Rick Wakeman vai de Marte ao Centro da Terra em show para poucos em Brasília

Na última "expedição" nos palcos, tecladista inglês ex-Yes homenageia David Bowie, Beatles e sua obra-prima solo, "Journey to the Centre of the Earth"

Na primeira das várias homenagens de seu show de despedida, Rick Wakeman exalta aquele que, dentre vários postulantes, foi o artista favorito com quem tocou: David Bowie. É a deixa para o tecladista, ex-Yes e ícone do rock progressivo, arrancar lágrimas da plateia com uma versão singela e emocionante de “Life on Mars?”.

Na homenagem derrareira, já no encore, o “mago” se senta ao piano para prestar tributo a uma obra-prima de sua própria autoria, o álbum solo e conceitual “Journey to the Centre of the Earth”, de 1974. É o ápice de uma “expedição” que ele garante ser a última da prolífica carreira, pelo menos nos palcos.

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Foto: Lucas Bolzan @olucasbolzan

A viagem que começa em Marte e vai até o Centro da Terra passa também por Liverpool, com releituras audaciosas para “Help!” e “Eleanor Rigby”, dos Beatles. Tudo isso conduzido pela tripulação (e mãos) de um homem só, pois Wakeman, que já tocou com grandes orquestras e músicos refinados, decidiu se retirar… sozinho.

A “The Final Solo Tour” conta apenas com seu protagonista, que aos 74 anos se despiu da capa, das longas madeixas loiras e de qualquer banda/vocalista de apoio. Se a aposentadoria for realmente confirmada, Rick Wakeman se despede solitariamente alternando entre dois teclados Korg e um imponente piano de cauda, da Yamaha.

Em Brasília, a turnê (Porto Alegre, São Paulo e Curitiba completam as quatro datas nacionais) foi recebida no domingo (14 de abril) por um público reduzido, mas privilegiado pela ótima acústica e iluminação no Auditório Master do Centro de Convenções Ulysses Guimarães, com capacidade para 2.827 lugares – no olhômetro, diria que menos da metade foi ocupada. Os ingressos, um tanto quanto salgados, variavam de R$ 280 (Superior, meia) a R$ 2.400 (Lounge, inteira).

Foto: Lucas Bolzan @olucasbolzan

“Obrigado, Pelé e Rivellino”

Marcada para 21h, a apresentação começou com atraso ínfimo de 10 minutos e Rick Wakeman adentrando o palco sem qualquer cerimônia. Não fosse um rosto tão conhecido pelos fãs de rock progressivo, que compunham a maior parte da plateia, poderia ser confundido com um roadie ainda ocupado com os últimos ajustes.

O início do show focou em duas – “Jane Seymour” e “Catherine Howard” – das seis esposas do Rei Henry VIII, personagem inglês que é tema do segundo álbum solo de Wakeman, “The Six Wives of Henry VIII” (1973). Nele, cada uma das mulheres do monarca corresponde a uma música do tracklist.

Foto: Lucas Bolzan @olucasbolzan

O tecladista logo destilou também o humor britânico, brincando que, ao contrário de vossa majestade, teve apenas quatro esposas. E se desculpou por conhecer só três palavras em português: “obrigado”, “Pelé” e “Rivellino”. Culpa de Brasil 1×0 Inglaterra na Copa de 1970, um dos maiores jogos de toda a história? Aposto que sim!

Depois veio a dobradinha bowieana, com a fusão de “Space Oddity” e “Life on Mars?”. Wakeman anuncia as duas falando que já gravou com muita gente nessa vida: “Algumas coisas muito boas, mas também alguns discos terríveis”, admite. E, sem hesitar, crava David Bowie como o maior de todos com os quais tocou.

Foto: Lucas Bolzan @olucasbolzan

Orquestra de um homem só

Ao contemplar o excelente disco “The Myths and Legends of King Arthur and the Knights of the Round Table” (1975), o mago dos teclados recorda que o gravou tendo consigo uma orquestra inteira, fora a contribuição dos músicos de sua banda na época, como o baterista Barney James, o baixista Roger Newell e os vocalistas Gary Pickford-Hopkins e Ashley Holt (Warhorse).

