Por que o Black Sabbath mudou em “Tyr”, segundo Tony Martin

Apesar da temática "viking" que afastou a banda das sombras de "Headless Cross", disco quase se chamou "Satanic Verses"

Há uma grande diferença na sonoridade do Black Sabbath entre os álbuns “Headless Cross” (1989) e “Tyr” (1990). Com praticamente a mesma formação responsável pelos dois trabalhos, a banda deixou as letras satânicas de lado e apostou em temas relacionados à mitologia nórdica — o que se refletiu na abordagem mais melódica, diferente do peso do disco anterior.

O vocalista daquela era, Tony Martin, e o guitarrista Tony Iommi conversaram sobre o disco em um vídeo publicado no canal oficial do líder do Sabbath. O cantor explicou como surgiu a temática “viking” que torna o álbum semiconceitual, ao mesmo tempo em que a banda soava cada vez mais diferente, como apontou o então baterista Cozy Powell.

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A transcrição é do Metal Injection:

“Eu realmente não conseguia fazer o tipo de coisa de Ozzy (Osbourne, ex-vocalista) e as coisas de Ronnie (James Dio, ex-vocalista) eram únicas dele, então eu estava procurando agora. Então pensei em um tema… ‘Vikings. Eu poderia escrever algo sobre isso’. Eu comecei, mas veja que naquela época estávamos fazendo um monte de harmonias, o que o Sabbath nunca tinha feito antes.

Geoff (Nicholls) estava tocando teclado e eu estava fazendo harmonias e as coisas começaram a ficar meio loucas. Cozy Powell disse: ‘eu não ouço harmonias como essa desde o Three Dog Night (banda dos anos 60). Então eu perguntei ‘é exagerado?’ e ele disse ‘não, continue’. Então eu perseverei, mesmo. As melodias meio que incharam e se tornaram o que são. Mas eu gostei de fazê-las.”

Iommi, por sua vez, admite a mudança, mas a vê como uma coisa positiva:

“Era a formação daquela época, o que estávamos apresentando naquela época. Era bom. Você não pode apenas sempre fazer exatamente a mesma coisa. E foi apresentado de uma maneira diferente. Nós tínhamos riffs, mas a maneira como Tony cantou e a forma como apresentamos as músicas foi diferente.”

Versos satânicos, mas nem tanto

Apesar da guinada temática das letras do Sabbath em “Tyr”, o álbum quase teve um título que se encaixava muito mais com a proposta de “Headless Cross”. A sugestão foi de Cozy Powell, de acordo com Martin. O baterista que batizar o novo disco com o título de um livro do escritor britânico-indiano Salman Rushdie que gerou uma série de controvérsias. Martin relembrou em um post no Facebook:

“Quando o ‘Tyr’ estava sendo gravado em 1990, o assunto título do álbum entrou em pauta após um telefonema dos empresários do Sabbath. Estávamos em estúdio na época e começamos a examinar os títulos sugeridos para ver se eles se sustentavam. Cozy Powell sugeriu usarmos ‘Satanic Verses’, que é o título de um livro escrito por Salman Rushdie que supostamente criticava a religião muçulmana. A repercussão negativa obrigou o autor a viver na clausura durante grande parte de seus dias. Quando Cozy sugeriu, ficamos tipo… cara… você só pode estar de sacanagem! Ele disse: ‘Que nada! Pense só na publicidade que isso vai ter!’.”

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Felizmente, o setor empresarial barrou a sugestão de Powell, trazendo para a banda o conceito nórdico, tanto do título como visual. Todos gostaram e o Black Sabbath deixou de ter um álbum intitulado “Satanic Verses”.

Black Sabbath e “Anno Domini 1989-1995”

Em 31 de maio, o Black Sabbath lança um box set intitulado “Anno Domini 1989-1995”, que traz todos os álbuns gravados nesse período, com exceção de “Dehumanizer”, de 1992. Trata-se de um verdadeiro documento da “era Tony Martin” da banda, o que explica a exclusão do disco de retorno de Ronnie James Dio.

O box contém versões remasterizadas de “Headless Cross” (1989), “Tyr” (1990) e “Cross Purposes” (1994), além de uma nova versão de “Forbidden” (1995) remixada por Tony Iommi especialmente para a ocasião. O guitarrista vem disponibilizando vídeos onde conversa com Tony Martin a respeito dos álbuns.

Todos esses trabalhos foram lançados pela gravadora britânica IRS, após a banda ter sido mandada embora da Vertigo, responsável por distribuir seus 13 primeiros álbuns de estúdio. A decisão foi tomada após insatisfações com as baixas vendas de “Seventh Star” (1986) e “The Eternal Idol” (1987) — este último ficou fora do box por já ter sido relançado e por não ter saído via IRS.

Vários desses discos serão disponibilizados pela primeira vez em vinil. Já a versão em CD contém três faixas bônus exclusivas: o lado B “Cloak & Dagger” e as anteriormente exclusivas para o mercado japonês “What’s The Use” e “Loser Gets It All”.

O material acompanha um livreto com fotos, capas e liner notes escritas por Hugh Gilmour. Contém ainda um pôster de “Headless Cross” e uma réplica do concert book da turnê do mesmo álbum.

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André Luiz Fernandes
André Luiz Fernandes
André Luiz Fernandes é jornalista formado pela Universidade Metodista de São Paulo (UMESP). Interessado em música desde a infância, teve um blog sobre discos de hard rock/metal antes da graduação e é considerado o melhor baixista do prédio onde mora. Tem passagens por Ei Nerd e Estadão.

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