Como o Slipknot renasceu após quase acabar em “Vol. 3: (The Subliminal Verses)”

Sucesso quase os destruiu, mas grupo mascarado colocou diferenças de lado para estabelecer seu legado com álbum ligeiramente mais experimental

A cena nu metal hoje carrega um certo grau de infâmia, seja pela característica datada da maioria das bandas ou pelo comportamento tóxico de seus fãs. Entretanto, o movimento serviu para apresentar ao mainstream experimentalismo num nível nunca antes visto no gênero. O Slipknot foi um dos maiores expoentes disso.

O grupo incorporava influências mais extremas que seus contemporâneos – a maioria satisfeita em combinar, de maneira preguiçosa, metal com hip-hop. No início dos anos 2000, começou a colher os frutos disso.

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No processo, eles quase implodiram. Brigas constantes, sessões de gravação traumáticas e um cronograma de turnês incessante praticamente trouxeram o fim do grupo. Muitos achavam ter ouvido, em “Iowa” (2001), o último trabalho do Slipknot.

Essa é a história de como eles voltaram e se solidificaram como a banda de metal definitiva de sua era com “Vol. 3: (The Subliminal Verses)”.

Juntando os cacos

“Iowa” transformou o Slipknot em um dos maiores nomes do metal, porém o processo quase custou a existência da banda. Integrantes lidavam com vícios variados, desde bebida até heroína. Além disso, as gravações do álbum foram marcadas por momentos violentos. 

Em entrevista de 2011 à Revolver, o baterista Joey Jordison falou sobre o estado do Slipknot na época:

“A gente descobriu que fazer um álbum do Slipknot é como ir para uma prisão. Vocês está preso ali até terminar. Você tá f#dido. Estou numa banda com os melhores músicos do planeta. Sou abençoado. Mas ao mesmo tempo, sempre que nos juntamos – apesar de termos tanto amor uns pelos outros –, queremos nos matar. E foi aí que algumas coisas saíram do controle.”

Tinha de tudo. Integrantes brigando, Corey Taylor praticando automutilação durante suas sessões de vocais e até o produtor Ross Robinson trabalhando a maior parte do tempo em uma cadeira de rodas após fraturar a coluna num acidente de motocross. Ele gritava de dor no estúdio, mas não abandonou o projeto porque queria dar um exemplo de compromisso ao grupo.

À Kerrang!, Taylor falou sobre o período, aludindo também a forças nos bastidores contribuindo às brigas:

“Durante todo o ciclo de ‘Iowa’ tinha tanta m#rda acontecendo. Ao final da turnê a gente nem conseguia olhar um pro outro, muito menos conversar. Foi muito triste. Ali estava uma irmandade tão forte, e era loucura pensar que uma força externa podia entrar e nos dividir.”

Ao final das gravações e da turnê, cada um foi para um lado. Normalmente não se faria tanto estardalhaço disso, mas desta vez era diferente. Corey e o guitarrista Jim Root reviveram seu grupo Stone Sour, enquanto Jordison formou o Murderdolls. Até aí tudo bem. Mas aí eles apareceram sem máscaras na MTV, cada um promovendo sua banda.

As máscaras tinham um papel enorme no Slipknot, então quando dois dos integrantes mais visíveis revelaram seus rostos, sinais de alerta surgiram. A banda acabou? O Slipknot negou qualquer rumor de término em janeiro de 2003. Na realidade, eles estavam já planejando um trabalho novo, produzido dessa vez por ninguém menos que Rick Rubin.

O problema era que a maior parte da banda não se falava havia dois anos. E a ideia de fazer um álbum novo do Slipknot não apelava a todos, como Corey Taylor contou à Kerrang!:

“A gente chegou bem perto de não fazer o terceiro álbum. Eu não sabia se queria voltar. Eu estava me divertindo tanto com o Stone Sour, me lembrou como uma banda era pra ser. O pensamento de voltar ao Slipknot me deixava enjoado.”

A mansão

Os integrantes começaram os trabalhos na lendária The Mansion, uma vez alugada por Harry Houdini e depois propriedade do ator Errol Flynn. Rubin agora é dono do imóvel, e gravou ali, desde o início dos anos 90, alguns dos álbuns mais importantes do rock americano.

Porém, assim que todo mundo chegou, os horários não batiam, como Joey Jordison contou ao Revolver:

“Eu peguei um voo para Los Angeles e cheguei pronto para ensaiar. Eu entro no lugar e Corey fala: ‘não, eu vou pro Rainbow [Bar & Grill, point roqueiro famoso da cidade]’. Aí Shawn [Crahan, também conhecido como Clown] fala: ‘não, eu estou trabalhando em outra coisa’. Eu fiquei tipo: ‘p#rra, a gente não vai tocar junto?’. Então peguei uma garrafa de Jack Daniels e bebi até apagar. Aí acordei 3 horas da tarde no dia seguinte e falo: ‘ok, vamos tocar’. E ninguém quer.”

Vamos fazer um resumo rápido dos problemas afetando o grupo. Corey Taylor estava completamente afundado no seu alcoolismo. O DJ Sid Wilson também era refém da garrafa, além de fumar muita maconha. Jim Root havia largado as drogas, mas a ideia de conviver com o resto da banda lhe dava ataques de pânico.

Entretanto, nada chegava aos pés dos problemas de Paul Gray. O baixista era o principal compositor do grupo, tendo fundado o Slipknot com Shawn Crahan em 1995. No que todo mundo arrumou um projeto paralelo, ele se deparou com a possibilidade de sua banda, a válvula de escape para sua criatividade, ter acabado. Entram em cena heroína e cocaína.