Portanto, seria impossível recriá-lo sozinho no palco. Mas que ele iria tentar. O resultado é um eficiente medley contendo quatro músicas do álbum: “Arthur”, “Guinevere”, “The Last Battle” e “Merlin the Magician”.

A ausência de vocal prejudica a experiência? Sem dúvida. Mas a essa altura, não parece ser algo que tire o sono do compositor, satisfeito em levar aos fãs somente a parte instrumental. E vê-lo executar de pertinho tais arranjos, não é pouca coisa.

Foto: Lucas Bolzan @olucasbolzan

Yes, Beatles e o núcleo da Terra

Rick Wakeman guarda para a porção final os números mais “populares” do show, que dura exatamente uma hora e 30 minutos. Na intitulada “Yessonata”, desenvolvida especialmente para esta turnê, ele executa excertos de cerca de 30 músicas do Yes, incluindo clássicos como “Roundabout”, “Heart of the Sunrise” e “And You and I”. Cabe a público ir quebrando a cabeça para identificar os fragmentos.

“Help!” e “Eleanor Rigby” ganham versões potentes e arrojadas, capazes de deixar orgulhosos seus criadores. Sem instrumentos de corda, elas soam mais dramáticas com as teclas de Wakeman, num exercício que acaba criando correlação entre as canções de Paul McCartney e John Lennon e o prog, fenômeno posterior a elas.

Após uma brevíssima saída do palco, Wakeman retorna para o grand finale: “The Journey” e “Recollection”, que ocupam todo o lado A do disco, baseado no livro de Júlio Verne, são as escolhidas para representar “Journey to the Centre of the Earth”.

Nesse momento, não foi raro ver pessoas fazendo “air piano”, sabe-se lá se esse termo existe. Perante um público com média de idade considerável, não seria surpresa se alguns (ou vários) desses fãs emocionados tenham estado presentes também na primeira passagem do tecladista pelo Brasil, em 1975, justamente na turnê do disco em questão, época em que poucos artistas estrangeiros vinham ao país.

Se for o caso, a longa viagem simbólica ao Centro da Terra – e de imersão à música atemporal de Rick Wakeman – estará realmente completa.

Foto: Lucas Bolzan @olucasbolzan

Rick Wakeman – ao vivo em Brasília

  • Local: Centro de Convenções Ulysses Guimarães – Auditório Master
  • Data: 14 de abril de 2024
  • Turnê: The Final Solo Tour

Repertório:

  1. Jane Seymour
  2. Catherine Howard
  3. Space Oddity/Life on Mars? (cover de David Bowie)
  4. Arthur/Guinevere/The Last Battle/Merlin the Magician
  5. Yessonata (excertos de músicas do Yes)
  6. Help!/Eleanor Rigby (cover de Beatles)
  7. The Journey/Recollection
Foto: Lucas Bolzan @olucasbolzan

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Guilherme Gonçalves
Guilherme Gonçalves
Guilherme Gonçalves é jornalista formado pela Universidade Federal de Goiás (UFG). É repórter do Globo Esporte e atua no jornalismo esportivo desde 2008. Colecionador de discos e melômano, também escreve sobre música e já colaborou para veículos como Collectors Room e Rock Brigade. Revisa livros das editoras Belas Letras e Estética Torta e edita o Morbus Zine, dedicado ao death metal e grindcore.

2 COMENTÁRIOS

  1. Fui para o show do Rick Wakeman em São Paulo devido aos altos preços dos ingressos em Brasília.
    Comprei uma camiseta oficial da turnê no local do show (Tokio Marine Hall).
    Fui nos shows de 1993, 2001, 2012 (Rick fez duas apresentações seguidas, ás 21:00 horas e ás 23:30), 2014 e 2024. Nos shows de 2012 eu fui nas duas sessões.
    Infelizmente o Rick não atendeu ninguém este ano. Nos outros anos atendendeu a todos, com excessão de 2012 que foi muito cansativo tocar por 4 horas quase seguidas.
    Gostaria de saber se Rick Wakeman atendeu ao público depois do show aqui em Brasília.
    Acho que os preços dos ingressos em Brasília afastou o público e/ou o desconhecimento da população de Brasília, além da falta de publicidade quanto ao show de um dos maiores tecladistas do mundo.

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