Em 1966, os Beatles estiveram pela primeira e última vez nas Filipinas. O grupo realizou dois shows no dia 4 de julho na capital, Manila. As apresentações em si não tiveram grandes contratempos. No entanto, a estadia foi marcada por muita confusão, perigo e até uma certa dose de violência.
A passagem pelo país contou com o caos típico dos fãs, uma festa que acabou sendo forçada por um magnata cujo filho desejava conhecer o quarteto e até mesmo um “cano” na primeira-dama da nação, que era governada pelo ditador Ferdinand Marcos. A ação acabou gerando um sentimento de revolta no país. Um resumo completo sobre a viagem pode ser conferido clicando aqui.
Em depoimento ao livro “All You Need is Love: The End of the Beatles” – lançado no último dia 11 de abril –, repercutido com exclusividade pelo Far Out Magazine, o baterista Ringo Starr compartilhou algumas memórias da tensão. O registro traz um diálogo com os escritores Pete Brown (também assessor do Fab Four e que esteve presente na situação) e Steve Gaines – daí as abreviações no texto.
— Steve Gaines: Manila? Vocês foram espancados?
— Ringo Starr: Não, não apanhamos em Manila. Chegamos em Manila e havia uma carreata de policiais e seguranças. Uma loucura, fizemos o show.
— Pete Brown: Lembro que primeiro fomos de barco.
— RS: Isso mesmo, nós fomos de barco…
— PB: E Neil ficou para trás porque queriam revistar sua bolsa. Ou alguma coisa assim.
— SG: A bagagem não foi no barco?
— PB: Era onde eles queriam que você ficasse, nós dissemos: “Não, não vamos ficar neste barco”.
— RS: Achei que o barco era só para tomar um drink e cumprimentar o povo.
— PB: Não, acho que eles queriam que vocês ficassem lá.
O “não” à primeira-dama e as consequências
A seguir, Ringo falou especificamente sobre a negativa do grupo em se encontrar com a primeira-dama. Ele comentou:
— RS: O ponto principal da história era que a senhora Marcos queria nos ver, mas nós dissemos que não, porque não queríamos. Estávamos fazendo o show e essas funções não são das mais divertidas de qualquer maneira. Mas ela disse: “Vocês não vão a lugar nenhum”. John e eu não sabíamos nada sobre isso. Acordamos de manhã e ligamos para pegar os jornais. Queríamos ver o que acharam de nós, se o show foi bom. Nada. Achamos que era apenas uma cidade estranha onde eles não oferecem serviço de quarto. Liguei novamente. Nada. Loucura. Ligamos a TV, vemos o noticiário, imagens de todos aqueles jovens e diziam que não aparecíamos. Então estava tudo na TV. Eles nos odiavam e ficamos só com um policial, depois de termos chegado com mil. Chegamos ao aeroporto e foi uma loucura, John e eu estávamos escondidos atrás de freiras. Pensávamos que por ser um país católico, se nos escondêssemos atrás das freiras, não nos pegariam. Eles não nos deixaram ir a lugar nenhum, nos mandaram para o andar de cima. Sentamos lá em cima, eles nos incomodaram por causa dos ingressos, descemos de novo, eles simplesmente vieram, nos movimentando enquanto as pessoas gritavam conosco nessa língua estranha. Então finalmente chegamos ao avião. Eles cuspiram em nós. Ninguém levou um soco.
— PB: Mal (Evans, road manager) foi empurrado.
— RS: Ok, você quer fazer disso uma grande história? Mal tropeçou. Eu não vi Mal tropeçar. Não levei um soco nas costas. Nenhum de nós ficou fisicamente ferido – cuspiram, fomos humilhados, mas não fomos fisicamente feridos. Então chegamos ao avião e há um anúncio de que nosso assessor de imprensa, Tony Barrow, e Mal Evans tiveram que sair do avião. Nós pensamos “agora eles estão nos tirando de dois em dois para atirar em nós”. Não sabíamos de nada. Mas eles simplesmente os tiraram por alguns minutos, voltaram a colocá-los e nós partimos. De qualquer forma, foi assim que saímos de Manila. Fomos para a Índia.
Beatles e as Filipinas
Os Beatles encerrariam as atividades como banda ao vivo naquele mesmo ano. A última apresentação normal do grupo, para um público pagante, aconteceu em San Francisco, Califórnia, Estados Unidos, em 29 de agosto.
A relação com as Filipinas foi rompida de forma definitiva após os incidentes. Nem mesmo em suas carreiras solo e outros projetos os músicos voltaram a se apresentar no país.
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