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No Lolla, King Gizzard & the Lizard Wizard estreia com o pé direito no Brasil

Após show cancelado em 2022, banda australiana fez mais que o suficiente para deixar fãs nas nuvens e conquistar novos admiradores

No Palco Alternativo do Lollapalooza Brasil, às 20h55, apenas luzes de serviço acesas. Enquanto isso, no Palco Samsung Galaxy, o Limp Bizkit estava prestes a terminar seu primeiro show no país em oito anos. Faltava a segunda execução de “Break Stuff”, seu maior hit. O público do grupo americano de nu metal ficava ensandecido enquanto, em aparente calma, os australianos do King Gizzard & the Lizard Wizard passavam o som — e sentiam o calor dos fãs brasileiros.

Além de já ensaiarem em coro o nome da banda australiana chamavam atenção dos preferidos. “Stu, maravilhoso”, “Joey, te amo”, “lindooosss”. Ao lado da repórter, havia um garoto acompanhado dos pais, que ficavam atrás, discretos, protetores e companheiros, tentando entender como uma banda com 14 anos de atividade já gravou 25 álbuns. “Sem contar os ao vivo”, disse o jovem. “Eles são muito criativos”, comentou a mãe.

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E enquanto no telão no fundo do palco ainda rolavam os comerciais dos patrocinadores, Stu Mackenzie, Ambrose Kenny-Smith, Joey Walker, Cook Craig, Lucas Skinner e Michael Cavanagh pareciam não querer voltar pro backstage. Já estavam prontos pra tocar. Porém, ouviram o comando para retornar e esperar mais um pouquinho.

Foto: Nathalia Pacheco / Lollapalooza Brasil

Do thrash ao pop

Não se sinta desligado caso nunca tenha ouvido falar dessa banda — ainda que ela tenha sido escalada para vir em 2022, também ao Lolla, mas cancelado na véspera por “imprevistos causados pela covid-19”. Até mesmo para quem está no meio musical eles ainda são uma grata surpresa. Depois de ouvir aleatoriamente algumas músicas, você só terá uma certeza: não é possível categorizá-la em um único estilo. A ponto de seus dois álbuns mais recentes (“PetroDragonic Apocalypse” e “The Silver Cord”, ambos de 2023) serem dedicados, respectivamente, ao thrash metal e ao electropop.

O King Gizzard & the Lizard Wizard reúne músicos talentosos, que se revezam entre os instrumentos e vocais, assim como nas composições. Desde então, além da produtividade em estúdio — a ponto de terem lançado cinco discos somente em 2017 —, eles têm feitos shows em várias partes do mundo com uma característica bem peculiar de praticamente não repetir repertório. Tudo é definido na hora, conforme a energia daquele momento. Único, no fim das contas.

Foto: Nathalia Pacheco / Lollapalooza Brasil

O show

A apresentação começou pontualmente às 21h15 com “Planet B”, um garage rock sujo que chama atenção para a forma como cuidados da “nossa casa”; afinal, como diz a letra “não existe planeta B”. Questões ambientais, diga-se, são constantes nas letras do grupo.

Ao final da música, Joey falou sobre como estavam felizes em estar no país. “Esse é o último show da nossa turnê e nosso primeiro show no Brasil e vou dizer uma coisa para vocês, mal podemos esperar para voltar”. Quem assistiu nem de longe imaginava que era a conclusão de uma tour: era como se eles tivessem acabado de cair na estrada, tamanha animação.

Foto: Nathalia Pacheco / Lollapalooza Brasil

Em seguida veio “Crumbling Castle” e o público saiu o chão. Os músicos se alteram nos vocais e instrumentos e a sonoridade orgânica não permite pressa — ainda mais pela gravação original da faixa ter 10 minutos, logo, não era de se surpreender que pudesse chegar a um pouquinho mais. Na terceira canção — e primeira de “PetroDragonic Apocalypse” —, “Witchcraft”, vai do garage rock ao punk com elementos de thrash metal e eletrônico. É isso. Durma com um barulho desses, intensificado pelas emendadas “Gaia” + “Gila Monster” e pelas mais soltas “Hypertension” e “Sea of Trees”, mais afeitas ao hard rock setentista.

