborador da Rolling Stone Brasil. Trabalhou para veículos como Whiplash.Net, portal Cifras, revista Guitarload, jornal Correio de Uberlândia, entre outros. Instagram, Twitter e Facebook: @igormirandasite.

1 COMENTÁRIO

  1. ‘Agony’ e ‘Ecstasy’ são a mesma música (Agony and Ecstasy), errinho na tradução, normal. Espero que esses “quatro” álbuns vejam a luz do dia. Excelente entrevista, obrigado por trazê-la.

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