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Quando o Iron Maiden praticamente admitiu plágio após ser processado

Grupo optou por acordo financeiro para que ação judicial não seguisse em frente e ganhasse proporções ainda maiores

Acusações de plágio são mais comuns do que se imagina no meio do rock/metal. Um caso relativamente recentes envolveu o Iron Maiden e uma de suas músicas mais famosas e queridas pelos fãs: “Hallowed Be Thy Name”, do álbum The Number of the Beast (1982). E a banda praticamente admitiu a culpa na Justiça.

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Em 2017, o coautor Brian Quinn (que usava o nome artístico Brian Ingham) entrou na Justiça, por intermédio do empresário Barry McKagy, contra o baixista Steve Harris e o guitarrista Dave Murray em 2017. Ele ajudou a criar nos anos 70 uma música chamada Life’s Shadow, gravada pela banda Beckett. Curiosamente, o grupo era empresariado por Rod Smallwood, que assumiria tal função no Maiden anos depois.

Quinn afirmava que “Hallowed Be Thy Name” trazia versos copiados de “Life’s Shadows”. Mais tarde, foi revelado que a ação envolvia também a faixa “The Nomad”, do álbum Brave New World (2000), que também teria trechos originais da canção do Beckett. “Hallowed…” tem composição creditada apenas a Harris, enquanto “The Nomad” é assinada por ele e Murray.

Outro compositor de “Life’s Shadow”, Robert Barton, também foi acionado judicialmente por Quinn. Foi alegado que Barton fez um acordo secreto com o Maiden, anos antes, para ser recompensado como único autor.

Confira trechos das letras de “Life’s Shadow” e “Hallowed Be Thy Name”:

Beckett — “Life’s Shadow”:
“Mark my words my soul lives on
Please don’t worry cause I’ve have gone
I’ve gone beyond to see the truth
While I consider my new youth
When your time is close at hand
Maybe then you’ll understand
Life down there is just a strange illusion”

Iron Maiden — “Hallowed Be Thy Name”:
“Mark my words please believe my soul lives on
Please don’t worry now that I have gone
I’ve gone beyond to see the truth
When you know that your time is close at hand
Maybe then you’ll begin to understand
Life down here is just a strange illusion”

Justificativa do Iron Maiden

A defesa do Iron Maiden alegou que, de fato, Steve conhecia o Beckett e assistiu a um show do grupo na década de 70. O álbum onde “Life’s Shadow” aparece — de mesmo nome da banda e lançado em 1973 — é um dos favoritos do baixista.

O próprio catálogo do Maiden não o deixaria mentir. A banda de Harris já gravou um cover do Beckett: “Rainbow’s Gold”, que saiu no lado B do single “Two Minutes to Midnight” em 1984.

Acontece que ele teria usado as letras da banda apenas para ocupar espaço das linhas vocais durante a composição de “Hallowed Be Thy Name”. Porém, foi alegado que ele nunca teve tempo de substituir os versos, que acabaram indo parar na versão final. Explicações relacionadas a “The Nomad” não foram divulgadas.

Retirada de shows

Enquanto o processo rolava na corte britânica, o Iron Maiden notoriamente retirou “Hallowed Be Thy Name” dos setlists de shows em 2017. Presença frequente nos shows desde que foi lançada, a faixa foi removida da segunda parte da turnê do álbum “The Book of Souls” (2015).

A situação foi comunicada aos fãs pelo próprio Maiden. Em nota, a banda declarou:

“Conforme anunciamos, para a segunda parte da turnê ‘The Book of Souls’, tivemos que fazer algumas mudanças no setlist. A primeira foi incluir uma música diferente do novo álbum. E como tomamos conhecimento de um processo judicial, a segunda mudança foi retirar ‘Hallowed Be Thy Name’.”

Outro comunicado, da Phantom Management (empresa formada pela banda com Rod Smallwood), apontou que um acordo já havia sido feito com Robert Barton no passado. Todavia, a questão foi retomada na Justiça e ainda envolvendo Brian Quinn. O texto diz:

“A disputa envolve a música ‘Life’s Shadow’, composta originalmente no início da década de 1970, creditada para Robert Barton e Brian Ingham, e gravada pela banda Beckett. Steve Harris era um fã do Beckett e cerca de seis linhas de ‘Life’s Shadow’ foram usadas na música de Steve, ‘Hallowed Be Thy Name’. Até onde Steve tem conhecimento, isso foi resolvido há alguns anos em um acordo com Robert Barton. Qualquer evidência apresentada pelo Sr. McKagy será examinada atentamente e uma defesa será apresentada à corte no tempo devido.”

A decisão de remover “Hallowed Be Thy Name” dos shows foi criticada por Barry McKagy. Em carta enviada ao MetalSucks, o empresário lamentou a necessidade de entrar na Justiça contra outros músicos, declarou que Brian Quinn nunca recebeu nada pelo uso e “vive em um trailer no Canadá” e que os fãs estavam sendo punidos pela remoção da faixa dos setlists.

“Não sei o que acontece com Steve Harris. Estaria ele sendo mal aconselhado pelo empresário? Certamente ele não é tão ganancioso a ponto de privar seus fãs de ouvir o Iron Maiden tocar sua melhor música só para não pagar os direitos do coautor. A Phantom Management acha melhor não gastar um pouquinho para que seus fãs ouçam ‘Hallowed Be Thy Name’ nos shows ao vivo no resto da turnê? […] Em disputas judiciais como esta, os royalties ficam retidos pelas entidades que cuidam de sua distribuição até que saia o resultado a decisão judicial. Não era necessário que o Iron Maiden retirasse ‘Hallowed Be Thy Name’ do seu set. Mas se eles querem fazer a coisa certa, podem entrar em contato comigo ou meus representantes para fazer um acordo e voltar a tocar a música novamente. Steve e o Maiden já vêm tocando a música sem os créditos para Brian ou Bor Barton como co-autores há 35 anos. Por que desapontar os fãs? Eu não quero isso. Dá para ajeitar. Ou será que os empresários e agentes de Steve Harris estão temerosos que o acordo secreto feito com Robert Barton há alguns anos seja exposto?”

Acordo

No fim das contas, o caso foi resolvido com um acordo em março de 2018. De acordo com o site Ham & High, as primeiras notícias davam conta de que o Maiden pagou 900 mil libras (à época, cerca de R$ 4 milhões) para cobrir todos os custos e prejuízos, mas fontes ligadas à banda dizem que o valor foi de aproximadamente 550 mil libras (aproximadamente R$ 2,2 milhões nos valores praticados no período).

De acordo com o jornal inglês The Sun (via Metal Talk), um representante do grupo reforçou que acreditava que a situação tivesse sido resolvida anos atrás. O Iron Maiden optou por fazer um acordo para que o caso não escalasse, tanto na mídia quanto em custos com honorários advocatícios, entre outros problemas burocráticos.

Iron Maiden e “Hallowed Be Thy Name”

“Hallowed Be Thy Name” voltou a ser tocada ao vivo na turnê “Legacy of the Beast”, que passou pelo Brasil em 2019 e 2022. Na excursão atual, “The Future Past”, que será trazida ao país em dezembro, a faixa voltou a ser deixada de lado — todavia, por opção do grupo, pois não há mais nenhum impeditivo em usá-la.

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André Luiz Fernandes
André Luiz Fernandes
André Luiz Fernandes é jornalista formado pela Universidade Metodista de São Paulo (UMESP). Interessado em música desde a infância, teve um blog sobre discos de hard rock/metal antes da graduação e é considerado o melhor baixista do prédio onde mora. Tem passagens por Ei Nerd e Estadão.

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