Quando o Sex Pistols demitiu o baixista Glen Matlock, no início das gravações do álbum “Never Mind The Bollocks…” (1977), a justificativa divulgada foi que ele era fã dos Beatles. Obviamente, muitas coisas aconteceram nas internas da banda que levaram à decisão. Porém, dar uma zoada no Fab Four era mais uma maneira de angariar holofotes para os punks britânicos.
De qualquer modo, manter a postura é sempre necessário. John Lydon, à época do grupo conhecido como Johnny Rotten, chegou a ignorar Paul McCartney. O filho mais famoso de Liverpool chegou a correr até seu táxi e bater na janela, sem sucesso na iniciativa.
Em entrevista a Piers Morgan, em 2015, a voz de “God Save the Queen” se explicou. Conforme transcrição do Rock and Roll Garage, ele disse:
“Não gostava dos Beatles por conta de meus pais escutarem as músicas deles o tempo todo. Isso criou um certo preconceito em mim. Eles colocavam os discos e eu pensava ‘ah não, de novo essa coisa horrível’.”
A timidez de John Lydon
Ainda assim, Lydon reconhece que não deveria ter protagonizado a cena que causou ao ignorar Macca.
“Ah, isso foi terrível. Eu estava com minha esposa Nora e íamos visitar meu irmão no Tottenham. Tivemos que passar pelo Harrods e duas pessoas atravessaram a rua correndo. Eram Paul e Linda McCartney. Eles bateram na janela da cabine, abaixei a fechadura e virei a cabeça. Eu não aguentava aquilo, era demais.”
John encerra a explicação reconhecendo que a timidez o venceu no momento.
“Esta é, você sabe, uma pessoa famosa. Não aguentei, minha timidez tomou conta. Nora estava dizendo ‘Por que você não os deixa entrar?’ Você sabe quando as coisas às vezes te pegam de surpresa? De repente ‘Bang!’ ali estão Paul e Linda bem na minha cara.”
Johnny Rotten e Paul McCartney
Ainda assim, o encontro acabou acontecendo anos depois. Em 2013, o frontman dos Pistols e do PiL contou ao Yorkshire Post:
“Eu gosto de Paul. Ele é um cara muito amigável. Eu simplesmente não suporto a música dele. Isso é uma coisa boa. Você pode separar a pessoa do trabalho. Meu trabalho é um pouco mais pessoal, não é fazer músicas num formato bonito. O meu precisa ser real – e isso é difícil de conviver.”
Dois anos depois, no entanto, John manifestou seu respeito pela obra do Fab Four, durante sessão de perguntas e respostas. Especialmente pela representatividade que o trabalho do grupo desencadeou.
“Já passei por muitas mudanças sociais neste país. É muito importante que você entenda que isso era vitalmente relevante, quando eu era apenas uma criança que ouvia aquela música clássica sem fim, tudo isso. Começaram a tocar música pop, mas a música pop foi selecionada e um pouco masturbatória no começo. Então, quando bandas como os Beatles surgiram, eles estavam fazendo algo realmente importante. Você tem que entender que quando eu os critico, não estou criticando a perspectiva histórica deles para mim. Eles foram vitais para o meu desenvolvimento.”
Macca e o punk
De sua parte, McCartney soube apreciar a sonoridade do punk – que, de certa forma, resgatava a simplicidade do rock dos anos 1950, justamente o período que o influenciou no começo da carreira. Em 2009, ele chegou a mencionar sua música preferida do Sex Pistols ao The Quietus.
“‘Pretty Vacant’ é muito boa. Foi produzida por Chris Thomas, que conhecíamos – ele era assistente de George Martin e havia trabalhado em algumas coisas dos Beatles. O som da música é muito bom e, claro, a energia da banda é sensacional. Não dá para negar.”
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