Ao ser preso em junho de 2003 após um acidente de carro, o resto do Slipknot percebeu o tamanho do problema. Gray contou sobre seu estado mental (via Loudwire):

“Eu estava severamente deprimido porque, depois de ‘Iowa’, a gente estava de saco cheio um do outro e tinha tanto ódio sendo distribuído. Mas eu não me sentia assim. Eu não estava p#to com ninguém, mas todo mundo estava p#to um com o outro. E eu me senti tipo: ‘p#ta que pariu, minha família está se afastando um do outro’. Eu achei que a banda ia terminar. Eu ouvia alguém falar: ‘f#da-se, desisto, estou fora da banda’, e isso me enchia de medo.”

Alguns dos outros integrantes em anos posteriores reconheceram seu papel na situação, como Taylor falou à Kerrang!:

“Você precisa perceber que Jim e eu estávamos na estrada, Joey estava com os Murderdolls, Shawn estava em LA trabalhando no To My Surprise… é preciso encarar a situação… Paul achou que estava perdendo sua banda. Eu ainda vivo com muita culpa disso, que o que fiz para tentar me curar teve um efeito negativo no meu irmão.”

Entrando nos trilhos

As gravações iam de mal a pior. Três meses se passaram sem nenhum progresso. Aí Rick Rubin interveio e começou a fazer os integrantes conversarem entre si, como Shawn Crahan comentou com o Revolver:

“Rick Rubin fez todo mundo sentar e conversar. Eu ouvi coisas dos outros membros que prefiro nem repetir. Ganhei alguns amigos. Posso ter criado alguns inimigos. Eu sabia em que pé estava com todo mundo. Aí, no que estávamos reconstruindo amizades, ficou fácil reconstruir a inovação na música.”

Jim Root foi outro que exaltou o papel do produtor, enquanto Corey Taylor nunca teve papas na língua para descrever sua decepção. Segundo o vocalista, Rubin só apareceu oito vezes no estúdio durante as gravações e parecia estar ocupado demais com outros projetos. Ainda assim, o álbum começou a andar.

Paul Gray e Joey Jordison já haviam composto muito material, então não era como se o problema do Slipknot fosse bloqueio criativo. Era uma questão de foco. E quando Taylor resolveu parar de beber – após quase se jogar do oitavo andar do hotel Hyatt na Sunset Boulevard –, foi quando as coisas entraram nos eixos. O vocalista destacou a canção “Pulse of the Maggots” como um momento de virada numa entrevista de 2002 à Kerrang!:

“Foi o hino que estava faltando. Originalmente se chamava ‘Triggers Yearn’ e eu estava indo numa direção diferente com ela. Aí Joey disse que tinha um título para a canção… mas não tinha letra. Dali pra frente, a canção se tornou cada vez mais sobre os fãs do que sobre a gente. Sem os fãs, seríamos um bando de marmanjos de Iowa, arrumando brigas uns com os outros em porões.”

Salto criativo

“Vol. 3: (The Subliminal Verses)” marcou um salto criativo do Slipknot, incorporando elementos mais experimentais ao seu som. Em meio ao caos e agressividade característicos, agora havia também elementos acústicos, enquanto Corey Taylor se revelou um vocalista mais versátil ao demonstrar sua capacidade de cantar e não apenas gritar.

Em uma época onde o nü metal ao qual o grupo era associado passava por um período de exaustão criativa, os mascarados estavam de vento em popa. Na realidade, eles pertenciam mais à cena de metal alternativo formada pelo Deftones e System of a Down, mas por causa da presença de um DJ na formação, acabaram comparados ao Korn e ao Limp Bizkit, com quem tiveram uma briga de anos.

Lançado em 25 de maio de 2004, “Vol. 3: (The Subliminal Verses)” chegou ao 2º lugar da Billboard 200 e à 5ª colocação no Reino Unido. A posição deles como um dos maiores grupos de metal do planeta ficou consolidada, independente de cena.

Ao final da turnê, em 2005, os integrantes se dedicaram aos seus projetos paralelos mais uma vez, mas dessa vez havia menos inimizade no ar. Apesar do sucessor, All Hope is Gone (2008), ter demorado quatro anos para sair, o grupo encontrou um equilíbrio demonstrado na existência deles até hoje.

Slipknot — “Vol. 3: (The Subliminal Verses)”

  • Lançado em 25 de maio de 2004 pela Roadrunner
  • Produzido por Rick Rubin

Faixas:

  1. Prelude 3.0
  2. The Blister Exists
  3. Three Nil
  4. Duality
  5. Opium of the People
  6. Circle
  7. Welcome
  8. Vermilion
  9. Pulse of the Maggots
  10. Before I Forget
  11. Vermilion Pt. 2
  12. The Nameless
  13. The Virus of Life
  14. Danger – Keep Away

Músicos:

  • (#8) Corey Taylor (vocais)
  • (#7) Mick Thomson (guitarra)
  • (#6) Shawn Crahan (percussão, backing vocals)
  • (#5) Craig Jones (samplers, teclados)
  • (#4) Jim Root (guitarra)
  • (#3) Chris Fehn (percussão, backing vocals)
  • (#2) Paul Gray (baixo, backing vocals)
  • (#1) Joey Jordison (bateria)
  • (#0) Sid Wilson (turntables)

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Pedro Hollanda
Pedro Hollanda
Pedro Hollanda é jornalista formado pelas Faculdades Integradas Hélio Alonso e cursou Direção Cinematográfica na Escola de Cinema Darcy Ribeiro. Apaixonado por música, já editou blogs de resenhas musicais e contribuiu para sites como Rock'n'Beats e Scream & Yell.

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