Também muito conhecido pela psicodelia, o Gizz, como o grupo é carinhosamente chamando pelos fãs, parece ter optado desta vez por um set mais pesado. Mas o tom psicodélico estava presente e era dado tanto com as projeções no telão quanto pela atmosfera com a fumaça que dava aquele tom de clube pequeno lotado.

E neste set mais pesado, Stu — que usa um cabo em espiral e parece ter relação quase passional com a guitarra ao tocá-la ajoelhando-se na frente do palco e nas costas — surge com uma flauta em “Robot Shop” e em determinado momento a gente percebe que improvisaram na letra com “São Paulo / São Paulo / São Paulo / São Paulo”. Estávamos no terço final da performance, que ao todo durou uma hora.

Foto: Nathalia Pacheco / Lollapalooza Brasil

E foi Stu quem voltou a agradecer o público. “Vocês são lindos! Podemos tirar uma foto com vocês? Nós queremos voltar logo pra cá”. Depois do click eles voltaram para seus instrumentos e fecharam com “Gamma Knife”, que, assim como “Robot Shop”, veio do disco “Nonagon Infinity” (2016). Uma catarse na plateia, que balançava a cabeça e pulava cantando os versos.

Foto: Nathalia Pacheco / Lollapalooza Brasil

Ao fim, todos os músicos vieram para frente do palco. Mandaram beijos, jogaram palhetas, deram “tchau”. E quando saíram, escutaram gritos de “Mais um! Mais um! Mais um!”, ouvido pela repórter pela primeira vez naquele sábado (23) de Lolla. Mas quando o baterista Michael Cavanagh, o último homem no palco, com seu colete da Ferrari, saiu pela lateral, não teve jeito. “Acabou o sonho, preciso de um tempo para me recuperar agora”, disse um fã, na expectativa por um retorno em não muito tempo.

https://twitter.com/CanalBis/status/1771693702928347453

Poucos minutos depois, os Kings — que começaram o show chamando a galera para ver “os verdadeiros Kings” enquanto o headliner Kings of Leon tocava praticamente no mesmo horário — apareceram na lateral do palco para a alegria dos seus súditos. Mandaram mais beijos e disseram o quanto estavam felizes.

O som do King Lizzard & the Lizard Wizard pode ser perturbador em alguns momentos. Quase como um barulho orquestrado. Vai depender um pouco das referências que cada um tem, mas imagine que esse sexteto — outrora septeto, pois contava até 2020 com dois bateristas — tenha tomado café na infância ao som de Melvins, Sonic Youth, The Grateful Dead e por aí vai. Ou não. Podem ser apenas pessoas que tiveram educação musical na infância e liberdade para deixar a arte fluir, sem se prender a rótulos.

Foto: Nathalia Pacheco / Lollapalooza Brasil

Bandas como essa são daquelas que de tempos em tempos surgem para provar que a música orgânica, sem fronteira e feita por amigos que se divertem nessa viagem ainda tem o seu lugar — ainda que não esteja no chamado “circuito comercial”. E é isso que faz festivais como o Lollapalooza relevantes tanto para o público, que tem a oportunidade de conhecer bandas novas, mesmo quando não tão novas, quanto para o artista que tem sua arte potencializada.

King Gizzard & the Lizard Wizard — ao vivo em São Paulo

  • Local: Autódromo de Interlagos (Lollapalooza Brasil)
  • Data: 23 de março de 2024
  • Turnê: South America 2024

Repertório:

  1. Planet B
  2. Crumbling Castle
  3. Witchcraft
  4. Gaia
  5. Gila Monster
  6. Hypertension
  7. Sea of Trees
  8. Robot Stop (com trecho de The Dripping Tap)
  9. Hot Water (com trecho de Robot Stop)
  10. Gamma Knife
Foto: Nathalia Pacheco / Lollapalooza Brasil

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Adreana Oliveira
Adreana Oliveirahttps://uberground.com.br/
Adreana Oliveira é jornalista graduada pelo Centro Universitário do Triângulo (Unitri), com mestrado em Tecnologias, Comunicação e Educação pela Universidade Federal de Uberlândia (UFU). Tem 20 anos de atuação no mercado, com ênfase no jornalismo cultural. Titular por 12 anos da Coluna Novo Som, do extinto Correio de Uberlândia. Atualmente é produtora de TV e editora do site Uberground. Mãe do Nicholas, responsável por colocar animesongs em sua playlist.

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